‘Sobrevive em concepções passadistas do jornalismo o olhar que reduz a fotografia a adorno, com função exclusivamente estética. Conforme esse anacronismo, a imagem seria para o texto o que a moldura é para a pintura: uma companhia desimportante.
Como afirma o ‘Manual da Redação’, ‘a maneira mais convencional e acomodada de encarar a fotografia é tratá-la como um mero complemento da informação escrita. […] O recurso visual do jornalismo impresso moderno deve ser entendido como uma possibilidade […] suplementar à informação textual’.
Na quarta, o Senado absolveu seu presidente, Renan Calheiros, em processo de cassação. O país sabe hoje mais sobre os negócios do antigo devoto collorido, depois fernando-henriquista e agora lulista que antes das revelações inauguradas com um ‘furo’ da revista ‘Veja’.
Mesmo sem brilho, a Folha fez um bom trabalho e cumpriu o papel jornalístico de fiscalizar o poder. Na essência, fez o que deveria fazer. Em contraste, durante a crise em curso o jornal veiculou fotos que sugeriam o abandono do presidente do Congresso. Ou seja, desinformou -Renan estava longe do isolamento.
É compulsório, mas insuficiente, não manipular imagens e recusar encenações ludibriantes. Como a fotografia, feito o texto, é unidade informativa, ela deve retratar a realidade, e não distorcê-la. Ao exibir Renan solitário em meio a cadeiras vazias, a informação nem tão subliminar era que ninguém o acompanhava.
Igualmente impróprio é mostrar Renan olhando para um lado e José Sarney para o outro. Mensagem: eles divergem. Fato: são aliados.
O fotojornalismo interpretativo pode, no entanto, informar melhor que um tijolaço de escritos. Quando Lula aparenta passar a mão na cabeça de Renan, evidencia-se a bênção do Planalto.
Como na fotografia do general-presidente (1979-85) João Baptista Figueiredo à civil, mas dando a impressão de usar o quepe que era de um militar atrás dele.’
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‘Folha amplia normas sobre ética’, copyright Folha de S. Paulo, 16/9/07.
‘O jornal alterou o verbete ‘ética’ do ‘Manual da Redação’. Impôs novas regras de conduta aos jornalistas. O objetivo, de acordo com circular assinada pela editora-executiva Eleonora de Lucena, é ‘ampliar a transparência da Folha em relação a seus leitores’.
O principal acréscimo: ‘Para evitar real ou aparente conflito de interesse, o jornalista da Folha não deve possuir ações de empresas sobre as quais escreve com regularidade. A recomendação vale para todos os profissionais, não apenas para aqueles que cobrem o mercado financeiro. Por exemplo, jornalistas que cobrem saúde não devem ter ações de planos de saúde, quem cobre o mercado imobiliário não deve manter ações de construtoras’.
A norma se assemelha à do americano ‘The New York Times’. Antes, o ‘Manual’ condenava genericamente a atuação ‘em interesse próprio, escrevendo sobre empresa ou negócio com que tenha relação, mesmo indireta’.
A emenda elimina ou atenua na Folha a ‘absurda ausência de auto-regulamentação [da imprensa] sobre conflito de interesses: não deveria investir na Bolsa jornalista que apura, edita ou comenta o mercado financeiro’. É o que escrevi aqui há quatro semanas sobre a proposta da Comissão de Valores Mobiliários de intervir na atividade jornalística e cerceá-la.
Há outras novidades. Exemplo: ‘É proibido ao jornalista pedir ingresso para eventos culturais, como shows e peças de teatro. Sempre que possível, a Folha pagará pelo ingresso dos profissionais que forem cobrir tais eventos’.
De fato, a ‘camaradagem’ incentiva a promiscuidade contraditória com a independência jornalística. Lamento, contudo, que o veto se limite a ‘pedir’. ‘Pedir’ não pode, mas ‘receber’, se vale o escrito, parece liberado.’