Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Deputado federal quer impedir
a exibição do Código da Vinci


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Quarta–feira, 10 de maio de 2006


RELIGIÃO & CENSURA
Silvana Guaiume


Deputado tenta na Justiça barrar exibição do filme ‘O Código Da Vinci’


‘O deputado Salvador Zimbaldi (PSB-SP) está travando uma guerra contra a exibição no País do filme O Código Da Vinci, baseado no livro homônimo do escritor Dan Brown. Depois de ter uma medida cautelar recusada na 2ª Vara Cível do Fórum Regional de Santo Amaro, o deputado irá recorrer ao Tribunal de Justiça do Estado. O advogado de Zimbaldi, Affonso Pinheiro, disse ontem que estava preparando a apelação com pedido de liminar impedindo a exibição. A estréia mundial do filme nos cinemas está marcada para o próximo dia 19.


‘A Constituição determina que a liberdade de crença é inviolável e garante proteção aos locais de culto e às suas liturgias’, argumentou Pinheiro, alegando que o livro e o filme desrespeitam a liturgia católica. Afirmou, ainda, que a produção afronta a Bíblia, um patrimônio histórico cultural. O advogado acrescentou que a obra agride fatos históricos bíblicos que fazem parte da colonização do Brasil.


REALIDADE E FICÇÃO


O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Odilo Pedro Scherer, ponderou que falar sobre o filme é fazer propaganda dele. Mas não resistiu e lamentou que Brown tenha misturado situações históricas reais a fictícias, ‘que confundem as pessoas’. Para ele, o livro ‘é desrespeitoso’ e revela ‘decadência cultural’.


A produtora e distribuidora do filme, Sony Pictures, informou que não vai se pronunciar sobre a ação judicial.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Overdose de Copa


‘Não é só com esportivos, especiais e sorteios relacionados ao mundial da Alemanha que o telespectador está sendo bombardeado na TV. No break comercial o assunto predileto é: Copa.


Isso é o que aponta estudo recente realizado pela Controle da Concorrência, empresa que monitora inserções comerciais para o mercado. Um levantamento feito no mês de abril, em horário nobre e em rede nacional, detectou pelo menos 12 anunciantes grandes que estão com campanhas no ar atualmente voltadas para o assunto. Juntos, eles somam cerca de 560 inserções relacionadas ao tema.


A maior aposta destacada na pesquisa foi do Rexona, que traz campanha com Ronaldinho Gaúcho. Só no mês de abril, a marca colocou no ar 263 inserções do comercial, liderando o número de inserções entre os anunciantes com o tema. A campanha vem seguida da do Guaraná Antártica com Maradona, que teve em abril 92 inserções, e da milionária campanha reunindo craques como Cacá, Ronaldinho e Robinho, do grupo Santander, que foi ao ar 41 vezes no mês passado.


Muito? No próximo mês, esse número deve dobrar.’


Cristina Padiglione


Cultura quer ‘clipar’ outros telejornais


‘Novo diretor de jornalismo da TV Cultura, Albino Castro quer inserir no Jornal da Cultura, diariamente, um resumo do que os principais noticiários de outros canais informaram até ali (às 9 da noite). Como TV pública que é, a Cultura pode muito bem quebrar essa bobagem vigente entre os canais de TV no Brasil, em que uma emissora não se permite mencionar a outra, nem quando o interesse público fala mais alto.


Esse cinismo entre os canais de TV é algo que não se dá, ou não na mesma medida que aqui, em outros países.’


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Folha de S. Paulo


Quarta–feira, 10 de maio de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Das Arábias


‘A auto-suficiência do Brasil emplacou. Nos EUA. Dan Rather, o lendário âncora da CBS, hoje no ‘60 Minutes’, foi parar em terras brasileiras, no domingo à noite, na rede.


– Em vez de gasolina, muitos brasileiros usam etanol em seus carros. É mais barato e limpo. Como resultado, o Brasil parou de importar o caro petróleo estrangeiro. Então, o ‘60 Minutes’ se perguntou: por que não fazemos o mesmo nos EUA? Fazendeiros, montadoras, investidores de Wall Street e muitos cientistas pensam que podemos.


Daí por que ‘o ‘60 Minutes’ viajou ao Brasil, para ver como eles fazem funcionar’ o etanol.


A reportagem saiu de São Paulo, onde ‘é vendido em todos os postos’, para os carros ‘flex’ da GM de Rick Wagoner, ‘que antes de assumir a companhia cuidou das operações no Brasil’.


Depois foi a uma fazenda no Estado de Iowa e, por fim, até um professor de Berkeley, a quem Rather perguntou:


– Estamos falando em três anos? Cinco? Vinte anos?


– Eu aposto que teremos o bastante em postos de etanol em dois ou três anos, no máximo.


Tem mais. Segunda à noite foi o ‘World News Tonight’, da ABC, que trouxe cenas do enviado Jim Avila nos postos de São Paulo e canaviais do interior.


– É uma revolução na eficiência de combustível… O etanol é mais limpo e é a principal razão para este país ser agora independente, sem precisar comprar mais petróleo no exterior.


Sobre imagens de Lula, o ministro Roberto Rodrigues dizia:


– O império do petróleo está chegando ao fim. Para onde você for no mundo todo, as pessoas estão atrás de alternativas.


O pitoresco na ABC foram os passeios pelas ruas de São Paulo com um brasileiro, Fernão, sempre com louvores ao ‘flex’.


O enviado fechou perguntando e respondendo ele mesmo:


– O etanol pode substituir grande parte da gasolina nos EUA? Os postos no Brasil têm logotipos conhecidos, mas as companhias americanas teriam que ser convencidas de que faz sentido investir em distribuição.


Como as redes, também o ‘Chicago Tribune’ viajou com o etanol -e, como se viu nos últimos dias, também ‘New York Times’ e ‘Wall Street Journal’. E George W. Bush, é claro.


Ontem nos sites WP.com e NYT.com, a agência Reuters noticiou que o líder da maioria republicana defendeu votar corte ‘temporário’ das tarifas sobre a importação de etanol. E a Dow Jones destacou um anúncio do secretário de Energia, de que Bush está ‘preparado’ para levar a proposta ao Congresso.


Para registro, ‘WSJ’ e ‘Financial Times’ noticiaram ontem, respectivamente, que: ‘a China sedenta-de-combustível corteja o Brasil por um acordo para comprar etanol’; e ‘autoridades européias expressam interesse em aumentar o uso de etanol’ importado do Brasil, ‘a Arábia Saudita do biocombustível’.


EM CAMPANHA No ‘60 Minutes’, um cartaz em Iowa anuncia ‘o combustível da América’; no ‘World News Tonight’, Lula na Petrobras


‘BIG STICK’


Foi manchete na Folha Online, à tarde, ‘Política do Brasil nunca será a do ‘porrete’, diz Celso Amorim’.


O chanceler se referia à Bolívia, onde a Petrobras é vista como a velha Standard Oil, e à política intervencionista americana do ‘big stick’ na América Latina. Mas logo o enunciado do site mudou para ‘Ação de Chávez causou ‘desconforto’, diz Amorim’, mostrando que o Brasil não gostou de ver o presidente venezuelano no quintal.


Por sinal, no recém-premiado blog ‘Comment is Free’, do britânico ‘Guardian’, o ativista Conor Foley postou ontem elogios à ‘atitude diplomática que Lula tem mantido nas negociações’ com a Bolívia e observou:


– O Brasil fez mais do que qualquer outro país, na contestação das práticas comerciais injustas dos EUA, e é irônico que se veja alvo da retórica ‘Yankee go home’.


170


Na segunda manchete do ‘JN’, ‘Acusada da fraude com ambulâncias diz que 170 deputados se envolveram e recebiam a propina dentro do Congresso’.


Foi só após vazar o depoimento à tarde que se noticiou, no blog do UOL, que ‘Aldo Rebelo e Renan Calheiros reagem e querem mudar a toque de caixa a regra para verbas do Orçamento’.


Voando


Na Band, ‘Ex-secretário do PT alega estresse para não depor’. Não colou. Com as ‘ideações de auto-extermínio’ de seu laudo médico ‘dramático’ segundo o blog da Folha Online, ele já ‘está voando para Brasília’ -como saudou o ‘JN’, na manchete.’


CONGRESSO DE OMBUDSMAN
Folha de S. Paulo


Ombudsmans falam dos preconceitos que afetam o jornalismo


‘A falta de cultura histórica e de contextualização no jornalismo ocasiona coberturas preconceituosas e caricaturais de temas sociais, segundo debatedores de ontem da 26ª Conferência Anual da ONO (Organization of News Ombudsmen, ou Organização de Ombudsmans de Notícias), organizada em São Paulo pela Folha.


Exemplos recentes incluiriam a nacionalização do gás na Bolívia, as manifestações em Paris que resultaram na queima de centenas de automóveis, as charges contra o profeta Maomé e a cobertura de ações policiais nas favelas do Rio.


A ONO convidou o geógrafo e colunista da Folha Demétrio Magnoli para discutir o assunto com Robert James Batten, do grupo Australian Broadcasting Corporation, e Stephen Pritchard, ombudsman do jornal britânico ‘The Observer’.


Em todos os exemplos citados por Magnoli faltaram, segundo ele, ‘cultura histórica dos jornalistas’ para colocar as reportagens em um contexto mais amplo.


No caso mais recente, do gás boliviano, Magnoli afirmou que a mídia preferiu fechar o foco na influência do presidente venezuelano Hugo Chávez no episódio.


Isso colocou, segundo o demógrafo, o ‘vulcão social’ boliviano em segundo plano entre as motivações que levaram o presidente da Bolívia, Evo Morales, a adotar a medida. ‘O fator social foi esquecido, como se Morales tivesse alternativas’, disse.


No caso das charges contra o profeta Maomé, Magnoli disse que as manifestações ‘menores e específicas na Europa’ foram tratadas com a mesma relevância das ‘grandes e violentas’ no Oriente Médio -dando força erroneamente à tese de um ‘choque de civilizações’ entre o mundo ocidental e islâmico.


Austrália


Robert Batten também discorreu sobre a amplificação de preconceitos pela mídia ao analisar as manifestações contra libaneses ocorridas no final de 2005 na Austrália. Segundo Batten, o assunto começou como um pequeno desentendimento entre descendentes de libaneses e três salva-vidas australianos. Nos dias seguintes, acabou se tornando um caso de perseguição nacional contra libaneses depois que uma rádio adotou tom preconceituoso.


O caso das charges contra Maomé também foi tema de um debate. O ombudsman da Danish TV (Dinamarca), Jacob Mollerup, disse concordar com o princípio da liberdade de expressão. Mas os princípios, segundo ele, não levam em conta contingências e particularidades, como o caráter ofensivo que as caricaturas passaram a ter no mundo muçulmano.


Mesmo admitindo uma orquestração da crise por países islâmicos de regime autoritário, Mollerup disse valer para o episódio o mesmo que vale para a comunidade judaica: caso algo possa ofender, é sensato não publicar.


Jantar


Os ombudsmans participaram à noite de um jantar oferecido pela Folha na Pinacoteca do Estado. Em discurso, o diretor de Redação do jornal, Otavio Frias Filho, ressaltou a importância da função. ‘A opinião de um ombudsman independente é o mais valioso dos mecanismos de freios e contrapesos capazes de moderar eventuais abusos de um veículo e corrigir seus rumos’, afirmou.


Ian Mayes, ombudsman do jornal britânico ‘The Guardian’ e presidente da ONO, falou da satisfação de a reunião anual da entidade ter se realizado pela primeira vez fora de uma cidade européia ou norte-americana. Segundo ele, o evento em São Paulo fortalece os laços entre a ONO e a América Latina.


Fórum Folha


A conferência dos ombudsmans termina hoje de manhã. No mesmo local, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo, começa às 15h o Fórum Folha de Jornalismo, aberto ao público, mas com lotação já esgotada.


Os especialistas convidados participarão hoje de dois painéis, ‘Transparência e Qualidade Jornalística’ e ‘Poder e Jornalismo na América Latina’.’


TELEVISÃO
Teté Ribeiro


‘Big Love’ gera debate entre mórmons


‘Ter três mulheres ao mesmo tempo, sem esconder uma da outra, deve ser o sonho de muitos homens por aí. Mas, na série ‘Big Love’, do canal HBO, a grande novidade da TV norte-americana neste ano, Bill Hendrickson, o polígamo casado com três mulheres, tem mais conflitos que as donas-de-casa de ‘Desperate Housewives’ e os machões de ‘Sopranos’.


O mórmon de Salt Lake City, no Estado de Utah, interpretado por Bill Paxton, 49, é dono de duas lojas de material de construção e passa o tempo todo tendo problemas com o sogro, com o irmão ex-alcoólatra, com o cunhado violento, com uma mulher ciumenta, com outra consumista compulsiva. Como se não bastasse o medo de os vizinhos descobrirem seu estilo de vida, existe o pavor de não satisfazer sexualmente as três, interpretadas por Jeanne Tripplehorn, 42, Chloë Sevigny, 31, e Ginnifer Goodwin, 28. E dá-lhe doses de Viagra.


A série estreou com a promessa de fazer para os polígamos o que ‘A Sete Palmos’ tinha feito para os agentes funerários: mostrar de forma humana e ao mesmo tempo crítica um estilo de vida que a maioria das pessoas nunca vai conhecer. A audiência mostrou seu apego em números: 3,5 milhões assistiram ao primeiro episódio de ‘Big Love’.


Mas, se agradou ao público, criou polêmica entre os seguidores dos ensinamentos de Joseph Smith Jr. (1805-44), o fundador da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a igreja dos mórmons, que acreditava que os homens que vivessem honestamente com várias mulheres eram os que recebiam as maiores recompensas quando morressem.


Líderes da igreja, que rejeita a poligamia há mais de cem anos, reclamaram que o simples fato de o seriado se passar em Salt Lake City, cidade-sede dos mórmons, reforça um velho preconceito e um estereótipo que eles lutam há anos para esclarecer. Mas nem toda a polêmica foi negativa: alguns apoiadores do casamento plural, proibido nos EUA em 1890, gostaram de ver seu estilo de vida na TV, sem ser em programas jornalísticos policiais.


É o caso da viúva Anne Wilde, 70, de Salt Lake City, que foi casada duas vezes, com dois polígamos, e afirma ter sido muito feliz. ‘O seriado mostra um pouco da nossa cultura ao público’, disse ela a um jornal local. A ONG Tapestry against Polygamy, que ajuda mulheres a se livrarem de casamentos polígamos infelizes, também anunciou seu apoio.


O sucesso de ‘Big Love’ já rende frutos. A HBO encomendou uma segunda temporada depois de ter exibido apenas cinco episódios nos EUA. A HBO Brasil ainda não tem data prevista para a estréia do seriado, mas promete que ele será uma das novidades do canal pago.’


Sérgio Rizzo


Especial foca no verdadeiro agente 007


‘A série 007 e a franquia ‘Missão: Impossível’ tornaram familiar para o grande público a figura do agente secreto a serviço de delicadas -e às vezes pouco nobres- razões de Estado, na pele de James Bond (na linhagem de atores que vai de Sean Connery a Daniel Craig) e Ethan Hunt (Tom Cruise). Muito mais fascinante do que eles, no entanto, era Sidney Reilly, ou Sigmund Rosenblum, espião inglês que teria inspirado o escritor Ian Flemming na criação de 007.


‘A Vida de Reilly, o Superespião’, episódio de hoje, às 21h, da série ‘Desaparecidos’, do THC, apresenta a trajetória desse judeu russo e poliglota cujos rastros foram vistos pela última vez na década de 20. Na ocasião, ele agia para desestabilizar o governo soviético, mas é provável que Stálin e seu serviço de inteligência tenham sido mais rápidos e eficientes. O documentário sustenta, no entanto, que não há dados suficientes para estabelecer o que, onde (os soviéticos afirmaram que ele tentava fugir pela Finlândia) e como teria ocorrido.


Reilly não era exibicionista como o personagem criado por Flemming a partir de seus traços, embora fosse mulherengo e aproveitasse a vida enquanto trabalhava. Além disso, pertenceu a uma época que ainda não era a das imagens. Diante dessas dificuldades, vê-se bem pouco dele mesmo no programa.


Ilustra-se a sua história com os grandes eventos e líderes políticos de seu tempo, o que responde por um bocado da mitologia que o cerca: Reilly (interpretado por Sam Neill em minissérie de 1983) quase sempre esteve no olho do furacão quando o mundo era redesenhado. Para dar um toque de ambigüidade (e aqui já estaríamos no universo dos espiões criado pelo escritor Graham Greene), o documentário lembra que ele foi acusado por seus colegas britânicos de ser agente duplo.


A Vida de Reilly, o Superespião


Quando: hoje, às 21h, no The History Channel’


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O Globo


Quarta–feira, 10 de maio de 2006


FHC NO CASSETA
O Globo


FH encontra Cassetas e provoca Lula


‘O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não costuma abrir mão do humor em seus comentários – e ontem, na noite de autógrafos de seu livro ‘A arte da política – A história que vivi’, no Caesar Park, o humorismo profissional foi a seu encontro: circulando entre os convidados, os gaiatos Hubert e Marcelo Madureira aproveitaram para gravar cenas da próxima edição do ‘Casseta&Planeta’. O personagem Tony Balada, um repórter da noite que vive trocando os nomes de seus entrevistados, informava que estava no lançamento do livro de Hubert – o humorista que costuma caricaturar o ex-presidente no programa da TV Globo.


A sério, Fernando Henrique falou rapidamente sobre política. Ele disse que o candidato tucano Geraldo Alckmin precisa de tempo para subir nas pesquisas. Sobre as novas denúncias de corrupção no governo federal, ele afirmou que é cedo para esses novos fatos se refletirem nas pesquisas. Para ele, o presidente Lula teve erros e acertos – e reivindicou para si o sucesso dos programas sociais do sucessor:


– Eu iniciei esses programas. Lula está dando prosseguimento a projetos que começaram no meu governo.’


CASO PIMENTA NEVES
Zuenir Ventura


Questão de lógicas


‘Pessoalmente não tenho queixas da Justiça. Ao contrário. Apesar de alguns processos, nunca fui condenado e tenho pelos juízes em geral o maior respeito, a começar pela presidente do Supremo Tribunal Federal. Ellen Gracie, com esse nome artístico, é o mais novo ícone entronizado no meu altar de admirações. Chego mesmo a acreditar na teoria conspiratória de que houve um conluio de Lula e Renan Calheiros para impedir que ela assumisse interinamente a Presidência.


Se isso acontecesse, as diferenças seriam logo notadas, poderia haver um levante pela permanência dela, e Ellen talvez se transformasse na nossa Marianne, a figura alegórica que representa a República francesa. Ela é tudo o que falta ao poder – elegância, beleza, integridade. Pena que também a Justiça não tenha o seu rosto e sim, ao invés, uma imagem que se desgasta a cada julgamento como o de Pimenta Neves. Insondáveis são seus desígnios para leigos como eu. Entendo que ela queira ser cega e surda aos clamores da rua, mas, data vênia, bem que poderia manter relações menos esquizofrênicas com a opinião pública e o bom senso.


O caso do jornalista-assassino é exemplar desse choque de lógicas – a interna, da instituição, e a nossa, míseros mortais, para a qual aquela nem sempre faz sentido (digamos de boa fé que seja uma questão de lógicas e não de classes, que ela trate por igual ricos e pobres). Vai convencer a família da vítima de que é justo um réu confesso de crime torpe levar seis anos para ser julgado, ser condenado a mais de 19 anos com provas irrefutáveis, sair livre e, provavelmente, assim permanecer por longo tempo, pois de recurso em recurso, de redução em redução, dificilmente cumprirá a pena integralmente, se é que vai cumprir uma parte.


Vi e ouvi pela TV as razões do pai, baseadas na dor, e as do juiz, citando uma decisão do STF proferida quando o réu ainda não fora condenado. Tudo bem que não havia ‘transitado em julgado’, como se diz em justicês. Mas na lógica da vida real o julgamento, tão bem conduzido, resultou num faz-de-conta: condenou com rigor, mas sabendo que na prática não era para valer, já que foi concedido ao condenado de agora o benefício devido ao presumido inocente de antes.


É evidente que essas distorções são provocadas por uma absurda Lei de Execuções Penais que facilita chicanas e manobras protelatórias dos advogados, ao mesmo tempo em que deixa os juízes com a consciência tranqüila do dever legal cumprido. Esta talvez seja a pior conseqüência do mal: produzir uma Justiça mais preocupada em ficar bem com as leis, inclusive as tortas, do que em fazer justiça.’


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