TELEVISÃO
‘Falta criatividade à TV’, diz Faustão
‘Para o apresentador Fausto Silva a televisão brasileira vive um momento de pouca criatividade. ‘Falta ousar’, diz ele, que considera um erro tentar imitar o que a Globo faz.
Na posição de quem já apelou para a ‘baixaria’ em busca de pontos de audiência, ele disse à Folha que é contra a classificação indicativa proposta pelo governo federal. Sua posição assemelha-se à da Globo, que faz restrições à medida.
‘Eu tenho medo, pois esse é um passo para virar censura’, avalia. Para ele cabe ao público o papel de ‘censor’, e não ao governo. ‘Quem deve orientar é a família’, diz.
Na próxima quarta-feira, dia 11, o Ministério da Justiça, que contesta a acusação de censura (leia abaixo), anunciará o novo padrão de classificação a ser adotado no país.
Leia, a seguir, trechos da conversa com a Folha, realizada nos bastidores do programa.
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA
Todos os programas que seguiram na baixaria acabaram. É um assunto muito complicado e do qual não estou tão por dentro como deveria, mas, num país em que nem portão de garagem funciona direito, eu tenho medo, pois esse é um passo para virar censura. Se aqui Conselho de Ética não é nem conselho, nem ética, imagine fazendo isso.
Vivi a censura política e de costumes. Tem que tomar cuidado porque eles dizem que começa como um conselho de orientação, mas quem deve orientar é a família. O público é o maior ‘censor’. É só ver: quem decidiu por esse caminho não está nem no ar. [O governo] não tinha que se preocupar com isso, tinha que se preocupar em dar o mínimo de oportunidade para todo mundo e realmente investir na educação. Tem o país de primeiro mundo, o de terceiro mundo, e aqui é o do outro mundo.
PROGRAMA DE AUDITÓRIO
Esse programa é um supermercado. O gênero é auditório, mas ele já reuniu tanta gente diferente e de nível. Jorge Amado, Tom Jobim e Paulo Freire assistiam. Você atinge as classes A, B e C, mas também as D e E. A gente está com quase mil programas, e alguns não querem ver e não percebem que os artistas falam de problemas sociais e de política. Qual o programa de variedade que faz isso? Quem trouxe o Betinho pela primeira vez para falar sobre fome no país? O gênero é auditório, mas tem pequenos diferenciais. Domingo é um dia que tem concorrência, e a gente está acostumado porque sempre foi assim. Esse tipo de programa é um desafio: ele tem que agradar a todo mundo, não é segmentado. A gente também tem que ser didático.
ESTILO
Como apresentador, eu sou uma espécie de cicerone com os convidados. Eu não preciso mostrar que sou inteligente ou culto, mas tenho que pensar na pessoa que está lá no interior do Ceará e que não sabe o que é o efeito estufa. Admiro muito o Chico Anysio, que é escada de novos talentos com o professor Raimundo. Sempre penso que estou fazendo manual de eletrodoméstico. Não faço tipo, procuro ser o mais sincero possível, do jeito que eu sou. As pessoas reconhecem isso, dizem que eu brinco até com o dono da Globo. O [jornalista] Armando Nogueira falou uma vez que o ‘Domingão’ desmistificou um pouco aquela coisa da Globo. Porque humanizou. Esses quadros [‘Dança dos Famosos’, ‘Dança no Gelo’ e ‘Circo do Faustão’] também humanizam, pois mostram que os artistas conseguem superar desafios, como qualquer um.
Minhas piadas são uma característica, prefiro brincar com as coisas para chamar a atenção. Prefiro dizer: ‘Isso mesmo, destrua o orelhão, pegue o carro e dirija em alta velocidade e se estoure no poste’. Acho que tem mais efeito.
PERMANÊNCIA NA GLOBO
Se revirar arquivo de jornais e revistas, o que já me tiraram da Globo e puseram amigos meus no meu lugar… Programa de auditório é uma das coisas mais antigas da televisão e não vai acabar nunca. Todo mundo me fala que sente saudades do ‘Perdidos na Noite’. O bom é sair na hora certa. O Pelé parou, e todo mundo lembra dele sempre no auge. É importante parar deixando saudades. Aqui, ainda tenho que continuar. Como eu disse antes, é um supermercado e tem que ficar aberto e prosseguir.
ANÁLISE DA TELEVISÃO
Cada um tem que procurar o seu caminho. Falta criatividade na TV brasileira; falta ousar. Não adianta querer imitar o que a Globo faz. É preciso cada um ter o seu. Às vezes, eles copiam os erros, e não os acertos. Isso é receita de mãe, cada um tem a sua. Para o telespectador, quanto mais diversidade, melhor. Existe uma certa preguiça. O ‘Perdidos’ foi um exemplo. A Hebe Camargo não tem o estilo dela? Ela sobrevive em outros canais. Aqui não tem regra, a gente faz muita autocrítica até descobrir o próprio caminho.
Eu tenho liberdade total. Na história da Globo, ninguém teve tanta liberdade quanto eu tenho. Quando vim para cá, disseram que eu seria calado. Eu falo, mas não faço política partidária. Eu vivo da minha profissão. A televisão recebe da publicidade, e eu recebo da televisão. Quem financia a baixaria é um imbecil. Ninguém vai anunciar em um programa que prega valores errados.’
Apresentador deixou de lado anarquia
‘Ele era ruidoso, desbocado, engraçado e anárquico. Bem, ruidoso e desbocado ele continua; eventualmente, até engraçado pode ser. Mas o que se perdeu, em algum momento, foi o espírito anárquico.
Era essa a marca de Fausto Silva, o humor anárquico, paródico e no limite da grosseria, quando começou na TV. A escola havia sido o rádio, no ‘Balancê’, programa da Excelsior. Fausto Silva, ainda sem o aumentativo, voz já tonitruante e agilidade mental incrível para fazer piadas e soltar observações ácidas, comandou o show a partir de 1982.
E foi essa mesma mistura de agressividade verbal e sotaque paulistano pesado que ele levou para o ‘Perdidos na Noite’, primeiro na TV Gazeta, depois na Bandeirantes.
Assim como os tropicalistas ‘adotaram’ o Chacrinha nos anos 60, o ‘Perdidos na Noite’ virou uma espécie de coqueluche entre os jovens universitários, muitos empenhados na reconstrução da democracia, mas a maioria apenas usufruindo o clima que começava a se desanuviar. Qualquer coisa que cheirasse a contestação de qualquer ordem estabelecida era bem-vinda.
Fausto e seu programa eram contestadores nesse sentido amplo, que caía bem para a sensibilidade da época. Contestava-se o padrão global de qualidade escancarando a precariedade da produção, criticava-se o ‘bom-gostismo’ cultural levando para o programa o fino do brega -Rita Cadillac, Gretchen-, fazia-se oposição falando de eleições diretas. E havia Tatá e Escova, grandes imitadores.
No fim dos anos 80, justamente no ano em que se realizaram as primeiras eleições presidenciais, Fausto Silva foi para a Globo como arma para combater a hegemonia de Silvio Santos aos domingos. Lá, ganhou novo apelido, produção caprichada e todo o elenco da emissora. A responsabilidade pesou no programa -cada vez mais estridente, Fausto se dobrou aos imperativos da luta pela audiência.
Isso significou adotar estratégias arriscadas, como a de apelar, de forma sutil ou não, para a baixaria. Significou também se acorrentar ao esquema de divulgação da Globo e, de quebra, se levar a sério. Coisa que, em geral, se não acaba com o humor, o compromete.
GORDO EM DETALHES
QUEM É
Fausto Correia da Silva tem 57 anos e nasceu em Araras, no interior de São Paulo
NA TV
‘Domingão do Faustão’, na Globo (desde 1989)
‘Perdidos na Noite’, na Band (1986), na Record e na Gazeta (1984)
‘Safenados e Safadinhos’, na Band (1987)
NO CINEMA
‘Inspetor Faustão e o Mallandro’ (1991)
‘Sonho de Verão’ (1990)
TRAJETÓRIA
Começou sua carreira, aos 15 anos, como repórter da rádio Centenário de Araras (SP)
Em Campinas, comandou o musical ‘New Pop International’ na Rádio Cultura
Em 1970, foi contratado pela Rádio Record, de SP, para apresentar o telejornal da noite
Ingressou na Jovem Pan como repórter esportivo e trabalhou no jornal ‘O Estado de S.Paulo’
Em 1978, foi para a Rádio Globo. Como locutor, levou personalidades como Lima Duarte e o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva para comentar as narrações de futebol e a política do país
Na Rádio Excelsior foi repórter do programa ‘Balancê’. Em 1983, virou apresentador da atração
Em 1984, entrou no ar o ‘Perdidos na Noite’, na TV Gazeta, com a mesma proposta do ‘Balancê’. Sete meses depois, o programa foi para a TV Record (ambos transmitidos somente para São Paulo)
Em 1986, o ‘Perdidos na Noite’ foi para a Band e começou a ser transmitido em rede nacional
FAUSTÃO EM NÚMEROS
1989 foi o ano de estréia do programa
70 mil ‘videocassetadas’, aproximadamente, já foram exibidas
161 quadros foram criados, entre eles, ‘Arquivo Confidencial’, ‘Se Vira nos 30’ e ‘Dança dos Famosos’
216 mil minutos (o equivalente a 3.600 horas ou 150 dias) é tempo total que o programa já ficou no ar
70 atrações internacionais já passaram pelo programa, como Glória Stefan, Shakira, Ray Connif, Simple Red, Black Eye Peas e Bon Jovi
PIORES MOMENTOS
O CASO LATININHO
A Globo foi condenada a pagar R$ 1 milhão de indenização a Rafael Pereira dos Santos, portador da síndrome de Seckeel, com 87 cm e problemas mentais, que foi chamado de ‘E.T. de Varginha’ em 1996
SUSHI ERÓTICO
A comida japonesa foi servida a um grupo de homens sobre o corpo de uma mulher nua em 1997. A emissora se comprometeu a não exibir mais atrações que atentassem à moral
PEGADINHAS
Foram cerca de 1.300 situações armadas com câmeras escondidas, banidas do ‘Domingão’ desde 2001′
Marcelo Bartolomei
Governo diz que críticos modificaram o conceito de censura por interesse
‘O Ministério da Justiça rebate o argumento, endossado por Fausto Silva, de que a classificação indicativa leve à censura. Segundo o diretor do departamento de Justiça e Classificação, José Eduardo Romão, ‘inventaram um novo significado para censura, mais conveniente aos interesses que esses ‘críticos’ representam’.
‘Será que, agora, devemos encarar como censura toda ação legítima do Estado que possa causar prejuízos à audiência do negócio, ou melhor, à lucratividade do programa?’, pergunta, em texto enviado à Folha. ‘As pessoas que trabalham na TV facilmente enxergarão a classificação indicativa tão somente como uma garantia fundamental contra a baixaria quando conseguirem olhar para as câmeras e ver, do outro lado, as necessidades e os direitos dos telespectadores que são crianças e adolescentes.’
As emissoras são contrárias ao projeto apresentado. A Globo se diz favorável à indicação, mas sua central de comunicação ressalva que ‘a portaria do Ministério da Justiça é impositiva. Constitucionalistas renomados reconhecem que foram criados mecanismos de proibição. Proibir é censurar. Censura é inconstitucional’.
A Abert (associação de emissoras de rádio e TV) também se diz favorável à classificação, mas defende que ela não esteja vinculada a horários e se manifesta contra a análise prévia do conteúdo dos programas.’
Luiz Fernando Vianna
Edifícios ‘reais’ inspiram cenário de ‘Paraíso Tropical’
‘Se Margarete Ausier trabalhasse no hotel Duvivier, não deixaria que os funcionários batessem tanto papo no lobby, em vez de cuidar dos hóspedes. Ela é a gerente de hospedagem do hotel Pestana Rio Atlântica, um dos lugares reais de Copacabana (zona sul do Rio) que inspiraram os cenários fictícios da novela ‘Paraíso Tropical’, da TV Globo. O edifício Copamar também ‘existe’, assim como as calçadas em que Bebel (Camila Pitanga) desfila sua ‘catiguria’.
‘Todos nós, os sete redatores da novela, conhecemos muito bem Copacabana. Criar a partir de lugares reais ajuda muito’, diz Gilberto Braga.
Há 20 anos no ramo, Ausier, 43, acha Gustavo (Marco Ricca) um tanto frouxo na gerência. Mas entende que são as liberdades da ficção.
‘Você não vê ninguém atendendo a hóspedes na novela. Parece que todos ficam nos gabinetes falando da vida pessoal’, diz.
Para ela, seu superior, o gerente geral Gláucio Olchenski, é ‘50% Olavo [Wagner Moura], 50% Daniel [Fábio Assunção]’. ‘Até porque o Daniel não existe na vida real’, ressalta, espantada com tanta bondade.
Olchenski, 40, fica feliz de não ser 100% vilão, mas indica que não dá para ser muito mocinho no seu posto.
‘A gente costuma dizer que hotelaria, Igreja [Católica] e Exército duram porque têm uma hierarquia rígida’, diz ele, 22 anos de profissão.
Cenas no hotel real
A fachada do Duvivier é uma réplica feita no Projac (central de estúdios da Globo) da do Pestana. Mas muitas cenas já foram gravadas no lobby e na frente do hotel -inclusive o atropelamento de Taís (Alessandra Negrini lado mau). E gerentes atuaram como consultores, explicando, por exemplo, como funciona o serviço de praia que era feito por Ivan (Bruno Gagliasso).
‘Mas aqui ninguém rouba as pessoas. Eu espero’, brinca Olchenski, referindo-se aos delitos de Ivan.
De 1989, quando foi criado como Rio Atlântica, a 1999, quando foi comprado pelo grupo português Pestana, o hotel cinco estrelas (diárias entre R$ 410 e R$ 1.030) pertenceu à família Marinho, dona das Organizações Globo. O verdadeiro Antenor Cavalcanti (Tony Ramos), Dionísio Pestana, vive em Portugal, mas há um gerente geral da América do Sul que trabalha no Rio.
Ao contrário do Duvivier, no Pestana a joalheria é terceirizada e o restaurante pertence ao hotel -o Frigideira real se chama Cais da Ribeira.
Por causa de ‘Paraíso Tropical’, há turistas de outros Estados que tiram fotos diante do hotel e, também, em frente ao edifício Guahy, cuja fachada art déco -tombada pelo patrimônio municipal- serviu como referência para a do Copamar e ainda aparece como ela própria em algumas cenas.
Gilberto Braga não apontou nenhum prédio como inspiração. Mas a direção e os cenógrafos acharam no Guahy elementos que se casavam com os do Copamar: prédio tradicional, de um estilo arquitetônico em desuso, e situado numa esquina (rua Ronald de Carvalho com Ministro Viveiros de Castro) em que convivem a Copacabana dos idosos com a Copacabana das prostitutas.
Relação familiar
No edifício erguido em 1932, há 15 apartamentos com três quartos cada, quase todos ocupados pelas mesmas famílias desde 1995. Elas compraram do empresário que fizera uma grande reforma para abrir um hotel, mas que desistiu em função de obstáculos judiciais.
‘A relação entre os moradores é bem familiar. Não implico com ninguém, trato todos como amigos’, garante a advogada Nete Doro, 47, síndica há quatro anos, querendo se diferenciar da rabugenta Iracema (Daisy Lucidi). Segundo ela, o porteiro Antônio de Souza, 38, ‘também é pacífico’, referindo-se ao nome do personagem de Nildo Parente.
Ex-síndica, a artista plástica Norma Barbutti, 64, diz algo que não combina com o Copamar: ‘Aqui, ninguém se preocupa com a vida dos outros’.
A estudante de letras Carolina Barreto, 24, conta que, no início da adolescência, não gostava de morar no Guahy por achar o prédio ‘sombrio, meio ‘Corcunda de Notre Dame’, mas hoje o considera lindo. Seus vizinhos fictícios preferidos são Tiago (Sergio Abreu) e Rodrigo (Carlos Casagrande).
‘É ótimo o casal gay ser o mais estável. Copacabana tem muitos gays. Aliás, Copacabana tem de tudo: do senhor de 70 anos até a Bebel. Não dá para ter depressão aqui. Se souber olhar, é muito divertido.’
Albergue
Segundo Gilberto Braga, foram pesquisados os albergues de Copacabana para se compor o de Paula (Alessandra Negrini lado bom) e Lúcia (Glória Pires). Mas não há um equivalente exato.
O mais badalado do momento é o Stone of a Beach, cuidado por uma brasileira e um neozelandês que não vêem ‘Paraíso Tropical’. Em 2005, o casal reformou e coloriu um casarão abandonado na rua Barata Ribeiro, abrindo na garagem um movimentado bar -algo que não tem o da novela.
‘O bar é o coração de um albergue’, diz Michele Coddington, 27, que administra 99 camas, ocupadas principalmente por estrangeiros.’
***
Gravações de Camila Pitanga param o trânsito e ajudam ‘colegas’ de Bebel
‘No último dia 29, o telespectador viu Bebel andando pela calçada da avenida Prado Júnior, conversando com o dono do bar Pif Paf e entrando no prédio onde mora, no número 160. A cena fora gravada dois dias antes na própria avenida, por onde circulam dezenas de garotas de programa.
Para dar esse contorno realista à história, a Globo teve que dar duro para não deixar a vida real atrapalhar as gravações: o trânsito congestionou na área porque os motoristas paravam para olhar Camila Pitanga, e os transeuntes não só paravam, como fotografavam a atriz.
Maior sensação da novela, Camila também é querida pelas ‘colegas’ de Bebel. Há dois anos fazendo ponto em frente à praça do Lido, uma morena carioca de 23 anos, que não quis se identificar, afirma que o movimento melhorou por causa da personagem.
‘Ela deu um certo charme para nós. O pessoal passa de carro e chama: ‘oi, Bebel’. Quando não estou trabalhando, vejo a novela e adoro a Bebel.’
Sentada sobre um capô de carro na PJ -como os íntimos tratam a Prado Júnior-, Danielle (codinome) concorda com a colega morena sobre como é fácil se identificar com Bebel: pelas roupas justas que ela usa e, principalmente, pelo desejo de arrumar um homem que dê uma substancial ajuda financeira, como tem feito Olavo na novela. ‘É o que todas querem’, afirma Danielle.
Gabriela Silva Leite, 55, criadora da Associação Nacional das Prostitutas e que luta pela regulamentação da profissão, relativiza essa visão. ‘Em qualquer profissão, há momentos em que você pensa em sair. Mas, ao que parece, a visão da novela é de que a puta tem que sair para uma outra coisa, como se essa fosse uma verdade absoluta. Há muitas que não querem’, afirma ela, que milita na ONG Davida e é uma das idealizadoras da grife Daspu.
A queixa de Gabriela, no entanto, é só uma ressalva. Tendo ajudado Camila no laboratório da atriz, ela diz que gosta muito de Bebel e que a personagem está ajudando a categoria. ‘Ela é fenômeno e está dando um upgrade para as prostitutas. Todas dizem que gostam. Contribui para a auto-estima’, diz.
Futevôlei
O bar em que o cafetão Jáder (Chico Diaz) costuma aparecer seria o Mondego, que fica na avenida Atlântica, esquina com a rua Constante Ramos e ao lado do Pestana Rio Atlântica. A quatro quadras dali, fica a boate Help, confluência de garotas de programa e lugar bastante freqüentado por turistas.
No Leme, que fica na outra ponta de Copacabana, as atividades da novela são diurnas. É nas areias da praia que Cássio (Marcelo Antony) joga futevôlei com os amigos antes de ir cuidar do Frigideira. Ou melhor, jogava. Para se erguer a arena de vôlei de praia do Pan, o espaço para várias quadras foi suprimido e as gravações, suspensas. Só ao fim dos Jogos o bon vivant poderá voltar a praticar seu esporte não-olímpico.’
Bia Abramo
A simplicidade dos célebres
‘É TUDO igual, exceto o que é diferente. A versão brasileira de ‘Simple Life’, que estreou semana passada, segue o original como se fosse um script, mesmo no que, em tese, seria espontâneo. O que é estranho, em se tratando de um reality show. O episódio de estréia repetiu as mesmíssimas situações do programa estrelado por Paris Hilton e Nicole Richie. ‘Sem cartão de crédito, sem celular, sem noção’, diz a chamada cá e lá. A idéia era, como é aqui, colocar duas moças mimadas, de cidade grande, para passar um tempo em uma fazenda e enfrentar condições de vida muito diferentes das quais estão acostumadas.
As moças compram indiscriminadamente para se despedirem de seus cartões de crédito, e os preços exorbitantes das bolsinhas e sapatinhos são destacados na tela da TV. Na chegada, de avião particular, em vez de uma recepção, elas encaram uma caminhonete para chegar à fazenda e, entre muitos gritinhos, erram o caminho, o veículo morre e prosseguem os gritinhos. E por aí vai.
A diferença é que, de fato, as moças americanas são celebridades porque são milionárias -uma, herdeira do grupo hoteleiro Hilton; a outra, filha do cantor Lionel Richie- de vida extravagante, e, aqui, são celebridades ponto. Ticiane é aquela, filha de Helô ‘Garota de Ipanema’ Pinheiro, que se casou com Roberto Justus, o rico que brinca de apresentador de reality show. Karina Bacchi garantiu seu lugar no hall da fama fazendo propagandas de cerveja ao lado do ‘baixinho da Kaiser’ e leiloando seu piercing genital.
Claro, essas duas duplas são feitas mais ou menos do mesmo barro: toda aquela beleza e saúde que o consumo pode comprar, o desprezo pelos que não têm os mesmos privilégios, uma ignorância profunda em relação ao mundo real e o horror ao trabalho. Embora tudo isso seja genuíno tanto para as patricinhas americanas quanto para as brasileiras, no segundo caso, há uma nota mais falsa e estridente. Natural: falsas milionárias, elas se representam nas duas pontas. O fato de a versão da Record ter optado por assumir a cópia também bane qualquer espontaneidade, o que talvez fosse a única possibilidade de olhar com alguma simpatia para o programa.
E por não falar em Paris Hilton, a melhor coisa da TV na semana retrasada foi a imagem da apresentadora da MSNBC que se recusou a ler a notícia sobre a saída de Paris Hilton da prisão, dizendo ‘eu odeio essa história’. Em seguida, tentou queimar e depois picou o papel no qual estava a matéria. Tudo isso ao vivo; tudo isso no YouTube.’
FRANÇA
Hiperatividade de Sarkozy é bom marketing
‘Corre na França uma anedota que tem tudo para ser verdadeira. O presidente Nicolas Sarkozy diz sorrindo a um amigo: ‘Eu adoro fazer cooper com o François Fillon [o primeiro-ministro]. Ele não abre a boca para falar enquanto corre’.
A moral da história é simples: o premiê, discreto, deixa que suas atribuições sejam invadidas pelo presidente da República. O que ocorre porque Sarkozy, segundo seus marqueteiros, passa naturalmente a imagem de ‘hiperativo’, aquele que tudo pode e tudo faz, independentemente do conteúdo ideológico de suas decisões. Uma versão de centro-direita do super-homem.
Pois bem, é esse o Sarkozy que chega à maioria dos franceses, menos de dois meses depois de sua posse.
Sua taxa de confiabilidade continua a subir: de 63% a 65%, segundo pesquisa TSE-Sofres divulgada quinta-feira. Pelo mesmo movimento do pêndulo, caiu de 52% a 41% a confiança que os franceses têm em Ségolène Royal, candidata socialista derrotada no segundo turno presidencial de 6 de maio e virtual líder da oposição.
Indagado se era ‘hiperativo’ pela TFI, rede de televisão que lhe é simpática, Sarkozy respondeu há dias: ‘Fui eleito para fazer alguma coisa em todas as questões. E, se pudesse, faria ainda mais’.
No fundo é uma carta branca para atropelar prerrogativas que a Constituição e os costumes franceses atribuem a outros. O semanário ‘Le Nouvel Observateur’, de oposição ao governo, afirma que Sarkozy é ao mesmo tempo ‘presidente, primeiro-ministro, líder de sua base de apoio parlamentar, porta-voz do governo e também ministro da Economia’.
Elogio a si mesmo
A grande vítima da hiperatividade é o premiê Fillon, reduzido a chefe-de-gabinete.
No último dia 20, Sarkozy convocou ao palácio presidencial do Elysée os 344 deputados e 160 senadores de sua confortável base de apoio parlamentar. Discursou por 70 minutos. E agradeceu Fillon pela forma ‘com que conduziu a formação de dois governos sucessivos’, o que se seguiu à posse presidencial de 16 de maio e o posterior ao segundo turno legislativo de 17 de junho. No fundo, Sarkozy cumprimentava a si mesmo, já que foi ele quem escolheu pessoalmente cada ministro ou secretário de Estado.
Ser em tudo ‘hiper’ é uma moda que pega. Com a ajuda de jornalistas coniventes. Um site francês especializado no assunto chama a atenção ao fato de David Pujadas, um dos comentaristas políticos mais conhecidos entre os franceses, ter apoiado acriticamente, há uma semana, na televisão, a tese de que a França está em boas mãos porque é agora governada por um ‘hiperpresidente’.
Sarkozy gosta de fazer cooper. O ‘Libération’, único jornal de aberta oposição ao presidente, disse que esse tipo de hiperatividade ‘é de direita’, opinião também defendida pelo filósofo e aprendiz de ‘maître-à-penser’ Alain Finkelkraut.
Para o presidente foi uma colherada de mel na sopa. A oposição teorizava sobre aquilo em que ele incomodava. Em outras palavras, está dando certo.
Ser hiperativo é, segundo o ‘Aurélio’, um estado patológico. Em política não é bem assim. Significa dar uma prova superlativa de competência. Em termos diplomáticos, foi o que aconteceu na última cúpula da União Européia. A mídia francesa comprou como correta a versão de que a elaboração de um ‘tratado’ -em substituição à Constituição do bloco- era uma idéia de Sarkozy. Não é verdade. O texto foi negociado e redigido por Angela Merkel, a chanceler alemã.
O ex-presidente Jacques Chirac era hiperativo a seu modo. Envelheceu e se acomodou. Seu predecessor, François Mitterrand, tinha câncer e era lento até para jogar golf. Sarkozy é o produto de um contraste pelo qual sua imagem só pode sair ganhando.
Mas o site oficial da Presidência francesa desmente a idéia segundo a qual o presidente trabalha em excesso. Entre as últimas quarta e quinta-feira foram apenas 12 compromissos, dos funerais da viúva do ex-presidente Georges Pompidou a audiências com o presidente do Congo e com o premiê do Québec.
Mas a suposta hiperatividade está um pouco no conteúdo dessa agenda. Ele não precisaria, por exemplo, ter comparecido ao enterro do ator Jean-Claude Brialy. Mas esse alter ego do cineasta François Truffault era um homem de esquerda. Ponto para o presidente. Também desconcertou os ambientalistas ao prometer negociações que colocariam o meio ambiente entre as prioridades do governo. Mais um ponto.
Ainda anteontem almoçou no Elysée com o socialista de quatro costados Dominique Strauss-Kahn, discutindo o apoio francês para que ele seja o novo diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Aliás, a hiperatividade de Sarkozy em cima da esquerda é talvez o que há de mais notável em seu curto mandato. Prova: entre os antigos cardeais do Partido Socialista, o mais popular, segundo pesquisas, é Bernard Kouchner, justamente aquele que traiu seu partido e aceitou o convite de Sarkozy para ser o ministro das Relações Exteriores.
Centralizador ao extremo, Sarkozy corre riscos. Não tem a quem atribuir desastres que possam ocorrer em seu governo. Mas essa é uma hipótese a ser discutida bem mais para frente, depois de mais alguns meses de hiperatividade do presidente.’
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