Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Se os políticos reclamam é porque a mídia melhorou

Não faz muito tempo finalizei o curso de Jornalismo na Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR), mas muito antes já tinha ouvido expressões do tipo ‘estou sob ataque da mídia’, ou ‘a imprensa está injustiçando’ tal pessoa. Depois dos quatro anos na UEPG pude perceber que, de fato, a mídia comete alguns equívocos, mas não como querem os políticos. Senti-me vingado, assim, ao assistir ao Observatório da Imprensa, veiculado pela rede pública de televisão, na terça-feira passada.

Um dos diretores do jornal O Globo explicou, desde o princípio, o processo de investigação que resultou na greve de fome do pré-candidato à presidência da República Anthony Garotinho (PMDB). Dizia ele que, hipoteticamente, o circo armado pelo marido da governadora do Rio de Janeiro tinha por finalidade cobrar direito de resposta aos jornais que o acusaram. Mesmo sem, necessariamente, se julgarem culpados, alguns veículos cederam espaço a uma carta com reclamações de Garotinho. Para ele, isso não foi suficiente, tanto que a fantasiosa greve de fome continuou. Em vez de aproveitar o espaço e explicar de onde surgiu o milhão de reais de sua pré-campanha, o ‘perseguido’ preferiu dizer que está sofrendo uma blitz da imprensa.

Déspotas

Apesar de esdrúxula, a declaração de Garotinho não é exclusiva e tão pouco inédita. Aqui mesmo em Ponta Grossa o ex-prefeito Péricles de Holleben Mello (PT) não cansa de apontar a ‘perseguição’ da mídia como uma das principais causas de sua derrota nas eleições municipais. Os exemplos de ‘sofrimento’ dos políticos não param por aí. Proliferam, na verdade. Basta lembrar de cenas como as de Antônio Belinati, em Londrina, e outras tantas espalhadas por aí.

Por conta disso, OI na TV debateu a mídia como bode expiatório dos políticos. Uma das convidadas, a professora Ana Arruda, com vasto currículo, foi categórica na resposta. Para ela, se os políticos estão reclamando tanto é porque a cobertura e a investigação dos fatos pela imprensa melhoraram muito. Sem deixar de reconhecer que ainda há falhas e pontos para serem melhorados, a professora lembrou que, nos idos de 1600, o rei D. João IV proibiu a publicação de periódicos em Portugal, mesmo antes de serem criados.

Mais de 500 anos se passaram depois disso mas, ainda hoje, há político brasileiro que faria o mesmo se pudesse. Talvez por tradição dos colonizadores ou então dos déspotas. Estando no poder, eles podem até querer, mas nós (cidadãos) temos o direito de fiscalizar, denunciar e não deixar que isso aconteça.

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Assessor de imprensa de parlamentar, Ponta Grossa (PR)