Com a sua notável capacidade de sofismar, Arnaldo Jabor chamou de cínicos e burros os possíveis eleitores de Lula em 2006. A diatribe consta no artigo publicado em 25 de abril pelo jornal O Globo (‘A verdade está na cara, mas não se impõe’). Pergunta-se: a quem interessa esse tipo de crítica e que autoridade ‘moral-partidária’ tem o articulista para sustentá-la? Afinal, diferentemente de Clóvis Rossi (Folha de S.Paulo), que não poupa nem petistas nem tucanos, o logocêntrico cineasta acha que o PSDB tem a ‘a elegância do pragmatismo’ e ‘a beleza do bom senso’.
A história, infelizmente, não nos legou essa certeza. Hoje, após os sucessivos escândalos do governo Lula, a questão que promete mobilizar corações e mentes é a seguinte: qual a diferença entre a corrupção modernizadora tucana e a corrupção ideológica petista?
Muita gente na imprensa não está disposta a problematizar a matéria. Pelo contrário. O que vemos em Arnaldo Jabor, por exemplo, é uma demonstração inconteste de facciosismo. Amparado pela liberdade da crítica, o ‘analista’ aproveita-se da ruína dos ‘petralhas’ para exercitar a sua parcialidade. Jabor nunca disfarçou a sua simpatia pelo PSDB. Ele tem todo o direito de tê-la. O que não se admite é apresentá-la como contraponto (verdade?) à lambança lulo-petista. Todos sabem a que preço FHC e sua camarilha promoveram a ‘inserção do país no contexto globalizado’, donde se conclui que, se inexistiu nobreza na ‘prática idealista’ do PT, também não a houve na ‘realpolitik’ tucana.
Apuração e equilíbrio
Claramente, percebe-se um viés socialista (por vezes anacrônico e até totalitário) em boa parte das ações do governo Lula, de modo que fica clara a filiação ideológica da administração. Da mesma forma, existiu uma intenção pretensamente modernizante nas medidas que Fernando Henrique Cardoso adotou nos oito anos de sua gestão. Nos dois casos, por sua vez, persiste a incapacidade do governo em manter o respeito com a coisa pública e em criar mecanismos de controle eficazes contra as malversações.
Em face de tal constatação, resta apelar ao bom senso dos articulistas: se for moralidade a tônica dos debates, que não se utilizem dois pesos e duas medidas para informar ao eleitor. Tampouco se apresente como ‘verdade’ aquilo que for conveniente exibir como ‘verdade’. A propósito, esse é o papel do político, não do ‘formador de opinião’. A verdade gosta de se esconder e a doxa sofística ou a falácia parcial dificultam o seu desvelamento.
Aliás, impor às pessoas uma visão enviesada da realidade é tão ou mais cínico do que negar a existência de corrupção no governo Lula. O leitor/ouvinte precisa de fatos bem apurados e análises equilibradas para, a partir daí, tirar as suas próprias conclusões sobre corrupção modernizadora, corrupção ideológica e outros quejandos.
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Relações-públicas, Salvador