‘A gente se vê por aqui’, vinheta da Rede Globo, tantas vezes repetida durante a programação da emissora, bem poderia ilustrar o artigo de Hugo Santos e Deonísio da Silva [Mas, bah, tchê, tu não vês: é ela quem te vê!, Observatório da Imprensa, 18/4/2006], salientando a contradição ou ilusão identificatória criada pela telinha, pelo espaço da TV como aquele em que os olhares se voltam para ver – e verem a si mesmos.
Segundo essa óptica, um tanto mercadológica, cada indivíduo que se posta diante da TV está o tempo todo sendo medido (ibope?), formando, por sua vez, o que denominam grande público (telespectadores) – o que também significa a perda de sua individualidade para a constituição de um segmento para o qual serão direcionadas programação e propagandas específicas. Talvez resulte dessa lógica o intuito homogeneizador da TV aberta – um público mediano, no sentido mais vulgar da palavra, torna-se um consumidor vulnerável a todo e qualquer apelo da programação televisiva e da publicidade.
Explicam-se dessa forma os modismos e vícios televisivos – pela homerização da programação e pelo constante esvaziamento de conteúdo, também pela adoção estereotipada de programas direcionados ao público jovem, os novos (e necessários) telespectadores, reféns todavia de ditames comportamentais e da falta de critério dos responsáveis pela educação deles.
Educação, criticidade
Se é dever dos intelectuais examinarem essas questões, como o dizem os autores citados acima, talvez se possa por tal exame desvendar e entender os mecanismos ou estratagemas empregados na produção televisiva. Seria muito útil, aliás, para a compreensão, por exemplo, de como uma série mexicana (Os rebeldes), veiculada pelo SBT, torna-se uma lucrativa febre comercial – pior determinando ou influenciando o comportamento de muitas crianças e adolescentes.
Afinal, poder-se-ia perguntar a que modelos ou padrões estão expostas as crianças e adolescentes – eles os têm, certamente, na imitação contínua, e para ficar no exemplo da referida série, na adoção de uma rebeldia estereotipada, enlatada e vazia, sem ao menos se darem conta disso, nem da armadilha que os aprisiona – daí a responsabilidade daqueles que deveriam orientar, educar esses olhares.
Talvez o problema seja justamente esse – o da educação, da criticidade e critério diante da programação televisiva e da própria sociedade refletiva (não no sentido de reflexão crítica) nela. Como num big-brother às avessas somos o produto de nosso próprio olhar vigiado e autovigiado.
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Funcionário público municipal, Jaú, SP