Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
José Alexandre Scheinkman

Uma conspiração da grande imprensa?

‘UM MARCIANO cuja única fonte de informação fossem os comentaristas da Fox News, o canal de TV a cabo de Rupert Murdoch nos Estados Unidos, concluiria que: 1) as armas de destruição maciça de Saddam Hussein estão escondidas na Síria; 2) a ocupação do Iraque pela coalizão é um sucesso incontroverso; e 3) a única razão pela qual a grande maioria do povo americano está decepcionada com a guerra contra o terror (para a Fox, não parece haver guerra no Iraque) é a cobertura negativa feita pela imprensa liberal -leia-se à esquerda de Murdoch- movida por preconceito contra George W. Bush.

Felizmente o Brasil não está em guerra, mas os defensores mais radicais do presidente Lula também acreditam que a mídia conservadora (e golpista!) inventou a corrupção do mensalão e o caos aéreo. Assim como os seus colegas americanos, os extremistas brasileiros culpam o noticiário dos jornais, que, ao contrário dos editoriais e colunas de opinião, deveria ser imparcial.

Exageros à parte, não há dúvidas de que a cobertura na imprensa não é sempre neutra. O trabalho ‘What Drives Media Slant? Evidence from U.S. Daily Newspapers’ (http://home.uchicago.edu/~jmshapir/biasmeas111306.pdf), de Matthew Gentzkow e Jesse Shapiro, economistas na Universidade de Chicago, examina como as forças do mercado afetam o conteúdo ideológico da imprensa. Gentzkow e Shapiro começaram construindo uma medida do quanto a linguagem das notícias em um jornal se assemelha àquela de um congressista republicano ou democrata.

No contexto brasileiro, seria medir quantas vezes um órgão da imprensa mencionou expressões associadas à oposição, como ‘mensalão’, em comparação a termos como ‘golpismo’, uma das fórmulas favoritas dos situacionistas. Usando essa medida e uma extensa base de dados sobre os moradores da área de venda de cada órgão de imprensa, assim como informações sobre os donos do jornal, os autores avaliaram o papel da ideologia dos proprietários e o impacto das preferências dos leitores na linguagem escolhida pelos veículos de comunicação. Isso é em geral uma tarefa difícil, mas, usando métodos estatísticos sofisticados, os autores estimam que a cobertura nos jornais americanos reflita muito mais a demanda dos seus leitores do que a identidade dos seus proprietários.

Os donos de veículos de comunicação nos Estados Unidos parecem principalmente almejar o sucesso.

Não é certo que um estudo semelhante sobre a imprensa brasileira chegasse às mesmas conclusões, mas, se esse fosse o caso, ficaria mais fácil entender, por exemplo, por que os jornais e revistas de grande circulação no Brasil dedicaram tanto espaço à crise aérea. Ler a imprensa no nosso país ainda é majoritariamente uma atividade de uma parcela relativamente próspera da população, que freqüentemente tem informações, pelo menos por meio de conhecidos, da verdadeira situação nos aeroportos brasileiros. Minimizar a crise do transporte aéreo pode agradar ao governo e até mesmo ajudar a receber propaganda de empresas estatais, mas vai resultar em menor credibilidade, menos leitores e, como conseqüência, menor receita de publicidade privada. Optar pela omissão pode ser uma boa escolha econômica para um pequeno jornal ou para alguns blogueiros, mas não para aqueles que almejam ser líderes na imprensa. Para esses, é melhor produzir um veículo que atraia uma grande audiência e muitos anunciantes.

JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN , 59, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos nesta coluna.’

VENEZUELA
Flávia Marreiro

Cobertura chavista sobre turnê de Lula faz crítica ao álcool

‘Foi mais uma turnê de Hugo Chávez: carregada da retórica bolivariana e de anúncios de investimentos energéticos, uma vez que o venezuelano já declarou seu horror a reuniões diplomáticas que acabam sem cifras a divulgar. Se todas saírem do papel, serão consumidos ao menos US$ 6,2 bilhões.

Chávez, porém, não bradou contra a política do álcool, a grande aposta brasileira, à diferença do que fez em seu último giro pela região em maio, excitado pela visita de George W. Bush ao Brasil e à região.

‘Parece-me que Lula e Chávez estão tentando baixar o tom da disputa. O venezuelano viu que ser agressivo não estava dando certo’, diz o economista argentino Mariano Lamothe.

Mas se o enfrentamento do petróleo e gás contra o álcool saiu explicitamente do discurso do venezuelano, continuou tomando espaço em sua comunicação e foi captado pelos aliados, que tentam se equilibrar.

A divulgação chavista explicitou as diferenças entre o giro de Chávez e a turnê do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na América Central. O boletim ‘Venezuela em Notícias’ trouxe texto sobre a visita de Lula à Nicarágua. Destacou: ‘Lula chamou Daniel Ortega para subir no trem dos agrocombustíveis. Apesar de receber bem a oferta, o sandinista disse que é ‘crime’ usar milho para produzir combustível’. O texto ainda questiona a tese de Lula sobre o álcool: ‘Não está comprovado que essa energia alternativa polua menos que a gasolina’.

No site da agência de notícias oficial, por sua vez, reportagem sobre a visita de Lula ao Panamá diz que o brasileiro chegou ‘escoltado por uma poderosa comitiva de empresários’.

‘A diferença é que, para Lula, é basicamente uma viagem de negócios, não propõe reformas gigantescas; para Chávez todo dia é dia de transformação’, disse Larry Birns, diretor do esquerdista Council on Hemispheric Affairs (EUA), ao ‘Christian Science Monitor’.

Parece ser essa a imagem que Chávez quer cultivar, ou como escreveu seu apoiador, o anglo-paquistanês Tariq Ali: ‘Venezuela, Equador e Bolívia são o eixo da esperança’; Brasil, Chile e México, o da desesperança.

Petrocaribe

Mas os líderes latinos, principalmente dos países menores, não vêem em condições de escolher lados ideológicos ou energéticos. O presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, que diz querer produzir álcool na ilha, explicou ao chegar em Caracas, na sexta: ‘Isso não deve ser um tema de conflito com a Venezuela, país ao qual só temos a agradecer’.

Fernández e os representantes da Jamaica e Nicarágua, países visitados por Lula, estavam ontem na Venezuela para a cúpula da Petrocaribe. Trata-se da iniciativa inaugural da ‘petrodiplomacia’. Pela Petrocaribe, criada em 2005, Chávez financia petróleo barato a 13 países. Ontem, ele prometeu ‘segurança energética por 200 anos’ aos participantes.

Mas a tragédia é que nem assim a República Dominicana consegue pagar e por isso quer ‘ficar menos dependente dos combustíveis fósseis’. Sua dívida com Caracas a ser saldada até 2009 é de US$ 23 milhões. E Fernández tem uma proposta: trocá-la por turismo. Recrutados por uma agência estatal, venezuelanos passariam as férias na ilha gastando pouco.

O governo Chávez não disse o que pensa da troca inusitada, mas é de se esperar mais grita da oposição, que protesta pelos ‘presentes’ dados aos aliados. Com agências internacionais’

TELEVISÃO
Laura Mattos

Pensa que fazer gêmeas é pra gente boazinha?

‘Atriz fala sobre o jogo de interpretar a mocinha e a vilã de ‘Paraíso Tropical’; na reta final da novela, ela vive seu grande momento na TV desde Engraçadinha

‘HEI, EU ME GARANTO! .’ Alessandra Negrini diz que, apesar da ‘dor’ que sentiu com a repercussão negativa do início de ‘Paraíso Tropical’, sabia: apesar de ‘difícil pra cacete’, seu trabalho como as gêmeas nunca foi um problema. A novela emplacou e, na reta final, a atriz vive seu grande momento desde ‘Engraçadinha’, sua estréia na TV. ‘Fui buscar força no útero e agora já estou até podendo gozar’.

FOLHA – Quando a novela começou, uma das ‘teses’ para o baixo ibope inicial era a de que você pode convencer como vilã, mas não como mocinha. Gilberto Braga, ao te escalar, também disse ter esse temor.

ALESSANDRA NEGRINI – Nunca ouvi essa ‘tese’. Ouvi sim que parte do público teria achado a novela um pouco pesada. Muito pelo contrário, reclamaram que a temática das gêmeas estava demorando a começar. Esses me parecem motivos mais convincentes para justificar a tão falada ‘audiência abaixo das expectativas’. Eu teria que ter entrado numa ‘egotrip’ gigante para acreditar que o meu desempenho pudesse ser mais importante do que uma novela inteira a ponto de as pessoas desligarem a TV ou mudarem de um canal que elas assistem há anos só por minha causa. Seria de um narcisismo delirante! Além disso, tenho quase 15 anos de carreira, o que me dá o direito de dizer: ‘Hei, eu me garanto’. Podem gostar ou não do que estou fazendo, mas o meu trabalho terá sempre o lastro de um trabalho de atriz. E não posso deixar de falar do Dennis [Carvalho, diretor]. Já tínhamos trabalhado outras vezes e sempre deu certo. Gilberto me convidou sabendo disso. Com temor ou não, a margem de segurança dele era grande.

FOLHA – Por que a ‘fama de má’?

NEGRINI – Eu me lancei na TV fazendo um personagem transgressor de um autor não muito bonzinho, a Engraçadinha de Nelson Rodrigues, e minha trajetória tem sido essa desde então, personagens nem bons, nem maus, imperfeitos, sei lá. E, quer saber, tenho mais interesse em subverter o olhar de quem me assiste do que em reafirmar o senso comum. Isso pode parecer pretensioso, mas é uma postura, que, num momento ou outro, é bem sucedida, e aí me dá enorme prazer. E pensa que fazer gêmeas é pra gente boazinha? Não! Tem que ter muita cara de pau pra ser uma e se fazer passar por duas!

FOLHA – A audiência de ‘Paraíso’ cresceu e a repercussão tornou-se positiva. A virada teve para você um sabor especial, algo para ‘calar a boca’ dos que criticaram sua atuação?

NEGRINI – Achei impressionante esse alarde em torno da audiência. A repercussão me desnorteou e me causou dor, não porque me achasse culpada, mas por achar natural que as boas coisas se fizessem conhecer antes de serem amadas. Por que não ter um pouco mais de calma e delicadeza? Esse é meu lado Paula. Mesmo sabendo que a pressão mercadológica faz parte do jogo, continuo achando perverso ser levado a duvidar daquilo em que você acredita. Estou falando da novela e do meu trabalho. Porque fazer gêmeas é difícil pra cacete, principalmente quando se tenta trabalhar com as sutilezas; exige do público um tempo de reconhecimento, um olhar mais delicado para saber quem é quem e um certo pacto com a brincadeira, se não, não rola. Mas sou resistente, e esse é o meu lado Taís, fui buscar a força no útero e agora já estou até podendo gozar.

FOLHA – Por que, em sua avaliação, ‘Paraíso’ é tão comentada, mas não atinge recordes de audiência?

NEGRINI – Porque essa novela não precisa correr atrás de recordes, ela é suficientemente boa para não precisar disso.

FOLHA – Os atores costumam defender seus personagens, mesmo os que interpretam vilões. No seu caso, o jeito é escolher uma das gêmeas?

NEGRINI – Embora passe a novela disputando comigo mesma, não dá para levar pro pessoal. Me deixa fora dessa, são mais de 12 horas de trabalho por dia e muito texto para decorar!

FOLHA – Suas roupas estão mais para as da Paula ou as da Taís?

NEGRINI – Gosto das duas, mas não me visto como nenhuma delas. Talvez para ir a festas e sair pra dançar (quando fazia isso, agora não dá) sou mais Taís, mas no dia-a-dia não uso maquiagem e sou mais moleca.

FOLHA – A Taís merece morrer? Que fim espera para as gêmeas?

NEGRINI – A morte pode ser um final grandioso, ainda mais se for assassinada e todo mundo ficar querendo saber quem matou. E para Paula, que consiga provar que o amor vale a pena.

FOLHA – Não acha a Paula meio lenta? Ela ficou um tempão presa na clínica até elaborar o ‘mirabolante’ plano de mandar a enfermeira, que é sua amiga, falar com o Daniel…

NEGRINI – Ah, isso é novela, não foi nada muito absurdo. Ela é mais generosa mesmo, teve que demorar mais um pouco ali pra gente poder se lambuzar bastante com as loucuras da Taís. Hei, qual é, às vezes vale a pena fazer uma concessão.

FOLHA – Que técnica usa para não se confundir ao gravar as cenas como uma gêmea e como a outra?

NEGRINI – A do ‘acredita e vai’.

FOLHA – Qual desses casais tem mais química: Paula e Daniel; Taís (como Paula) e Daniel; Taís e Ivan; Taís e Cássio ou Taís e Olavo?

NEGRINI – Paula e Daniel, definitivamente, têm química. E a Taís é tão vira-lata que tem química com qualquer um.

FOLHA – Fazer gêmeas protagonistas de novela das oito aos 36 anos é mais difícil do que ser Engraçadinha e encarar a nudez na TV aos 25?

NEGRINI – Acho tudo dificílimo. Se for parar para pensar nessa história de fingir ser outra pessoa e alguém acreditar… Só pode ser loucura, é irrealizável! Mas fico impressionada de saber que alguém consegue construir um prédio! Ou operar um coração! Aí não tenho saída, acabo encarando. Qualquer personagem é um grande desafio. Só que dessa vez, caramba, tive que ficar muito forte, mas é profundamente estimulante .

FOLHA – Com faz dois papéis, duplicam também os amores na TV. Otto [marido da atriz] tem ciúme duplo?

NEGRINI – Ele fez bem, foi cuidar da vida dele, saiu cantando pelo mundo afora, gravou dois discos e nesse exato momento está na Turquia, fazendo show.

FOLHA – Recebeu propostas para posar nua de novo na ‘Playboy’?

NEGRINI – Recebi, mas não tenho vontade, já fiz e foi bacana.

FOLHA – Como foi filmar com Júlio Bressane [a atriz atuou como protagonista do filme ‘Cleópatra’]?

NEGRINI – Foi incrivelmente bom! O roteiro era tão lindo, e a cabeça dele, tão louca e brilhante, que parece que vivi um sonho. E ainda por cima o filme vai estrear no Festival de Cinema de Veneza! Deus existe!’

***

NO FIM, AUTOR VAI SEPARAR BEBEL E OLAVO

‘Uma triste notícia: o casal mais encantador dos últimos tempos na TV vai se separar. Bebel (Camila Pitanga) e Olavo (Wagner Moura) não ficarão juntos no final de ‘Paraíso Tropical’, revelou à Folha o autor Gilberto Braga. Vilões, eles serão punidos.

‘Olavo fez o diabo e vai continuar fazendo. Já Bebel, vamos ver… Final feliz, nem pensar. Ao lado de Olavo não há chance’, afirmou Braga. O novelista diz que ainda está estudando que fim dará à prostituta.

‘Paraíso’ chega ao fim em 28 de setembro. A novela estreou com a pior audiência da década, mas se recuperou no Ibope. Em março, seu primeiro mês, teve 37 de média. Em julho, havia subido para 45. Agora, alguns capítulos já chegam a 50. (LM)’

Lucas Neves

Série vê Cuba em choque constante

‘‘A dupla moral é condição para se viver em Cuba’. A frase, do cineasta Felipe Lacerda, 37, é a senha para entender os personagens e discursos contraditórios que povoam ‘Em Cuba’, série de dez documentários dirigidos por ele que estréia nesta terça, às 21h, no Canal Brasil.

Durante as férias na ilha caribenha, a freqüência com que Lacerda (co-diretor de ‘Ônibus 174’) se deparou com gente que elogiava o regime em público para, intimamente, desfiar um rosário de queixas o convenceu a prolongar a estada.

Assim, uma semana virou um mês, e ele começou a entender a aparente esquizofrenia local. ‘Vi que, em qualquer diálogo, devia considerar o quanto o cara estava falando porque queria que eu ouvisse, o quanto estava querendo me enganar e o quanto queria dizer, mas não podia.’

De volta ao país a convite da Escola Internacional de Cinema e TV, sua câmera pôde passear por mais um mês. O saldo da temporada cubana: duas detenções (uma delas depois da denúncia de uma entusiasta do regime, que engabelou a equipe de filmagem enquanto a polícia se deslocava até sua casa), 17 abordagens policiais e 70 horas de material bruto.

Nas fitas, além do registro da encruzilhada política da ilha, Lacerda colheu depoimentos sobre consumismo, sexo, emigração e o imaginário estrangeiro sobre o país.

Na entrevista a seguir, ele afirma que não quis ‘ficar escarafunchando ferida’, observa que ‘os cubanos choram um pouco de barriga cheia’ e se esquiva de comentar as deserções de atletas cubanos no Pan.

POR QUE CUBA?

Cuba pautou nossa vida. ‘Neguinho’ aqui deu golpe de Estado para não transformarem o Brasil na nova Cuba. A gente passou 20 anos de ditadura na defesa de um Estado que seria a antítese do Estado cubano.

PREPARAÇÃO

Não tinha tese, não queria provar nada. Há várias maneiras de se fazer um documentário. Uma delas, talvez das menos interessantes, é informar as coisas. Documentário, para mim, é experiência. A informação é bônus. Essa série, na verdade, não é sobre Cuba, é sobre a troca humana entre documentarista e documentado.

NOVA REVOLUÇÃO

Um dos grandes agrupadores de sentido era a [idéia de] ‘revolução silenciosa’. Depois da revolução de 1959 [que levou Fidel Castro ao poder], ocorre uma nova revolução lá, sem gritos, de dentro para fora da cabeça das pessoas. É essa transformação sutil, cheia de contradições, que fui registrar. Fico com medo de pensarem que ‘lá vai mais um falar mal…’ Não estou a fim de ficar escarafunchando ferida. A visão não é de destruição, mas a sociedade está em choque permanente.

MISÉRIA

Cuba tem 12 milhões de habitantes, e deve haver dois milhões [de cubanos] nos EUA. Isso gera um intercâmbio de informação muito forte, gera comparações. Uma coisa que me parece óbvia é que as pessoas lá choram um pouco de barriga cheia. O cara que se acha miserável vive como classe ‘média média’ daqui.

CUBA PÓS-FIDEL

Não tenho bola de cristal para dizer [como será]. De várias pessoas, escutei: ‘Quero mudanças, mas dentro do sistema. Não quero que isso aqui vire uma selva capitalista’. As pessoas têm um pouco de pudor em relação à mudança. Para onde [o país] vai? Vai ficar sozinho, contra o mundo lá fora, ou virar país periférico, voltar a ser a puta do Caribe -como diz um personagem-, quando o histórico é de autodeterminação?

DESERÇÕES CUBANAS

Rejeito a idéia de que o documentarista vira especialista naquilo que documenta. Estou a serviço do filme, não do objeto dele. Mas entendo que, se ‘neguinho’ pode ganhar US$ 10 milhões, por que ficar nos US$ 10? Ao mesmo tempo, a formação dele no esporte é resultado de um investimento estatal…’

Raul Juste Lores

Documentário escancara frustrações

‘A série ‘Em Cuba’ é instrutiva para quem ainda apóia a inusitada eficiência do governo brasileiro em deportar os dois boxeadores cubanos que desertaram no Pan. Sair da ilha, custe o que custar, está na boca da maioria dos entrevistados.

Felipe Lacerda, co-diretor de um dos documentários mais corajosos sobre a realidade social brasileira, ‘Ônibus 174’ (2002), também foge do clichê turístico ‘os cubanos são pobres, mas felizes’. Mostra o que é miséria sem democracia e dá voz a quem já cansou de defender a Revolução.

Do médico que morou na Nicarágua por dois anos e quer voltar a deixar Cuba ao artista que relata seu desemprego crônico desde que criticou o governo, vários cubanos escancaram no documentário suas casas e frustrações.

Na distribuição de senhas na fila para conseguir telefone, cubanos contam que é necessária uma carta de recomendação do Partido Comunista ou do Comitê de Defesa da Revolução para ter o aparelho.

Uma fiscal do comitê, para quem Fidel é ‘nosso guia’, chama a ‘polícia ideológica’, que interroga por quatro horas o documentarista. Com exceção das lições de Nena, ditadas à câmera, dos demais só ficam incertezas.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Terra Magazine

Veja

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