MÍDIA & POLÍTICA
Fatos e ideologia – uma mistura sempre indigesta
‘Um câmera atento da TV Globo, debaixo de uma janela do Palácio do Planalto, e um alto funcionário público imprevidente, Marco Aurélio Garcia, produziram uma das cenas jornalísticas da cobertura da maior tragédia da aviação brasileira. Garcia e um assessor acabavam de ser informados pelo ‘Jornal Nacional’ de que o Airbus da TAM, convertido numa bola de fogo em Congonhas, tinha um problema técnico: o reverso do motor direito estava travado, ou ‘pinado’, no jargão técnico. Por coincidência, enquanto a emissora divulgava aquele furo jornalístico, registrava outro, ao gravar os gestos inconvenientes de Marco Aurélio Garcia e do companheiro, em comemoração pelo que entendiam ser uma notícia positiva para o governo. Se o avião apresentava algum problema mecânico ou eletrônico, nada poderia ser debitado ao Planalto, acusado de ser o principal responsável pelo apagão aéreo.
A divulgação da comemoração insólita foi inicialmente considerada invasão de privacidade. Estranha invasão seria aquela: a filmagem de um funcionário de primeiro escalão, na janela devassada do palácio do governo, em meio a um gestual relacionado a uma notícia.
Logo surgiu a tese de conspiração da mídia. Ou melhor, o clichê ‘conspiração da mídia’ – há algum tempo, no chavão constante em documento do PT e redondezas – foi aplicado à divulgação das cenas protagonizadas por Garcia.
Quando o jornalismo passa a ser enxergado pelas lunetas da militância política, ele se transforma num objeto distante, incompreensível, um OVNI, e sempre em estado de constante conspiração. Por essa visão, a Globo quis prejudicar o governo ao mostrar Garcia e o companheiro dele em êxtase. Ora, se assim foi, a mesma Globo resolvera ajudar o governo Lula ao investigar se o Airbus estava em condições perfeitas de vôo. O mesmo valeria para a ‘Veja’, por revelar a provável posição errada do manete da turbina direita do avião.
Assim agiria a chamada grande imprensa, ao sabor de interesses inconfessáveis. Não haveria competição entre os veículos pela notícia exclusiva, pelo aprimoramento editorial constante, para atrair leitores, telespectadores e ouvintes, por meio dos quais cada jornal, TV, revista e rádio procura faturamento lucro via publicidade – no caso da mídia impressa, também na venda de exemplares. É isto que os torna independentes e os credencia a ser meios de comunicação confiáveis ao grande público, como indicam as pesquisas sobre imagem de instituições.
Mas os guerreiros ideológicos não conseguem ter esse alcance de visão. A preocupação básica de um órgão de imprensa de revelar fatos – não importa quais -, de ajudar o leitor, telespectador, ouvinte a entender o mundo em que vivem, não passaria de uma espessa e enganosa nuvem de fumaça para esconder maquinações.
Quando essa percepção move alguém, escapará dela a verdade objetiva de que a imprensa não cria fatos. Noticia-os. Por exemplo, o escândalo do mensalão, marco do fim da virgindade ética do PT. Cabe lembrar que o caso foi descoberto a partir da denúncia de um aliado do governo, Roberto Jefferson, ao jornal ‘Folha de S. Paulo’. Tampouco o ex-ministro José Dirceu enfrentou qualquer campanha difamatória. Aos fatos: o ex-ministro, envolvido no escândalo, foi afastado do cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou em comum acordo com este; terminou cassado por seus pares, na Câmara dos Deputados, muitos da base do governo, e, por fim, arrolado num processo do STF, sobre a acusação do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, de chefiar uma ‘sofisticada organização criminosa’.
O PT e a imprensa foram passageiros do mesmo processo que resultou na redemocratização e na restauração das liberdades públicas. Logo que o regime militar passou a refluir, a imprensa pôde abrir espaços para todas as correntes importantes de pensamento.
Muitos militantes do partido passaram a escrever e a participar de debates nos meios de comunicação, para enriquecimento político da sociedade. Até pelo peso do partido, é desejável que esses militantes estejam presentes nas páginas de Opinião dos jornais. Não se justifica, portanto, a acusação de que a imprensa brasileira não é pluralista.
Nem se pode acusá-la de não ser isenta por registrar fatos, os mais importantes dos quais são comentados por analistas e abordados em editoriais, onde jornais e revistas emitem sua opinião de forma clara. Todos somos escravos dos fatos. Inclusive o PT, mesmo que não queria.’
Paulo Ferreira
A manipulação da notícia contra o PT e seus dirigentes
‘Há muito mais do que simples desaprovação ao gesto de mãos, em sinal de desabafo, que o professor Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula e vice-presidente do PT, expressou quando assistia ao noticiário sobre o trágico acidente com o airbus da TAM. Explico. Mais que uma reação compreensível de um brasileiro indignado com a manipulação da informação, o que se viu, na verdade, foi um lamentável capítulo de sensacionalismo promovido por parte da mídia, com o objetivo de macular a imagem de Marco Aurélio e atingir o PT e o governo.
Sensacionalismo, aliás, que se tornou rotina e manual de conduta de boa parte (se não a maioria) dos órgãos de comunicação. A quem interessa esse tipo de picaretagem eletrônica? Por que desviar o foco do gesto em si uma vez que Marco Aurélio criticava o comportamento majoritário da imprensa no episódio -, incitando o ódio e se aproveitando do sofrimento das famílias das vítimas do acidente?
É evidente que há interesse político por trás desta manipulação. Não é de hoje, aliás, que os barões da comunicação se posam de ‘donos da verdade’ e agem contra o PT. E fazem isso porque são parte de uma elite preconceituosa, flagrantemente reprovada nas eleições de 2006. Sonham em voltar ao poder, retomar privilégios, e não mede esforços para atacar o PT e seus dirigentes. Isso, sim, é imoral, é indecente. Querem e vã tentar de tudo para desestabilizar o PT. Hoje, a bola da vez é Marco Aurélio; ontem, foi José Dirceu – injustamente cassado, sem provas, e com apoio incondicional dos mesmos articulistas,dos mesmos setores da mídia que colocam agora o dedo em riste contra Marco Aurélio. Quem será o próximo petista?
O episódio do gesto em si é apenas ilustrativo. Todo mundo sabe que o professor Marco Aurélio Garcia é figura respeitadíssima nacional e internacionalmente, além de ser um dos principais expoentes da esquerda brasileira. Sua história de lutas em prol da democracia será sempre motivo de orgulho para os petistas. Tentar desqualificar Marco Aurélio faz parte de uma estratégia viciada que deve ser combatida pelos que defendem a liberdade de imprensa e de opinião. Na verdade, escondem que estão que estão de olho nas eleições de 2008 (municipais) e 2010 (presidente da República) Para esses setores da mídia, incomoda o reconhecimento social do PT, dos seus dirigentes e da sua trajetória estritamente vinculada aos interesses da maioria do povo brasileiro. Por isso, quem deseja derrotar o PT terá de apresentar à sociedade brasileira um projeto superior, que não seja aquela que defende privilégio para uma minoria que só enxerga o próprio umbigo.
Talvez fosse o caso da mídia brasileira repensar o seu papel, aprender a conviver numa democracia com liberdades individuais, direito à informação com imparcialidade, pluralismo e isenção. Inversamente, quanto mais atacam o PT, mais o partido se consolida no cenário político nacional.
Hoje somos mais de um milhão de filiados espalhados em todas as regiões, temos cinco governadores de estado, centenas de prefeituras e de parlamentares eleitos, a segunda maior bancada de deputados na Câmara Federal e, por duas vezes, elegemos Lula Presidente da República. Felizmente, a opinião pública (mesmo entre os não-petistas) reconhece o PT como partido identificado com os mais pobres. O TSE divulgou pesquisa destacando o PT como partido político que mais somou filiados nos últimos anos. O mesmo vem acontecendo com o governo Lula. A mais recente pesquisa da Vox Populi, feita com exclusividade pela revista ‘Carta Capital’ e Rede Bandeirantes, diz que Lula continua a superar todos os seus antecessores em termos de popularidade, com 61% das aprovações, patamar que fica abaixo apenas dos 63% de outubro do ano passado.
Resta saber o que mais os ‘papas’ da grande imprensa farão contra o PT e seus dirigentes. É difícil saber. Certeza apenas de que a população brasileira aprendeu a confiar na seriedade de quem realmente luta pelos seus interesses. Assim como Marco Aurélio Garcia, professor, amigo e dirigente do PT.
É secretário nacional de Finanças e Planejamento do Partido dos Trabalhadores (PT)’
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