Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Governador analisa reportagem
e culpa a elite pela violência


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quinta-feira, 18 de maio de 2006


ENTREVISTA / CLÁUDIO LEMBO
Mônica Bergamo


Burguesia terá de abrir a bolsa, diz Lembo


‘O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, afirma que o problema de violência no Estado só será resolvido quando a ‘minoria branca’ mudar sua mentalidade. ‘Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa’, afirmou. ‘A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.’


Lembo criticou o ex-governador Geraldo Alckmin, que disse que aceitaria ajuda federal contra as ações do PCC se ainda estivesse no cargo, e o ex-presidente FHC, que atacou negociação entre o Estado e a facção criminosa para o fim dos ataques. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.


Folha – Os jornais estão noticiando hoje [ontem] que houve uma matança em São Paulo na madrugada de terça. A polícia está sob controle ou está partindo para uma vingança?


Cláudio Lembo – A polícia está totalmente sob controle. Eu conversei muito longamente com o coronel Elizeu Eclair [comandante-geral da PM] e estou convicto de que ela está agindo dentro dos limites e com muita sobriedade. Todas as noites há confrontos nas ruas da cidade e esses conflitos foram exasperados nesses dias. Mas vingança, não. A polícia agiu para evitar o pior para a sociedade.


Folha – Foram 93 mortes. Elas estão dentro dos limites? O senhor tem segurança que todos que morreram estavam em confronto?


Lembo -E o conflito que houve da cidade com a bandidagem? Foi violento. É possível que tenha havido tragédias, mas pelo que estou informado não houve nada que fosse além dos confrontos diretos.


Folha – Só no IML (Instituto Médico Legal) estão 40 mortos e não se sabe nem o nome dessas pessoas.


Lembo -Os nomes vão ser revelados. Estamos resolvendo questões burocráticas, de identificação, mas vão ser revelados.


Folha – Jornalistas da Folha entraram no IML e viram fotos de pessoas mortas com tiros na cabeça. Que garantia a sociedade tem de que não morreram inocentes e de que o Estado, por meio da polícia, não está executando essas pessoas?


Lembo -Não está, de maneira alguma. E digo a você: fui muito aconselhado a falar tolices como ‘aplique-se a lei do Talião’. Fui totalmente contrário. Faremos tudo dentro da legalidade e do Estado de Direito.


Folha – O senhor não se assusta com o número de mortos?


Lembo – Eu me assusto com toda a realidade social brasileira. Acho que tudo isso foi um grande alerta para o Brasil. A situação social e o câncer do crime é muito maior do que se imaginava. Este é o grande produto desses dias todos de conflito. Nós temos que começar a refletir sobre como resolver essa situação, que tem um componente social e um componente criminoso, ambos gravíssimos. O crime organizado trabalha com a droga. A droga é um produto caro, consumido por grandes segmentos da sociedade. Enquanto houver consumidor de drogas, haverá crime organizado no tráfico. É assim aqui, na Itália, nos EUA, na Espanha. O crime se alimenta do consumidor de drogas.


Folha – E da miséria…


Lembo – Talvez no Brasil tenha esse componente também. O crime organizado destruiu valores. O Brasil está desintegrado. Temos que recompor a sociedade. A questão social é muito grave.


Folha – O senhor é um homem público há tantos anos, está num partido, o PFL, que está no poder desde que, dizem, Cabral chegou ao Brasil.


Lembo -Essa piada é minha.


Folha – O que o senhor pode dizer para um jovem de 15 a 24 anos, que vive em ambientes violentos da periferia? Que ele vai ter escola? Saúde? Perspectivas de emprego? Como afastá-lo de organizações criminosas como o PCC?


Lembo -Acho que você tem duas situações muito graves: a desintegração familiar que existe no Brasil, e a perda… Eu sou laico, é bom que fique claro para não dizerem que sou da Opus Dei. Mas falta qualquer regramento religioso. O Brasil está desintegrado e perdeu seus valores cívicos. É ridículo falar isso mas o Brasil só acredita na camisa da seleção, que é símbolo de vitória. É um país que só conheceu derrotas. Derrotas sociais…Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa.


Folha – Que ficou assustada nos últimos dia.


Lembo -E que deu entrevistas geniais para o seu jornal. Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar.


Folha – Tomar conhaque de R$ 900 [preço de uma única dose do conhaque Henessy no restaurante Fasano].


Lembo -Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país.


Folha – O senhor acha que essas pessoas são responsáveis e não percebem?


Lembo -O Brasil é o país do duplo pensar. Conhecemos a inquisição de 1500 até 1821. Então você tinha um comportamento na rua e um comportamento interior, na sua casa. Isso é o que está na sociedade hoje. Essas pessoas estão falando apenas para o público externo. É um país que é dúbio.


Folha – Onde o senhor responsabiliza essas pessoas?


Lembo -Onde? Na formação histórica do Brasil. A casa grande e a senzala. A casa grande tinha tudo e a senzala não tinha nada. Então é um drama. É um país que quando os escravos foram libertados, quem recebeu indenização foi o senhor, e não os libertos, como aconteceu nos EUA. Então é um país cínico. É disso que nós temos que ter consciência. O cinismo nacional mata o Brasil. Este país tem que deixar de ser cínico. Vou falar a verdade, doa a quem doer, destrua a quem destruir, porque eu acho que só a verdade vai construir este país.


Folha – Mas qual é, objetivamente, a responsabilidade delas nos fatos que ocorreram na cidade?


Lembo -O que eu vi [nas entrevistas para a Folha] foram dondocas de São Paulo dizendo coisinhas lindas. Não podiam dizer tanta tolice. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos. Querem estar sempre nos palácios dos governos porque querem ter benesses do governo. Isso não vai ter aqui nesses oito meses [prazo que resta para Lembo deixar o governo]. A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.


Folha – O senhor diria que elas pensam que aquele rapaz de 15 a 24 anos, que vive perto da selvageria…


Lembo – …pode ser o Bom Selvagem do Rosseau? Não pode.


Folha – O endurecimento na legislação pode resolver o problema?


Lembo -Transitoriamente pode resolver. Mas se nós não mudarmos a mentalidade brasileira, o cerne da minoria branca brasileira, não vamos a lugar algum.


Folha – O senhor diz que muita gente falou besteira sobre os episódios. Dos EUA, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a possibilidade de o governo ter feito acordo com os criminosos para cessar a violência.


Lembo -Eu acho que o presidente Fernando Henrique poderia ter ficado silencioso. Ele deveria me conhecer e conhecer o governo de SP. Eu não posso admitir nem a hipótese de se pensar isso. Para opinar sobre um tema tão amargo, tão grave, ele teria que refletir, pensar. E se informar. Quanto ao presidente [FHC], pode ser que eventualmente ele tenha precedente sobre acordos. Eu não tenho.


Folha – Vimos o senhor dando muitas entrevistas na TV. Mas SP teve um outro governador [Alckmin], tem um candidato ao governo e ex-prefeito [Serra]. O senhor ficou sozinho?


Lembo -No poder, um homem é absolutamente solitário. Houve momentos em que praticamente fiquei sozinho. Mas devo agradecer a Polícia Militar e a Polícia Civil também, que estiveram firmes ao meu lado.


Folha – O ex-governador Alckmin telefonou para o senhor em solidariedade?


Lembo -Dois telefonemas.


Folha – O senhor achou pouco?


Lembo -Eu acho normal. Os pulsos [telefônicos] são tão caros…


Folha – E o candidato José Serra?


Lembo -Não telefonou. Eu recebi telefonema da governadora Rosinha [do Rio de Janeiro] e de Aécio Neves [governador de MG], que estava em Washington, ele foi muito elegante. Um ofício do governador Mendonça, de Pernambuco. Recebi muitos apoios, do Poder Judiciário, e a Assembléia Legislativa, deputados de todas as bancadas, nenhum partido faltou.


Folha – As autoridades paulistanas garantiram, nos últimos anos, que o PCC estava desmantelado, que era um dentinho aqui ou ali. Elas enganaram os paulistanos?


Lembo -Não saberia responder. Eu não engano. Eu acho que nós ganhamos uma situação mas é um grande risco. Temos que ficar muito atentos.


Folha – Essas autoridades garantiram que o PCC tinha acabado. Ou elas enganaram…


Lembo -Ou o dentinho era maior do que elas diziam.


Folha – Ou foram incompetentes. O senhor vê terceira alternativa?


Lembo -Pode ser que tenham sido exageradas no momento de transferir segurança. Quiseram ser tranquilizadoras.


Folha – Então elas iludiram as pessoas?


Lembo -É possível.


Folha – O senhor pode dizer que o PCC pode acabar até o fim de seu governo?


Lembo -Só se eu fosse um louco. E ainda não estou com sinal de demência. Acho que o crime organizado é perigosíssimo. Ele se recompõe porque ele tem possibilidades enormes na sociedade.


Folha – O ex-presidente Fernando Henrique não telefonou?


Lembo -Não, não. Ele estava em Nova York. O presidente Lula telefonou, foi muito elegante comigo. Conversei muito com o presidente, ele me deu muito apoio. E o Márcio [Thomaz Bastos] veio, conversamos firmemente, com lealdade. E ele chegou à conclusão que não era necessário nem Exército nem a guarda nacional. Tivemos uma conversa responsável, e o equilíbrio voltou. Mostrei que a Polícia Civil e a Polícia Militar tinham condições de fazer retornar a SP a ordem e a disciplina social.


Folha – O Datafolha mostrou que 73% acham que o senhor deveria ter aceitado ajuda federal. O governador Alckmin disse que não rejeitaria a ajuda.


Lembo -Ele decidiria, se fosse governador, como achava melhor. Eu decidi da forma que achei melhor. Quanto às outras pessoas, faltou clareza de informação da minha parte. E aí me penitencio. Não é que não aceitei ajuda do governo. Ao contrário. Desde sempre houve vínculo forte entre o sistema de informação da polícia federal e a polícia de SP. A superintendência da PF em SP foi extremamente leal, solícita e dinâmica. Eu tinha uma Polícia Militar muito aparelhada. Eu não poderia tirar esse respeito e esse moral que a tropa tinha que ter naquele momento tão difícil aceitando tanques de guerra do Exército. E aí uma sociedade que gosta de paternalismo, como a brasileira, queria Exército, tropas americanas, tropas alemãs, tropas de todo o mundo aqui. Não é assim. Temos que ser fortes, saber decidir em momentos difíceis e dar valor ao que é nosso. Foi o que fiz. Em 48 horas liquidou-se o problema. O Exército é para matar o adversário. Eu queria recolher os adversários possíveis. Nós estávamos num conflito social.’


ELEIÇÕES 2006
Catia Seabra e José Alberto Bombig


Alckmin aposta em TV para superar crise


‘A campanha do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, passa por seu mês mais difícil. Segundo tucanos, essa é a avaliação do próprio Alckmin. A aposta do ex-governador é que sua candidatura ganhe fôlego em junho, com o uso de um quarto do tempo destinado ao PSDB, em rádio e TV, nos Estados.


No dia 22 de junho, vai ao ar o programa nacional do PSDB. Mas, até lá, diz um tucano, ‘é preciso sobreviver a maio’.


Alckmin, no entanto, é alvo do próprio PSDB, que se queixa da incapacidade de geração de fatos políticos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seria um dos mais duros críticos da deficiência de discurso.


Hoje, FHC, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e o governador Aécio Neves (MG) se encontram em Nova York para uma avaliação da campanha. Anunciado por Aécio como uma reunião política, o encontro fomentou a crise interna.


Ao saber que os três -participantes da homenagem ao empresário Roger Agnelli (Vale do Rio Doce) como o brasileiro do ano- se encontrariam, o vereador paulistano José Aníbal ironizou: ‘Ainda bem que não tem Massimo lá’, disse, numa referência ao restaurante que foi palco do encontro em que os três se reuniram com José Serra para debater a candidatura à Presidência.


‘Só sei de reunião em Jabaquara e na Freguesia do Ó. Em Nova York, deve ser de importância planetária’, brincou o secretário de Governo de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira.


A reunião, no entanto, passa a imagem de crise na campanha de Alckmin. ‘É uma campanha difícil, complicada. Mas não há nada que mereça uma reunião fora. Isso foi coincidência’, minimizou o coordenador-geral da campanha, senador Sérgio Guerra (PE).


Menos viagens


Aliados de Alckmin cobram dedicação à campanha. Segundo o líder do governo na Assembléia Legislativa de São Paulo, Edson Aparecido, ‘agora, é necessária a mobilização’.


A ansiedade dos aliados não é o único problema. Temendo palanques perigosos, Alckmin decidiu evitar Estados onde as coligações não estão fechadas. Ele cancelou viagem que faria anteontem ao Rio, onde discute a idéia de apoio ao PPS em troca de uma aliança nacional. Lá, segundo a análise do próprio Alckmin, o PFL poderia até se coligar ao PMDB, deixando o tucano sem palanque sólido no terceiro maior colégio eleitoral.


O pré-candidato se rendeu ao argumento de que só crescerá após a propaganda eleitoral. Por isso, optou por reduzir as visitas ao Nordeste e demarcar território no Sul, onde é mais conhecido. Terça-feira, ele viaja para o Rio Grande do Sul, onde participa de feira de produtores de arroz.


Em meio às dificuldades, Alckmin procura terreno confortável, visitando feiras de agronegócios. Ontem, ele decidiu visitar a Agrishow, feira que acontece em Ribeirão Preto, em cima da hora.


Num momento em que encontra dificuldades para trazer o PPS a seu palanque, Alckmin insiste na idéia de que a campanha só começa com a TV, a ponto de ter recomendado, num jantar com empresários do setor de alimentos, que só façam doações a partir de 11 de junho. ‘Não há nada o que fazer até lá’, disse o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP).’


CRÔNICA
Carlos Heitor Cony


Fontes confiáveis


‘Fontes confiáveis, mas que não querem ser reveladas, garantem que o deputado João de Deus Falcão e Silva recebeu dinheiro do bicheiro Surufinga para a sua campanha eleitoral, quando foi visto em Miami, acompanhando famosa stripper de Las Vegas, amante de um contrabandista que teria vendido urânio enriquecido aos terroristas de Bin Laden.


O mesmo deputado foi acusado, há tempos, de ter agredido a socos a sua primeira mulher, a ex-guerrilheira boliviana Rosária de Blanca Martinez. Numerosas fontes igualmente confiáveis, acima de quaisquer suspeitas, revelaram a um agente da Polícia Federal, que pediu ter seu nome mantido em segredo, que João de Deus Falcão e Silva foi visto nas imediações do World Trade Center na tarde de 10 de setembro de 2001, véspera do atentado às duas Torres Gêmeas.


Um barman do restaurante Top Secret Love confidenciou a uma testemunha, que não quis se identificar, que o deputado estava em companhia de uma mulher islâmica que tirava fotos digitais das torres e, em seguida, numa das mesas do restaurante, passou-as por computador portátil para endereço desconhecido.


Tantas e tais suspeitas sobre o deputado João de Deus Falcão e Silva levaram a Interpol a um levantamento de suas atividades ilegais. Um relato absolutamente confiável de uma freira carmelita de Wisconsin, mas cujo nome a ordem religiosa mantém em segredo, relata as freqüentes visitas do deputado a um bordel explorado por um iraniano, membro de uma facção radical dos Chacais da Lua Crescente, interessada em fazer explodir um estádio de futebol na Alemanha durante a próxima Copa do Mundo.


Ouvido por um jornalista de ‘The New York Times’, que mantém seu nome no anonimato, um inspetor da alfândega do Rio de Janeiro, cujo nome não foi revelado, declarou que o deputado em questão também recebeu dinheiro do esquema de corrupção instalado no Brasil.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O besteirol


‘Adversárias das redes na batalha digital, as empresas de telefonia se viram sob fogo nos últimos dias.


O ataque começou no ‘Jornal Nacional’ de segunda:


– Essa ação só é possível pelo uso de celulares… [Delegado:] ‘Eu considero que o celular é mais perigoso que uma arma’… [Ex-secretário:] ‘Já tramita um projeto obrigando operadoras a fazer bloqueio’.


Daí para o ‘Bom Dia Brasil’ de terça, em reportagem que abriu dizendo:


– Não há lei que obrigue as empresas a bloquear o celular dos presídios.


E um novo ‘JN’:


– Projeto obriga companhias telefônicas a criar e doar para o governo sistema que bloqueie os celulares.


E um novo ‘Bom Dia Brasil’ etc. Até que a Globo News deu a manchete, ontem:


– Senado aprova o pacote de repressão à violência. Uma das medidas obriga operadoras de telefonia a instalar bloqueadores de celulares.


Por fim, no ‘JN’ onde tudo começou, a manchete:


– A Justiça estadual manda bloquear celulares em presídios de São Paulo.


Deu 48 horas às operadoras de telefonia.


No UOL, do blog de Fernando Rodrigues:


– É infinito o besteirol dos bloqueadores. As esperanças do Brasil de repente residem aí… São altamente ineficazes, a não ser que não se preocupem com a vizinhança. Os pobres..


Por outro lado:


– Nem discussão sobre por que os governos estaduais estão abdicando de uma política para impedir entrada. É inconcebível que São Paulo seja incapaz de, em 24 horas, limpar as celas de telefones e armas.


‘EU PRECISO TRABALHAR’


Finalmente o secretário de Segurança surgiu ao vivo, ontem, por Globo News e Band News -sem as redes abertas. Sob tiroteio de perguntas quanto aos nomes dos mortos, Saulo de Castro Abreu dizia:


– Eu não vou abrir a investigação… Esse tipo de pergunta não vai ser respondida, ponto… Não é possível discutir uma investigação todos os dias pelas rádios… Eu preciso trabalhar.


Levantou-se e saiu, em mais um golpe de teatro. Mas não sem antes dar como ‘lamentável que subliminarmente’ os jornalistas afirmem que ele ‘estaria escondendo identificação de morto ou coisa que o valha’.


Registre-se que o secretário e sua política de segurança estão sob fogo contínuo dos representantes de policiais, dia após dia. Ontem, eram o presidente da associação de delegados, na Jovem Pan, e o presidente do sindicato dos investigadores, no site Carta Maior.


O secretário, ao vivo, evita perguntas e se retira teatralmente


Abandonado na linha de frente da cobertura, o governador virou alvo preferencial, do ‘Casseta & Planeta’ aos blogs Aboboral e Kibe Loco(acima)


Tarso no ataque


Pelo jeito, o levantamento do Datafolha em São Paulo, em que Lula é mais responsabilizado do que Alckmin pelo caos, tirou o petista do sério.


O ‘JN’ abriu as câmeras para o ministro Tarso Genro apontar o dedo para o ex-governador, hoje presidenciável.


Foi submanchete na Folha Online e ganhou destaque em outros sites, com os enunciados na linha ‘Tarso ataca e afirma que Alckmin preferiu negociar com o PCC a aceitar a ajuda do governo federal’.


Tasso em fúria


Mas o ‘JN’ deu mais atenção, em sua edição, à reação violenta do presidente do PSDB, Tasso Jereissati:


– Eu peço ao presidente que peça que este homem desminta imediatamente o que disse ou se demita… Um homem que fala uma bobagem, uma leviandade, uma irresponsabilidade.


Para William Bonner, foi uma reação de fúria. Para o blogueiro Ricardo Noblat, foi ‘histeria’ mesmo.’


REFORMA NA FOLHA
Folha de S. Paulo


Folha estréia projeto visual no domingo


‘Durante dois anos, a Folha discutiu e preparou um novo projeto gráfico que tornasse ainda mais moderno o seu aspecto visual e ampliasse a sintonia de seu jornalismo com as necessidades atuais do leitor e o ritmo da vida contemporânea. O novo projeto estréia no próximo domingo.


A nova Folha está bem mais fácil de ler, vibrante e completa. As mudanças preservam o que o jornal tem de melhor e acrescentam vários recursos visuais e editoriais que tornam a leitura mais fácil, organizada e interessante.


5 ou 50 minutos


As mudanças em todo o jornal pretendem satisfazer tanto o leitor que tem apenas 5 minutos para ler a Folha quanto o que dispõe de 50 minutos.


Instrumentos visuais de ‘navegação’ vão ajudar a encontrar rapidamente as principais notícias e obter uma informação concisa e segura. Para os que têm mais tempo, recursos editoriais vão aprofundar o conteúdo noticioso, com análises, opiniões e artigos de contextualização e explicação dos acontecimentos.


Com as mudanças na Folha, o leitor também ganhará mais espaço. A Folha Online -site noticioso do Grupo Folha- será totalmente reformulada a partir do próximo sábado e passará a editar uma extensão do ‘Painel do Leitor’, com as cartas, faxes e mensagens eletrônicas enviadas para o jornal.


Princípios editoriais


O novo projeto não se limita às reformas visuais. Ele busca aperfeiçoar e enfatizar os princípios que norteiam o jornalismo da Folha: independência, apartidarismo, pluralismo e espírito crítico.


As mudanças vão também dar maior destaque aos artigos escritos pela principal equipe de colunistas da imprensa brasileira.


O novo projeto gráfico foi elaborado por uma equipe de jornalistas e artistas gráficos do próprio jornal, coordenada pelos editores Massimo Gentile e Melchiades Filho. Eles buscaram soluções criativas que surpreendessem o leitor, sem ignorar a história visual da Folha, que em fevereiro completou 85 anos.


A consultoria do projeto foi feita pelo designer americano de origem cubana Mario García, que redesenhou os jornais ‘The Wall Street Journal’ (americano), ‘Libération’ (francês) e ‘Die Zeit’ (alemão), entre outros.’


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Folha Online será reformulada


‘A Folha Online estréia um novo projeto visual no sábado. O jornal eletrônico foi redesenhado, ganhou novas seções e vai melhorar o aproveitamento do espaço da tela do computador, o que facilitará a visualização e a leitura.


O site passará a publicar cartas enviadas ao jornal, criando uma extensão ao ‘Painel do Leitor’.


A página inicial (homepage) da Folha Online terá um maior número de notícias e os instrumentos de busca serão aperfeiçoados, a fim de tornar mais fácil e organizada a procura por reportagens editadas no site e na Folha.


‘As mudanças tornam o site ainda mais informativo, com uso mais eficiente de fotos e infográficos e um melhor aproveitamento do espaço da tela’, diz Ana Lucia Busch, diretora-executiva do Folha Online.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Videogame online reproduz massacre em escola dos EUA


‘DA ASSOCIATED PRESS – Um videogame online que reproduz o massacre de 1999 na escola secundária Columbine, em Littleton, Colorado (centro-oeste dos Estados Unidos) está provocando protestos de pais das vítimas, que o acusam de banalizar a ação dos jovens homicidas.


O massacre ocorreu em 20 de abril daquele ano, quando dois dos alunos, Eric Harris e Dylan Klebold, passaram a disparar com armas de fogo e mataram 12 colegas e um professor. Em seguida, cometeram suicídio.


O crime gerou debates passionais nos Estados Unidos sobre a liberalidade excessiva das leis de porte de armas. O cineasta Michael Moore abordou a questão em ‘Bowling for Columbine’ (2002), traduzido no Brasil como ‘Tiros em Columbine’.


Outro debate despertado pelo massacre foi movido por grupos religiosos conservadores, que defenderam a reconstrução moral da juventude por meio do estudo obrigatório da bíblia.


O game, intitulado ‘Super Columbine Massacre’, foi colocado na internet no ano passado, mas apenas agora se tornou popular. Ele procura em princípio investigar as causas da carnificina, mas acaba indiretamente valorizando a personalidade e a motivação dos dois jovens assassinos.


Embora não tenha a fotografia de nenhuma das vítimas, o game traz imagens da cena do crime, com adolescentes que correm aos gritos para escapar da fúria irracional dos dois colegas.


‘Vivemos numa cultura que valoriza a morte, e por isso não me surpreendo que videogames como esse tenham se tornado um lugar-comum’, diz Brian Rohrbough, cujo filho, Daniel, foi um dos mortos. ‘Tenho nojo disso tudo, por trivializar a ação dos dois assassinos e desrespeitar a vida dos inocentes’, completou


O criador do site, que manteve o anonimato em entrevista dada por e-mail, disse ao jornal ‘Rocky Mountain News’ que procurou fazer algo que ‘promovesse um diálogo verdadeiro a respeito do uso de armas de fogo nas escolas’. Disse também que tomou a tragédia como tema porque morava no Estado de Colorado quando ela ocorreu.


‘Eu estava na época influenciado por uma certa cultura do elitismo, comum entre os adolescentes que se sobressaem nos esportes’, disse. Os dois assassinos eram então, para ele, ‘garotos muito inteligentes e sensíveis’.


Richard Castaldo, que tem as pernas e os braços paralisados por um tiro que levou em Columbine, soube da existência do game por uma revista especializada. Tentou jogá-lo e o compara ao filme ‘Elefante’, em que adolescentes praticam um massacre na escola, sem fornecer nenhuma justificativa concreta. ‘Essas coisas me deixam confuso’, declarou.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Governo faz pente-fino em antenas de SP


‘Uma equipe de técnicos da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) está percorrendo cada metro da avenida Paulista, símbolo de São Paulo, e fazendo medições de campo para detectar o nível de interferência causado pelas antenas de rádio e TV (são 29) e de telefonia instaladas em mais de uma dezena de torres no topo de edifícios da região.


Reportagem da Folha no último domingo mostrou que a concentração de antenas na avenida Paulista tem provocado interferências em equipamentos hospitalares, semáforos e até teclados.


A medição irá definir o grau de ‘culpa’ das TVs, rádios e telefônicas móveis pelas interferências.


Com base no estudo, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, promete até o final do ano tomar uma decisão para acabar com as interferências. Uma das alternativas em discussão no governo é a concentração de todas as antenas em apenas uma ou duas torres na Paulista _e não em mais de dez.


Isso já é possível graças a novos filtros para transmissores analógicos. A chegada da TV digital, de acordo com o ministério, não deverá agravar o problema mesmo com o uso simultâneo de duas antenas (uma digital e outra analógica) porque todas as redes de TV (menos a Globo) farão transmissões digitais nas mesmas torres em que hoje fazem a analógica.


Outra alternativa é tirar parte das antenas da Paulista e levá-las para outra região da cidade.


OUTRO CANAL


Seleção O lamentável jogo entre Corinthians e River Plate, no Pacaembu, no último dia 4, rendeu ao SporTV seu recorde histórico de audiência (desde que o Ibope passou a medir a TV paga, em 2001). A partida (não exibida pela Globo) atraiu mais de 1,8 milhão de assinantes. O recorde anterior do SporTV era Brasil x Rússia, na final da Liga Mundial de Vôlei em 2002.


Orra, meu Durante todo o mês de junho, o ‘Domingão do Faustão’ será apresentado diretamente de São Paulo _um antigo sonho de Fausto Silva. É que, por causa da Copa do Mundo, boa parte dos técnicos e engenheiros da Globo no Rio estará voltada para a Alemanha.


Saldo A avaliação do jornalismo da Globo é de que Record e Band dedicaram mais tempo de transmissão aos ataques do PCC, mas que foi dela (Globo) a melhor cobertura. Para a Globo, a concorrência, em determinados momentos, chegou a resvalar no sensacionalismo, contribuindo para o pânico.


Prêmio Os ataques do PCC acabaram, ironicamente, favorecendo o Partido Progressista. Com o aumento da audiência da TV, o programa do partido de Paulo Maluf atingiu 69 pontos na soma de todas as redes abertas. Assim, foi o programa mais visto no dia, mais até do que ‘Belíssima’, que deu 60 pontos.’


IGREJA vs. CÓDIGO DA VINCI
Silvana Arantes


Ator de ‘Código’ alimenta polêmica com igreja


‘O diretor Ron Howard e o astro Tom Hanks pareciam obedecer a um código particular. Com declarações suaves às centenas de jornalistas que os encaravam, ontem, no Festival de Cannes, aberto com a exibição de ‘O Código Da Vinci’, os dois tentavam abaixar o tom da polêmica com a Igreja Católica, que cerca a estréia da superprodução, amanhã, no Brasil (500 cópias) e no resto do mundo (20 mil salas). Mas o código de conduta cautelosa foi quebrado pelo ator inglês Ian McKellen (que vive Leigh Teabing na tela).


‘Sei que a Igreja tem problemas com os gays. Essa é uma boa notícia para eles: Jesus não era gay!’, disse, depois de se declarar ‘super feliz’ por acreditar na tese do livro sobre o relacionamento de Jesus e Maria Madalena.


Protestos contra o filme se intensificaram nas últimas semanas, em diversos lugares. No Brasil, um deputado tentou impedir o lançamento na Justiça, considerando a obra ofensiva à fé cristã.


O filme é uma adaptação do best-seller de Dan Brown ‘O Código da Vinci’ , um romance policial apoiado na tese de que Jesus e Maria Madalena mantiveram relacionamento conjugal .


O livro vendeu mais de 40 milhões de cópias no mundo, e a expectativa sobre o filme é que repita o fenômeno, colocando ainda mais em evidência as idéias do professor de simbologia Robert Langdon, vivido por Hanks.


Tangente


Quando chamados a responder se concordavam com o pressuposto da obra, Howard e Hanks preferiram sair pela tangente. ‘Não quero compartilhar minha conclusão’, disse Howard. ‘Eu não estava por perto [na época de Cristo]’, foi a resposta de Hanks.


Quando McKellen propalou sua opinião com humor e estudado desdém pela polêmica, obteve dois efeitos: arrancou uma corrente de risos dos jornalistas e, instantaneamente, transformou Hanks em seu coadjuvante.


O bambambã de Hollywood notou a manobra e, de certa forma, cumprimentou o colega em cena. Quando McKellen encerrou sua resposta, alongada em mais algumas frases, Hanks disse: ‘Qual era mesmo o seu ponto? Jesus…’ e parou na reticência, sem repetir a frase retumbante.


O empenho de Howard em desencorajar a polêmica foi tal que ele chegou a pedir aos leitores que se sentem ofendidos pelo livro de Brown para não ir ver seu filme. Ao menos, não tão já.


‘Meu conselho é: não vá ver o filme se você pensa que vai ficar irritado com ele. Espere. Converse com outras pessoas’, disse.


Hanks referiu-se ao filme como ‘obviamente um entretenimento’ e ressaltou que ‘é uma ficção, não um documentário’.


Quanto à dispensa que Howard fez do público potencialmente raivoso, é difícil saber se ela está respaldada em sua confiança de que, com ou sem polêmica, o título repetirá no cinema sua carreira recordista nas livrarias. ‘Desisti de fazer prognósticos’, ele disse, quando questionado sobre a expectativa de bilheteria.


Crítica acha risível


Se depender da opinião dos críticos (que Howard disse não ter lido) , ‘O Código’ não será exatamente um paradigma de sucesso.


A maioria dos especialistas que viram o filme em sua primeira sessão em Cannes, na terça à noite, achou-o fraco. Em alguns pontos, risível, como ficou claro com o ruidoso divertimento de parte da platéia num ponto crucial da trama, sobre o qual um jornalista pediu ontem a opinião de Hanks.


O repórter perguntou ao ator se ele achava que o filme adquiria uma atmosfera intensa no momento do diálogo em que Robert Langdon (Hanks) revela a Sophie Neveu (Audrey Tautou) seu parentesco com Jesus. Desnecessário dizer que se tratava de pergunta-pegadinha.


Hanks respondeu com o misto de bom-humor e ironia que manteve durante toda a entrevista coletiva. Disse que sim, que aquele era um momento forte do filme e que tinha a atmosfera coerente com a situação de duas pessoas trocando segredos num lugar sombrio e escondido. ‘Há muitos conversas assim no mundo.’


Houve até polêmicas pessoais sobre Hanks. ‘Você acha que o seu cabelo está bom hoje?’, perguntou um repórter. Hanks retornou ao protocolo do silêncio. Ou da tergiversação.


‘Não sou eu que tenho de responder. A imprensa é que vai espalhar o que acha’, disse.’


Sérgio Rizzo


Filme tem elenco ruim e roteiro frágil e burocrático


‘Primeiro, aos que leram ‘O Código Da Vinci’: a adaptação para cinema não se resume apenas a jogar fora situações do romance, algo natural diante da impossibilidade de condensar toda a ação em 140 minutos. Há também uma série de variações -algumas pequenas, outras mais significativas, sobretudo no final.


Pode ser que o roteirista Akiva Goldsman tenha preferido suas soluções às de Dan Brown, mas é provável que as alterações sirvam ao objetivo primordial de criar novidades para quem já conhece a trama e tende a encarar o filme com certa desconfiança.


De qualquer forma, com Goldsman nunca se sabe: depois de perpetrar ‘Batman e Robin’ (1997) e ‘Perdidos no Espaço’ (1998), ele ganhou o Oscar de roteiro adaptado por ‘Uma Mente Brilhante’ (2001) e assinou também ‘A Luta pela Esperança’ (2005), os dois últimos em parceria com o diretor Ron Howard, que o trouxe para ‘Código’.


O que era ‘Uma Mente Brilhante’? Um filme de ator (e que ator: Russell Crowe) delineado em torno de um só personagem (e que personagem: gênio e maluco em doses cavalares). ‘O Código Da Vinci’ tem arquitetura mais descentralizada: aventura com ações paralelas, meia dúzia de personagens relevantes para o encadeamento da trama.


Para complicar, o pano de fundo de almanaque, conduzindo à obrigação de combinar ingredientes de história, religião e arte. Costumou-se dizer que o livro era um roteiro pronto, mas aí está o filme para demonstrar o contrário: quando segue o romance ao pé da letra, o resultado é burocrático e insatisfatório; quando procura escapar dele, frágil.


A escolha do elenco tem sua cota de responsabilidade, claro. Tom Hanks e Audrey Tautou não foram capazes de fazer por seus personagens o que Ian McKellen e Jean Reno conseguem, ao usar os traços descritos por Dan Brown para compor figuras de identidade própria. Já Alfred Molina e Paul Bettany, a turma da Opus Dei, beiram o constrangimento.


Agora, aos que não leram e não pretendem ler: ‘O Código Da Vinci’ procura ser didático para não deixar ninguém com a sensação de que perdeu um pedaço importante da história. Na medida em que a correria permite, explica-se o essencial. O problema é que, neste caso, o essencial talvez seja pouco.


Além disso, a pretensão de deixar tudo muito explicadinho soa escolar, no mau sentido do termo. Em vez de fluir naturalmente, a narrativa tem ‘legendas’, por meio de diálogos que contam o que não se viu e de inserções ao estilo PowerPoint que resumem abruptamente informações e linhas de raciocínio.


E, aos quem não leram o romance e não pretendem ver o filme exclusivamente por questões de fé: no final das contas, o discurso da adaptação para cinema é carola e inofensivo. Até a Opus Dei, vilanizada como instituição no livro, recebe tratamento mais moderado, quase gentil.


Eis um filme com comportamento de candidato que acende uma vela para Deus e outra para o diabo em tempo de eleição: nem tanto à esquerda nem tanto à direita, muito pelo contrário. ‘O Código Da Vinci’ quer ficar bem com todo mundo, mas é provável que essa ambição desmedida lhe renda o castigo de gerar descontentamento em todo mundo.


O Código Da Vinci


The Da Vinci Code


Direção: Ron Howard Produção: EUA, 2005 Com: Tom Hanks, Audrey Tautou, Paul Bettany, Ian McKellen, Jean Reno Quando: a partir de amanhã no Frei Caneca Unibanco Arteplex, Bombril e circuito’


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O Estado de S. Paulo


Quinta-feira, 18 de maio de 2006


TV DIGITAL
Renato Cruz


TV Bandeirantes diz que ministério favorece Globo


‘O presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad, acusou ontem o Ministério das Comunicações de ser omisso, ao se ausentar de grandes questões do setor. ‘O ministério finge que não vê nada nas fusões que estão aí’, disse Saad, referindo-se à união entre Sky e DirecTV e à compra de parte do controle da Net pela Embratel, do bilionário mexicano Carlos Slim Helú. ‘O PT terceirizou as comunicações’, disse, durante o evento ‘TV digital: A nova legislação, modelo de negócios e a realidade brasileira’, organizado pelo Projeto Brasil.


A Bandeirantes recorreu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) contra as duas operações. ‘Se elas passarem, todo o conteúdo veiculado pela TV paga dependerá da opinião de uma única família do Jardim Botânico’, afirmou Saad, referindo-se aos donos da Globo, que participa do controle da Sky e da Net. O vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Evandro Guimarães, também iria participar do evento, mas não compareceu. A reportagem não conseguiu contactar a Globo.


Para Saad, não existe espaço para discutir mudanças no marco regulatório, como a criação de uma Lei Geral de Comunicações agora, em ano eleitoral. ‘Antes de o marco ser chamado, é preciso verificar as ferramentas trancadas no Ministério das Comunicações e que não estão sendo usadas.’ Para ele, existem dispositivos na legislação atual que não são cumpridos.


O presidente da Bandeirantes afirmou que a entrada da Embratel no controle da Net prejudica o próprio setor de telecomunicações. ‘Deixamos os estrangeiros em situação de xeque’, afirmou Saad. ‘Por que um deles tem três cartas na manga e os outros duas?’ As três cartas de Slim seriam a Embratel, a Claro e a Net.


Outros investidores internacionais, como a Telefônica e a Telecom Italia, não têm participação em empresas de TV paga. ‘Eles compraram as empresas na alta e o rapaz (Slim) comprou empresas quebradas’, disse o executivo. ‘Por que eles têm de jogar só com duas cartas?’ No caso da Net, o investidor mexicano não pôde comprar todo o controle, por restrições legais. ‘O porteiro da boate ficou lá na porta e só entra quem ele quer’, disse.


Ao mesmo tempo em que criticou o Ministério das Comunicações, o presidente da Bandeirantes elogiou a atuação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no processo de definição do padrão de TV digital: ‘Ela entrou sem saber do assunto e já discute melhor que muito dono de televisão’. O anúncio da tecnologia a ser adotada pode sair ainda este mês. Está na frente o padrão japonês, defendido por todos os radiodifusores.


Para ele, a discussão não pode se limitar à tecnologia. ‘É uma decisão de vida, de país’, afirmou Saad. ‘A discussão não é o MPEG, mas o ‘me pegue’. São precisos quatro para me pegar, e não MPEG-4.’ MPEG-4 é o nome da tecnologia sugerida pelos pesquisadores brasileiros para a compressão de vídeo na TV digital. Os sistemas internacionais usam o MPEG-2.’


SP SOB ATA QUE
Marcelo Godoy, Alexandre Rodrigues, Renata Cafardo e Fabiano Rampazzo


Ataques e nova onda de boatos


‘Cinco ônibus foram queimados e uma companhia da PM foi atacada no começo da noite de ontem, enquanto boatos dominaram novamente São Paulo sobre uma possível retomada dos ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Foi o que bastou para causar medo novamente na população.


Até o Aeroporto Internacional de Guarulhos teve a segurança reforçada pela Aeronáutica. Universidades suspenderam aulas e a Viação Consórcio 7 de Ônibus, que atua na zona sul de São Paulo, recolheu os veículos para evitar mais perdas. Perueiros aproveitaram-se do momento e pagaram um bandido para queimar ônibus na zona norte. Por trás desse novo pânico, houve muita desinformação. O principal boato dizia que ‘haviam matado a mãe do Marcola’, o líder do PCC. O boato também assumiu outras formas como ‘mataram o irmão do Marcola ou assassinaram a cunhada do Marcola’.


Um hora o crime havia ocorrido em Campinas. Outra vez, na Baixada Santista e, depois, na zona sul de São Paulo. O pior é que o boato dizia que, por causa disso, a facção criminosa ia botar pra quebrar à noite. ‘A mãe do Marcola já morreu faz muito tempo. A tendência da situação é de estabilidade’, disse o delegado-geral Marco Antônio Desgualdo, que tentava acalmar a população às 18 horas.


OPORTUNISMO


A noite chegou e novos ataques ocorreram. Cinco ônibus foram incendiados – quatro na zona sul, no Jardim Nakamura, e um no Jardim Japão, na zona norte. Este último, não tinha nenhuma relação com o PCC. A polícia prendeu o assaltante Rodrigo Melo Farias, de 20 anos. Ele ateou fogo em um veículo da empresa Sambaíba, que fazia a linha Parque Edu Chaves-Vila Madalena. O criminoso contou que havia recebido de perueiros R$ 3 mil para incendiar três ônibus na região.


Na zona sul, bandidos atacaram três ônibus da Viação Consórcio 7 por volta das 20 horas. O ataque ocorreu na Rua Mauro Mazagão, no Jardim Alto da Riviera, zona sul. Um dos veículos queimou parcialmente, mas dos outros dois só sobraram as carcaças. O comércio da localidade fechou e poucos moradores caminhavam nas ruas. Não foram divulgadas informações detalhadas do quarto ataque.


Os autores dos atentados, supostamente ligados ao PCC, atearam fogo nos ônibus usando gasolina e fugiram para o interior de uma favela. Pelo menos dez equipes da PM percorreram as ruas da Riviera e do Jardim Angela, bairro vizinho, em busca dos suspeitos. Em algumas ruas desertas, os policiais desciam dos carros e faziam incursões empunhando armas, mas ninguém havia sido preso até as 23 horas.


Na Avenida M’ Boi Mirim, que dá acesso aos bairros do extremo sul da capital, muitos pedestres tiveram de caminhar. Estudantes que saiam dos colégios viam nos pontos os ônibus sendo recolhidos para a garagem. Os poucos que passavam estavam lotados.


O motorista Romildo Carvalho, da Viação Consórcio 7, era um dos que estavam retirando os ônibus do Terminal Jardim Angela. ‘Com os outros carros queimados, o melhor é recolher. Sei que tem muita gente esperando por uma condução, mas quem tem coragem de rodar? Não sabemos de onde vêm os ataques’, disse.


Em Osasco, na Grande São Paulo, houve um ataque à sede da 1ª Companhia do 42º Batalhão da PM – um criminoso foi morto. Até as 23h30, nenhum dos outros participantes dessa ação havia sido localizado.


Bastou para causar medo novamente na população.


UNIVERSIDADES


O medo fez instituições de ensino dispensarem seus alunos. ‘O bedel entrou na sala e disse que o prédio estava sendo evacuado’, comenta a estudante de Publicidade da Faculdade Cásper Líbero Soraia Tetamanti, de 20 anos.Segundo ela, quando os alunos desceram para a Avenida Paulista, onde fica a instituição, as grades da faculdade começavam a ser fechadas. ‘A TV da lanchonete estava ligada e soubemos o que estava acontecendo’, afirmou.


Na Universidade Mackenzie, as aulas foram também interrompidas às 22 horas. Não houve um pedido oficial da direção. ‘Os alunos, por iniciativa própria, começaram a ir embora e os professores concordaram. A noite toda foi cheia de boatos’, disse a estudante de Desenho Industrial Camila Muffo, de 27 anos.


A Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) também não dispensou os alunos, mas metade dos estudantes já havia deixado o prédio em Perdizes, na zona oeste, às 21h30. ‘Minha professora disse que a reitoria não tinha liberado, então ficamos até o fim’, disse a aluna do curso de História Larissa Anne, de 18 anos. A Universidade Anhembi Morumbi também liberou os alunos na noite de ontem, temendo novos ataques.’


IGREJA vs. DA VINCI
Luiz Carlos Merten


Pipoca e polêmica: é o Código Da Vinci, enfim nas telas


‘Pode ser por modéstia ou simples precaução, mas o diretor Ron Howard disse ontem, na coletiva de O Código Da Vinci, que há muito tempo deixou de se preocupar com a bilheteria dos filmes que realiza. ‘Fiz filmes comerciais de grande sucesso e outros, nos quais apostava, que fracassaram. Hoje em dia, não penso mais em termos de sucesso ou fracasso, mas das histórias que me interessam e que quero contar.’ Howard, de qualquer maneira, não é ingênuo e admite que o produtor Brian Grazer e a empresa produtora e distribuidora Sony, que detém a marca Columbia, apostam num sucesso estrondoso.


O Código começa bem, muito bem, mas depois perde o impacto e, nas duas revelações finais, fundamentais para o desfecho do drama, provocou o riso da platéia de críticos e jornalistas que assistiram à première da terça à noite.


A partir de amanhã, quando O Código estrear nos cinemas brasileiros, você poderá conferir se houve exagero por parte da seleta platéia de Cannes. Howard e o astro Tom Hanks afinaram o discurso. Um diz e o outro repete que Deus nos deu cérebro para pensar e, assim, não fica bem que uma instituição, mesmo que seja a Igreja Católica venha nos dizer se devemos ou não ver o filme adaptado do best seller de Dan Brown.


Howard diz que o filme é diversão, não um tratado de teologia. Ian McKellen, que participou da entrevista (ele interpreta Sir Leigh Teabing), foi o único a pçrovocar, na mesa. ‘A Igreja é tão homófoba que deveria nos agradecer por sugerirmos o casamento de Cristo com Maria Madalena. Pelo menos, ele não era gay.’


Côte ou Cannes d’Azur? Hollywood instalou-se na Croisette, o passeio à beira-mar que é a alma do glamour e mundanidade de Cannes. O maior evento de cinema de arte do mundo virou vitrine para o filme que, apesar da prudência do diretor, pretende ser o evento do ano.


O produtor Grazer, parceiro habitual de Howard, diz que O Código tem elementos para atrair o público adulto e também o adolescente. Mas ele acrescenta que O Código não pretende ser apenas um acontecimento passageiro de verão. Pretende ficar.


SÍNTESE SUBLIME


Com 2h32min de duração, O Código tem uma primeira hora com momentos verdadeiramente brilhantes. Uma seqüência em flash-back roça o sublime. É aquele em que o diretor, com rara economia de meios, conta tudo sobre a origem de Silas, o monje assassino a serviço da Opus Dei.


Nem o Festival do Minuto consegue ser tão sintético. A cena é emblemática porque revela o partido da direção. Howard trata do mesmo jeito as reconstituições pretensamente históricas das Cruzadas e do Império Romano e a assumida ficção da história de Silas. O diretor não mente quando diz que seu filme é só entertainment, mesmo que trabalhe com questões complexas.


O que seria o X da questão, a tese do complô da Igreja contra as mulheres (e Madalena, em especial), passou ao largo da entrevista. A platéia parecia mais interessada em discutir o código de Hanks para lidar com as mulheres. Ele brincou. Simulou que apertava as teclas de um computador. ‘5-8-2… A melhor maneira de ser feliz em qualquer relação é apostando na sinceridade do coração.’’


Luiz Zanin Oricchio


Uma polêmica religiosa com valor de marketing


‘O Código da Vinci divide opiniões, mas roteiro atravancado prejudica a diversão


Polêmica? Bem, esse termo tem valor comercial e, assim, o fato de ter desagradado à parte mais conservadora da Igreja Católica talvez sirva para bombar o filme na bilheteria. Esse tipo de provocação faz parte da estratégia de lançamento e, quem protesta contra o filme, tolamente ajuda a fazer o seu sucesso.


Dito isso, parece em tudo uma falsa polêmica esta em torno de O Código Da Vinci. Certo, ele mexe com dogmas do cristianismo, mas o faz de maneira ficcional. É, como tantas outras obras do gênero, uma ficção histórica. Guardadas as devidas proporções, alinha-se, nesse particular, a filmes como A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, e Je Vou Salue Marie, de Jean-Luc Godard, que aliás foi censurado em 1985 pelo então recém-democratizado Estado brasileiro. Todos giram em torno da posição das figuras femininas no dogma cristão, num caso a Virgem Maria e, no outro, Maria Madalena. Será o feminino ainda um tabu?


A ficção religiosa proposta por Dan Brown, e retomada no cinema por Ron Howard, vai além dessa ‘releitura’ histórica do cristianismo. Incorpora temas que, de tempos em tempos, comovem o imaginário popular, tais como seitas secretas, o poder oculto da Igreja, códigos, simbolismos, mistérios cifrados, etc. Vamos recordar que um livro de muito sucesso nos anos 60 foi O Despertar dos Mágicos, de Louis Pauwels e Jacques Bergier. Mais recentemente, Umberto Eco reintroduziu os Templários no imaginário ocidental com seu O Pêndulo de Foucault. Antes disso, o próprio Eco, de maneira erudita, já havia dialogado com o misticismo medieval em seu muito vendido e pouco lido O Nome da Rosa.


Dan Brown teve a esperteza de jogar todas essas referências no liquidificador e dele tirar um megabest-seller de estilo neutro (ou seja, sem estilo), que joga com o ocultismo e o sentido misterioso do mundo. Que isso tenha apelo em época desencantada como a nossa, pode ser tema interessante para sociólogos da cultura. O fato é que Brown faz sucesso, assim como Paulo Coelho.


O problema do diretor Ron Howard foi acomodar em filme a trama de mistério proposta no livro de Brown. Tudo se articula em torno da decifração de um enigma. Antigos códigos, que devem ser quebrados e pistas a serem seguidas, passo a passo. Tudo isso, misturado às cenas de ação obrigatórias em arrasa-quarteirões, acabou congestionando o filme. Para que o espectador pudesse acompanhar todas as pistas junto com o especialista em símbolos Robert Langdom (Tom Hanks) e Sophie Neveu (Audrey Tautou), o filme tornou-se falado como jogo de futebol transmitido pelo rádio. Como não consegue se resolver no plano da imagem, O Código Da Vinci precisa explicar-se (e cada vez mais à medida que a trama progride) no nível da fala. O roteiro briga com o filme e por isso ele parece às vezes tão atravancado, sem fluência e difícil de seguir.


Essa desarticulação de planos prejudica o entretenimento. E, lembremos, o filme não passa disso: uma proposta de diversão, por mais que polêmicas artificiais sejam levantadas em seu nome. Não fosse um produto tão calibrado de marketing, essas deficiências poderiam afastar o espectador. Mas isso não deve ocorrer. O Código Da Vinci é o protótipo de filme-evento. Aquele que desperta desejo de consumo prévio e faz as pessoas se sentirem desinformadas se não o assistirem nas primeiras sessões. O difícil será se sustentar depois do impacto inicial, porque substância para permanecer no imaginário das pessoas ele não tem.’


TELEVISÃO
Beatriz Coelho Silva


Som prejudica festa do Multishow


‘A 13.ª edição do Prêmio Multishow de Música Brasileira teve o sucesso esperado de público, figurinos (quase todos comportados), discursos (idem) e até no tempo de duração: duas horas exatamente, das 22 às 24 horas de terça-feira. A platéia não arredou o pé do Teatro Municipal e colaborou: gritou pelos ídolos nos momentos exatos e só se levantou nos intervalos determinados pela atriz Fernanda Torres, a apresentadora. Houve até o manifesto surpresa de Marcelo D2, que cantou Meu Samba É Assim, vestido de piloto da Varig, enquanto sua banda se vestia de comissários(as) de bordo. Só faltou um som decente para se ouvir música, a grande homenageada da noite. Todo mundo que se apresentou ou recebeu prêmio lutou contra distorções, falta de mixagem e um volume desagradavelmente alto. Talvez em casa tenha se ouvido melhor.


Desde as 20 horas, a turma do sereno se aglomerou na calçada em frente do teatro para ver os famosos chegarem. Quem esperou, foi recompensado porque quase na hora de o show começar, eles chegaram aos borbotões. Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Carolina Dieckman, Alexandre Accioly (todos com suas caras metade), Marcos Paulo e Nívea Stelmann (namorados recentes), Luiz Miranda, Zeca Camargo, Heloísa Perissé e Ingrid Guimarães, Mônica Martelli, Juliana Paes, Maria Paula e Bussunda, Lulu Santos (vestido de Tio Sam brasileiro, com casaca verde bandeira, cabelos amarelos e a cartola preta) e Beth Carvalho, para não dizer que não havia músicos.


Caetano Veloso e banda deram início ao show, com um arranjo heavy metal de Tropicália. Zeca Pagodinho, Marcelo D2, Toni Garrido e Negra Li deram canja, mas o som estava aquém do elenco. Pouco se ouvia, além de barulho. Não melhorou quando duplas de músicos apresentaram os indicados e entregaram os prêmios. Foi ótima idéia juntar Jair Rodrigues e o funkeiro Fernandinho Beat Box para dar o prêmio de melhor grupo ao Jota Quest, Altamiro Carrilho e Andreas Kisser (do Sepultura) saldarem o melhor instrumentista (Rodrigo Amarante) com uma versão roqueira de Brasileirinho, e juntar Martinho da Vila com Juliana Paes para entregar o de cantora a Ana Carolina. Mas por que seus textos e os agradecimentos com sonoplastia ensurdecedora? Até a roqueira Pitty reclamou.


Os músicos que se apresentaram não tiveram melhor sorte. Los Hermanos, Vanessa da Mata, Pitty, Ivete Sangalo e Jota Quest lutaram para se fazer entender. Marcelo D2 conseguiu ao menos que seu arranjo de hip hop/samba/rap fosse ouvido. Já Zeca Pagodinho, o homenageado deste ano não escapou. Foi chamado ao palco por sua filha mais velha e seu produtor, Rildo Hora, e saudado por Almir Guineto, Arlindo Cruz, Sombrinha e Dudu Nobre, entre outros, com improvisos sobre o samba Não Quero Saber mais Dela, de Monarco, seu padrinho artístico. Pena que não deu para entender o que os amigos de Zeca diziam. Valeu a intenção de homenagear a diversidade da música brasileira. Talvez, no ano que vem, a produção se acerte com a acústica perfeita do Municipal.’


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O Globo


Quinta-feira, 18 de maio de 2006


SP SOB ATAQUE
Editorial


Capitulação em SP


‘As negativas veementes do governador Cláudio Lembo, e de seus auxiliares da área de segurança, sobre a existência de qualquer acordo do governo de São Paulo com a organização criminosa PCC para que as rebeliões nos presídios paulistas e os ataques de rua contra policiais, bancos e ônibus retrocedessem na segunda-feira já não eram ontem tão verossímeis.


A notícia desse acerto espúrio circulou na própria segunda-feira, depois que os presídios suspenderam os motins assim como se amotinaram – ou seja, quase ao mesmo tempo, como se obedecessem a alguma ordem superior.


Mais do que isso – pois essas rebeliões têm sido mesmo orquestradas – chamou a atenção o fato de, na véspera, representantes da cúpula da segurança do estado, na companhia da advogada Iracema Vasciaveo, terem ido à penitenciária de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior paulista, para onde haviam sido transferidos chefes da quadrilha.


A advogada, representante de famílias de presidiários e que se apresentou ao governo paulista como defensora do bandido-chefe da quadrilha, justificou a visita pela necessidade de saber das condições físicas dos criminosos, para acalmar os parentes. À imprensa, afirmou que o fim das rebeliões tinha sido uma ‘coincidência’. Não parece.


Entre as reivindicações dos prisioneiros, estariam o banho de sol, a permissão de visitas íntimas e a instalação de aparelhos de TV para que assistam à Copa. Na prática, a revogação do Regime Disciplinar Diferenciado, no qual os presos foram enquadrados e por isso mesmo deflagraram a onda de violência. Pelo menos as TVs, segundo o secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, haviam sido liberadas há um mês.


Infelizmente para a sociedade, a versão do acordo é plausível. E terá significado a derrota do Estado para uma organização de criminosos tratada pelo governo de São Paulo com status de poder paralelo. À população resta esperar e precaver-se, pois, se de fato o Palácio dos Bandeirantes capitulou diante da gangue, novas demonstrações violentas de força deverão ser dadas pelo banditismo terrorista.’


PRÊMIO MULTISHOW
Bernardo Araujo


Multi-Popular


‘Maiores são os poderes do povo. Confirmando seu perfil popular, o Prêmio Multishow, usando, possivelmente, a mais democrática das ferramentas atuais, a internet, apontou na noite de anteontem, em cerimônia no Teatro Municipal, os melhores da música brasileira. A mineira Ana Carolina – da onipresente ‘É isso aí’, versão de ‘The blower’s daughter’, de Damien Rice, que fez e gravou ao lado de Seu Jorge – foi o mais próximo de uma grande vencedora, com os prêmios de melhor cantora e melhor CD, mas até nisso o prêmio foi democrático: os artistas com cinco indicações, Los Hermanos e Capital Inicial, saíram do Municipal rumo à festa no Museu de Arte Moderna com apenas um troféu: Rodrigo Amarante, guitarrista e cantor dos Hermanos, o de melhor instrumentista; e Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, de melhor cantor. Ao fim, o homenageado foi Zeca Pagodinho, com um encontro de partideiros como Almir Guineto e Arlindo Cruz.


A festa começou com uma reunião de músicos de gêneros diversos cantando ‘Tropicália’, de Caetano Veloso – o prêmio homenageava os 40 anos do movimento e tinha como tema o ‘hiprocksambapop’, ou a pluralidade da música brasileira. Liderados pelo próprio Caetano, Zeca Pagodinho (ajudado pelo baiano na letra), Toni Garrido, Negra Li, Gabriel O Pensador (que criticou a ‘greve de fome dos que comem em excesso’ num rap) e Tico Santa Cruz, dos Detonautas, mostraram uma versão moderna para o clássico. Na banda, brilharam a guitarra pesada de Andreas Kisser, do Sepultura, e o instrumental de feras como o baixista Dadi e o baterista Marcelo Costa.


Fernandas Torres e Lima estrelaram o melhor momento


O prêmio foi apresentado pela atriz Fernanda Torres, que – apesar do texto algo burocrático – deu agilidade às ações e mostrou simpatia e humor quando necessário. Seu melhor momento foi ao lado da xará Fernanda Lima, quando esta foi obrigada a improvisar para que a produção pudesse acertar o palco para a apresentação de Marcelo D2.


– E aí, Fernanda? Onde você passou as férias? – perguntou a filha de Fernanda Montenegro, arrancando gargalhadas da platéia.


– Estava em Fernando de Noronha, nem soube do que estava acontecendo em São Paulo – respondeu a gaúcha.


– É, às vezes a ignorância pode ser uma bênção…


Foram várias as referências aos problemas na capital paulista. O apresentador Zeca Camargo, ao entregar um prêmio, citou a música ‘Vilarejo’, de Marisa Monte.


– Ela fala de um vilarejo ‘onde areja um vento bom’ – disse. – A minha cidade, que adoro, ainda não é assim, mas tenho esperanças de que um dia seja.


Até a mais animada das bandas, o Jota Quest, falou ao receber o prêmio de melhor grupo:


– Gostaria de homenagear o policial honesto – disse o tecladista Márcio Buzelin.


O povo aplaudiu as manifestações, mas o que queria mesmo era festa: empoleiradas nos andares mais altos do Municipal, as pessoas aplaudiam e berravam os nomes dos ídolos.


A noite correu de maneira ágil, com boas soluções de cenário e iluminação. O som nem sempre funcionou bem, como quando Pitty cantou ‘Memórias’ – um dos melhores números musicais da noite – e sua voz só ficou audível depois da primeira estrofe. Quem acompanhou o prêmio pela televisão também reclamou de ouvir mais instrumental do que voz.


As duplas de entregadores, em sua maioria, não tiveram muita graça: o par formado por Jair Rodrigues e pelo rapper Fernandinho Beat Box, por exemplo, nada mais foi do que uma reedição do Video Music Brasil de 2000, quando Jair apresentou um prêmio ao lado de Chorão, do Charlie Brown Jr. cantando ‘Deixa isso pra lá’ com a percussão de boca do companheiro, igualzinho. A diversão ficou por conta dos próprios premiados, como Ivete Sangalo, que despertou especulações ao ajeitar seu vestido tomara-que-caia:


– São as novas medidas – disse ela, que garantiu não ter implantado silicone. – Estou em fase de adaptação.


Os melhores agradecimentos foram de Amarante e Ana Carolina.


– Obrigado por pensarem que sou um bom instrumentista – disse o barbudo. – E obrigado à minha banda, a quem me reuni por afinidade, mas com quem tenho diferenças, que são o que me faz aprender.


A campeã da noite lembrou artistas como Fátima Guedes, Nana Caymmi e Alcione:


– É graças a eles que estou aqui – disse. – Adorei ganhar, principalmente pelo CD com o Jorge, que ensaiamos por sete dias e gravamos sem banda, só nós. Mas o mais importante é que o prêmio promove encontros, que geram cada vez mais música.’


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