Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo

TECNOLOGIA
O Estado de S. Paulo

Microsoft tem plano para nova aquisição

‘A Microsoft informou na sexta-feira que pretende adquirir o controle da Rapt, empresa de software, cujos sistemas são usadas por publishers da Web para gerenciar anúncios. O valor envolvido na negociação não foi revelado. A Microsoft pretende incluir os softwares da Rapt no seu Atlas Publisher Suite, conjunto de ferramentas para que sites de internet gerenciem seus anúncios publicitários. O Atlas Publisher foi incorporado à Microsoft como parte da aquisição de US$ 6 bilhões da aQuantine, feita em 2007. A companhia criada por Bill Gates acredita que o mercado de publicidade na internet dobre para US$ 80 bilhões até 2010.’

 

Marili Ribeiro

iPhone, irresistível e (ainda) proibido

‘Houve até dilema ético. Afinal, desbloquear um aparelho celular iPhone, da americana Apple e ainda não comercializado no Brasil, poderia ser interpretado como uma forma de adesão à pirataria. Mas quem comprou e passou a usar o aparelho no País – as projeções indicam 105 mil usuários ativos – se diz vítima de uma espécie de atração fatal: ´Fui abduzido´, brinca o publicitário Luciano Traldi.

Em viagem aos EUA, o sócio da produtora de comercias Hotel Filmes não resistiu ao apelo e comprou um modelo com 8GB de capacidade (já há no mercado versão com 16 GB). ´Fiquei algumas semanas sem desbloquear, porque pensava em pirataria e me incomodava com isso` , conta Traldi. ´Mas tirava o aparelho da embalagem, lia o manual e ficava fascinado. E aí, bem, o desejo de vê-lo funcionando ficou mais forte´, acrescenta. Há três meses, com o devido chip da operadora TIM, o iPhone de Traldi virou companhia obrigatória.

O publicitário não está sozinho nessa condição. O advogado do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, Wilson Mello, um declarado apaixonado por inovações tecnológicas, pondera que, em termos de legalidade, usar iPhone não configura crime. ´Achei um caminho para usufruir de um produto que não está à venda no País´, argumenta ele. ´A Apple, acredito, deixou um gostinho de quero mais no ar ao fazer um megalançamento apenas para o mercado americano. Isso despertou cobiça e deu condições para a companhia cobrar R$ 2 mil por um aparelho que custa algo em torno de R$ 700, quando desembarcar por aqui.´

O apetite do mercado brasileiro endossa a tese de Mello. Na Rua Santa Ifigênia, no centro de São Paulo – uma região famosa por concentrar o comércio de toda a parafernália eletroeletrônica disponível no mercado -, o iPhone costuma ser encontrado por R$ 2,3 mil com seis meses de garantia. Mas não só lá. Na web há incontáveis ofertas entre R$ 1,3 mil e R$ 1,9 mil, alguns até já desbloqueados. Aliás, estimativas da própria Apple projetam que quase 20% dos usuários do iPhone estão fora dos EUA. Dos 3,7 milhões de aparelhos vendidos, somente 2,3 milhões estão registrados em operadoras autorizadas.

No Brasil, a empresa manda informar por meio de sua assessoria que ´não se manifesta sobre o iPhone´. Aliás não apenas ela, que seria a maior interessada em regular o mercado. As operadoras de telefonia, que, segundo se especula, estariam negociando a venda oficial desse objeto do desejo de forma regular, também não querem falar.

Na semana passada, chegou a ser noticiado que a operadora de celulares Vivo traria o produto para o Dia das Mães, tradicionalmente a data de maior venda do varejo nacional. Isso seria possível graças ao avanço das negociações entre a Apple e a controladora da Vivo, a Telefónica da Espanha, que teria o objetivo de vender o aparelho em toda a América Latina. Consultadas no Brasil, as empresas não falaram, mas também não desmentiram.

A cautela faz sentido, uma vez que entendimentos semelhantes entre a Apple e a China Móbile não vingaram. Quem acompanha o mercado de telefonia global diz que a maior dificuldade para um acerto com as operadoras regionais está no modelo de negócios. A companhia americana quer compartilhar as receitas pelos serviços prestados, mas as empresas alegam que, como vende infra-estrutura, ou seja o aparelho, não teria esse direito.

A caça pelo iPhone fora dos limites dos EUA se explica pela revolução que o aparelho provoca ao simplificar a vida das pessoas, tornando realidade a tão falada convergência digital. O aparelho combina funções acionadas com um simples toque de dedo: um iPod (tocador de música), um telefone celular, uma câmera digital e um computador portátil.’

 

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Navegar é preciso e fácil. E ganha adeptos

‘´É gritante a diferença ao migrar de um smartphone Treo (um modelo de celular repleto de recursos) para um iPhone´, diz o empresário Alexandre Hadade, diretor da empresa de tecnologia em serviços gráficos Arizona. ´Quando estou em um jantar e conheço um potencial cliente, pego o meu iPhone e mostro, com infinita qualidade da tela, o filme de três minutos com a apresentação comercial de minha empresa. O interlocutor entende tudo o que posso fazer por ele, sem gastar muito tempo´, festeja Hadade.

Ao trazer o seu modelo, fez questão de declarar na alfândega a compra feita por US$ 399, para, em sua interpretação, ´não ter problemas´. Hadade se encarregou de desbloquear o aparelho consultando um site na internet, onde há anúncios oferecendo o serviço por R$ 300. Já o advogado Wilson Mello conta que o profissional que fez o serviço para ele disse que, nos últimos meses, desbloqueou mais de 2 mil iPhones para clientes.

Levantamento da consultoria Predicta, especializada em gerenciamento de dados online para anunciantes e portais, usa uma ferramenta que é capaz de identificar os acessos à internet via iPhone. Nos últimos seis meses, o volume pulou de 8.500 por mês para 105 mil, segundo a aferição de fevereiro. ´É um crescimento de uso, de algo ainda não vendido oficialmente no País, de 1.129%´, constata surpresa Clécia Simões, gerente de marketing da empresa.

A atração que mobiliza os consumidores do seleto clube do iPhone brasileiro reside exatamente na simplicidade do sistema operacional criado pela Apple. ´O sistema de navegação para localizar endereços funciona melhor nos EUA, onde há muitos satélites abertos, mas mesmo assim dá pra usar aqui´, diz o publicitário Luciano Traldi. ´Outra vantagem do aparelho, que será melhor explorada no futuro, é a facilidade de funcionar em rede wi-fi.`

Hadade não reclama mais de acompanhar a mulher às compras no shopping. ´Sento em um banco com o meu iPhone me conecto e nem reclamo do tempo.` Mesma sorte não teve o publicitário e consultor Luis Grottera: ´Dei um iPhone para minha mulher há três dias e, desde então, ela não faz mais sexo comigo´.’

 

Ethevaldo Siqueira

Avanços digitais que revolucionam nossa vida

‘Depois de ouvir uma dúzia de cientistas, nos últimos três meses, resumo aqui as possíveis tendências tecnológicas dominantes nos próximos cinco anos: mobilidade, banda larga, 4G, redes WiMax, TV tridimensional (3D), supercomputadores e papel eletrônico. E incluo, ao final, a grande ameaça de um brutal congestionamento da internet daqui a três anos.

O brasileiro Jean Paul Jacob, pesquisador da IBM, professor da Universidade de Berkeley e um dos 50 cientistas responsáveis pelo estudo mais importante sobre o futuro, o Horizon Report, edição de 2008, inteiramente wiki ou colaborativo, destaca três grandes tendências: ´Se tivéssemos de descrever o futuro em apenas uma palavra – diz Jean Paul – essa palavra seria colaboração. Em duas, seria colaboração e serviços. Em três: colaboração, serviços e inovação.´

EXPLOSÃO WIRELESS

O mundo está mais perto da quarta geração do celular (4G) do que se supunha. Embora a 3G ainda esteja em fase de maturação no mundo, começando a oferecer velocidades entre 3,6 e 7,2 megabits por segundo (Mbps), com a tecnologia High Speed Packet Access (HSPA), já surgem avanços experimentais com velocidades muito maiores, que vão a 50, 100 ou mais megabits por segundo. Diversas empresas já fizeram demonstrações de transmissão em velocidades de até 300 Mbps, com o uso da tecnologia denominada Evolução de Longo Prazo (LTE, do inglês Long Term Evolution). Para que tanta velocidade? Na prática, 300 Mbps significam a possibilidade de transmissão de até 15 canais de TV digital de alta definição, entre muitos outros serviços, via celular 4G. Entre as empresas que dominam a tecnologia LTE, estão a T-Mobile (Deustche Telekom), a Ericsson, a Nortel, a Alcatel-Lucent e a Nokia Siemens Networks.

WIMAX PARA TV

Transmitir 45 canais de televisão aberta (broadcasting) numa banda de freqüências de apenas 10 Megahertz (MHz) era algo impensável até há pouco. A tecnologia MXTV, da norte-americana NextWave Wireless, permite hoje essa façanha e poderá ser utilizada em serviços fixos e móveis de TV de alta definição, rádio digital e multimídia no celular, com tremenda economia do espectro de freqüências, que é um bem escasso, finito e não-renovável. Com a tecnologia convencional, seriam necessários 270 MHz para transmitir 45 canais.

TELEVISÃO 3D

A coreana Samsung e a holandesa Philips estão lançando os primeiros televisores com imagem tridimensional. Os modelos mais recentes são os da Samsung, de 42 e 50 polegadas, de plasma, cujas imagens em 2D podem ser vistas sem óculos e, em 3D, com óculos. A proposta da empresa é oferecer, juntamente com a nova televisão, videogames e filmes 3D, em parceria com a Electronic Arts, maior provedora de jogos eletrônicos do mundo.

TELEVISÃO A LASER

Com o uso de lasers nas três cores básicas (azul, verde e vermelho), a Mitsubishi e outras empresas desenvolveram aquela que talvez seja a TV do futuro. Com luminosidade extraordinária, suas imagens podem ser vistas à luz do dia. Quando teremos essa TV? Talvez daqui a dois anos.

PROJETO KITTYHAWK

A IBM projeta construir até 2013 o Kittyhawk, supercomputador da próxima geração, a ser instalado sobre uma plataforma mundial. Com centenas de milhares de processadores interconectados (clusters) em paralelo, será capaz de hospedar praticamente toda a internet do planeta. Ao seu lado, o maior supercomputador atual, o Blue Gene/P, da própria IBM, parecerá um brinquedo.

NANOCOSMOS

A nanotecnologia será a próxima grande onda tecnológica e corresponderá a uma nova fase da chamada Lei de Moore, segundo a qual os circuitos integrados dobram de densidade a cada 18 meses. Miniaturizando componentes e máquinas até a escala molecular, as inovações da nanotecnologia tornarão possíveis milhares de avanços revolucionários, prevê o presidente da Intel, Paul Otellini.

PAPEL ELETRÔNICO

Conhecido pela sigla em inglês e-paper, o papel eletrônico imita o papel convencional, permite a impressão eletrônica de textos e de imagens, que podem ser apagados ou modificados a qualquer instante sem necessidade de mais papel. O novo produto tem o aspecto de um sanduíche de camadas transparentes e microesferas nas três cores básicas do sistema CMYK – sigla que representa as cores azul (cyan), magenta, amarelo (yellow) e preto (key). A impressão funciona de modo semelhante à impressão xerox. A Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que as reservas de papel disponíveis no mundo só poderão assegurar o consumo mundial até 2040.

WEB PODE ENTUPIR

Agora, a má notícia: a internet corre o risco de passar por um congestionamento brutal por volta de 2011. Essa é a previsão de alguns especialistas, entre os quais Bob Metcalfe, criador da rede Ethernet. Em 2007, o site de vídeo YouTube, que pertence ao Google, consumiu mais banda do que toda a internet consumia no ano 2000.’

 

IMIGRAÇÃO
O Estado de S. Paulo

Na TV: ´Imigrantes são igual à máfia´

‘O americano Jim Rizoli é o inimigo número 1 dos brasileiros. Ele e seu irmão Joe têm dois programas semanais na TV de Massachusetts, em que atacam os brasileiros ilegais. ´Eu costumo comparar os brasileiros daqui ao Al Capone e à máfia que tomou conta de Chicago nos anos 30´, diz Rizoli. ´Os brasileiros só trouxeram coisa ruim – prostituição, drogas e crime; agora que eles estão indo embora, é como se estivéssemos nos livrando da máfia.´

Jim e Joe Rizoli criaram o CCFIILE (sigla para Concerned Citizens and Friends of Illegal Immigration Law Enforcement), grupo de combate à imigração ilegal que promove protestos e faz lobby por leis contra imigrantes. O grupo, fundado em 2004, tem cerca de cem integrantes. Alguns em Framingham encaram o radicalismo do CCFIILE como piada, mas grande parte reconhece a influência crescente do grupo.

Enquanto muitos lamentam, Rizoli festeja o êxodo em massa dos brasileiros. Na semana passada, o programa de TV de Rizoli tratou da crise das hipotecas e de brazucas. Para ele, muitos brasileiros deram golpe, porque sabiam que não iam conseguir pagar seus financiamentos imobiliários. ´Eles estão largando as casas depenadas, levando até tampo da pia e privada para o Brasil´, diz. ´Os brasileiros se fazem de vítimas, mas, na verdade, estão passando a perna em todo mundo – eles compram casas e não têm nenhuma intenção de pagar. São pessoas gananciosas. Eu nunca tinha visto nada desse jeito, até os brasileiros chegarem a Framingham.´

Rizoli diz que se opõe aos brazucas porque os cidadãos americanos arcam com os impostos para que os ilegais usem os serviços de saúde e as escolas. ´Eles usam documentos falsos para tudo, dirigem sem carteira de motorista, tiram vantagem do nosso sistema de saúde. Além disso, a maior parte dos crimes da cidade é cometida por brasileiros.` Framingham tem 65 mil habitantes, sendo de 10 mil a 15 mil brasileiros. Mais de 90% vivem ilegalmente no país.

Ele acha que a debandada dos brasileiros terá efeitos positivos. ´Vai sobrar mais emprego para os americanos´, diz.’

 

MÚSICA
João Marcos Coelho

Quanto vale o disco? Agora, você decide

‘Em momentos de transição tecnológica, como os que vivemos, sempre há muita esperteza. Usam-se e abusam-se de truques para capturar os incautos. No domínio da música gravada, sente-se isso na carne. Ou melhor, no bolso, a parte mais sensível do ser humano, já disse alguém ilustre. Se fecharmos um pouco mais o ângulo e olharmos para a situação da música clássica, ou erudita, acende-se uma luz vermelha. Como fazer o seu suado dinheirinho render na compra de música gravada? Continuar a comprar CDs pode ser confortável – fazemos isso automaticamente. Mas e as demais formas de se obter música? Será que vão mesmo substituir os CDs e DVDs?

Estas e outras dúvidas podem ser esclarecidas graças a uma atitude surpreendente da Warner Music no Brasil. O mercado de clássicos hiberna solenemente – lança-se um ou outro CD em edição nacional, mais acoplado a uma eventual turnê ou concerto do que propriamente resultado de alguma decisão mercadológica. As exceções ficam por conta da Biscoito Fino, do Rio de Janeiro, que vem se mostrando até agressiva no segmento (um pouco graças à parceria com a Osesp; mas não só por isso); e de iniciativas isoladas, como a do ótimo selo Clássicos, em São Paulo, que lança poucos discos, mas invariavelmente de grande qualidade artística.

O pacote de 10 CDs que a Warner despeja no mercado brasileiro é, portanto, uma grande novidade. Há muito tempo ninguém se aventurava assim. Ele mistura lançamentos recentes e garimpagens de fundo de catálogo. Entre os primeiros, estão dois CDs de Daniel Barenboim: um recital de piano gravado ao vivo no Scala, distribuído no mercado internacional há apenas dois meses, e sua versão da Nona Sinfonia de Mahler à frente da Staatskapelle de Berlim, de março do ano passado; e também o excepcional CD do Duo Assad, que leva no título Jardim Abandonado , de Tom Jobim, lançado em setembro do ano passado nos EUA pelo selo Nonesuch. As demais, embora não tão recentes, oferecem interesse. São os casos da ótima gravação do violonista brasileiro Turíbio Santos com as obras concertantes, em duo e solo de Joaquín Rodrigo (incluindo o eterno Concierto de Aranjuez), feita nos anos 70 pela Erato francesa; e do CD dedicado a Schubert por Kurt Masur com a Filarmônica de Nova York, gravado ao vivo em 1997 e originalmente lançado dez anos atrás.

CD OU DOWNLOAD

É o CD de Masur, porém, que provoca questões bastante pertinentes para o ouvinte de clássicos de hoje em dia. Ora, você já tem a opção de comprar apenas as interpretações das peças que te interessem, e não mais o CD inteiro, que traz as sinfonias nº 3 e a Inacabada, de Schubert, e a versão para piano e orquestra que Franz Liszt fez da Fantasia Wanderer, a obra mais ambiciosa para piano solo de Franz Schubert. A leitura do pianista russo Boris Berezovski é vigorosa, e a orquestra sai-se muito bem – a química deu certo, aqui, entre regente, orquestra e solista.

Pode-se, então, ficar apenas com o que de melhor aconteceu naquela noite de outubro de 1997 no Avery Fisher Hall, em Nova York. E descartar o restante. Ou seja, as duas sinfonias, que recebem execuções rotineiras, convencionais – nada acrescentam nem à reputação de Masur e muito menos à da Filarmônica de Nova York. Você pode baixar, por meros US$ 1,98 (www.amazon.com), a magnífica versão da Sinfonia Inacabada por um Leonard Bernstein jovem, envolvente, à frente da mesma orquestra. E se estiver interessado numa versão historicamente informada, com instrumentos de época e baseada em pesquisas musicológicas profundas, pode optar pela aventura atrevida de Charles Mackerras à frente da Orchestra of the Age of Enlightenment. Por US$ 7,76 ou R$ 12,95 (na mesma amazon) você ouve não só os dois primeiros movimentos escritos por Schubert mas também uma proposta de Brian Newbould, de conclusão da obra, tentando mostrar o que seriam os dois movimentos restantes, dos quais Schubert só deixou fragmentos.

E como fazer para ficar apenas com a Wanderer e descartar o restante do CD? Simples. Você tem a opção de acessar o site da própria Warner Music no Brasil – www.warnermusicstore.com.br – e baixar só a faixa da Wanderer, de 21´03, por meros R$ 1,89. Barato, não? Mas você quer ir mais longe, e ouvir a versão original para piano da Wanderer: pois baixe a peça do CD da ótima pianista Elisabeth Leonskaja, por R$ 7,56, no mesmo site.

Agora, se quiser baixar o CD inteiro de Kurt Masur, vai pagar a módica quantia de R$ 13,23. Isso se repete com os demais CDs no site da Warner: cada faixa do disco do Duo Assad, quase sempre em torno de 2 a 5 minutos cada, custa R$ 1,89 (curiosamente os mesmos R$ 1,89 correspondentes aos 21 minutos da Wanderer). O belo CD da meio-soprano Lorraine Hunt Lieberson, comentado esta semana aqui no Estado pelo crítico Lauro Machado Coelho, pode ser baixado integralmente por R$ 9,56 (ou você escolhe a faixa de que mais gostar e gasta R$ 1,89).

Compare também os preços praticados nas lojas que comercializam o CD físico de Kurt Masur. Na rede FNAC, ele custa R$ 35,90, assim como todos os demais CDs do pacote Warner; a Livraria Cultura ainda não recebeu o pacote de CDs nacionais da Warner e vende os CDs importados por R$ 64,90, em média (o de Turíbio Santos é oferecido na versão importada por R$ 39,90, preço mais baixo porque é fundo de catálogo).

Montamos, então, um CD com a Wanderer em versão original com Leonskaja (R$ 7,56), e a versão Berezovski/Masur (R$ 1,89), mais a Sinfonia nº 8, Inacabada, com a mesma Filarmônica de Nova York na leitura apaixonada do jovem Bernstein (R$ 3,30). Total: R$ 12,75. E só ficamos com o filé, descartamos o osso. Você pode fazer o mesmo com o pacote inteiro da Warner. Comemore. Êta sensação gostosa – e rara — de preço justo. Finalmente, paga-se apenas aquilo que se quer efetivamente levar.’

 

COLORS
Antonio Gonçalves Filho

Sangue e suor como moeda de troca no ´resto do mundo´

‘O dinheiro pode fazer o mundo girar, como dizia a saliente cantora Sally Bowles, do musical Cabaret, mas por vezes faz rodar seus habitantes, como em Bagdá, onde muita gente enfrenta crises de hipoglicemia ao vender sangue no mercado negro. Esse é um dos muitos meios que o ´resto do mundo` encontrou para sobreviver e pagar as contas da globalização. O número 73 da revista Colors (R$ 29,90, nas bancas a partir de abril), publicada pela Fabrica – o centro de criação artística da Benetton na Itália-, fala justamente dessas formas de ganhar dinheiro nos países fora do eixo do dólar e do euro. O Brasil está incluído: uma moradora de Curitiba, com nome de tragédia grega, Efigênia, trocou o emprego pelo lixão, de onde tira o dinheiro para comprar comida e bilhetes de ônibus. Ela faz parte do programa instituído pelo governo curitibano há duas décadas, que fornece vales em troca de lixo reciclado e classificado.

Entre o sangue de Bagdá e a sucata de Curitiba existe uma gama infinita de modalidades desse ´alternativo` mercado financeiro, em que a moeda de troca pode ser tanto cocaína como cinzas ou pele, bem diferente, portanto, do dinheiro do Primeiro Mundo. No Azerbaijão, por exemplo, as pessoas não vão ao banco. Elas mantêm uma poupança na própria boca. A Colors fotografou vários tipos caucasianos com dentes de ouro incrustados, que funcionam como carta de fiança para dívidas contraídas por azeris. No Azerbaijão pós-União Soviética, é possível conseguir uma licença para dirigir táxi apenas mostrando os dentes, mas ai do infeliz que deixar de pagar sua dívida.

Já na pequena Ithaca, Estado de Nova York, costa leste dos EUA, martelaram tanto a cabeça dos habitantes com a idéia de que tempo é dinheiro que eles acabaram criando um moeda original, batizada com o nome da mítica ilha grega onde nasceu Odisseu. Uma nota de 1 ithaca (equivalente a uma hora) vale US$ 10. Assim, um rabino pode preparar crianças para o Bar Mitzvah em troca do conserto de seu violino e negociar a transação em notas/horas, dando o troco para os garotos cortarem a grama do jardim. O conhecido economista Bernard Lietaer, especialista em sistema monetário, considera que está aí uma idéia que aponta para o futuro do dinheiro. ´Creio que uma comunidade é mais próspera e tem um controle maior sobre seu destino, além de uma melhor qualidade de vida, quanto institui uma moeda com valor acordado´, declara Lietaer na última Colors.

No caso da Colômbia, mais especificamente no sul do país, a moeda de troca é a cocaína. Pode-se, segundo os repórteres da revista, ir ao supermercado ou apostar na luta de galos com algumas gramas do pó da ilícita droga. Lá praticamente a cocaína paga tudo, das despesas no armazém a exames médicos. As zonas de cultivo caíram 29% entre os anos 2000 e 2006, e mais ou menos 40% da produção é interceptada no mundo. Mesmo assim, os colombianos do sul continuam usando o pó como moeda corrente.

Outra moeda em alta é o petrodólar. Quando a ex-URSS deixou de ajudar financeiramente Cuba, os petrodólares da Venezuela começaram a jorrar a ponto de fazer uma médica de Havana abandonar o filho e o marido para operar cataratas em Caracas. A revista acompanha outros casos de doutores cubanos instalados em hospitais venezuelanos, todos recebendo em petrodólares. Isso enquanto a festa durar. As reservas apontam 83 bilhões de barris na Arábia Saudita, 72 bilhões no Kuwait e algo em torno de 32 bilhões na Venezuela.

Para quem morrer antes desse poço secar, é bom contar com outro tipo de moeda: o dinheiro amarelo de uma província chinesa onde os mortos, já indiferentes aos apelos da Bolsa de Valores, recebem dos vizinhos e parentes montanhas de papel com uma moeda de cobre estampada: ela servirá para pagar os custos da viagem para a eternidade. Lá, cartões de crédito não são bem aceitos.’

 

HQ
Jotabê Medeiros

O teatro retorcido de Eisner é pura iluminação

‘O quadrinista norte-americano Will Eisner, fundamental artista dos comics em qualquer época ou lugar, viveu os últimos 15 anos de sua vida numa tranqüila casa campestre em Tamarac, Flórida. Uma daquelas vilas em que as casas se conectam no portão do quintal dos fundos a um campo de golfe, um refúgio magnífico no qual ele e a mulher, Ann Weingarten Eisner, davam lá suas tacadas.

Curioso: apesar desse distanciamento ensolarado, esse exílio voluntário, não há a menor evidência, na obra de Eisner, que um dia ele tenha se esquecido um instante sequer de um determinado período sombrio da sua vida em Nova York, no rastro da Grande Depressão, entre os anos 1930 e 1940. É essa cidade, seus bueiros, escadas de emergência, galpões, edifícios e habitantes que ele elegeu como a espinha dorsal de todo seu trabalho, como nesse álbum que é agora publicado pela Devir Editora, A Força da Vida (A Life Force), lançado originalmente em 1988. Tinham então se passado 10 anos desde que ele iniciou sua revolução gráfica com Um Contrato com Deus e Outras Histórias de Cortiço.

Em A Força da Vida, Eisner contrapõe, em situações que se cruzam e se superpõem, pessoas extremamente duras e outras líricas, pessoas secas e cínicas e outras ingênuas, em movimentos de esperança e ganância, paixão e desencontro, tragédia e vibração. Quase sempre, o mediador de tudo é a miséria, a carência, a falta de perspectiva.

A Força da Vida é um dos trabalhos em que Eisner desenvolve de forma mais intensa a expressividade dos rostos e dos gestos em seus personagens. Claro, tudo com sua marca particular, como o balé que ele cria para um início de enfarte do personagem central Jacob, num beco sujo, ou para o atentado à serraria e a luta entre o bandido e o desmemoriado Tio Max. Tudo emoldurado por um jogo de luz e sombras, de iluminação, que privilegia o sentimento, a emoção.

Eisner parecia também remeter-se nesse trabalho a algumas influências mais evidentes, como Franz Kafka e sua A Metamorfose, na insistência dos diálogos de Jacob com uma barata, e na reincidência da passagem do inseto pelos desvãos da trama. É irrepreensível o teatro de desamparo da dona de casa Rifka, quando descobre que está sendo trocada por outra mulher já no crepúsculo da vida.

´Um dia, eu estava conversando com ele e ele me disse: ´Todo mundo acha que eu sou cinematográfico, mas quando faço meus quadrinhos eu penso mais em teatro´, conta o ensaísta e jornalista brasileiro Álvaro de Moya, que foi grande amigo de Will Eisner. ´Acontece que o pai dele era cenógrafo, pintava painéis de fundo para montagens de teatro. É por isso que os quadrinhos dele às vezes sugerem uma cena em um palco italiano, iluminado por uma luz vertical´, diz o especialista.

´Os alemães chamam a isso de gestalt, o gestual do teatro, aquela expressão corporal que se dá aos personagens. Isso era muito ressaltado no trabalho do Eisner, cujos personagens são retorcidos, não são retos. Passados tantos anos, a gente olha o trabalho dele e não pára de se surpreender´, avalia Moya.

A Força da Vida tem personagens de meia-idade vivendo crises de identidade em plena recessão, procurando saber em que ponto da vida perderam o fio da meada. Há também jovens ambiciosos, querendo encontrar uma forma de se estabelecer, ganhar respeitabilidade e fama. Há larápios e oportunistas, reacionários e comunistas, todos envolvidos numa trama que não os julga, não os trai, e tampouco os exime de responsabilidades.

´O que Deus quer de mim?´, pergunta a judia alemã Frieda a Jacob, seu sexagenário pretendente. Ele responde: ´Quem sabe? Desde o princípio, padres, rabinos, gurus ou vigaristas, todos montam um negócio para tentar entender isso! Eles escrevem livros e bíblias. Nos fazem rezar na esperança de, talvez, conseguir uma humilde resposta que lhes permita chegar a uma nítida compreensão. E, enquanto isso, homem e barata simplesmente vivem o dia-a-dia´, responde Jacob.

Will Eisner criou o conceito de romance em quadrinhos (graphic novel). Ao morrer, em 2005, era difícil um desenhista, ilustrador ou cartunista ao redor do mundo que não quisesse falar de sua influência. Apesar de ter se tornado célebre como o cronista de uma América de cortiços, hidrantes, vagabundos, becos, escadas de emergência, prostitutas e cantores de rua, era pessoalmente um homem doce e solícito, que não se negava a conversar com os discípulos em qualquer circunstância.

Neil Gaiman, um dos seus muitos admiradores, disse que ´a vitalidade contínua de Eisner como um artista` desafiava ´a lógica, o senso, o tempo, a história e todos os jovens cartunistas de hoje´. Para Alan Moore, ele foi o ´Leonardo da Vinci` dos comics. ´Ele ainda é melhor que todos nós´, disse Frank Miller. ´Não há ninguém mais completo do que Will Eisner. Nunca houve, e eu, em meus dias mais pessimistas, tenho dúvidas se algum dia haverá´, disse o inglês Alan Moore, de Watchmen.

Eisner, que foi sempre de uma modéstia absoluta, dizia que só tinha intenção de ilustrar a condição humana. ´Para mim, super-heróis são personagens unidimensionais. O principal subtexto de uma história, qualquer história, é a possibilidade da falha, da mortalidade, do erro.’

 

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Loira hipnotiza spirit em Hollywood

´OH, É A SCARLETT?: O longa The Spirit, baseado no mítico personagem de Will Eisner, o detetive de máscara criado pelo desenhista nos anos 40, terá uma vilã insidiosa e irresistível: a atriz Scarlett Johansson fará o papel da insinuante Silk Satin no filme que Frank Miller pretende estrear em 2009. No papel do detetive está Gabriel Macht. No papel do vilão Octopus, o fantástico Samuel L. Jackson.

Spirit estreou em 1941 e a série foi encerrada por Eisner em 1952. O Espírito é a identidade secreta de Danny Colt, que vive num cemitério, Wildwood, tendo por fiel assistente um menino de rua, Ebony White (ou Ébano Branco), e como melhor amigo o comissário de polícia Dolan. É ligado à apaixonada Ellen Dolan, filha do comissário. A ação se passa em Central City, um alter ego urbano de Nova York.

Eisner e Miller não eram estranhos um ao outro. Chegaram a publicar um livro sobre quadrinhos juntos. Miller, o festejado autor de Sin City e do Cavaleiro das Trevas, é fã de longa data do autor. Miller estreou como diretor de cinema ao lado de Robert Rodriguez, e pegou gosto pela coisa.’

 

 

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O Estado de S. Paulo – 2

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