Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Terça-feira, 9 de maio de 2006 CRISE NA BOLÍVIA
Roberto Mangabeira Unger
‘A reação da parte endinheirada e cosmopolita da sociedade brasileira contra a nacionalização das instalações de petróleo e de gás na Bolívia revela a miopia, a mesquinharia e o mercantilismo que pervertem a discussão da política exterior no Brasil. O interesse vem travestido do direito, o privado confundido com o público e as vantagens de curto prazo sobrepostas aos objetivos de longo prazo. Tratam-se as relações entre dois países vizinhos -um grande e outro pequeno- a respeito de assunto de peso para ambos, porém muito mais vital para o pequeno do que para o grande, como ocasião só para garantir, ainda que por revide e coação, nossa parte.
Primeiro, os fatos essenciais. A Bolívia, sob governos anteriores, repudiados pelo povo boliviano como entreguistas, contratou para vender ao Brasil gás por menos da metade do preço pelo qual ele comumente se vende no mundo. Sucessivos governos brasileiros preferiram continuar dependendo do gás boliviano a desenvolver a base energética brasileira. Em troca, a Bolívia ganhou gasoduto e comprador fiel. E a Petrobras, sem cuidar de contrapeso ou de seguro contra o risco político, tornou-se um dos maiores investidores naquele país. A luta para controlar recursos naturais extraídos de minas e de poços foi sempre o fio da história da Bolívia e o foco da afirmação nacional dos bolivianos.
O que fazer diante da nacionalização e da revisão forçada dos contratos de fornecimento? À Petrobras, como empresa privada, cabe reivindicar seus direitos por todos os meios legítimos. Seus diretores estão obrigados a fazê-lo. Ao governo brasileiro cabe negociar com o governo boliviano com a magnanimidade dos fortes e dos clarividentes, demonstrando espírito de sacrifício e de solidariedade. E usar o imperativo de assegurar nossa independência energética como mais uma razão para pôr fim à política antidesenvolvimentista que se pratica entre nós.
Dizem que isso é romantismo idealista. Engano. A política exterior é ramo da política, não ramo do comércio. Na política exterior das democracias, realismo e idealismo se comunicam e se reforçam. E nenhum país ascende no mundo, ou sequer enriquece, subordinando interesses estratégicos duradouros a interesses comerciais passageiros. Não tem o Brasil interesse mais importante do que acalentar a integração sul-americana, afastando, para preservá-lo, a sombra de qualquer subimperalismo brasileiro. É assim, só assim, que construiremos o palco vasto e variado indispensável a política alternativa de desenvolvimento, que acumularemos força para negociar com o resto do mundo, que criaremos condições para resistir à imposição da hegemonia dos Estados Unidos na América do Sul e que ganharemos ânimo para ficar de pé.
Não cedo a ninguém no vigor de minha oposição ao rumo tomado pelo governo Lula, inclusive na política exterior. Denuncio, porém, o clamor por reação forte contra a Bolívia. Denuncio-o como movimento que desonra o Brasil e que ataca, ao mesmo tempo, nossos interesses permanentes e nossos ideais básicos. Denuncio-o como infidelidade às tradições e ao futuro de nosso país. Que os ventos soprando sobre as selvas e os cerrados brasileiros tragam ao povo triste e forte do altiplano, desfalcado de tudo, menos de dignidade, a verdadeira voz do Brasil: irmãos, sua libertação é nosso engrandecimento.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nessa coluna. www.law.harvard.edu/unger’
Carlos Heitor Cony
Um mensalão para a Bolívia
‘Uma das manias que Lula cultiva com mais entusiasmo é a do auto-elogio. E, quando deixa de elogiar-se a si mesmo e passa a elogiar as suas realizações, lembra os governos militares, que eram pródigos em dividir a história do Brasil em antes deles e depois deles.
Já lembrei a última prestação de contas do presidente Figueiredo, em que ele arrolou como obras suas até mesmo o Pão de Açúcar e o Corcovado. Lula ainda chegará lá, mas, na semana passada, chegou à Muralha da China.
Explico: durante o governo Médici, iniciaram uma estrada monumental, a Transamazônica. A publicidade oficial dizia que seria a maior obra da Era Moderna, tal como a Muralha da China na Antiguidade. Pela sua extensão e largura, a Transamazônica seria vista da Lua.
Semana passada, falando do gasoduto que seu governo está transando com países vizinhos, Lula disse que será uma obra igual a da Muralha da China, certamente com a vantagem de ser vista da Lua, embora, creia eu, grande parte dela seja subterrânea. Mas nunca se sabe.
O açodamento com que ele aceitou a soberania da Bolívia em cima de uma empresa brasileira foi também exagerado. Evidente que não é caso de o Brasil imitar países colonialistas e invadir a Bolívia para garantir investimentos ameaçados pela febre nacionalista de Morales. Mas rasgar contratos internacionais, trair compromissos aceitos de parte a parte, dá direito ao prejudicado pelo menos à estranheza, à busca de uma negociação, e não ao comodismo de aceitar a soberania alheia como referência maior da questão. A Bolívia é pobre (o Brasil também é pobre), merece ser auxiliada, mas não à custa dos interesses de uma empresa de mercado, como a Petrobras.
Lula deveria chamar Delúbio Soares e Dirceu para montarem um esquema igual ao do valerioduto para ajudar os bolivianos.’
CONGRESSO DE OMBUDSMAN
Ombudsmans discutem como jornais devem usar a internet
‘Para atrair um público mais jovem, o diário holandês ‘Volkskrant’ permitiu, no final de 2005, que qualquer pessoa pudesse criar um blog na internet com a chancela do jornal. Embora leve o nome do diário, não há qualquer aviso no blog informando que o seu conteúdo não é de responsabilidade do jornal.
Um dos blogs patrocinados pelo ‘Volkskrant’ publica uma foto e comentários quase diários do primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, descrevendo suas opiniões ou suas férias. O problema é que o verdadeiro ‘dono’ do blog não é o primeiro-ministro.
‘Abrimos a caixa de Pandora’, disse ontem Thom Meens, ombudsman do ‘Volkskrant’, que luta contra o jornal para modificar a decisão. ‘É uma situação horrível.’ Meens cita o caso de seu jornal como um ‘não-exemplo’ de como a internet pode ser usada na atividade jornalística.
O jornalismo na internet foi um dos principais temas debatidos no primeiro dia da 26ª Conferência Anual da ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), promovida em São Paulo e organizada pela Folha -o jornal prefere aportuguesar o plural de ‘ombudsman’ porque a palavra é de origem sueca, e não inglesa.
Ombudsmans de 12 países participam até quarta-feira do encontro, fechado ao público e realizado pela primeira vez em um país da América Latina.
No painel ‘Ética Jornalística na Era de Internet’, Edward Wasserman, professor de Ética Jornalística da Washington and Lee University, dos Estados Unidos, discutiu, com exemplos teóricos e práticos, as implicações da velocidade e abrangência da internet.
Desafios
O jornalismo eletrônico coloca uma série de desafios e oportunidades para a atividade. O fundamental, porém, seria preservar padrões éticos e de confiabilidade no jornalismo, hoje ameaçados pela velocidade e ‘voracidade’ da internet. Wasserman elencou uma série de pontos que trazem ‘novos desafios à ética convencional na prática do jornalismo’.
Uma das implicações é a ‘distribuição instantânea’ de informações, o que levanta questões sobre se uma notícia ‘está pronta ou não’, do ponto de vista de sua veracidade, para ser publicada.
Essa preocupação leva a outros dois pontos: o acesso ‘universal’ a todas as informações que são colocadas na rede, precisas ou incorretas, e sua durabilidade.
Acessadas por meio de programas de busca, informações não-precisas podem se perpetuar na rede e gerar novos erros. Para Wasserman, ainda não existem mecanismos seguros de correção ou meios de evitar a disseminação de informações imprecisas.
A abrangência da internet, segundo ele, gera ‘desafios e oportunidades’. Wasserman destacou o fato de jornalistas terem em mãos hoje um ‘poderoso instrumento’ de propagação de informações, como os blogs, sem depender necessariamente de uma grande empresa jornalística.
Wasserman lembrou o caso do blog norte-americano de Matt Drudge. Ele vazou em primeira mão que a revista ‘Newsweek’ teria escrito e não publicado reportagem sobre o caso entre o ex-presidente Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky. O escândalo chegou a ameaçar Clinton de impeachment, em 1999.
América Latina
Em outro painel, Germán Rey, ex-ombudsman do diário colombiano ‘El Tiempo’ e professor da Universidad de los Andes, discorreu para seus cerca de 40 colegas de 12 diferentes países sobre a situação do jornalismo na América Latina -um dos temas centrais desta conferência da ONO.
Alguns participantes do encontro já haviam demonstrado surpresa com os baixos níveis de circulação dos jornais impressos latino-americanos se comparados aos de países mais avançados.
Rey afirmou que os 213 milhões de pobres na América Latina e um PIB per capita médio quase 10 vezes inferior na comparação com os EUA explicam esse quadro, assim como a predominância da TV e do rádio como meios de comunicação de massa na região.’
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Abuso do ‘off the records’ é criticado
‘O apelo a informantes que não deixam ou não podem deixar seus nomes serem publicados pelos jornalistas afeta a credibilidade do jornalismo. O ‘off the records’, expressão em inglês e jargão jornalístico para as informações fornecidas por fontes não reveladas para o leitor, deve sofrer alguma forma de restrição por parte das empresas de mídia.
Foi basicamente essa a conclusão da palestra de Manning Pynn, ombudsman do jornal ‘The Orlando Sentinel’, da cidade norte-americana de Orlando, Flórida, e do debate que ele suscitou, em São Paulo, durante a 26ª Conferência Anual da ONO.
A questão é tão problemática nos Estados Unidos, disse Pynn, que ainda há duas semanas ela foi objeto de relatório de 97 páginas na reunião anual da Anse (sigla em inglês para a Associação Americana de Editores de Jornais).
Pynn citou pesquisa feita com pouco mais de 400 jornais americanos, na qual um quarto deles afirmou que em nenhuma circunstância publicava informações sem identificar a respectiva fonte. Outra pesquisa demonstrou que reportagens atribuídas genericamente a um informante não identificado era considerada ‘muito arriscada’ por 68% dos leitores americanos mais jovens.
Jornais como o ‘New York Times’, o ‘Washington Post’ e o ‘Los Angeles Times’, disse ainda Pynn, regulamentam o uso do ‘off the records’. Jornais menores, como o ‘The Orlando Sentinel’, tendem a aceitá-lo em despachos das agências -sobretudo quando tratam de política interna americana e são provenientes da capital, Washington.
Jeffrey Dvorkin, ombudsman da NPR (Rádio Pública Nacional americana), mediador do debate, citou o caso ocorrido nos anos 90, em que, com base numa denúncia anônima, a rede pública de televisão canadense, a CBS, noticiou que tropas canadenses haviam maltratado adolescentes na Somália. Foi, no entanto, uma iniciativa arriscada, disse ele.
‘O uso do ‘off’ é excessivo no Brasil’, disse o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba. O excesso é constatado sobretudo em Brasília, nas reportagens políticas e econômicas. ‘Isso corrói a credibilidade dos jornais’, afirmou.
Fórum Folha
Ao fim da conferência dos ombudsmans, amanhã, a Folha realizará o Fórum Folha de Jornalismo, aberto ao público que se inscreveu para assistir às mesas-redondas. As inscrições eram gratuitas, mas já estão esgotadas.
O fórum, a ser aberto por Otavio Frias Filho, diretor de Redação da Folha, terá quatro debates com a participação de especialistas estrangeiros da mídia dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Argentina e da Venezuela, entre outros. O primeiro painel, na quarta à tarde, será sobre ‘Transparência e Qualidade Jornalística’. O segundo, em seguida, abordará ‘Poder e Jornalismo na América Latina’.
A terceira mesa-redonda, na quinta, discutirá ‘Jornalismo e Democracia’. A última, também na quinta-feira, terá como tema ‘Os Limites da Reportagem’.’
TODA MÍDIA
Tentando
‘Franklin Martins foi exilado, afinal, da Globo toda. O Blue Bus, o pioneiro dos blogs de mídia, bem que questionou as razões da televisão, sem resultado.
Para quem se interessa, o comentarista segue no ar, sabe-se lá até quando, na CBN. Ontem ele dizia a Heródoto Barbero, sobre a entrevista de Silvio Pereira que está na manchete das Globos desde sábado:
– É difícil que, a esta altura do campeonato, isso aí consiga mudar o curso dos acontecimentos, porque tudo caminha para a batalha eleitoral, que vai decidir a avaliação que o país faz desta situação toda.
Para ele, a semana vai mostrar ‘a oposição tentando fazer disso o carro-chefe para nova ofensiva em cima de Lula’.
Ele falou pela manhã. Início da tarde e a Globo noticiava:
– As revelações de Silvio Pereira foram publicadas na véspera da reunião da OAB que decide se apresenta pedido de impeachment de Lula.
E logo, ao vivo:
– A OAB acaba de rejeitar a proposta de apresentar pedido de impeachment.
No Globo Online, ‘OAB rejeita impeachment de Lula’. Globo News, cinco horas depois, ‘Rejeitada na OAB proposta do pedido de impeachment’.
Mas então surgiu Fátima Bernardes, na Globo, com um novo enunciado:
– A OAB decidiu entrar com representação criminal contra o presidente Lula.
Por fim, os federais vieram em socorro ao ‘Jornal Nacional’ e tiraram a OAB da manchete -que ficou interminável como no ‘SBT Brasil’:
– A Polícia Federal intima o ex-secretário-geral do PT a comparecer à CPI dos Bingos. Silvio Pereira foi convocado para esclarecer as declarações que deu ao jornal ‘O Globo’. O ex-dirigente agora é alvo de acusações da cúpula do Partido dos Trabalhadores.
Para registro, Lula viaja depois de amanhã para a Áustria, onde, segundo o ‘Valor’, dias atrás, ‘deve aproveitar a cúpula União Européia-América Latina para discutir o modelo europeu de TV digital’.
DE LULA A NIXON
FHC, antes mesmo da decisão da OAB, deu uma longa entrevista ao ‘Canal Livre’, da Band, e evitou defender o impeachment de Lula.
Mas escorreu ironia, como de costume, ao comparar o brasileiro ao americano Richard Nixon, que foi reeleito e terminou impedido no segundo mandato. É o chamado ‘impeachment com hedge’, ou ainda, a prazo.
‘HYPE’ Garotinho ainda faz a festa dos blogs de humor. Mas já tem defensores, caso de Zuenir Ventura, com uma coluna que corre a blogosfera dizendo que ‘não há como não reconhecer’ que aconteceu ‘um golpe baixo do PMDB’ -sigla que seria o ‘real inimigo’ do candidato
Parecidos
Do blog de Fernando Rodrigues, depois em transmissão de vídeo do UOL News:
– Veja como o PT e o PSDB se parecem. Serra estava melhor, mas o PSDB escolheu Alckmin. Marta tem o dobro das intenções, mas…
O PT escolheu Aloizio Mercadante em São Paulo.
Chatos e raros
Para o blogueiro Jorge Moreno, o tucano e o petista ‘têm o mesmo perfil’:
– Isso quer dizer que os dois têm os mesmos defeitos. São vaidosos, reclamões. Circulam nas mesmas áreas e gostam de fazer média com celebridades: artistas, jornalistas, escritores. São determinados, exigentes, trabalhadores. Mas são chatos.
Chatérrimos!
Mais à frente no blog, em tom mais sério:
– Não há registros fortes de envolvimento de nenhum deles em corrupção. Os dois, me parece, são desses raros políticos que sabem diferenciar o interesse público do privado.
Dois lados
De uma parte, programas de debates como o de William Waack, na Globo News, já trazem a inusitada defesa dos acordos bilaterais dos EUA na América do Sul.
De outra, o londrino ‘Guardian’, em artigo, traz a defesa das ações de Evo Morales, não por conta de Petrobras ou Repsol, mas como reação aos tratados bilaterais. A tese é que a Bolívia responde aos acordos fechados por Colômbia e Peru com os EUA, que inviabilizaram suas exportações.
‘NYT’ e o etanol
Nesta última semana, o ‘New York Times’ publicou editorial, coluna e por fim o artigo, ontem mesmo, do líder democrata Tom Daschle e do fundador da Sun, Vinod Khosla, falando da auto-suficiência do Brasil como modelo para os EUA.
Foi sob tal pressão que George W. Bush sugeriu cortar a tarifa sobre o etanol do Brasil no canal de notícias da NBC.’
APPLE vs. BEATLES
Apple vence Beatles pelo uso da marca
‘A Apple venceu uma disputa judicial com os Beatles relativa a sua loja virtual iTunes, colocando um ponto final à ameaça de ter de remover sua marca e logotipo do principal serviço de donwloads de música digital do mundo.
A Apple Corps, dos Beatles, empresa que representa os interesses comerciais da extinta banda britânica, moveu uma ação judicial contra a fabricante de computadores americana em Londres, alegando que tinha o direito exclusivo de usar a marca registrada no mercado fonográfico segundo um acordo firmado em 1991 entre as duas companhias. Ontem o Tribunal Superior britânico rejeitou a ação da Apple Corps, alegando que a utilização do logotipo da maçã na loja virtual iTunes não significa que a Apple está atribuindo uma marca às gravações negociadas em seu site.
A decisão encerra a mais recente rodada de litígios das últimas décadas entre as duas empresas e impede a Apple Corps de pedir uma indenização no valor de dezenas de milhões de dólares por violação de marca registrada. A Apple vendeu mais de 1 bilhão de canções por meio do iTunes, que podem ser reproduzidas nos tocadores digitais iPod da empresa, os mais vendidos do mercado.
Maçã verde
A empresa britânica começou a utilizar a imagem de uma maçã verde em seus álbuns no final da década de 1960. A Apple foi fundada por Steve Jobs e Steve Wozniak em 1976 e utiliza o logotipo de uma maçã mordida.
A Apple Corps -que ainda pertence a Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono, viúva de John Lennon, e aos administradores do espólio de George Harrison- ainda não lançou nenhuma das canções dos Beatles em formato digital para a comercialização de downloads legais.
No ano passado, as vendas de música digital triplicaram para US$ 1,1 bilhão, quando os consumidores baixaram 420 milhões de faixas, o que elevou a fatia do setor digital para 6% da receita total do setor fonográfico, em um momento em que gravadoras sofrem com a queda nas vendas.’
INTERNET
Yahoo! terá sistema ‘seletivo’ de anúncios
‘DA BLOOMBERG – O Yahoo!, que opera a segunda ferramenta de busca mais usada da internet, lançará no terceiro trimestre um novo software, que permitirá às empresas anunciantes direcionar sua propaganda aos usuários do site de acordo com sua cidade, disse vice-presidente sênior da empresa, Steve Mitgang. O recurso já é oferecido pelo Google e pela Microsoft.
Posteriormente, o Yahoo! introduzirá alterações na forma pela qual os anúncios são classificados nas páginas de resultados de busca, utilizando o critério relevância para determinar os rankings dos anúncios – além do preço pago por clique. O novo software está quase concluído e os anunciantes poderão começar a utilizá-lo no terceiro trimestre deste ano.
Os ‘upgrades’ podem contribuir para que o Yahoo! chegue mais perto do Google, seu concorrente, e gere um número maior de vendas de anúncios para cada busca realizada em seus sites. Na semana passada, a Microsoft, terceira no mercado de buscas na internet, lançou um novo serviço publicitário, aumentando a pressão sobre o Yahoo! em relação aos seus sistemas de anúncios online.’
TELEVISÃO
Rede TV! produz série com incentivo fiscal
‘A minissérie ‘Rondon’, que a Rede TV! deve estrear em novembro, é exemplo da mais nova tendência na teledramaturgia nacional: obras de redes abertas pagas por dinheiro de incentivo fiscal.
Em outras palavras, a emissora não investe diretamente no produto. Os custos são bancados por empresas públicas ou privadas, que dão o patrocínio em troca de desconto no Imposto de Renda.
Por lei, esse benefício é proibido às redes. A operação ‘Rondon’, entretanto, não é ilegal, já que a produção e a captação estão sob responsabilidade de produtoras independentes (a Rondon Filmes e a LC Barreto, do veterano cineasta Luiz Carlos Barreto).
Com 20 capítulos, ‘Rondon’ tem orçamento de R$ 6,8 milhões, segundo o diretor, Fábio Barreto (filho de Luiz Carlos). Desse valor, R$ 2,5 milhões foram obtidos com estatais por meio da Lei Rouanet (que permite a empresas descontarem do IR o que investem em cultura). Dos governos do Mato Grosso, terra natal de Rondon (1865-1958), e do Rio, onde ele passou parte da vida, vieram R$ 4 milhões. Os R$ 300 mil restantes estão sendo negociados com empresas privadas.
Durante o lançamento do projeto, na semana passada (do qual participaram um neto e um bisneto de Rondon), Luiz Carlos Barreto disse que a produção de teledramaturgia com recursos de lei de incentivo é uma tendência. Para ele, no entanto, não se trata de verba pública. ‘É renúncia fiscal, não dinheiro do Tesouro Nacional, então não é verba pública. O imposto que iria manter repartições públicas e cabides de empregos é investido na cultura.’
Fábio Barreto foi enfático: ‘É fundamental usar renúncia fiscal para produzir em TV aberta, para que possamos colocar produto nacional no lugar dos lixos enlatados que temos de comprar’.
Mas ele admite haver limites: ‘Não dá para a TV aberta usar renúncia fiscal para fazer novela, ela não precisa disso. Mas um produto independente favorece a regionalização da programação’.
As gravações de ‘Rondon’ devem começar em agosto. Marcos Palmeira é cotado para interpretar o marechal. Luana Piovani e Luciana Gimenez também estão em negociação para o elenco.’
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O Globo
Terça-feira, 9 de maio de 2006
APPLE vs. BEATLES
Beatles perdem briga judicial pela maçã
‘LONDRES. A Apple Computer Inc., criadora do music player iPod, venceu uma disputa com os Beatles sobre a loja virtual iTunes, pondo fim à ameaça de remoção do famoso logotipo da maçã. A Apple Corps Ltd., dos Beatles, havia entrado com ação judicial em Londres contra a fabricante de computadores americana, alegando ter o direito exclusivo à marca no mercado fonográfico, segundo acordo firmado em 1991 pelas duas empresas. Mas ontem o Tribunal Superior britânico rejeitou a ação da Apple Corps, alegando que o uso do logotipo pelo iTunes não significa que a Apple Computer esteja atribuindo uma marca às canções negociadas no site.
Com essa decisão, a Apple Corps, que gastou cerca de US$ 5 milhões na disputa judicial, fica impedida de pedir indenização a sua homônima americana por violação de marca registrada. Em nota, o diretor-executivo da empresa, Steve Jobs, disse que agora espera trabalhar com os Beatles para colocá-los no iTunes.
A Apple Corps – de Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono e do espólio de George Harrison – ainda não lançou nenhuma canção dos Beatles em formato digital para download legal. Neil Aspinall, gerente da empresa, informou que vai recorrer da decisão.
A Apple britânica começou a usar a imagem de uma maçã verde em seus discos no fim dos anos 60. A americana foi fundada por Jobs e Steve Wozniak em 1976 e usa o logotipo de uma maçã mordida. ( Da Bloomberg News )’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 9 de maio de 2006
TELEVISÃO
JN terá barco-trailler
‘Além do ônibus-trailler, que cruzará o País a partir de 31 de julho para a série Desejos do Brasil, o Jornal Nacional contará também com um barco-trailler, igualmente equipado para abrigar uma redação de TV. O veículo será usado no trajeto Belém-Manaus e deve consumir de oito a dez dias no percurso a ser cumprido pelo JN.
Motivada pelas eleições que vêm aí, a caravana foi planejada para traçar um panorama das ansiedades do País por meio de pequenos municípios, captando os contrastes que compõem o Brasil. Sem o barco, a região Norte ficaria em desvantagem na cobertura.
Quando o ônibus chegar a Belém, a equipe trocará as quatro rodas pelo barco. Enquanto isso, o ônibus segue para Mato Grosso vazio. Em Manaus, o time do JN troca novamente de transporte e vai de avião ao encontro do ônibus, no Mato Grosso.
Assim como o ônibus, que funciona como um out door itinerante, o barco-trailler também será estampado indiscretamente com a logomarca do noticiário. Ele seguirá pelo Rio Amazonas e permitirá a visita do jornal a cidades ribeirinhas.
O trajeto por todo o País somará 15 mil quilômetros.’
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Cultura no Intervalo
‘Há tempos acusada de fazer publicidade de forma tão convencional como uma TV comercial – o que é bem verdade -, a TV Cultura inventou um meio mais nobre de empacotar seus comerciais. A partir de segunda-feira, a emissora inaugura o Cultura no Intervalo, batismo dado a vinhetas e programetes que vão rechear os seus intervalos com homenagens a personalidades diversas.
Oscar Niemeyer, Jamelão, Paulo Autran, Ruth Rocha, Ziraldo, Lygia Fagundes Telles, Tomie Ohtake e Tatiana Belinky já têm edições prontas. A cada break, uma vinheta anuncia o alvo do tributo a seguir. O Estado teve acesso a alguns desses filmes. Vinhetas diferentes serão inseridas entre um comercial e outro no mesmo intervalo, com a imagem de Niemeyer, por exemplo, e de suas obras; para fechar o intervalo e prenunciar a volta do programa em exibição, vai ao ar um programete de 30 segundos com um depoimento ou imagens do homenageado.
A idéia é útil ao nome da emissora e também ao mercado publicitário, que verá seus filmes divididos por vinhetas. Já estão em produção programetes e vinhetas sobre Cazuza, Vinicius de Moraes, Telê Santana, Ana Botafogo, Antunes Filho, Carequinha e Renato Aragão.’
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