O interesse de cursos particulares de Jornalismo ou qualquer outra graduação particular é o lucro. Faz parte do capitalismo. Mas está na hora de parar e pensar no tipo de profissional queesses cursos estão interessados em formar.
No dia 9 de maio, no Centro Universitário de Brasília (UniCeub), o jornal-laboratório Esquina teve a distribuição proibida. Os 3 mil exemplares impressos foram retidos pela reitoria do centro universitário. Segundo alunos do 6º semestre de Jornalismo, que produzem o jornal, ele teve a distribuição proibida por causa da matéria ‘Comigo é no popular’, texto que falava sobre o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz.
Segundo um professor do UniCeub, o jornal-laboratório é impresso no Comunidade, periódico de distribuição gratuita que tem laços estreitos com Joaquim Roriz. O episódio do Esquina não é um caso isolado de influência política nos meios de comunicação em Brasília: o Correio Braziliense tem um histórico de influências de Joaquim Roriz, cujo desfecho foi o fim da gestão de Ricardo Noblat.
Provavelmente não foi uma ordem de Roriz o impedimento da distribuição do jornal, foi decisão da própria reitoria, que tem laços políticos com ele; afinal, será inaugurado na Esplanada dos Ministérios o complexo cultural João Herculino – nome do fundador e falecido reitor do Uniceub.
Solidariedade
O caso é grave, isso que aconteceu foi censura. Uma agressão ao direito de expressão. O agravante é ter ocorrido isto numa faculdade que ministra três disciplinas de ética. A academia deveria ser o lugar do livre pensamento e da criação. Como uma faculdade ensina Jornalismo e faz prática de censura? Será que ela espera que futuros jornalistas fiquem quietos? Se eles tentaram formar comunicadores conformistas, não deu certo. Nas palavras de Jean-Paul Sartre, ‘o homem não é nada se não for um contestador’.
No dia 11 de maio houve ato contra a censura no Uniceub. Não houve aula no curso de Comunicação. A mídia foi impedida de entrar no centro universitário para acompanhar a manifestação. No dia 12 mais um ato estava programado para 19h. A direção recebeu representantes dos alunos, mas se negou a devolver os exemplares apreendidos. Os estudantes estão indignados com essa pedagogia: ao que parece a faculdade tenta formar profissionais que se autocensurem e tenham postura conformista.
A comunidade de jornalistas de Brasília deve contestar esse fato. O Sindicato de Jornalistas Profissionais do DF já se solidarizou, e em nota disse: ‘A atitude da direção do Uniceub é antipedagógica: como é possível educar para a liberdade promovendo a censura?’ [ver íntegra abaixo].
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NOTA DO SJPDF
Uniceub não muda posição sobre censura
Os alunos de Comunicação do Uniceub, Asa Norte, fizeram uma manifestação no Campus da universidade nesta quinta-feira, 11 de maio. Mais de 200 alunos fecharam o bloco da comunicação impedindo a realização das aulas. Com apitos, trombetas e faixas contra a proibição da censura do jornal-laboratório, os alunos gritavam palavras de ordem contra a intervenção da diretoria da instituição no jornal Esquina. Para os alunos o jornal deve ser independente e não atender a interesses políticos da instituição.
Os jornalistas que chegaram para cobrir a manifestação foram impedidos de entrar no campus. Os alunos saíram às ruas e fecharam faixas do trânsito impedindo a passagem de carros. ‘Estudante na rua, reitor a culpa é sua’, gritavam em coro os alunos.
Após três horas de muito barulho na faculdade a reitoria se manifestou e agendou uma reunião com representantes do Centro Acadêmico e do Esquina. Na pauta da reunião os alunos reivindicam a devolução dos exemplares do jornal censurado, além de mais autonomia na linha editorial do Esquina: segundo os alunos, o jornal não deve mais passar pela aprovação da instituição para ser impresso.
A última informação que obtivemos é que a instituição não mudou de posição: ‘A instituição não vai mudar uma postura que mantêm há 38 anos’. A manifestação dos alunos continuará.
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Estudante de Jornalismo, contratado pelo Ministério da Fazenda, Brasília