COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
A mãe de todas as responsabilidades, 18/08/07
‘A empresa que tem a intenção de se perpetuar no mundo de hoje, com vistas para o futuro, deve inescapavelmente legitimar suas atitudes, ações, posturas e, especialmente, ter consciência e dar conhecimento dos impactos de suas atividades no passado, no presente e no futuro em diferentes níveis, do comercial ao social. Aquela historinha mal-contada ou a varrida do lixo para debaixo do tapete já não são aceitas e colocam qualquer organização em risco. Em risco de, peremptoriamente, sumir do mapa.
Esta legitimação não é tarefa fácil. Vivemos em um mundo cada dia mais complexo, sem figura de retórica. Se por um lado temos a inexistência de fronteiras, o mundo interligado on-line, consumidores mais informados e exigentes, também temos uma massa crescente de carentes, miseráveis, famélicos, expulsos do campo, de países pobres, do mercado de trabalho, a perambular pelas ruas das cidades do mundo todo que não os aceita. Bate-nos na cara, todos os dias, contradições gigantescas e dilemas éticos. É crescente a concentração de corporações nas mesmas mãos imensamente ricas, com longos braços em centenas de países e, por oposição, milhões de pessoas que sobrevivem abaixo da linha da pobreza, com um ou dois dólares por dia.
Apesar disso, faz parte desta complexidade uma consciência mais apurada das pessoas sobre uma nova lógica de produção e consumo, diretamente ligada à sobrevivência – sua própria, de seus descendentes, do planeta. O consumidor passa a impor às empresas, organizações e a si mesmo – como condição para estabelecer uma relação regular, saudável, duradoura e benéfica – questões de natureza econômica, social, ambiental, histórica e cultural, observadas ou percebidas nas atitudes das organizações, que, então, são cobradas pela coerência e responsabilizadas por seus atos. Chamam isto de sustentabilidade, um valor percebido pela sociedade, se dá por meio do equilíbrio entre quatro requisitos básicos presentes em qualquer empreendimento humano: ser ecologicamente correto; economicamente viável; socialmente justo; e culturalmente aceito.
Mas para que haja sustentabilidade e para que a organização obtenha êxito na sua legitimação perante a sociedade, é preciso recorrer à mãe de todas as responsabilidades, aquela que pariu a responsabilidade social empresarial e a própria sustentabilidade, ambas citadas por 10 entre 10 empresários. A convergência das responsabilidades empresariais se dá sob o guarda-chuva da Responsabilidade Histórica Empresarial, que reúne as responsabilidades comercial, legal, ambiental, cultural, social etc.
Portanto, para a empresa responder à sociedade com legitimidade de maneira que ela, a sociedade, possa preencher suas necessidades e ao mesmo tempo preservar, planejar e agir de forma a manter indefinidamente a condições indispensáveis para a vida atual e, principalmente, futura, é preciso que a empresa seja vista a partir de uma linha do tempo, na qual se possa fazer uma análise atitudinal, se perceba a energia dinâmica que transita entre passado e futuro, que permite entender o presente e inferir quais impactos serão gerados no futuro. Antes de categorizar, de estampar uma etiqueta na empresa, sempre em uma rotulação fácil, é preciso conhecer a história. Não basta visitar apenas seu departamento de inovação. É necessário passar algum tempo também no departamento de tradições.
Responsabilidade Histórica Empresarial é um conceito sistêmico, relacionado às atividades humanas especialmente a partir das organizações empresariais. Ela nos provoca a olhar para trás e para frente, tal qual fazia o deus romano Jano ou o Exu, da tradição ioruba, de maneira a compreender o presente, a pensar na sua vizinhança local até o planeta inteiro. A pensar que aquele inocente saco plástico que traz a compra do supermercado, vai rolar por aí muito mais tempo do que você vai viver e sabem-se lá os estragos que pode fazer…
Para conhecer uma empresa, avaliá-la com coerência e responsabilidade, crer no seu discurso e estabelecer uma relação de confiança, é preciso olhar sua trajetória no tempo, na perspectiva histórica, que contém todas as suas responsabilidades cumpridas ou não.
Paulo Nassar é professor da Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE). Autor de inúmeros livros, entre eles O que é Comunicação Empresarial, A Comunicação da Pequena Empresa, e Tudo é Comunicação.’
TELEVISÃO
Terça do riso, 13/08/07
‘Terça-feira assisti ao ‘Toma lá da cá’, na Globo. E depois passei para o ‘A grande chance’, que marca a volta de Gilberto Barros na Band.
Por que estrearam na terca-feira, 7 de agosto de 2007?
O que fascina no mundo da TV são esses mistérios. Ambos poderiam ter estreado no dia 7 de agosto de 1985, ou em 1974 ou em 1969. ‘Toma lá’ substitui ‘A Diarista’. Sobre esse extinto programa, dizem, leio, não mais apresentava bons índices de audiência e sofria críticas mais severas.
E vejo-me diante de mais um enorme mistério: jamais consegui mover um músculo do rosto ao ver o falecido programa que se dizia humorístico. Vi o primeiro, o segundo, o terceiro, achei todos péssimos e tive a certeza que teria longa vida.
Muito mais que o gosto, eu afirmo que humor não se discute.
Permaneci quase pasmo durante todo o Toma lá. Por vezes com aquela vergonha alheia. Chegou a 31 pontos de audiência e será um sucesso.
‘Da Ali Show’, com o inglês Sasha Cohen, o mesmo de Borat, também é um programa de humor que apresenta enorme dificuldade em fazer rir. Mas Sasha conquistou o mundo. Lembrei de um filme de Jerry Lewis no qual se espalha fortemente um boato sobre um novo, hilariante e arrasador comediante. Só de ouvir o nome do tal humorista, as pessoas morriam de rir. Com Sasha o fenômeno se repete. Sua fama é infinitamente mais engraçada.
E esse show, que vai ao ar no Sony às terças, é precedido por um outro inglês: ‘Balls of Steel’. Mais um fenômeno. Uma mistura de Jackass com Banzai show. Deste último eu gostava muito. Do primeiro, nada. Para quem nunca viu, dou um exemplo: o programa é uma competição para ver quem ganha o troféu ‘Balls of Steel’. Todos se submetem a provas ridículas como, por exemplo, um camarada que deixa um colega passar uma lixadeira elétrica no seu bumbum. E todos riem e riem ainda mais quando mostram o bumbum sangrando do camarada.
Repito: humor não se discute. O mundo está ficando lotadinho de pessoas estranhas, esquisitas. Constranger e humilhar pessoas faz uma multidão morrer de rir e dar enormes audiências a programas idiotas. Submeter-se idem.
Mas ainda existem bons textos, inteligentes, que, com certeza, para muitos não devem nem fazer rir e nem fazer sentido.
Conclusão provavelmente imprecisa: já se falou que o gênero mais difícil era o da comédia. Não é mais. Qualquer coisa está valendo, desde que exista a claque avisando que aquilo é engraçado.
Márcio Alemão é publicitário, roteirista, colunista de gastronomia da revista Carta Capital, síndico de seu prédio, pai, filho e esposo exemplar.’
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