‘Já escrevi várias vezes sobre os problemas que vejo no ‘colunismo’, tão presente no jornalismo brasileiro. Mas, nas colunas, há também o que elogiar. Vejamos algumas características que podem dar-lhes vantagem quando se trata de obter informações: a) pela própria natureza da coluna, mais especializada, o colunista consegue mais diversificação de fontes de informação, um bom caminho para obter notícias exclusivas; b) a especialização, aliada ao fato de o colunista estar afastado do dia-a-dia da Redação, permite a análise mais profunda dos temas, dando-lhe a oportunidade de captar detalhes e nuanças, que podem fugir ao jornalista ocupado com a correria cotidiana do fechamento do jornal; c) as fontes, muitas vezes, preferem passar assuntos importantes aos colunistas, pois sabem que uma nota em uma coluna muito lida pode ter mais impacto do que uma matéria; d) atualmente, quando a internet praticamente suprimiu o hiato entre o acontecimento e a notícia, os colunistas transformaram-se em diferenciais importantes nos impressos. Um jornal com um bom time de colunistas, ou uma bem organizada editoria de Opinião, levará vantagem sobre outro que não dispõe dos mesmos recursos; e) por fim, será muito raro um leitor deixar de ler uma coluna de assuntos de seu interesse, ainda que salte uma ou outra matéria.
Essas ‘vantagens’ das colunas tendem a torná-las um manancial de pautas, de assuntos que merecem virar notícias mais aprofundadas. No entanto, as colunas não têm os instrumentos de uma editoria para produzir reportagens, por mais importante que seja o assunto que levanta, principalmente nos jornais regionais, nos quais o colunista trabalha solitariamente para escrever, alguns deles, seis colunas por semana. Portanto, se o colunista mostra a ponta do iceberg, uma Redação atenta deveria pesquisar o que existe abaixo do nível da água.
Em comentários internos tenho mostrado que algumas colunas do O Povo têm divulgado questões relevantes, que as editorias deixam de levar em conta, e para as quais, freqüentemente chamo a atenção dos jornalistas. Vou tomar alguns exemplos mais recentes (alguns indicados em comentários internos, outros não). A coluna De Olho no Dinheiro, de Nazareno Albuquerque, na nota ‘Gigantes’, na edição de 5 de agosto, revela que as empresas de produtos alimentícios Sadia e Perdigão ‘instalaram-se no Estado disfarçadas de distribuidoras. Com isso pagam somente 10% de ICMS […] Mas, na hora de vender às redes locais de pequeno varejo e supermercados cobram deles 17%’. No comentário interno, escrevi que era assunto a merecer investigação mais completa, pois revela uma possível disparidade que pode estar prejudicando um segmento importante do empresariado cearense e, por conseguinte, o consumidor. Por vezes acontece uma situação diferente, mas de origem parecida. A mesma coluna, na edição de 29 de julho, fala sobre o aumento no preço do leite, devido a injunções da economia internacional. Somente nas edições de 6 e 9 de agosto, a reportagem abordaria o assunto, de modo descritivo. A nota da coluna ainda dava outra informação: devido ao aumento do preço, estava crescendo a venda do leite em saco plástico, mais barato, em comparação ao ‘longa vida’, assunto interessante que deixou de ser abordado nas matérias. Se o tema era importante, a ponto de ter merecido duas manchetes de página, posteriormente, por que, quando se deu na coluna, originalmente, ela não obteve destaque?
Há vários dias, Fábio Campos, titular da coluna Política, vem insistindo no caso de uma obra, que se iniciou em terreno na esquina das avenidas Virgílio Távora e Dom Luís, sem ostentar as necessária placas de licenciamento e sem o alvará de construção, documento que deve ser expedido pela Prefeitura. Até agora a reportagem não entrou em campo para ampliar a cobertura. Como uma obra de grandes dimensões, um centro comercial, inicia-se sem, aparentemente, levar em conta os trâmites necessários? Como funciona a fiscalização da Prefeitura que não vê uma construção de tal porte em um dos trechos mais movimentados da Aldeota? É uma exceção ou é revelador da desordem na ocupação do espaço urbano em Fortaleza? A propósito, no início de julho, a coluna Vale Tudo, de Alan Neto, informou que o prédio da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), na avenida Beira-Mar, fora vendido para uma empresa paulista por R$ 42,500 milhões. Antes a Vertical S/A, assinada por Jocélio Leal, trouxera várias notas sobre a negociação. Fora isso, o jornal nada mais informou sobre o assunto, de muito interesse para a cidade.
Também foi na coluna Vertical S/A, uma notícia positiva em meio a tantas negativas, que deixou de ser aproveitada pela reportagem: um grupo de empresários cearenses e representantes do Executivo e Legislativo esteve recentemente em Recife para conhecer um modelo de ensino público que está sendo aplicado na capital pernambucana. Unem-se empresários e governo para melhorar a qualidade das escolas públicas. É uma experiência que vale a pena conhecer, até para acompanhar o andamento do projeto equivalente no Ceará. Poderia estender os exemplos, mas creio que estes bastam para sustentar a argumentação.
Reconheço que os editores não estão obrigados a pautar-se pelas colunas para definir o que consideram importante ser noticiado. E, obviamente, não quero criar um confronto entre colunas e editorias; pelo contrário, o que defendo é maior interação e diálogo entre esses dois grupos de jornalistas, de modo a se produzir pautas mais interessantes, propiciando o aprofundamento dos assuntos mais relevantes. Também é de justiça reconhecer que, vez por outra, assunto das colunas são temas de reportagens, mas, creio, dever-se-ia valorizar mais os bons temas divulgados pelos colunistas. O mesmo pode ser dito das sugestões dos leitores, que freqüentemente encaminho à Redação.’