Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

VENEZUELA
Comunique-se

Manifestações e texto da União Européia condenam fim de concessão da RCTV, 25/05/07

‘No mesmo dia em que Marcel Granier, presidente da RCTV, disse que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ‘ainda tem tempo’ de mudar de idéia sobre o fim da concessão da empresa, deputados do Parlamento Europeu aprovaram uma resolução condenando a medida do governo. A emissora informou ainda que ‘desde as 20h desta quinta se ouve o som das panelas batendo em diferentes partes do país’ em protesto pela postura de Chávez. A concessão da Radio Caracas Televisión expira no domingo (27/05).

O panelaço ocorreu quando todos os canais transmitiam o presidente venezuelano em um ‘protesto universitário’. Em uma manifestação com estudantes, Chávez declarou que os empresários da RCTV tentarão impedir a medida de substituí-la por um canal estatal tentando manter o sinal para bloquear o canal do governo.

A RCTV reiterou que a insatisfação não pôde ser registrada por causa da transmissão do evento em que estava o presidente do país. Várias pessoas responderam ao barulho com gritos de apoio a Chávez.

Peru

Uma manifestação sobre o fim da concessão também ocorreu nas ruas de Lima, no Peru. Um grupo de integrantes do Movimento de Nova Esquerda (MNI) e outras organizações manifestou apoio ao presidente da Venezuela. A mobilização chegou até a embaixada venezuelana.

‘Nós, como socialistas, estamos de acordo com suas medidas. Não é uma ditadura, mas para seguir a orientação socialista medidas como esta são necessárias’, disse Gloria Pajuelo, responsável pela Secretaria da Mulher do MNI. Parlamentares do Partido Nacionalista Peruano (PNP), do líder da oposição peruana, Ollanta Humala, e da União Pelo Peru (UPP) apoiaram a mobilização que teve como lema ‘A liberdade de imprensa não é liberdade de empresa contra o povo’.

Europa

O texto de protesto do Parlamento Europeu foi aprovado por 43 votos contra 22. Apesar de contar com 784 deputados, a instituição votou o texto apenas no fim da sessão, com a maioria dos parlamentares fora do plenário. A proposta foi do conservador Partido Popular Europeu (PPE) e do grupo liberal União pela Europa das Nações.

O documento condena a ‘predisposição nula ao diálogo’ do governo venezuelano e afirma que o fim das transmissões da RCTV acaba com a pluralidade das comunicações do país e ameaça a função jornalística. ‘É obrigação do governo Chávez respeitar e fazer respeitar a liberdade de expressão, a liberdade de opinião e a liberdade de imprensa’.

O texto diz que a RCTV e demais empresas de comunicação devem ter qualquer ação supostamente criminosa questionada na justiça e não com o fim da concessão. Trata-se de uma referência às acusações de Chávez sobre o apoio da emissora ao golpe de Estado fracassado em 2002.

Alguns deputados europeus criticaram a iniciativa do Parlamento. Raúl Romeva, do Partido Verde espanhol, disse que a resolução era ‘oportunismo’ de alguns deputados de seu país. ‘Vocês se esquecem de que a não-renovação da concessão só afeta a linha VHF, não as transmissões em UHF, cabo, satélite e pela internet’, lembrou.’

OPERAÇÃO NAVALHA
Tiago Cordeiro

Globo rebate acusações de Crivella sobre favorecimento da Polícia Federal, 25/05/07

‘O senador Marcelo Crivella criticou a cobertura da Rede Globo sobre a operação Navalha afirmando que a Polícia Federa tornou-se ‘sócia’ da emissora ao disponibilizar imagens com exclusividade para os telejornais da TV. ‘A meta de todo jornalista é conseguir uma boa notícia antes da concorrência. No jargão da imprensa, isso se chama ‘furo’, conquistado pelo mérito dos nossos profissionais. Para atenuar essa conquista, quem ficou para trás muitas vezes alega que houve favorecimento. A novidade agora é que a concorrência passou a ter, assumidamente, um porta-voz político-religioso. Apenas isso preocupa: o uso do parlamento e da religião para patrulhar a livre concorrência e, pior, a liberdade de imprensa’, rebateu a Globo.

‘Não posso concordar que a PF divulgue informações e privilegie um meio de comunicação em detrimento de outros. A Globo recebeu as imagens no sábado e as demais emissoras no domingo, de maneira que só saiu exclusividade no Fantástico’, declarou o político na quarta-feira (23/05).

O senador preocupou-se em diferenciar o ‘furo’ do suposto favorecimento. ‘Foi uma informação que foi divulgada de maneira discricionária. Foi chamada a emissora e dada a fita a ela, isso não traz nenhuma vantagem, é uma vergonha. Não pode haver furo nesse caso em que o poder público dá as informações.’ Apesar das acusações, Crivella não entrou com nenhuma representação para investigar o caso, condição que, durante a semana, o ministro da Justiça, Tarso Genro, apontou como fundamental para investigar o suposto favorecimento.

De novo

Não é a primeira vez que as emissoras concorrentes entram em atrito. No início de maio, a TV Globo chegou a considerar que a Record havia divulgado imagens exclusivas da operação Furacão veiculadas no Jornal Nacional. A rede de Edir Macedo transmitiu imagens da operação horas antes do Fantástico. Na verdade, o vídeo já havia sido divulgado entre os demais órgãos de imprensa após a exibição no JN.

A Polícia Federal nega ser responsável pelo vídeo exibido pela Globo no ‘Fantástico’, criticado por Crivella. Além da polícia, o Ministério Público, o Tribunal de Justiça e advogados de defesa dos acusados da operação têm acesso a filmagem. O senador não explicou como soube que a polícia teria feito o favorecimento.

Competência

Na polícia federal, chegou-se a comentar que as críticas ‘confundem cobertura com competência’. A Globo é descrita como uma emissora ativa na busca por informações, mas não há nenhum conhecimento sobre um suposto favorecimento. O Comunique-se solicitou uma posição oficial da Polícia Federal, mas ninguém quis se manifestar oficialmente sobre o caso.

Sobre a nota, o senador Crivella acusou a emissora de querer ‘mudar o foco da discussão’ e descartou o fato de ser ligado a TV Record. ‘A verdade é que foram prejudicados o SBT, a Band, a TVJB e todos os demais veículos com exceção da Globo que recebeu a matéria no sábado. Isso é que me preocupa e se amanhã isso ocorrer favorecendo a Record e quem quer que seja subirei a tribuna’.’

ISTOÉ CONDENADA
Comunique-se

Istoé é condenada a indenizar delegado da Polícia Federal em R$ 100 mil, 25/05/07

‘A Editora Três, que publica a revista Istoé, foi condenada a indenizar o delegado da Polícia Federal Cláudio Nogueira em R$ 100 mil por danos morais. A decisão, da 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, é baseada em duas reportagens sobre a Operação Ouro Negro que, segundo os desembargadores, trouxe informações que eram sigilosas.

‘Mais do que mero exercício de liberdade de imprensa, a matéria ofende a reputação profissional, sobretudo, em se tratando de atividades de delegado da divisão de inteligência da polícia federal, que trabalha sob sigilo nas investigações’, afirmaram os desembargadores.

As reportagens citam o delegado como fonte, inclusive com declarações do próprio. Nogueira diz que não deu entrevistas nem forneceu documentos para a reportagem da revista, e que as matérias geraram constrangimento porque a operação era sigilosa, e a publicação das informações causaram o afastamento do delegado do caso e um processo na Procuradoria-Geral da República e outro na própria PF. Ainda segundo os desembargadores, as reportagens causaram prejuízo ao resultado da investigação.

A Editora Três alegou, na defesa, que as informações foram conseguidas com outra fonte, que não foi revelada. (*) Com informações do Consultor Jurídico.’

FRANÇA
Comunique-se

Jornalistas do Le Monde demitem executivo, 23/05/07

‘Jornalistas do francês Le Monde votaram pela demissão de Jean-Marie Colombani, presidente-executivo da empresa, por não acreditarem na nova estratégia do empresário para recuperar o veículo. Colombani precisava de 60% de apoio na votação da terça-feira (22/05) na Societé des Redacteurs du Monde (SRM), entidade dos jornalistas do Le Monde, mas obteve apenas 48,5% .

A SRM tem poder de veto sobre o cargo do jornal fundado em 1944 pois seus representados possuem mais de 30% do capital da empresa. ‘Foi uma verdadeira surpresa, porque ele bombardeou a redação com e-mails e conselhos sobre as razões pelas quais deveríamos votar nele. As pessoas estavam cansadas disso, e foi um tapa incrivelmente forte na cara,’ afirmou Jean-Pierre Tuquoi, um dos 12 diretores da SRM.

Nem metade

Colombani tentava obter seu terceiro mandato no jornal com um plano para mudar o quadro de uma empresa que teve prejuízo de €14,2 milhões em 2006, com um faturamento 50% menor pelo segundo ano consecutivo. ‘Ele não conseguiu nem 50% [dos votos]. Ninguém achava que ele teria tão pouco’, completou Tuquoi.

O executivo não foi encontrado para comentar a derrota. O Le Monde comunicou que só se manifestará após reunião do conselho ainda esta semana.

Mudança

As jornalistas Beatrice Schonberg e Christine Ockrent, respectivamente dos canais France 2 e France 3, mudaram de editoria após seus maridos serem nomeados ministros. Nos dois casos, a nomeação foi a justificativa oficial para que as profissionais trabalhassem em outra área e evitassem divergência de interesses. (*) Com informações da Agência Reuters.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Você acredita em tudo o que lê na internet?, 24/05/07

‘Eu não acredito. Pelo simples motivo de que não sei se tudo o que leio é verdade. E por que desconfio tanto? Porque não sei de onde as informações vêm.

Por mais que eu tenha anos de trabalho e pesquisa com web, continuo a me comportar como um simples internauta. E compartilho com ele – e com você, portanto – este pé atrás.

Credibilidade sempre foi, e será, o Calcanhar de Aquiles da Rede. Institutos de pesquisa como o Jupiter e o Poynter nunca deixam de incluir este aspecto em seus formulários ao questionar os usuários sobre o que mais os incomoda na internet. Não conhecer o terreno em que se está pisando sempre é um dos primeiros itens da lista.

O que fazemos, sempre, seja na internet ou em qualquer outro ambiente de que temos receio, dúvida ou até mesmo medo, é procurar o conhecido. Na Rede, desde o início, os grandes grupos jornalísticos saíram na frente em credibilidade por ter um passado comprovado e uma bagagem de segurança junto aos leitores. BBC, Reuters, Le Monde, The New York Times, USA Today e The Times largaram antes por simples vantagem

adquirida.

E em tempo de blogs e jornalismo cidadão?

Fato é que, após dois anos de hype, da mídia não parar de falar na participação do leitor na notícia, do surgimento dos superjornalistas e/ou blogueiros ‘comuns’ que deixam os titãs da mídia de joelhos, acabou a especulação: os blogs já fazem parte do Jornalismo.

Então todos merecem a confiança dos leitores?

Não, mesmo. Fato é que um blogueiro, seja ou não de renome, não tem a mesma estrutura (explícita ou até política) para *checar* uma informação que um grupo jornalístico. Amigos probloggers (os que vivem disso) me dizem que desenvolveram uma ‘neurose sadia’ porque são mais próximos de uma fonte do que muitos jornalistas de big conglomerados de mídia, mas são muito mais vulneráveis a erros – embora se faça a correção mais rapidamente, é verdade.

Ainda assim, dá arrepios a possibilidade de pagar micos virtuais como o recente ‘Applegate’, em que um hoax (boato) publicado no blog de tecnologia Engadget de que a Apple atrasaria o lançamento de novos produtos – como o iPhone -, fez desabar as ações da empresa e quase gera um tragédia financeira. E olha que o Engadget era um blog acima de qualquer suspeita… Mas não tinha seguro contra erros.

Acreditar é uma questão de fé. E de risco. O que dá no mesmo, no final das contas.

Vamos dar um nó ainda mais complexo nesta questão de credibilidade na web? Um especialista em segurança da informação, na Finlândia, fez um teste no final do ano passado: colocou um anúncio na Rede oferecendo download gratuito de um vírus (isso mesmo) para quem não tivesse nenhum em seu computador. Um montante de 409 almas clicou. Deu na Reuters. O vírus era falso, mas – por Deus! – pouco importa ao ler e reler o resultado.

E você, acredita em tudo no que lê, vê e ouve na Rede?

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

Milton Coelho da Graça

Quem deda dedo-duro é o quê?, 25/05/07

‘www.whosarat.com. A edição de terça-feira (22/5) do New York Times informa que esse é o site na internet dedicado a expor as identidades de testemunhas que cooperam com o Ministério Público dos Estados Unidos no programa de delação premiada. Além de dar os nomes, o site divulga documentos judiciais que detalham o que os ‘tattletales’ (dedos-duros) toparam contar para obter sentenças mais brandas.

‘A realidade’ – disse ao New York Times um porta-voz do site, que se identificou como Anthony Capone – ‘é que todos têm oportunidade de escolher o que querem fazer para ganhar a vida. Ninguém gosta de dedos-duros.’

O site diz que já identificou 4300 informantes e 400 agentes secretos. Para quem quer saber todos os detalhes sobre os depoimentos, www.whosarat.com cobra US$ 7.99 por uma semana ou US$ 89.99 por uma assinatura perpétua. Esta última dá direito a um brinde: uma camiseta com a inscrição ‘Stop snitching’ – ‘Pare de dedar’.

Promotores estão furiosos – informa também o jornal – porque essas informações podem pôr em risco as vidas de testemunhas e policiais. O Ministério da Justiça está pedindo mudanças fundamentais no acesso público aos arquivos eletrônicos dos tribunais. Mas os advogados de defesa estão gostando, porque – como diz um deles – ‘quanto mais informação, mais facilmente se conhece a verdade no tribunal’.

Alguns juízes estão reconhecendo a gravidade do problema e adotam medidas provisórias enquanto aguardam uma decisão válida para todos os tribunais.

Para ler toda a matéria do New York Times: www.nytimes.com/2007/05/22/us/22plea.html?_r=1&oref=slogin

RADIOJORNALISMO
Comunique-se

Nos bastidores da Rádio CBN, 25/05/07

‘Como um portal voltado para jornalistas, o Comunique-se deve estar sempre próximo do meio. Por isso, a partir de agora, nossa equipe passará a visitar redações de diferentes veículos para informar como são os bastidores da notícia. Pouco antes da visita do Papa, a reportagem iniciou uma visita à CBN do Rio de Janeiro e também, depois de sua chegada, em São Paulo.

No Rio de Janeiro, a primeira repórter a chegar à redação é Ermelinda Rita, às 4h30. Mas existem profissionais em todas as sucursais 24 horas por dia. Cada redação fecha cerca de duas reportagens mais elaboradas por dia, além dos flashes e matérias que vão ao ar.

Globo

‘É bem comum ajudarmos quando é um veículo da casa [Organizações Globo], mas não fazemos isso quando há exclusividade’, explica Roberto Prado, gerente regional da CBN-RJ. Poucos minutos antes, um repórter do jornal O Globo chegou a ligar para pedir informações sobre uma entrevista com o prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, veiculada na rádio.

Por volta das 13h, o jornal envia o Informativo CBN Express, com um resumo do que houve de mais importante até aquele momento. Ao final do dia, a rádio faz um balanço para fechar com as informações mais relevantes.

A cobertura esportiva é feita principalmente com a equipe da Rádio Globo, que deve ser ampliada para a cobertura do Jogos Pan-americanos no Rio de Janeiro. Os oito repórteres – apenas dois são da CBN – devem se juntar a outros de São Paulo e Minas Gerais.

Como o rádio tem a vantagem de poder dar informações rapidamente, costuma pautar vários veículos. Durante a visita da reportagem do Comunique-se no Rio de Janeiro, a CBN veiculou a informação da capitã Ana Cláudia Maia de Souza, 30 anos, baleada nas costas ao tentar retirar o filho do banco de trás do carro. O fato foi devidamente coberto por vários jornais do Rio de Janeiro no dia seguinte.

São Paulo

‘Esse jornal, a gente sabe como começa, mas nunca como termina. É igual CPI’ (risos). Aliás, risos são freqüentes, pois o relógio biológico das cinco pessoas que ficam no estúdio durante o jornal da CBN primeira edição já está acostumado a despertá-los bem antes das seis da manhã. A declaração de Heródoto Barbeiro se deu ao explicar que o espelho do jornal é montado quase simultaneamente à apresentação.

Há uma reunião de pauta entre o âncora e o produtor, Clésio Botelho, às 5h30. Às 6h todos entram no ar e o que virá a seguir depende se o helicóptero da repórter Vanessa di Sevo ou a ‘ronda’ de Cátia Tofolleto, Mônica Pocker, Petria Chaves e outros repórteres vão encontrar algum buraco nas ruas, lixo acumulado, vazamento de água e por aí vai.

‘Dá para antecipar algumas coisas, mas são poucas. Quando o Clésio sobe com o jornal depois da reunião de pauta, vai só com uma parte pronta. A outra é fechada no ar, editada ao vivo. Essa é uma característica do jornalismo online, só fecha quando o jornal acaba’, explica o âncora que apresenta o jornal, literalmente de pé, há 15 anos. São Paulo é a ‘cabeça de rede’ da emissora entre das 6h às 0h. A madrugada é comandada pelo Rio. Ao longo do dia, há revezamentos entre a programação nacional e regional em todas as praças da CBN.’

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Silêncio, estamos ‘no ar’, 25/05/07

‘A primeira impressão falsa que um leigo pode ter da redação de uma rádio é de que é um local onde as pessoas se comunicam silenciosamente para evitar que o som de conversas interfira em gravações, entrevistas. Quem já trabalhou com radiojornalismo sabe que isso é folclore. Na CBN, a situação não é diferente.

‘Às vezes entra alguém falando alto enquanto eu estou para entrar no ar. Como fico de costas para a entrada, aceno de costas mesmo para avisar que vou gravar’, explica a repórter Ermelinda. ‘Aqui é como se fosse uma festa’, descreve enquanto digitava uma nota para uma entrada em poucos minutos. Na parede, um cartaz. ‘Para comer…Comida’ dá o telefone de diferentes lugares que entregam refeições, mas os telefones tocando com novas informações confirmam que a ‘festa’ não tem hora para acabar.

Absoluto

No estúdio também não existe silêncio absoluto, como muitos imaginam. Todos se comunicam em voz alta. Como exemplo disso, Produtores e técnicos não ficam em salas separadas.

‘Fica muito mais fácil conversar com o técnico. O Paschoal (operador técnico) faz parte da equipe. Ele não é um jornalista formado, mas é um jornalista prático, ele dá palpite, ele influencia naquilo que está sendo montado. A pessoa que está aqui na central (de operações) também ‘bola’. ‘Olha, eu acho que vocês deveriam colocar assim’ e a gente pára tudo e coloca. Todas as pessoas que estão envolvidas no processo são ouvidas’, explica o Seu Heródoto, como é chamado pelos colegas.’

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TV CBN: sem preocupação de ser um estúdio de TV, 25/05/07

‘Desde o início do ano, a CBN passou a transmitir as imagens do estúdio pelo site da rádio. São duas câmeras instaladas e as imagens são operadas pelo mesmo técnico do estúdio. Durante a visita da nossa reportagem, Heródoto ganhou um presente de uma ouvinte. Era uma boina, que todos insistiram que colocasse. Os dois minutos usando o boné renderam cinco e-mails em sua caixa de entrada.

‘A Internet melhorou a interatividade do rádio. Antigamente, o ouvinte mandava carta, telegrama, telefone, sinal de fumaça, tambor, hoje manda e-mail, muito mais rápido. Mas não é porque aquilo que se está vendo é televisão. Pode ser um rádio. Quanto Peter Arnett cobriu a Guerra em Bagdá para a CNN e apagaram as luzes, ele começou a narrar tudo e não estava fazendo televisão, estava fazendo rádio’, declara Heródoto.

A emissora pretende pegar um canal para transmitir em UHF 24 horas das imagens dos estúdios da CBN, mas ainda não há data prevista para a realização do projeto.

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Trabalho jamais é o mesmo nas redações, 25/05/07

‘As redações da CBN têm profissionais 24 horas por dia. Cada um intercala sua escala de horários e a todo momento há alguém de plantão, saindo para uma matéria ou chegando com uma apuração. De manhã, a principal busca é por informações do trânsito e por situações que ocorrem naquele momento. ‘O factual sempre vai atropelando’, explica Roberto Prado, gerente regional da CBN-RJ.

Em São Paulo, a CBN prepara cinco cabines pequenas que servirão para o próprio repórter gravar textos, sonoras e editar. Por enquanto, quem administra tudo isso é Paulo Rodolfo, editor de reportagens. Ele afirma que as ‘salinhas’ vão ajudar na produção das reportagens no horário de pico, entre 12 e 14h, quando os repórteres da rua começam a voltar e os da tarde chegam.

‘Isso não vai matar o trabalho dos técnicos, pois sempre tem um trabalho de pós-produção, às vezes uma trilha sonora, uma coisa mais elaborada’, afirma Rodolfo.

Cobertura

A reportagem acompanhou as repórteres Viviane Cardoso, no Rio de Janeiro, e Cátia Toffoletto, em São Paulo. Enquanto a primeira cobria um seminário sobre direito tributário para uma matéria de economia – ‘é uma pauta atípica’, descreveu – a segunda cobria a visita do Papa ao Brasil, assunto também nada rotineiro.

Cátia esteve em frente ao mosteiro de São Bento. De lá, fez mais de oito entradas ao vivo, desde as 6h até 15h. ‘Sempre que acontece alguma declaração muito importante e é impossível entrar no ar naquela hora, a gente grava, via celular, como se fosse ao vivo, com um determinado prazo de validade, geralmente de poucas horas, e aquilo pode ser veiculado depois. Nesses casos, a gente só assina, mas não fala o nome do apresentador e nem o do jornal’.

A jornalista geralmente cobre eventos abertos da prefeitura ou algum problema na cidade, seja acidente, o trânsito e tudo mais que pode acontecer. ‘No rádio a gente pode dar detalhes das coisas que acontecem para o ouvinte ficar imaginando’. No Rio, todos os repórteres cobrem todos os assuntos, sem editoria.

Enquanto isso, um dia antes

No Rio de Janeiro, Viviane acompanhou uma palestra no II Congresso Internacional do Direito Tributário. ‘Muitas vezes a gente se informa rapidamente sobre o assunto e entra ao vivo’, disse. Ao fim da palestra, a repórter entrevistou os palestrantes, mas ainda tinha que aguardar outro debate. O Secretário de Estado de Fazenda, Joaquim Levi, participaria de uma palestra em uma hora, e ela só teria alguns minutos para fechar a primeira nota sobre o assunto.

Com respostas monossilábicas, Levi esquivou-se de qualquer entrevista antes do debate, que duraria, pelo menos, duas horas. Eram 17h30 quando Viviane ligou para a redação para saber se ainda precisaria entrar no ar. ‘Todas as pautas caíram por causa da chegada do Papa. Minha matéria só deve entrar amanhã’, disse.

Evolução

Cátia afirma que, em seus 18 anos de casa, o que mais a marcou foi a ‘abençoada’ evolução tecnológica. ‘No começo a gente saía com um carro e um ‘Motorola’, um rádio comunicador que dava acesso à central técnica. Era o celular da época. Para se deslocar e entrar ao vivo, precisávamos carregar esse aparelho e vários metros de fio. Consegui passar por isso e estou sobrevivendo’, lembra.’

MÍDIA & MERCADO
Comunique-se

News Corp. será investigada pelo Reino Unido por posição dominante no mercado, 24/05/07

‘Londres, 25 mai (EFE).- O grupo News Corp., do magnata australiano Rupert Murdoch será alvo de uma rigorosa investigação no Reino Unido, por suposta posição dominante, contrária à pluralidade informativa queo Governo deve garantir, informa hoje o jornal ‘The Guardian’.

Segundo o jornal, o ministro da Indústria, o trabalhista Alistair Darling, solicitou uma investigação completa sobre o modo como o público britânico obtém suas informações diárias.

A agência que vigia a concorrência e o Ofcom, que deve garantir o correto funcionamento do setor das comunicações, expressaram sua preocupação com a recente compra de 17,9% da emissora de televisão ‘ITV’ pela ‘Sky’, propriedade de Murdoch.

A ‘Sky’, dirigida pelo filho do magnata, James Murdoch, investiu cerca de £ 1 bilhão (€ 1,47 bilhão) nessa aquisição. A negociação frustrou o empresário Richard Branson, que pretendia fundir seu próprio grupo, o Virgin Media, com a ‘ITV’.

A Ofcom alertou que a relação entre a ‘ITV’, que possui 40% da ‘ITN’, e a ‘Sky’ poderia limitar a possibilidade de escolha de fontes diferentes de notícias de televisão.

Segundo o escritório, as relações entre o grupo jornalístico News Corporation e a ‘ITV’ criam problemas para a ‘pluralidade’ informativa no Reino Unido. A empresa de Murdoch é proprietária dos jornais de grande tiragem ‘The Times’ e ‘The Sun’, entre outros, além de ter 39% da ‘BSkyB’.

‘Os espectadores podem ser afetados pela falta de pluralidade informativa, se os controladores de jornais adquirirem controle ou influência sobre canais de televisão’, diz o Ofcom.

Don Foster, porta-voz para cultura, imprensa e esportes do Partido Liberal-Democrata, de oposição, afirmou que ‘já está na hora de o Governo enfrentar os monopólios midiáticos e dar prioridade ao interesse do público’.

Murdoch também é proprietário, nos Estados Unidos, do site ‘MySpace’, do jornal ‘New York Post’ e da rede de TV ‘Fox’, que inclui ‘Fox News’, ‘20th Century Fox’ e a ‘Fox Searchlight Pictures’. Também possui a editora HarperCollins e uma série de jornais na Austrália e Ásia. (c) Agencia EFE’

CRÔNICA ESPORTIVA
Marcelo Russio

Em 2007 como em 1969, 22/05/07

‘Olá, amigos. O milésimo gol de Romário mostrou uma faceta da imprensa que, honestamente, não me surpreendeu muito: o improviso. Há mais de 30 anos, em 19 de novembro de 1969, Pelé fazia o seu milésimo gol, e a imprensa invadiu o gramado atrás da sua primeira declaração. Alguns conseguiram registrar uma frase, uma palavra. Outros conseguiram o famoso depoimento em favor das criancinhas do Brasil. No último domingo, 38 anos depois, Romário repetiu a marca, de uma forma que não poderia ser atualizada ou modernizada: de pênalti, exatamente como o Rei Pelé.

E a imprensa? Fez a mesma coisa. É curioso, e aqui não vai nenhuma crítica, que a imprensa tenha feito, quase 40 anos depois, o que a imprensa dos anos 60 fez, sem tirar nem pôr. Os repórteres agiram exatamente do mesmo jeito, fazendo as mesmas perguntas, buscando ao máximo repetir o que foi feito no milésimo gol de Pelé. A criatividade, a meu ver, pareceu deixada um pouco de lado. A maior diferença me pareceu a tecnológica. As imagens e o som registrados foram muito mais puros, claro.

Mas foi só.

Uma honrosa exceção foi a do sempre esperto repórter Régis Rösing, da TV Globo, que, em meio a toda a euforia em torno de Romário, buscou ouvir o goleiro do Sport, que estava ali, solitário, esperando ser ouvido para entrar para a história. Foi ouvido por Régis. E entrou para a história.

A cobertura do gol histórico foi muito boa, sem dúvida. Ágil, rápida, como os tempos da Internet exigem. Mas igual, muito igual à que foi feita nos tempos do rádio e de uma ainda precária televisão. Os velhinhos que estavam no gramado do Maracanã em 1969 estão, portanto, de parabéns. Eles criaram. Nós copiamos.

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Eu tenho por hábito sempre acreditar nos jornalistas quando alguma notícia é desmentida pelo personagem. Especialmente no meio do futebol, em que tantos interesses mexem com a verdade e com uma ou outra palavra que teria sido dita com esta ou aquela intenção. Isso já me trouxe alguns problemas. Mas na última semana, quando o jornalista Leandro Behs, da Zero Hora, foi acusado pelo goleiro Clemer de ter inventado uma declaração sua que atingia o vice-presidente de futebol do Internacional, Giovanni Luigi, creio que não há como fazer a opção errada.

Conheci o Leandro. Trabalhamos juntos em 2001, e sei que é um repórter correto e profissional. Não conheço Clemer, mas quem conhece diz que ele não aceitaria passivamente a reserva de Renan após tantos anos como titular do time gaúcho.

Lamentável a decisão da diretoria do Internacional em proibir que os seus atletas dêem entrevistas ao ótimo repórter Leandro Behs. Isso mostra que a minha decisão em sempre acreditar nos repórteres, desta vez, foi absolutamente correta. Só um conselho para o colega Behs: adote a tática do ex-deputado Mário Juruna: prenda um gravador no pescoço. O homem branco ainda precisa disso para aprender a falar a verdade.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Sinais de fumaça, 22/05/07

‘Quanto mais cresce

uma cidade mais você

fica impedido de amar

(Talis Andrade in Os Herdeiros da Rosa)

Sinais de fumaça

A Polícia Federal prendeu o índio da tribo Atikun, Afonso Antônio Quirino, de 29 anos, em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife. Afonso transportava boa quantidade da erva em pacotes escondidos em sacos de carvão, porém os agentes apertaram e o cabra confessou que armazenava mais um bocado em casa; total, 85 quilos.

Comentei que o episódio prova que nem todo índio deve mesmo ser tratado como criança, principalmente quando se mete nalguma safadeza, porém Janistraquis enxergou grande injustiça e deslavado preconceito e obscurantismo em minha posição:

‘Considerado, tenho certeza absoluta da inocência de Afonso; não sei se você sabe, mas os índios têm usado maconha para enviar sinais de fumaça uns pros outros. Não cometem crime algum, muito pelo contrário, pois queimam a erva e ajudam a Polícia, que costuma fazer exatamente a mesma coisa!’

Sinais de fumaça… Janistraquis tem visto muito faroeste ultimamente.

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Santa safadeza

Janistraquis informou que nosso conterrâneo Zuleido tem um irmão envolvido nas espertezas da construtora Gautama. O elemento se chama Dimas, nome daquele ‘bom ladrão’ que o Crucificado, no postimeiro derreamento, prometeu carregar pro céu e, em lá chegando, abriu-lhe as portas da santidade, sabe Deus por quê. De todo modo, dizem que São Dimas é o protetor de tudo quanto é mais deletério debaixo do Sol. Haja hora extra!

O episódio hagiológico-familiar lembra ao colunista que a gente nordestina é, geralmente, honestíssima e está aí o presidente Lula que não nos deixa mentir. Todavia, quando dá pra cabra safado, ninguém a supera nas artes da patifaria e da filhadaputice, como nos revela a História desde os remotos tempos das Capitanias Hereditárias.

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Papaiaçu Bento

Janistraquis, que desde a chegada do papa infartou nosso escritório com recortes de jornais e revistas, mais DVDs de telejornais e CDs de programas jornalísticos do rádio de todo o país, analisou o material à exaustão e concluiu:

‘Considerado, ao dizer que a evangelização da América ‘não significou em nenhum momento uma alienação das culturas pré-colombinas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha’, o papa não veio preparado para visitar um país soberano, com tanta História vivida, mas uma tribo de índios dos confins da selva; só faltou trazer espelhos, colares e apitos. Nosso presidente Hugo Chávez tem toda razão em protestar.’

E a respeito da canonização de nosso vizinho, Frei Galvão, meu secretário se mostrou mais radical:

‘O Brasil não precisa de santo nenhum, só de alguma vergonha na cara!’

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Lixo atômico

O considerado Elias Cardoso, empresário do Rio, envia matéria da Folha de S. Paulo; lia-se, sob o título Angra 3 é desperdício de dinheiro, diz Greenpeace:

Segundo diretor da ONG, oferta não precisa subir — É possível garantir mais crescimento econômico sem aumentar a produção de energia. Essa é a avaliação do diretor-executivo do Greenpeace internacional, Gerd Leipold.

Cardoso protestou:

‘Considerado, desde quando esse pessoal, de resto chatíssimo e inconveniente, entende de energia e, ainda por cima, energia nuclear?’

Janistraquis também está convencido de que o Greenpeace se identifica mesmo é com o lixo atômico.

Confira no Blogstraquis a opinião do especialista.

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Olha o exagero!

A considerada Mirtes Costa Furtado, engenheira-química em São Paulo, teve alguns amigos prejudicados pelo excesso de zelo dos ‘Intocáveis’ e adorou o artigo do Consultor Jurídico que enfia o dedo na questão:

A Polícia Federal, cuja função é de importância indiscutível na vida federativa, tem se transformado, lamentavelmente, em instrumento de promoção e propaganda oficial. Reiteradas vezes o presidente da República tem vindo a público para jactar-se das proezas dela, pouco se importando com o enxovalhamento da honra de inocentes.

(…) A PF precisa abster-se de fazer o jogo de publicidade do governo, para ser, na forma da Constituição, órgão de segurança e verdadeira polícia judiciária da União. Teria ela se desincumbido a contento dos escândalos do governo federal no mandato passado? Investigou, por exemplo, o maior responsável por todos eles? Claro que não, omitiu-se.

Leia aqui a íntegra do texto deveras revelador.

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Abrindo o olho

Saiu em tudo quanto é jornal, com a imprecisão de sempre:

Moçambique: torcedor festeja gol e é linchado.

Não deram o nome do torcedor do Ferroviário, na vitória sobre o Lichinga, porém o suplício, a pedradas, atemorizou Janistraquis:

‘Considerado, não se pode esquecer que Moçambique foi colônia portuguesa, que nem nós, e o pessoal fala a mesma língua da gente. É meio caminho andado para a adoção de tal comportamento por aqui…’

Todo cuidado é nenhum.

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Talis Andrade

Leia no Blogstraquis a íntegra de Santa Visagem, poema nascido da inspirada lavra do nosso considerado e cujo excerto é a epígrafe desta coluna.

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Junto às antas

Janistraquis ficou comovido com esta notícia que correu mundo:

Brasília — Adão Faria, ex-assessor do deputado distrital Pedro Passos, foi preso em flagrante na tarde de segunda-feira, em sua casa, no momento em que incinerava documentos na churrasqueira do quintal; foi levado para a carceragem da Polícia Federal depois de prestar depoimento.

‘Considerado, vai ser incompetente assim no raio que o parta! O sujeito é incapaz de destruir documentos comprometedores dentro da própria casa!!!’

Meu secretário acha que Adão é a cara deste ‘país de todos’ e deveria ter sido confinado num refúgio do zoológico de Brasília, o mesmo que abriga as antas.

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Nota zero

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, cuja atmosfera anda irrespirável por causa da queima generalizada de documentos, pois Roldão deixou momentaneamente a imprensa sossegada e dirigiu toda a atenção a uma lista especial que recebeu de um amigo versado nos tropeços do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o qual realmente exagerou nas provas deste ano. Surdiram coisas assim:

– O Brasil não teve mulheres presidentes mas várias primeiras-damas foram do sexo feminino.

– O número de famigerados do MST almenta a cada ano seletivo.

– Os anaufabetos nunca tiveram chance de voltar outra vez para a escola.

– Vasilhas de luz refratória podem ser levadas ao forno de microondas sem queimar.

Leia o, digamos, florilégio, nas páginas do Blogstraquis.

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Nota dez

A considerada Ligia Martins de Almeida escreveu no Observatório da Imprensa, sob o título Aborto em pauta — Informação ainda é muito pouca:

(…) Uma discussão profunda do tema deveria ir um pouco além do que a mídia mostra. Seria interessante saber quantos processos existem na Justiça envolvendo abortos permitidos e quanto tempo demorou até que o aborto fosse feito. Como o SUS vai resolver – caso o aborto seja legalizado – a situação dos médicos que se recusarem a fazer o procedimento?

Leia aqui a íntegra deste texto indispensável.

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Errei, sim!

‘CAPOTAGEM – Outra do criativo Jornal do Brasil: Mulheres capotam era o título. Meu secretário logo imaginou moçoilas a cair na lábia de um garanhão estilo Renato Gaúcho mas logo perdeu tesão pela leitura. Na verdade, o carro das mulheres (eram quatro) é que havia capotado na Praia do Flamengo. (março de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’

COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Eduardo Ribeiro

Uma nova Era começa para a Comunicação das empresas, 24/05/07

‘Todos nós, que atuamos de um modo ou de outro na comunicação, comprovamos na prática a força da comunicação informal, interpessoal, boca-a-boca, como se diz por aí. Mais do que estudar isso nos bancos da academia, estamos cansados de ver pessoas e produtos serem endeusados ou, ao contrário, serem aniquilados por força desse processo comunicativo. Nunca, no entanto, as empresas ou os estudiosos da comunicação corporativa, que é a que nos interessa neste comentário, se importaram muito com esse tipo de comunicação. E nunca o fizeram porque até então as ferramentas à disposição das pessoas, para fazer seu pensamento se multiplicar, praticamente inexistiam. Dependiam da boa vontade de um serviço de atendimento ao consumidor, que na maioria das vezes não funcionava, de um ouvidor, quando havia, de uma coluna de defesa do consumidor, que até bem poucos anos atrás eram contadas nos dedos de uma única mão. Ou seja, um consumidor descontente era quase um consumidor descontente, ou dez, quem sabe cem, se exagerarmos um pouco.

Hoje, um consumidor descontente tem um poder inimaginável nas mãos. Pode derrubar um presidente da República, a marca líder do mercado, a mais ilibada reputação, tudo isso com a simples criação de um blog. Isso mesmo, um blog. Pode também, no caso inverso, fazer o sucesso de um produto absolutamente desconhecido, tornar celebridade uma pessoa comum, como temos visto já em múltiplos exemplos. A comunicação interpessoal ganhou escala geométrica com a internet. Multiplica-se em segundos, minutos, milhares de vezes, uma informação que contenha algum valor agregado.

O fascinante nesta história toda é ver como essa revolução está levando de roldão toda uma cultura criada em torno dos tradicionais conceitos de comunicação que até então conhecíamos e praticávamos, inclusive nas nossas empresas, nas nossas casas, nos nossos círculos de relacionamento, tendo de um lado aqueles que definiam o meio e a mensagem e de outro, com um alto grau de passividade, os receptores.

Ver as empresas estudando esses movimentos, tentando encontrar saídas de convívios com esse consumidor que se descobriu dono de voz e voto, é um estimulante desafio. E foi esse um dos principais temas debatidos durante o 10º Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, evento apoiado por este Comunique-se que se encerrou no último dia 18, em São Paulo, e que tive a honra de coordenar.

As empresas estão literalmente atordoadas com o que está acontecendo com o mercado, com os consumidores, com as ferramentas tradicionais, mas nem por isso perderam o rumo. Ao contrário, muitas delas perceberam o quanto têm a ganhar ou a perder com esse jogo e começaram a investir pesado, saltando na frente.

Há empresas que já mergulharam nas chamadas águas profundas da Era Blogática, se é que podemos usar este termo meio tupiniquim.

São empresas que olham cada vez menos para os releases e centimetragens e cada vez mais para a satisfação de seu cliente final. Querem o charme da mídia, mas querem também um corpo a corpo com seus consumidores diretos. Se interessam pela opinião dos jornalistas, mas não abrem mão de saber o que pensam aqueles que vão tirar do bolso o dinheiro para comprar seus produtos e serviços. E é disso que se trata a nova Comunicação que estamos construindo com a força da nova tecnologia.

A comunicação corporativa que conhecemos nos anos 70, 80 e 90, com fortes traços autoritários, está nos exteriores. Perdeu importância e influência.

A nova comunicação corporativa é democrática, horizontal e vertical, passa com vigor redobrado pela web, pelos blogs, pelos formadores de opinião virtuais, pelas comunidades plugadas e interativas, por novos parâmetros de construção e destruição de reputações, por novos e relativamente desconhecidos interlocutores, pela interatividade com os consumidores, por novos instrumentos de mensuração de resultados, passa, enfim, por um rico momento de turbulência, que está chacoalhando todos os protagonistas da história.

Só por isso essa é uma revolução que já valeu a pena.

Encerro citando um trecho da apresentação feita por Nizan Guanaes, na conferência de abertura do 10º Congresso de Comunicação: ‘É preciso romper barreiras e preconceitos, trabalhar com mais estratégia e menos tática, usar mais a inteligência do que os braços. Temos capacidade de ir muito além do que nos pedem ou nos deixam fazer. Depende de nós fazer com que a comunicação se reconstrua em torno de novos e alentadores patamares. Não se podem imaginar resultados diferentes quando se faz as mesmas coisas. Precisamos nos reinventar, de preferência rompendo com a zona de conforto a que nos submetemos até hoje’.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

DIRETÓRIO ACADÊMICO
José Paulo Lanyi

Jornalismo: aprender é quase nada, 22/05/07

‘Perguntaram-me, sob a coluna da semana passada (leia Lanço aqui o jornalismo amador), como se pode, em uma entrevista de emprego, reconhecer a vocação de um jornalista. A pergunta é boa, tanto quanto a circunstância é ruim. Assim mesmo- respondi-, penso que, com uma boa conversa e os devidos testes, seja fácil ao profissional experiente reconhecer as características peculiares a quem ‘nasceu para a coisa’. A essência seria esta, de acordo com a minha visão.

‘Vocação é tesão, é paixão, é entrega. Subjetivo, não? Sim, subjetivo. Tesão, paixão, entrega, doação, tudo isso leva a um compromisso de vida, faz com que a gente queira fazer cada vez melhor e nunca se contente com os resultados alcançados. Faz com que a gente dê mais valor para a nossa formação do que para um pedaço de papel. Faz com que a gente só valorize os títulos se e somente se esses títulos forem condizentes com aquilo que eles devem nos proporcionar, ou seja, conhecimento. O conhecimento sempre deverá se sobrepor aos títulos. E, no caso do jornalismo, esse conhecimento pode ser buscado em trilhões de fontes dos mais variados ramos da produção humana. Não, necessariamente, numa faculdade de jornalismo. Disse necessariamente porque nada tenho contra os cursos de jornalismo, mas contra a obrigatoriedade de que se deva freqüentá-los’.

Tivemos, neste mesmo espaço, outras manifestações, como:

Vera Sastre [17/05/2007 – 02:12]

(Colaborador-Artell Editora – SP)

‘Jornalista tem que ter afinidade natural com a informação. Tem que ser um cara ligado desde criança, ser crítico, curioso com o que está acontecendo em torno dele, atento a tudo por natureza e não ter medo de perder um amigo por causa de uma piada.

Jornalista é antenado nas histórias e modo de falar da família, dos viizinhos, do porteiro, do quitandeiro de todo mundo. Tem que ser um cara criado entre livros e discos. Um cara sensível, que corra atrás da notícia por consequência dessa formação. O resto é resto’.

Ou:

Marcelo Duarte Jatobá [22/05/2007 – 14:27]

(Editor-Jornal Sindical – SP – Guarulhos)

‘Concordo que não é necessário ter diploma para ser jornalista. É questão de dom, de tesão, de amor, de paixão. O mesmo pode ser afirmado com relação a outras profissões. Há jornalistas diplomados que jamais serão jornalistas de verdade. Há médicos que nunca serão médicos. Há professores que não têm idéia do que é lecionar. Mas não há como discordar do fato de que um bom curso universitário pode, sim, transformar um aluno em um bom jornalista. Bons cursos universitários podem, sim, despertar capacidades e talentos latentes. A bola é redonda e o campo retangular para todos os jogadores. Muito treino e dedicação pode melhor um pouco o jogador razoável. Mas os bons jogadores nascem prontos. Na verdade, espero chegar o dia em que esse debate não será mais necessário’.

De modo geral, concordando-se ou não com a tal exigência do diploma, parece ser consensual a necessidade de determinados pré-requisitos para o exercício do jornalismo. Tanto os defensores da obrigatoriedade quanto aqueles que se dizem contrários tendem a concordar com o fato de que ou o sujeito nasce jornalista ou nunca conseguirá sê-lo. O que se quer dizer aqui parece mas está longe de ser uma obviedade. Diferentemente do que ocorre com outras profissões, não basta ao jornalista dominar a técnica e o método. No jornalismo, o fazer se confunde com o ser. Daí a conclusão de que aprender não é o suficiente. É preciso viver, na ação e no repouso, aquilo que se é. Eis o porquê da referência, no meu texto anterior, a outras atividades que, a meu ver, prescindem de formação acadêmica específica, como a Filosofia e todas aquelas que se relacionam com a Arte.

No texto ‘Defesa melancólica de uma profissão em rápida transformação’, Santiago Real de Azúa, chefe da Seção de Imprensa do BID, chega a esta síntese, em referência ao título do livro que acabara de ler, ‘Os Cinco Sentidos do Jornalista’, obra do grande jornalista e escritor polonês Ryszard Kapuscinski (1932-2007): ‘Humanidade, dignidade, modéstia, curiosidade e integridade’.

Trecho da resenha:

‘Kapuscinski tem uma percepção aguçada das mudanças que tomaram de assalto seu ofício e das ameaças enfrentadas pela modalidade de jornalismo cuja prática lhe granjeou fama: um jornalismo que nunca se satisfaz com a mera descrição (‘ver não é saber’), mas procura explicação; que é equilibrado e objetivo, mas também apaixonado e destemido quanto a tomar partido; que demanda o tipo de pesquisa, leitura, diálogo – e espaço para publicação – cada vez mais difíceis de encontrar no mundo moderno’.

Humanidade, dignidade, modéstia, curiosidade e integridade. Além do mais, as técnicas. Estas, contudo, decorrem da dignidade (contida necessariamente, e de modo fulcral, na deontologia da profissão), da modéstia (daquele que sabe que nada sabe), da curiosidade (que leva a conhecer, sem jamais se satisfazer) e da integridade- que advém da autocrítica, do exame daquilo que se faz ou o do que se deixa de fazer, mercê da responsabilidade apontada pela vocação.

(*) Jornalista, escritor, crítico, dramaturgo, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Foi professor do curso de Jornalismo da Unisa e da Universidade Guarulhos. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’

COMUNIQUE-SE

Cassio Politi

Anonimato vira ameaça a bem-estar dos usuários, 27/05/07

‘Um leitor deu um alerta. Disse haver um ‘fake’ (usuário falso) postando comentários.

Para a democracia na internet virar anarquia, basta o anonimato. Essa é possivelmente uma das razões da evasão de uma parte significativa dos usuários do Orkut. Quando trata de identificar seus usuários, o Comunique-se não elimina, mas minimiza atitudes covardes. O quebra-pau ideológico é legítimo; o anonimato é uma ameaça.

O usuário identificado como ‘PI’ alterou seu próprio cadastro pela última vez há um mês. O sistema ao qual tenho acesso não informa qual exatamente foi a mudança, e muito menos é possível afirmar que identificar-se como ‘PI’ tenha como objetivo postar comentários anonimamente.

O problema é o Portal dar margem a isso. Minha pergunta foi encaminhada para a área de Pesquisa do Comunique-se: por que o usuário tem permissão para alterar seu próprio nome? Que se possa alterar e-mail, telefone ou emprego, ok, é compreensível. Mas o nome? Exceção feita a recém-casados e a casos muito peculiares, é claro.

Lentidão

Não acredito que o usuário comum do Portal aderiria ao anonimato se essa opção lhe fosse mais evidente. Acontece que problemas apontados por leitores demoram a ganhar uma solução. O usuário André Fiori Patricio cobra sistematicamente uma solução para o uso inadequado do banco de empregos. Há mais reclamações na mesma linha. Uma delas foi postada por Moacyr Victor Minerbo: ‘Tem gente publicando vaga para dep. comercial solicitando apenas que os candidatos saibam ler e escrever. Observem as vagas para freelancer da empresa vytrine. Um desrespeito perante a classe’, denuncia, com toda a razão.

Corrigir essa brecha no sistema seria uma medida providencial.

André Fiori Patricio reclama, ainda, de um banner que se abre em flash na home page do Portal. Diz que não consegue fechá-lo. Neste caso, é necessário especificar qual o navegador utilizado, pois, com Internet Explorer e Mozilla Firefox, é possível fechá-lo normalmente.

Capital

A reportagem ‘Presidente da Metro Internacional explica estratégias do jornal’ (22/05) informa que o jornal Metro é fruto de uma parceria do Grupo Bandeirantes com o Metro International, presente em diversos países. A pergunta feita por um leitor não foi esclarecida nas matérias que o Comunique-se fez sobre a nova publicação: há participação de capital estrangeiro? É pouco provável que o grupo tenha ignorado algo tão relevante. Faltou perguntar.

Ok, acredito

Na reportagem ‘O Globo publica transcrição de conversa entre jornalista e investigado pela PF’ (23/05), os detalhes de uma tentativa fracassada foram descritos detalhadamente: ‘O Comunique-se procurou Humberto durante todo o dia. No fim da tarde, sua secretária informou que ele saíra para uma reunião e que a nota ‘já expressava tudo o que poderia dizer’. No final da noite, nenhum profissional do O Globo foi encontrado para comentar o assunto’. Precisa se explicar? Só falta qualquer hora sair o nome da secretária e o local da reunião.

Cassio Politi é jornalista. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net, e no site UOL News, do Portal UOL. Ministra cursos de extensão sobre Jornalismo On-Line e Videorreportagem desde 2001. Deu aulas em 25 estados brasileiros para mais de 2 mil jornalistas. Em janeiro de 2007, tornou-se o primeiro ombudsman do Comunique-se, empresa na qual também ocupa o cargo de diretor de Cursos e Seminários.’

CABO VERDE
Carlos Chaparro

Em Cabo Verde, a construção de um país, 25/05/07

‘O XIS DA QUESTÃO – O território é pobre em recursos naturais. E o país enfrenta déficits gigantescos de infra-estrutura. Importa quase todos os alimentos que consome. Mas Cabo Verde tem a seu favor a imensidão atlântica que o cerca e a localização estratégica entre continentes e entre hemisférios. Isso lhe nutre a vocação para as conexões atlânticas, com as quais pretende tornar-se pólo internacional de turismo e negócios.

De PRAIA, Capital de Cabo Verde – Ao se descer do avião, a primeira recepção é a da natureza equatorial. O vento forte e fresco, que me afaga o rosto, impõe movimento às poucas árvores do horizonte próximo. E me senti reverenciado pelo balançar ondulante da tímida ramagem verde. Depois, logo descobri que o encanto do verde rarefeito tem função de contraste, para acentuar o preponderante cinza escuro da paisagem. A jôrra cobre a superfície montanhosa de Santiago, a maior e mais importante das dez ilhas do arquipélago de Cabo Verde – e por jôrra se identifica a camada de resíduos ocos de antigas lavas vomitadas por velhos vulcões.

São paisagens imponentes, de altos montes e abruptas falésias, em contornos que traçam recortes mutantes, de estranha beleza, no azul luminoso do céu.

No ziguezaguear de ruas e avenidas, a caminho do hotel, ora subindo ora descendo curvas, misturam-se na mente, em desordem, as pétalas da rosa-dos-ventos. Norte, Sul, Leste e Oeste, só os da terra sabem de que lado ficam. Mas isso pouco importa a quem chega, e se impressiona com os contrastes desta cidade, que sintetiza e exibe as vibrantes energias da jovem Nação da qual é capital.

– Sabemos que somos pobres, mas temos a ambição de ser ricos.

A frase, em tom incisivo, determinado, me foi dita pelo sociólogo Felisberto Alves Vieira, prefeito de Praia, cargo aqui denominado de Presidente da Câmara Municipal.

O prefeito logo desdobra a sentença em idéias claras, falando de rumos já escolhidos por Cabo Verde. Rumos que a sua própria administração municipal trilha, em políticas, programas, projetos, investimentos e obras que pretendem fazer de Praia o centro dinâmico, inteligente, qualificado, de uma estratégia de conexões atlânticas. Cabo Verde quer tornar-se pólo internacional de turismo e negócios, valorizado por uma oferta diferenciada de serviços, belezas naturais, suportes tecnológicos, infra-estrutura financeira – e uma cultura de cordialidade e paz, marca de identidade do povo caboverdeano.

Parte do sonho começa a transformar-se em realidade. A rede hoteleira em expansão exibe elevadas taxas de ocupação, no atendimento ao crescente fluxo de turistas, atraídos pelas belezas do arquipélago ou pelos vários eventos que um promissor turismo de negócios aqui realiza.

***

O País é pobre em recursos naturais. Enfrenta déficits gigantescos de infra-estrutura. Por escassez de água doce e de áreas agricultáveis, importa quase todos os alimentos que consome. Mas tem a seu favor a imensidão atlântica que o cerca e a localização estratégica entre continentes e entre hemisférios, mais-valia que lhe nutre a vocação para as conexões atlânticas de que o prefeito Felisberto Vieira tanto fala.

Embora as marcas da pobreza sejam muitas, a fisionomia humana e urbana da capital de Cabo Verde expressa, no vigor dos contrastes, a força de uma Nação entregue ao seu projeto nacional de desenvolvimento. Desse esforço participam os caboverdeanos que vivem e trabalham no exterior. Em número, superam os 450 mil que em Cabo Verde permanecem. E dos emigrantes vem, regularmente, boa parte do dinheiro que movimenta a economia do país.

Cabo Verde pode sonhar, pode ambicionar. Porque tem um povo admiravelmente patriótico, tão confiante em si próprio quanto aberto ao acolhimento dos outros.

***

No cenário visível do crescimento, há carências importantes no campo e nos meios da comunicação social. O País não tem jornais diários. A televisão nacional está na adolescência. O radiojornalismo tropeça em dificuldades. Enfim, a democracia em construção de Cabo Verde precisa de projetos novos, e de novas atitudes, para que os cidadãos e a cidadania tenham um jornalismo independente, dinâmico, forte, presente, crítico, veraz.

Eis aí as razões porque estou em Cabo Verde. Vim participar de reflexões sobre essa questão, em reuniões com profissionais do ramo. Trouxe-me o convite de Fernando Ortet, jornalista amigo, meu ex-aluno, que fez mestrado e doutorado na ECA/USP. E que à sua terra voltou com o saber adquirido, para se integrar ao projeto caboverdeano de desenvolvimento.

Tornou-se empresário, disposto a correr riscos e a realizar sonhos. Conheço-o bem, confio nele. E aqui estarei por uma semana, certo de que aprenderei mais do que tenho para ensinar.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Todo mundo quer aparecer na TV, 24/05/07

‘Esta é uma das melhores e mais verdadeiras frases de ‘A leste de Bucareste’. Mais uma dica da nossa série ‘filmes imperdíveis para jornalistas’. Com lançamento previsto para a próxima sexta-feira, a produção romena dirigida por Corneliu Porumboiu é uma boa crítica à TV, ao jornalismo e uma denúncia às ‘revoluções’ que nunca existiram. E, apesar de romeno, o filme tem tudo a ver com o Brasil.

O enredo é simples. Depois de seis anos de Revolução, mais um Natal se aproxima. Pisconi (Mircea Andreescu), um velho aposentado meio maluco se prepara para passar os festejos sozinho. Manescu (Ion Sapdaru), um professor de História, enfrenta problemas com a bebida e o passado. Eles são convidados para um debate ao vivo na pequena TV de Virgil Jderescu (Teodor Corban), um misto de jornalista espertalhão e empresário inescrupuloso. Eles vão discutir se realmente ocorreu naquela cidade uma revolução.

Essa é a grande questão de ‘A leste de Bucareste’. O debate procurar reconstituir os momentos que antecederam a dramática queda do ditador Nicolau Ceasescu na Romênia em dezembro de 1989. É necessário comprovar a que horas exatamente o povo da pequena cidade saiu para a praça pública. Afinal, a ‘revolução’ em Bucareste estava sendo transmitida ao vivo pela TV.

Para quem não sabe ou não se lembra, a dramática tomada da TV pelos manifestantes romenos é um dos momentos mais espetaculares e inusitados da história do meio. Os revoltosos garantiram a vitória instalando um governo paralelo que se comunicava diretamente com a população via a estação de televisão estatal de Bucareste. Foi um dos principais e, provavelmente, um dos mais sangrentos episódios da derrubada de Ceasescu. A tomada da TV garantiu o sucesso da revolução romena.

Para o debate na TV da pequena cidade do interior, dependendo da hora que o povo foi para as ruas, houve uma ‘revolução’ ou mera ‘comemoração’. Em verdade, o filme discute a participação do povo romeno na revolução que derrubaria o comunismo. É o poder da TV para remexer com o passado.

A discussão romena nos remete a nossa própria história. E no Brasil? O que estávamos fazendo na revolução de 64? Foi revolução, golpe ou comemoração? E para a queda do regime militar? Qual foi a sua contribuição?

São questões ainda sensíveis e delicadas. Mas para mim o melhor de ‘A Leste de Bucareste’ é a oportunidade de ver os bastidores da pequena TV local romena. É simplesmente hilário. Tudo a ver. Lembra muito as nossas TVs comunitárias. Tenho grande interesse por essas TVs mambembes ou TVs ‘garagem’. Todas vivem na miséria, lutam para sobreviver e permanecem no ar Deus sabe por quê?

Povo não fala

Aqui no Brasil conhecemos exemplos heróicos como a TV Muro do Chiquinho de Sabará (ver aqui coluna Uma TV em cima do muro, 18 de julho de 2003). Pobre, morador de uma favela e sem muita instrução, ele resolveu enfrentar o desafio de aparecer na TV. Montou a sua própria estação – um monitor de TV acoplado a aparelho de VHS literalmente em cima do muro. Além da programação alternativa ele também inventou o seu Ibope: um pequeno buraco no portão por onde ele ‘espia’ a reação do público. Chiquinho não mora na Romênia, mas já foi tema de diversas matérias jornalísticas nacionais e internacionais. Se tivéssemos um cinema nacional de verdade, a TV do Muro já teria sido tema de um ótimo filme. Algo no gênero ‘A leste de Sabará ou ao sul de Belo Horizonte’. Tanto faz.

Mas o grande momento da comédia romena é a cena da transmissão ao vivo do debate. A forma superficial e irresponsável como as questões históricas são tratadas pela TV, o descaso com as intervenções do público em geral e a subserviência às ameaças das ‘autoridades’ em particular, são características das TVs na Romênia, no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.

O filme também tem cenas inusitadas. O plano-seqüência do âncora falando durante quase quinze minutos com uma câmera que sempre perde o foco e o enquadramento é muito engraçada mas também é ousada e muito representativa. Coisas de TV comunitária. Quem já teve o privilégio de trabalhar em uma dessas ‘arapucas’ conhece e reconhece o drama.

Em clima de farsa bem-humorada, podemos ver como a TV, grande ou pequena, manipula esses debates. O jornalista faz questão de convocar a participação dos telespectadores ao vivo pelo telefone. Mas também não tem escrúpulos de mostrar ao convidados que com um pequeno sinal – coçar o nariz frente às câmeras – a técnica do programa simplesmente corta o áudio do telespectador indesejável. Ele explica no ar que a linha caiu e todos acreditam. A participação do público nos debates de TV não deve jamais incomodar os interesses do jornalista e do empresário. Quanta verdade!

A cena também relembra as reportagens de TV com o abominável recurso do ‘povo-fala’: aquelas ‘pesquisas’ informais que parecem verdadeiras, mas que somente os interesses dos editores. Eles selecionam ou descartam as opiniões de acordo com os objetivos da matéria. E todos acreditam. Afinal, a voz do povo é a voz de Deus.

‘A leste de Bucareste’ pode parecer distante, mas está muito próximo da nossa realidade. Com muito bom-humor, sem ser chato, didático ou dogmático, o filme romeno discute questões fundamentais para nós brasileiros. Entre tantos mistérios, afinal por que as pessoas se humilham, são destratadas, se sujeitam a qualquer coisa para aparecer durante alguns segundos na telinha? A TV certamente tem a sua magia.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

BBC Brasil.com

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