Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mario Vitor Santos

‘O leitor Licinio Machado Rogério escreve do Rio para cobrar do iG mais atenção à cobertura do boicote ao IPTU na cidade do Rio de Janeiro.

‘Sr Ombudsman,

Não vi referência a esse assunto, que, aqui no Rio, não sai das manchetes das primeiras paginas do Globo, JB e O DIA entre outros desde do início da semana. Cordialmente’

Licinio Machado Rogério

De um lado está o prefeito César Maia, uma personalidade única de político em exercício de função executiva. Obviamente, o prefeito Maia defende o imposto e avisa que quem não pagar a taxa agora vai ter que arcar com multas depois. Maia atua por meio de seu ‘Ex-Blog’, em que comenta temas variados, e fala também de IPTU.

Ele talvez seja o político de sua relevância que no mundo mais usa a internet como ferramenta diária de intervenção direta. Porém, mais importante do que essa promoção de uma nova forma de atuação é o conteúdo dela.

A iniciativa do boicote do IPTU é de associações de moradores, insatisfeitos com aumentos recentes no imposto e com o que chamam de baixa qualidade dos serviços. Os principais veículos de comunicação acompanham o caso, sendo que alguns deles dão explícito apoio ao movimento antipagamento.

O assunto interessa diretamente aos moradores do Rio, mas é relevante a todos os leitores. Até agora, o iG publicou apenas uma notícia sobre esse assunto, na segunda-feira passada, produzida pela Agência Estado.

Além disso, houve um comentário de Paulo Henrique Amorim em seu Conversa Afiada, atacando o jornal ‘O Globo’. É pouco. O iG precisa sair da inércia em relação à cobertura jornalística geral, e isso inclui priorizar fatos que ocorrem nas principais cidades do Brasil. Tendo sede em São Paulo, e uma de sua principais parceiras para noticiário geral sendo a Agência Estado, ligada ao grupo Estado de S. Paulo, o iG vê o mundo com olhos excessivamente paulistas. Isso traz conseqüências negativas. O Último Segundo (noticiário do iG) precisa investir no acompanhamento do noticiário no Rio (onde dispõe de apenas dois jornalistas), cuja importância é evidente. O Rio é importante porque é. Ponto. Além disso, representa um lado do Brasil para o qual São Paulo freqüentemente deseja ignorar. O Rio representa o Brasil. Quem quer falar para o Brasil precisa informar bem para o Rio e também falar para o Brasil sobre o que acontece no Rio. Com dois jornalistas voltados para isso, o iG vai sempre olhar para o Rio com olhos de estrangeiro e leitores como Licinio, corretamente, vão cobrar.

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Falso moralista (17/1/08)

Duas fotos envolvendo a exposição, supostamente obscena, de corpos de mulher, mostram os critérios no mínimo duvidosos que orientam a edição da capa do iG. As notícias são as imagens de uma cena de nudez durante um baile funk em Vitória e a manchete sobre um suposto gesto obsceno de participante do Big Brother. Ambas parecem criticar ou mostrar surpresa diante comportamentos tidos como incorretos. Na verdade, a crítica é falsa. Trata-se de um pretexto, pois o iG na verdade usa os temas para chamar atenção e causar sensação.

Do ponto de vista da técnica jornalística, as notícias são decepcionantes. Ambas escondem mais do que revelam. O iG desperta curiosidade, mas logo decepciona os curiosos. Sobre a notícia do Big Brother, faltam as informações mais básicas. Não há reportagem detalhando nem mesmo o que de fato ocorreu, não se explica o contexto, não há reprodução do diálogo. Apenas uma seqüência de fotos mostrando dois big brothers abraçados na cama. Uma cena de voyeurismo confusa que não explicita o tal gesto obsceno que motiva a foto na capa do iG. Também quanto às imagens da performance de nudez no palco do baile funk de Vitória carece do jornalismo mais elementar. O iG reproduz a cobertura de seu parceiro BandNews, o que tem um certo interesse, apesar da distância em que foram feitas as imagens captadas por celular. Mas as imagens e a cobertura da BandNews deveriam ser usadas apenas como um ponto de partida para um trabalho jornalístico mais completo e profundo.

Qual seria a razão de divulgar essas duas imagens (a do BBB e a da jovem pelada em Vitória), sem apuração, contexto e sem que tenha havido uma apuração independente da veracidade por parte do iG? Mais parece então que o objetivo é a atração de uma audiência passageira. É verdade, internet pode ser assim o despertar contínuo de reflexos instantâneos na mente do espectador. Mas pode ser diferente disso. Pode apoiar-se em juízo de valor mais defensáveis. De qualquer forma, são essas decisões que, para o bem e para o mal, constroem a identidade do portal. Neste caso, como em tantos outros, há uma certa afronta ao gosto e às inclinações de um público mais sofisticado. Além de errada do ponto de vista ético. Essa estratégia pode ser furada do ponto de vista mercadológico e publicitário. Os veículos que internacionalmente têm maior apelo como produto estão associados a uma imagem de contenção e qualidade editorial.

O problema não é apenas colocar ou deixar de colocar nudez na capa. É, sim, não fazer jornalismo até quando a nudez é um assunto. Na reportagem sobre a nudez no baile funk, o iG não se dá ao trabalho de realizar qualquer investigação com os envolvidos. Deveria, ao menos, confirmar a idade da jovem. Nesse caso, mais uma vez, o Manual do Último Segundo é ignorado.

‘Nenhuma notícia produzida pela redação do Último Segundo deve ser publicada se houver alguma dúvida sobre a sua veracidade, ainda que o jornalista acredite que a informação seja 99% certa. (…) No caso de notícias de outras fontes, elas não devem ser destacadas se houver alguma dúvida sobre sua veracidade.’

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Fashion Week: altos e baixos no primeiro dia (16/1/08)

Uma vista rápida no primeiro da São Paulo Fashion Week Inverno 2008 mostra uma cobertura do iG impressionante pelo volume de imagens e de textos. Num primeiro exame, destacam-se a quantidade excessiva, mas também a qualidade.

São diversos sites parceiros concorrendo entre si. O site de Érika Palomino, para citar apenas um, já tem cobertura bastante extensa, especialmente com informações curtas minuto a minuto, críticas abrangentes, muitas fotos. Some-se Glamurama, iG Moda, iG Gente, Chic, Vivi Mascaro, RG Vogue (com uma cobertura fotográfica de bastidores minuciosa) e mais uma lista de outros sites.

A transmissão exclusiva na internet ao vivo dos desfiles é o diferencial valioso. Neste primeiro dia, ao que parece, funciona muito bem. O maior problema até agora é a dificuldade para navegar dentro do iG até a área de vídeos, quando o desfile ao vivo já acabou.

Não há índice amigável e fácil dos desfiles ocorridos. Faltam chamadas claras, com listas de assuntos e facilidade de acesso. A ferramenta transmissora de vídeos apresenta vários problemas. É impossível fazer pausas, ou mesmo identificar que desfile está sendo reproduzido.

O saldo até agora é bem positivo, mas a tecnologia tem que acompanhar a avalanche de informações em muitas mídias simultâneas.

O jornalismo da moda

O iG anuncia em sua capa uma grande cobertura da São Paulo Fashion Week Inverno 2008, que começa nesta quarta-feira.

Parceiro oficial do evento, o iG promete transmitir todos os (quarenta!) desfiles ao vivo, com imagem e som. Afirma que vai oferecer dezenove sites destinados à cobertura de todo tipo de assunto ao longo da maratona de moda.

Haverá sites para modelos, para celebridades, para opiniões (de leigos profissionais e especialistas), informações ao vivo e reflexões sobre as melhores e as piores apresentações nas passarelas.

É uma avalanche de moda, em todos os sentidos. Independente do exagero, o tema é relevante e gera cada vez mais atenção.

Faz sentido que um grande portal invista pesado nessa cobertura. A dúvida, então, é a qualidade, então. O iG fez parcerias para veicular as opiniões de alguns dos jornalistas e veículos de moda mais conceituados do Brasil.

Isso em si não é garantia de nada pois as dificuldades são grandes. Quando o jornalismo se encontra com a moda, alguns de seus problemas se agravam.

São relações promíscuas entre fontes e jornalistas, baseadas muitas vezes em apadrinhamento e troca de favores. A qualidade técnica de apuração e checagem das notícias é baixa. Faltam vigilância em relação a cópias e são raros os casos de investigação independente e exercício do distanciamento crítico. O jornalismo de moda parece ser atividade de um outro mundo, em que as regras básicas da atividade deixam de funcionar. Mas há exceções.

O ombudsman vai acompanhar o trabalho do iG nesta São Paulo Fashion Week para ver se, do ponto da qualidade do jornaismo oferecido aos leitores, valeu a pena tanto investimento.

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A febre é amarela. E o noticíário? (14/1/08)

A cobertura jornalística da suposta epidemia de febre amarela que estaria em curso no país caracteriza bem a fraqueza técnica dos nossos veículos, inclusive, infelizmente, do iG. A mera divulgação dos casos, o destaque dado ao assunto, gera uma espécie de pânico injustificado, sem que se destaque também informações que levem o leitor a manter a calma e a segurança. O sensacionalismo é a marca de mais essa cobertura.

Postos de vacinação estão congestionados, faltam vacinas e pessoal especializado para atender à multidão. Gente que não precisa exige receber a vacina agora. Se as manchetes informassem não apenas as mortes (duas até agora), mas se dedicassem a mostrar como o risco se limita a apenas alguns grupos específicos da população, o pânico não existiria. Em grau menor, repete-se a situação de caos, quando a população correu em bando para casa após ataques do crime organizado.

Agora seria hora de colocar as estatísticas nas manchetes. Comparar o número de mortes deste ano com o mesmo período de outros anos, priorizar um levantamento equilibrado de informações. Colocar o assunto em perspectiva, reforçar a qualidade das informações e permitir que a razão funcione. Quem quiser se destacar, deve investir na boa técnica jornalística, não no escândalo. Ademais, já é possível notar que a ‘crise’ da febre amarela já está sendo exagerada com interesses políticos, como alerta Paulo Henrique Amorim no ‘Conversa Afiada, que ainda esta vez exerce um destemido, muitas vezes solitário e valioso ‘outro lado’ do jornalismo nacional.’