Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Clóvis Rossi

A novela das 8 e o escracho

‘Quando escrevi que o Brasil (o Brasil político) se transformara no país do ‘deboche pronto’, não podia imaginar que Gilberto Braga e Ricardo Linhares levariam idêntica percepção para o programa de maior audiência da TV brasileira, a novela das oito (no caso, ‘Paraíso Tropical’, ainda por cima no capítulo final).

Para quem não viu, breve resumo: a trambiqueira e prostituta Bebel (vivida por Camila Pitanga) é a única da turma do ‘mal’ que nem morre nem perde. Ao contrário, se dá bem. Como? Graças a se tornar amante de um senador. Bebel termina em uma sessão de CPI para investigar biocombustíveis (por acaso -ou não- o tema pelo qual o presidente Lula é assumidamente obcecado). A sessão vira circo, e a trambiqueira, gloriosa, posa para fotos e anuncia que vai aparecer na capa de uma revista.

Salvo erro de memória, nunca antes neste país uma novela apresentou o ‘retrato falado’ de um político de forma tão explícita. Só faltou dar as iniciais, o R de Renan e o C de Calheiros.

Na era Collor, uma novela da Globo também tratara da podridão política do poder. Mas o tom era moralista (sem dar conotação crítica à palavra), indignado, de ‘isso-não-pode-continuar’.

Na era Lula, o tom é de deboche, de ‘isso-não-tem-mais-jeito-mesmo’. Não por acaso, Camila Pitanga, simpatizante de sempre do PT e de Lula, disse que ‘foi uma ótima solução dos autores colocar a Bebel no contexto político que também é cheio de roubalheira’.

Sempre haverá um ou dois descerebrados para acusar os autores de ‘conspiração’, técnica canalha para fugir dos fatos.

Os fatos, no entanto, provam, dia sim, outro também, que a política brasileira é um imenso escracho, um ‘Cambalache’, aquele tango que diz ‘el que no llora no mama, y el que no afana es un gil’ (otário, na gíria portenha).’

MÍDIA & VIOLÊNCIA
Carlos Heitor Cony

A elite e a violência

‘RIO DE JANEIRO – O assunto pode parecer de interesse exclusivo da cidade do Rio de Janeiro e da turba multa que faz e consome cinema. Mas tem alguma coisa a ver não só com a realidade psicológica e social do país inteiro, mas com a própria condição humana, que não é lá essas coisas em matéria de coerência e comportamento moral diante da sociedade, tal como ela sempre se apresentou.

Está em discussão um filme sobre o tipo de repressão que a polícia carioca vem praticando contra bandidos, notadamente contra os traficantes que criaram e mantêm o crime organizado.

Não vi nem verei o filme, mas o importante, segundo leio na imprensa, não é o que se passa na tela, mas na platéia. As cenas de tortura são aplaudidas, a violência contra a violência provoca orgasmos. A luta do bem contra o mal é mais do que implícita, mas didática: se, na vida real, fosse sempre assim, com a polícia torturando e matando os bandidos, a segurança voltaria à cidade sitiada pelo crime.

O colunista Arnaldo Bloch, de ‘O Globo’, classificou o filme como fascista, criando uma discussão que se ampliou em outros arraiais da mídia e nos círculos especializados em cinema. Foi feita uma pressão colossal para enviar ‘Tropa de Elite’ para representar o Brasil na premiação do Oscar em 2008. A comissão encarregada da escolha indicou outro produto nacional, considerado mais palatável ao gosto daqueles que julgarão o melhor filme estrangeiro de 2007.

Em si, a questão é intrinsecamente cinematográfica, mas a reação das platéias que estão assistindo ao filme, inclusive em suas cópias pirateadas, é um índice da morbidez social provocada pela morbidez do crime.

Soluções na base do olho por olho são tradicionalmente adotadas por regimes fascistas.’

JORNALISMO CIENTÍFICO
Marcelo Leite

Cenas de revisão explícita

‘A crítica pública compõe parte essencial dos usos e costumes no campo da pesquisa científica. Há uma exceção importante a essa prática, a chamada revisão por pares (‘peer review’, em inglês), em que auditores anônimos auxiliam editores de periódicos científicos na decisão de publicar ou não um artigo, ou de solicitar alterações para que seja aceito.

O sigilo dá margem a distorções e manipulações, mas o método ainda goza de grande prestígio entre pesquisadores de ciências naturais. Para eles, não se inventou ainda coisa melhor. É uma espécie de pedra-de-toque: se não passou por ‘peer review’, não vale. Quando se abre exceção à regra do segredo, é porque há algo sério em jogo -ou porque vem chumbo grosso por aí.

O periódico mensal ‘Nature Biotechnology’ enveredou pelo segundo caminho, embora em aparência trilhando o primeiro. Em sete páginas (981-987) de sua edição deste mês (vol. 25, nº 9), lançou ataque inusitado a um estudo polêmico sobre transgênicos de Irina Ermakova, neurocientista da Academia Russa de Ciências, anunciado em dezembro de 2005.

O trabalho de Ermakova ganhou repercussão depois de apresentado numa conferência de especialistas em Frankfurt, na Alemanha. De acordo com ela, ratos alimentados com soja transgênica geneticamente modificada tolerante ao herbicida glifosato (de tipo similar ao que causa controvérsia no Brasil há nove anos) geravam filhotes com taxas reduzidas de sobrevivência e crescimento prejudicado.

Era tudo que os adversários da transgenia queriam ouvir. A pesquisa russa foi adotada por vários grupos como a prova -científica- de que ao menos uma variedade de alimento geneticamente modificado trazia, sim, riscos potenciais à saúde humana. A ‘Nature Biotechnology’ tomou para si a tarefa de desdizê-la.

Primeiro, pediu a Ermakova que fornecesse, em suas próprias palavras, detalhes sobre os experimentos. Depois, solicitou a quatro outros especialistas que comentassem suas informações. Por fim, juntou tudo no texto ‘Soja GM [geneticamente modificada] e Segurança de Saúde -Uma Controvérsia Reexaminada’, assinada por seu editor, Andrew Marshall.

O resultado são cenas explícitas de lavagem de roupa suja. Pelo menos um dos críticos convidados tem ligações abertas com a indústria biotecnológica. Não há surpresa, assim, na virulência das objeções do grupo. Um parágrafo exemplar: ‘O planejamento do experimento não segue protocolos internacionalmente reconhecidos que foram desenvolvidos para guiar pesquisadores no planejamento adequado. A natureza do material original [soja GM] é desconhecida, o consumo de cada animal é desconhecido, e a composição da dieta é desconhecida. Muito poucos animais foram estudados, e as diferenças de gênero não foram registradas. As taxas de mortalidade anormalmente altas e as baixas taxas de crescimento nos grupos de controle indicam cuidados deficientes com os animais.’

Não é preciso ser versado em jargão científico para perceber que a acusam, pura e simplesmente, de incompetência. Ou coisa pior: ‘Se ela tinha dúvidas sobre seus próprios resultados, como diz, não deveria ter devotado tanto tempo dando publicidade a estudos que são patentemente falhos’.

É espantoso que cientistas naturais se dirijam uns aos outros, em público, nesses termos. Mais espantoso ainda é que a ‘Nature Biotechnology’ publique o ataque sem mostrá-lo antes a Ermakova e sem dar-lhe direito à réplica na mesma edição.

MARCELO LEITE é autor de ‘Promessas do Genoma’ (Editora da Unesp, 2007) e de ‘Clones Demais’ e ‘O Resgate das Cobaias’, da série de ficção infanto-juvenil Ciência em Dia (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia ( www.cienciaemdia.zip.net ). E-mail: cienciaemdia@uol.com.br

ORWELL REVISITADO
Otavio Frias Filho

Uma questão de classe

‘Sobre a oportunidade desta reedição do clássico estudo atribuído a Emmanuel Goldstein, ‘Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico’, basta dizer que ela preenche literalmente uma lacuna. Durante gerações, tudo o que se conhecia daquela obra eram trechos, pinçados pelo escritor George Orwell e transcritos em seu romance ‘1984’.

O livro mesmo permaneceu envolto nas brumas da clandestinidade e, mais tarde, do simples esquecimento.

Houve, decerto, outras edições do ensaio, mas que circularam em condições precárias e sob o mais estrito sigilo, naquelas décadas terríveis da segunda metade do século 20. Se algum desses exemplares ainda existe, é relíquia pessoal de colecionador. Do volume não constará o nome do editor, nem do autor. Muito se tem especulado sobre a identidade de Goldstein.

Teria sido ele o rival derrotado pelo Grande Irmão nas lutas pelo poder, convertido depois em líder da Fraternidade, organização subversiva cuja existência seria tão duvidosa quanto a de seu fantasmagórico chefe? Essa a versão oficial, o que parece suficiente para desacreditá-la.

O verdadeiro autor seria porventura o agente O’Brien, arguto intelectual a serviço da Polícia do Pensamento, que Orwell descreve em seu livro? Seria talvez o próprio Grande Irmão, interessado em forjar, com seu doentio senso de humor, um inimigo imaginário que justificasse a mais total tirania?

Dissidências contínuas

Se o pensamento de Goldstein agora se revela ao leitor ávido por compreender melhor o sombrio século 20, sua identidade permanece um mistério.

Chegou-se a especular que ele seria Leon Trótski, literato e revolucionário russo assassinado a mando de Stálin em 1940. Hipótese descabida, pois há sólidas razões para estabelecer que o livro de Goldstein foi escrito em data nunca anterior a 1948.

Não será exagero afirmar que as passagens transcritas por Orwell oferecem apenas um vislumbre do ambicioso panorama que a filosofia da história de Goldstein pretende descortinar.

Em resumo, ele diz que as sociedades humanas sempre estiveram divididas em três classes -alta, média e baixa-, sendo seu antagonismo irreconciliável. De tempos em tempos a classe média depõe a alta e toma seu lugar. Mas logo surge uma dissidência, uma nova classe média, destinada a depor a alta e assim sucessivamente.

Com o advento da máquina, pela primeira vez a humanidade passou a dispor de meios para garantir subsistência a todos. Estava aberta a possibilidade de abolição das classes sociais. A classe que assumira o poder no século 20 em nome do proletariado precisava, portanto, de uma estratégia que perpetuasse a miséria da maioria, para perpetuar também seu domínio sobre as demais classes. Essa estratégia foi a da guerra sem fim.

Três potências repartem o globo e se combatem de forma tão permanente quanto fútil, pois nenhuma pode nem deseja vencer. O propósito é justificar o Estado totalitário vigente em cada uma delas. Na base se acham os ‘proles’, proletários tornados párias. Uma camada acima, os membros do Partido Externo, que vivem no limiar da miséria, sob disciplina e vigilância implacáveis. No topo, o Partido Interno, uma elite privilegiada que governa em nome do Grande Irmão.

É possível que até mesmo o ditador fosse figura inventada pela propaganda, já que a essência do regime era seu caráter coletivo e impessoal. Pelo uso científico da mentira e da intimidação, pelo controle dos comportamentos e pela manipulação até da linguagem, o Partido se tornara indestrutível. O enfoque do livro é analítico, mas o tom é de um extremo pessimismo, admitindo como única esperança, ainda assim remota, que algum dia os ‘proles’ viessem a se revoltar.

Pensamento marxista

No livro de Goldstein convergem e se entrelaçam as correntes intelectuais que convulsionaram o século 20. A influência de sociólogos conservadores como Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto fica patente na sua versão peculiar de ‘circulação de elites’. Já a ditadura do Partido parece inspirada nas concepções de Robert Michels.

Mas Goldstein, por dissidente que tenha sido, pensa como marxista. Adota o postulado de que a luta de classes é o motor da história. Contra Malthus e como Marx, ele acredita que a tecnologia seria capaz de gerar abundância irrestrita de recursos e prover toda a população. Sua ‘guerra permanente’ é tributária de teóricos do imperialismo, como Lênin e o próprio Trótski.

Conforme sabemos, porém, o inexpugnável edifício descrito por nosso autor ruiu num sopro. O tempo demonstrou que a perenidade do Partido e as demais profecias de Goldstein estavam redondamente equivocadas. O Leviatã é um animal enjaulado, a liberdade voltou, o mundo prospera. Influente no passado a ponto de ser referida simplesmente como ‘o Livro’, sua imaginativa obra fica hoje relegada à galeria de excentricidades de um século aberrante.

Em nossos dias, ninguém mais está sob vigilância ou tem seus dados pessoais monitorados por alguma entidade invisível. Não existem blocos geopolíticos em confronto permanente, nem alguma rede clandestina dedicada a destruir as instituições em escala mundial.

A propaganda e a televisão foram banidas de forma espontânea. Toda a população do planeta vive em condições adequadas, e os governantes já não mentem mais.

OTAVIO FRIAS FILHO é diretor de Redação da Folha.’

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‘1984’ encena um mundo em guerra perpétua

‘Tributário da tradição distópica representada por ‘Nós’, de Ievguêni Zamiátin (1884-1937) e ‘Admirável Mundo Novo’, de Aldous Huxley (1894-1963), ‘Nineteen Eighty-Four’ foi escrito em 1948. George Orwell (1903-50) sugere, apenas 36 anos depois, um cenário político em que o mundo se resume a três megapaíses em guerra perpétua.

Winston Smith, o protagonista, vive em Londres insatisfeito com o sistema totalitário, personificado pelo Grande Irmão, que manipula o comportamento das castas sociais, inibe as liberdades civis e vigia ações e pensamentos da população. Smith fica curioso com rumores sobre um grupo secreto que se inspira no subversivo livro ‘Teoria e Prática do Coletivismo Oligárquico’, escrito por Emmanuel Goldstein -ex-membro do Partido que se voltou contra o regime.

A OBRA

1984

de George Orwell. Tradução de Wilson Velloso. Ibep-Companhia Editora Nacional (0/xx/11/ 6099-7799), 304 págs., R$ 57,90.’

TELEVISÃO
Claire Atkinson

Seriados impulsionam vendas de DVD nos EUA

‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Para acompanhar a série ‘Grey’s Anatomy’, da rede de TV ABC, Joanna Palmer, que jamais havia assistido a um episódio do programa lançado há dois anos, comprou a primeira temporada inteira em DVD.

‘Eu tinha um dia de folga e o passei assistindo, das 10h até as 17h30’, conta Palmer, 34, funcionária da Victoria’s Secret. Agora, planeja assistir a todos os episódios da nova temporada, que já estreou nos EUA.

Palmer está em boa companhia. Ainda que as vendas de DVDs estejam em queda neste ano, as séries de TV em disco têm se saído melhor do que outras categorias. As vendas de temporadas completas são um dos raros pontos altos do mercado e registram crescimento real. Alguns programas, como ‘Família Soprano’ e ‘Sex and the City’, já venderam mais de US$ 300 milhões em DVDs.

As cifras não são grandes, e as expectativas quanto ao formato são limitadas devido ao número crescente de alternativas, como baixar os episódios no computador. Mesmo assim, executivos das redes de TV ainda apostam no formato.

‘A melhor coisa sobre uma série de TV é que novos espectadores descobrem o programa a cada dia e decidem começar pela temporada 1’, disse Sofia Chang, vice-presidente de marketing da HBO Video.

John Miller, vice-presidente de marketing do NBC Universal Television Group, diz que DVDs não são vistos necessariamente como fontes de lucro para a rede, mas são considerados valiosos devido ao seu poder de transformar espectadores casuais em fãs leais.

A NBC Universal fechou acordo com a cadeia de varejo Wal-Mart a fim de criar um pacote de meia temporada da série ‘Friday Night Lights’, por US$ 9,99, com vídeos de promoção de um novo seriado, ‘Bionic Woman’, incluídos.

Os DVDs mantêm vivas muitas séries que já encerraram sua passagem pelos televisores. Em julho, a Warner Home Video começou a distribuir em DVD ‘Babylon 5: The Lost Tales’, com episódios inéditos do programa extinto.

Outubro marca o início do quarto trimestre, período de promoção mais pesada no calendário dos DVDs. No ano, as vendas de temporadas completas de séries registram alta de 6% em relação ao mesmo período em 2006, de acordo com a Nielsen VideoScan (ainda que o crescimento tenha caído, ante os 17% de alta registrados em 2006 sobre 2005). Os números são notáveis, especialmente porque as vendas gerais de DVDs caíram 7% no ano, enquanto o segmento de programas de TV em geral caía 1%.

Tradução de PAULO MIGLIACCI’

Daniel Castro

Globo põe guarda e radar para controlar carrinhos elétricos

‘Maior centro de produção de TV da América do Sul, o Projac, no Rio de Janeiro, vem registrando problemas de trânsito. Nos horários de pico, há congestionamentos, quem diria, de carrinhos elétricos e microônibus. No local, por onde circulam 5.000 pessoas por dia, há 147 carrinhos, que transportam dos mais humildes contra-regras às maiores estrelas da TV.

Depois de uma série de acidentes envolvendo os carrinhos elétricos, como capotamentos (num deles, uma pessoa chegou a cair em um córrego), a Globo comprou radares móveis, desses que parecem pistolas, e designou guardas para controlar a velocidade dos carrinhos, que varia de 15 km/h a 20 km/h, dependendo do trecho. Os guardas foram apelidados de ‘Xips’, numa alusão ao seriado ‘Chips’, porque ficam escondidos atrás de pilastras e cartazes, mas sem uniformes.

Os ‘infratores’ recebem ‘multas simbólicas’: um belo pito do ‘Xips’ ou de seu chefe. Funcionários contam que são três guardas e três radares.

A Globo, oficialmente, diz que há apenas um radar, que ela prefere chamar de ‘medidor de velocidade portátil’. Afirma que faz ‘aferições por amostragem’, uma vez por semana, porque os carrinhos não têm velocímetro. E que tudo isso faz parte de ‘um procedimento padrão’, uma coisa ISO.

A pergunta que não quer calar no Projac agora é: quando chegam os bafômetros?

A VILÃ SOFREDORA

Depois de fazer a boazinha Cecília, de ‘Bicho do Mato’, a linda Renata Dominguez (foto), 27, será a grande vilã de ‘Amor e Intrigas’, próxima novela da Record, que começa a gravar nesta semana. ‘Valquíria é o arquétipo da vilania, tem muito da Maria de Fátima [Glória Pires] de ‘Vale Tudo’. É imprevisível, insaciável. Para se dar bem, vira uma camaleoa, usa a chantagem, a simpatia, a perversão, a sedução’, conta. Renata é do tipo de atriz que incorpora tanto o personagem que não consegue se livrar dele depois de gravar: ‘Levo ele pra casa. Sofro muito como atriz’. Para lidar melhor com isso, ela até fez um curso com Robert Castle, americano craque em técnicas de composição de personagens. ‘Ele trabalhou meu sensorial’, diz Renata, que aparecerá na novela com os cabelos mais curtos e claros.

Tenho muita dificuldade para sair do personagem. Sofro como atriz

RENATA DOMINGUEZ, atriz

MATRIX

Ney Latorraca vai gravar o seriado ‘O Sistema’, que a Globo estréia em novembro. Fará Nicolas Katedref, o misterioso CEO (chief executive officer) de uma grande corporação, que se incomodará com as manifestações pacíficas das ‘vítimas do sistema’ -pessoas que de uma hora para a outra somem dos cadastros oficiais, bancos etc.

VELAS

A Globo fará amanhã duas festas, uma em São Paulo e outra no Rio, para lançar ‘Duas Caras’. O autor da novela, Aguinaldo Silva, não vai a nenhuma: ‘Nunca vou a festas em dia de estréia. Fico em casa, acendo algumas velas pra alma de minha mãe, rezo pra Nossa Senhora Aparecida e vejo o capítulo com meu gato, Tadeu’.

CAFÉ FRANCÊS

Aprovado pelo público, o ‘Câmera Café’, série de esquetes que o SBT exibe antes e depois de seus telejornais, terá vida longa. O diretor Jacques Lagôa recebeu na semana passada ordem para gravar 700 quadros. O programete é um formato francês adaptado. Na última quarta-feira, a edição exibida às 6h foi líder no Ibope.

‘CARAS’ EDUCATIVA

O apresentador Serginho Groisman já fechou a lista de celebridades que gravarão a nova temporada de ‘Tempos de Escola’, que apresenta no educativo canal Futura. Estão confirmados Maria Rita, Deborah Secco, Juliana Paes, Taís Araújo, Sandra Annenberg, Caco Barcellos, Nando Reis, Gabriel, o Pensador, e Diego Hypollito.

Pergunta indiscreta

FOLHA – Sua assessora de imprensa nos procurou propondo que fizéssemos uma pergunta indiscreta para você. Ela até sugeriu ‘Por que você nunca colocaria silicone?’ e ‘Você está mesmo carente de um namorado?’. Mas eu queria te perguntar outra coisa: você realmente precisa ter uma assessora de imprensa?

LUCIANA LIVIERO (jornalista, apresentadora do ‘Fala Brasil’, na Record) – Acho que sim. Não porque as coisas deveriam ser assim, mas porque funcionam assim. Hoje em dia, a mídia tem um poder muito grande. Então, muitas vezes, o que tem mais peso não é a competência das pessoas, mas se elas estão na revista ou não estão. Não adianta ser ótima. Se não estiver na revista, não vale nada. Já perdi uma oportunidade na Band porque não tinha mídia.’

Laura Mattos

Brasil de cara feia

‘Uma gambá invadiu o jardim de Aguinaldo Silva, num luxuoso condomínio da Barra (Rio). Cavou um buraco e lá teve filhotes. A família vivia feliz, até que o jardineiro dasavisado enterrou o lar, e a matriarca morreu. Dois gambazinhos conseguiram sair, mas um se afogou na piscina. O que se salvou foi adotado pelo novelista, que tenta mantê-lo vivo com mamadeiras. ‘É uma gracinha, quando mama segura a minha mão’, conta o autor, que detém o recorde de audiência das novelas, com ‘Senhora do Destino’. Ele batizou o ‘filho’ de ‘Duas Caras’, nome de sua nova, que estréia amanhã. ‘Espero que viva e faça sucesso!’

Esse Silva pai do pobre gambá é sua ‘cara do bem’. Mas ele quer mostrar a outra. ‘Tenho 64 anos, não preciso mais viver de aparências, fazer média. Não há nada que me impeça de dizer a verdade, o que sinto’. Dito e feito. Na entrevista à Folha, apesar da vigilância de uma assessora da Globo que anotava cada palavra, ele mandou ver. Criticou até novelas da emissora (‘assoladas pelo maniqueísmo e o politicamente correto’).

E detonou José Dirceu, que inspirou o protagonista de ‘Duas Caras’. Ex-ministro de Lula e deputado cassado pelo mensalão, Dirceu, no passado, fez plástica em Cuba para mudar de rosto e, de volta ao Brasil, casou-se usando falsa identidade para fugir da perseguição na ditadura. Com a anistia, revelou-se à mulher, com quem tivera um filho, e se separou. ‘Quem faz isso é capaz de qualquer coisa. Tenho medo dele.’ A seguir, trechos do papo com Silva, que se vangloria de só ter no currículo novelas das oito, nenhuma das seis ou sete, e que fará a primeira com imagem de alta definição da Globo.

FOLHA – Por que ‘Duas Caras’?

AGUINALDO SILVA – A novela nasceu da obsessão que as pessoas têm de mudar, não só porque querem, mas porque há muitas alternativas, silicone, botox, plásticas, escova progressiva. Todo mundo quer ser Nicole Kidman, Juliana Paes. Essa obsessão tem a ver com insatisfação. Nesse mundo enlouquecido, está todo mundo insatisfeito sem saber por quê. As mudanças não alteram a insatisfação, mas pelo menos iludem.

FOLHA – O sr. já mudou seu corpo?

SILVA – Nunca. Sou um privilegiado porque há 25 anos tenho o mesmo peso [84 quilos] e dizem que a mesma cara, mas nisso não acredito muito [risos]. Até o cabelo parei de pintar. Aos 64 anos está na hora de deixar o cabelo normal, até porque pintar dá muito trabalho.

FOLHA – Por que chegou a hora?

SILVA – A gente vive muito com a questão da boa educação, de aparências, nunca fala o que pensa para não ofender os outros, sempre procura usar de todo o tato possível. Mas a partir de uma certa idade você está liberado para falar o que quiser, fazer o que quiser e assumir a sua aparência física real. Estou mudando ao contrário. Quando fiz 64, decidi ser exatamente como sou. Falo o que tenho que falar, as pessoas ficam ofendidas porque sou sincero, direto e nunca escondo o que eu penso.

FOLHA – Por que aos 64 anos?

SILVA – Quando você se torna um ancião, adquire direitos, não só se aposenta. É preciso encarar os fatos: 64 é uma idade bastante madura. Tive a noção de que a partir de agora não há nada que me impeça de dizer a verdade, o que sinto. Passei a vida inteira tendo cuidado com o que falava, apesar de ter opiniões fortes sobre as coisas. Pensei: ‘Chega, os anos que me restam vou dedicar a isso’. As pessoas idosas são deliciosamente verdadeiras. É uma segurança que só a idade dá.

FOLHA – A história do protagonista de ‘Duas Caras’, que se casa por interesse, foge com o dinheiro da mulher e faz plástica para mudar de vida, é inspirada na de José Dirceu?

SILVA – Não posso negar que ele tenha me inspirado, assim como outros, como o ex-chefe de censura militar Romero Lago. Abadía [traficante que fez plásticas para fugir da polícia] veio depois, mas tem muito a ver também. E a história do Zé Dirceu sempre digo que é uma lenda urbana, como a dos jacarés que vivem no esgoto, e essa comparação é bem interessante… O fato é que essa história -casamento, vida dupla, abandono da segunda vida para voltar à política- já ouvi centenas de vezes, mas toda vez ela me faz muito mal, porque sinto uma crueldade muito grande. Uma pessoa que faz isso é capaz de qualquer coisa. Tenho medo dele. Confesso que quando ele era chefe da Casa Civil, sempre pensava nisso. Tenho horror.

FOLHA – Regina Duarte tinha medo de Lula, e o sr. tem de José Dirceu…

SILVA – Pois é, mas eu acho que o Zé Dirceu era o rosto que o Lula não queria mostrar.

‘Quero esquecer o politicamente correto’

FOLHA – Todos temos duas caras?

AGUINALDO SILVA – Sim, isso tem a ver com a ambigüidade humana. Estamos sempre entre o bem e o mal, sem saber para que lado ir. Na novela, fiz todos com duas caras, e isso quebra o maniqueísmo que tem assolado as novelas. Desta vez não haverá isso, tanto que não terei o grande vilão, que adoro fazer, como Nazaré [Renata Sorrah, ‘Senhora do Destino’], Perpétua [Joana Fomm, ‘Tieta’] ou Altiva [Eva Wilma, ‘A Indomada’]. Embora o protagonista [Dalton Vigh] seja o vilão, ele busca redenção. Larga a mulher e faz plásticas para fugir, mas quer deixar de ser um criminoso. Com ‘Duas Caras’, também quero esquecer totalmente o politicamente correto, que está matando as novelas. Novela tem que ser feita de excessos, de gente que diz: ‘Você vai casar com um negro favelado?!’ Não dá para dizer: ‘Minha filha, você não acha que deveria considerar a possibilidade…’ Melodrama não tem meio termo, e as novelas entraram nesse ‘nada pode’. O público entende, a contrapartida vem.

FOLHA – Por que decidiu inserir uma favela em ‘Duas Caras’?

SILVA – Em minhas novelas, sempre uso o truque de criar a cidadezinha do interior onde todos podem se cruzar. ‘Duas Caras’ se passa na freguesia de Jacarepaguá, que abrange a Barra e uma favela monumental, Rio das Pedras. No meio dela, há uma avenida por onde todos passam sem problema. Lá não tem traficantes porque tem milícia. Isso é discutível, mas é a verdade. Na minha favela não vai ter milícia, mas haverá um homem, Juvenal Antena [Antonio Fagundes], que reina sobre o lugar. Eu o comparo aos líderes populistas latino-americanos, que se consideram pais dos povos. Lula tem um pouco de achar que tem a missão de guiar o povo brasileiro, o que eu acho odioso em sua personalidade. Juvenal é de um carisma forte, mas será contestado pelo personagem do Lázaro Ramos, o verdadeiro herói da novela.

FOLHA – Por que optou por não retratar o tráfico de drogas na favela?

SILVA – Confesso que fiquei chocado com tudo o que se fez recentemente sobre favela, menos a novela do Marcílio [Moraes, de ‘Vidas Opostas’, Record]. Mas ‘Cidade de Deus’, por exemplo, não tem pessoas, tem estereótipos de bandidos. Onde estão os trabalhadores? Conheço a Cidade de Deus e sei que as pessoas saem todos os dias para trabalhar. Acho o filme um pavor. Visualmente tem uma linguagem alucinante, e isso distrai as pessoas. Mas você não pode pegar uma comunidade como aquela e dar a impressão de que todo mundo é bandido. Não vou contribuir para essa imagem estereotipada. A favela é um bairro, a única diferença é que as pessoas são menos favorecidas e não há infra-estrutura. Em ‘Duas Caras’ não vou usar a favela para discutir conflitos sociais, mas existenciais. As pessoas são como nós, têm paixões, ódios.

FOLHA – Mas por que a favela e não aqueles subúrbios cenográficos comuns nas novelas? Não foi em razão do sucesso da Record ao criar uma novela ambientada na favela?

SILVA – Não. E quem botou a favela primeiro em horário nobre fui eu, em ‘Senhora do Destino’. Tinha até escola de samba na favela. A Record, por ter começado a fazer teledramaturgia recentemente, só conta a história dela. A questão de ‘Duas Caras’ foi geográfica. Não quero fazer novelas no Nordeste, porque já fiz muitas. Tivemos novelas no Leblon, Copacabana. Juntei a Barra, com condomínios fantásticos, favela e Jacarepaguá, de classe média sofrida. É um Brasil.

FOLHA – Mas a representação da favela em ‘Vidas Opostas’, da Record, foi mais ampla que a de ‘Senhora do Destino’ e mais realista. Eles inclusive gravaram na favela, e a de ‘Duas Caras’ será cenográfica.

SILVA – Não sei se realista, era uma novela policial. Esse estereótipo de a favela ser sempre o lugar onde acontecem as histórias policiais me desagrada muito. Quero fazer o contrário, resgatar, para usar uma palavra da moda, a cidadania dos moradores da favela, que não são só do bonde do mal. Os bandidos, apesar do controle, são minoria. As minhas histórias policiais não serão ambientadas nas favelas. A minha favela é que vai ser realista. Será cenográfica, mas não acrescenta nada a uma ficção ser gravada numa favela real. Novela não é jornalismo. E a Globo não pode gravar na favela como a Record. Imagina a confusão que ia ser colocar o Fagundes todo dia lá! Quando falei em colocar uma favela na novela, a Globo ficou um pouco temerosa. Até que viram na sinopse que eu não ia fazer uma ‘Cidade de Deus’.

FOLHA – Escolheu Lázaro Ramos para fazer o herói por ser negro?

SILVA – O Brasil estava ansiando por um grande ator negro, como ele, que tivesse características de galã, de mocinho. E eu queria ter o primeiro herói negro de novela das oito.’

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José Dirceu não comenta as críticas

‘José Dirceu afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não iria comentar as críticas feitas a ele por Aguinaldo Silva nem o fato de sua história inspirar a do protagonista e vilão da nova novela da Globo, ‘Duas Caras’.

A Folha tentou também entrar em contato com o ex-ministro da Casa Civil por meio de seu blog, mas a mensagem endereçada a ele foi respondida por uma assistente, que orientava a reportagem a procurar a assessoria.’

Daniel Castro

‘Duas Caras’ é a 1ª da Globo em alta definição

‘‘Duas Caras’ é a primeira novela da Globo toda gravada em alta definição (HDTV). Para o telespectador isso fará pouquíssima diferença. O ganho de imagem que ele terá agora será praticamente imperceptível. A diferença, para dar uma idéia, é como a que se observava quando terminava ‘Paraíso Tropical’ e entrava um filme.

A alta definição é uma das características da TV digital, que tem estréia prevista para 2 de dezembro, só em São Paulo. No Rio, isso ocorrerá em abril ou maio de 2008. Nas outras grandes capitais, daqui a um ano.

Para tirar proveito da alta definição, o telespectador terá que comprar um televisor ‘full HD’, com resolução de 1.080 linhas por 1.920 pixels, o que dará uma definição de imagem seis vezes maior do que a atual. Esses televisores custam a partir de R$ 5.500. Atenção: existem aparelhos mais baratos, que se dizem ‘HDTV ready’ (prontos para HDTV), mas que têm resolução menor, de 768 linhas por 1.366 pixels.

Caso o televisor ‘full HD’ não tenha um embutido, será necessário comprar o conversor (set-top-box), que custará cerca de R$ 800.

Quem já tem um televisor de plasma ou LCD, embora sem ‘full HD’, terá ganho de imagem e de som se comprar um conversor, mas não tirará proveito pleno da HDTV.

A alta definição tem o formato de tela 16:9, retangular, mesma proporção do cinema. Mas a Globo está gravando ‘Duas Caras’ no 4:3, o dos televisores analógicos, mais quadrado. Isso porque mesmo após a estréia da TV digital, pouca gente terá acesso a televisores ou conversores HDTV. As gravações em HDTV exigem mudanças na maquiagem, que tem de ser uniforme e mais densa para corrigir as falhas, e nos cenários, que ficam mais horizontais e têm de ter acabamento impecável. Em ‘Duas Caras’, a Globo trocou revestimentos de fibra de vidro e pisos sintéticos por materiais como tijolos e granito.’

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Nova novela esclarecerá o que é dislexia

‘Depois da síndrome de Down, é a vez de explicar o que é a dislexia, uma dificuldade de compreensão do que se lê. Aguinaldo Silva diz que decidiu criar um personagem disléxico em ‘Duas Caras’ após ver uma pesquisa. ‘É uma doença muito comum, uma das grandes causas da evasão escolar, mas é desconhecida. Quando um garoto começa a ter dificuldades na escola, atribuem à preguiça, mas pode ser dislexia.’

A personagem será Clarissa, interpretada por Bárbara Borges, uma das lésbicas de ‘Senhora do Destino’. Estudiosa, ela sonha ser juíza mas sempre teve dificuldade na escola. Com o incentivo da mãe, acaba passando no vestibular e se torna a queridinha da universidade.

Já o gay de ‘Duas Caras’ terá caso também com mulher. ‘É para mudar um pouco essa história de toda novela ter um casal gay. Sempre brinco que os gays de ‘Paraíso Tropical’ parecem um casal hétero americano do partido Republicano’, diz Silva, bem humorado.’

Cristina Fibe

TV Cultura estréia novo formato de jornal, sem bancada e com ‘improviso’

‘Sai a tradicional bancada, entram poltronas e cenário com jeito de ‘sala de estar’. Sai o teleprompter -monitor onde os apresentadores lêem as notícias-, entram a memória e o ‘improviso’. Sai Heródoto Barbeiro (que será comentarista do programa), entram Michele Dufour e Raul Lores.

O novo formato do ‘Jornal da Cultura’, que estréia amanhã e vai ao ar de segunda a sábado, às 22h, pretende ser uma ‘conversa’ com o espectador, um programa ‘mais informal, menos pomposo’, diz Lores.

O objetivo, afirma, é ‘aprofundar os acontecimentos do dia’ para um público que, ‘supostamente, já sabe as principais notícias’ naquele horário.

Ao contrário de Dufour, que já apresentou o ‘Cultura Meio-Dia’, Raul Lores não tem experiência em televisão. O jornalista trabalhou em veículos impressos, como a ‘Veja’ e, mais recentemente, a Folha.

‘Acho que é por isso que aceitei’, diz, sobre o fato de estrear ao vivo e sem recorrer ao teleprompter. ‘Se eu já tivesse feito TV acharia muito arriscado, muito difícil. Não conhecer me faz ser mais ousado.’

O coordenador do núcleo de jornalismo do canal, Paulo Roberto Leandro, afirma que o formato surgiu de uma discussão, ‘pós-Paulo Markun [que assumiu a presidência da emissora em junho], sobre como o jornalismo e outras áreas poderiam procurar caminhos para ampliar a prestação de serviços’. ‘Para isso, os recursos convencionais acabam limitando um pouco o jornalista’, diz.

‘Não estamos banindo o ‘TP’, vamos usá-lo só em condições excepcionais, por uma razão simples: o Raul é editor-chefe e a Michele é uma das editoras, eles acompanharão a execução do jornal todo.’

Segundo ele, ‘não é perfil da Cultura ter ‘hard news’ às 22h’, e a participação de entrevistados e comentaristas, entre eles Alexandre Machado e Renato Lombardi, deve colaborar para ‘facilitar a reflexão’.

O jornal pretende ainda manter um blog em que a equipe comente as notícias durante o dia e que seja um canal para detectar o interesse do público.

SBT

Amanhã, às 19h, estréia o ‘SBT Manchetes’, nova investida do canal no jornalismo, com apresentação de Carlos Nascimento e Cynthia Benini. Nascimento passa a ancorar sozinho o ‘SBT Brasil’ (21h40).’

Lucas Neves

Política divide família na série ‘Brothers & Sisters’

‘Quando o patriarca morre, uma família de Los Angeles herda o negócio administrado por ele e é forçada a confrontar suas fissuras internas. A sinopse levará saudosistas a recordar a extinta série ‘Six Feet Under’, aqui conhecida como ‘A Sete Palmos’. Mas, reforçando a tese de que tudo na TV se recicla, é do drama ‘Brothers and Sisters’, estréia desta quarta, às 23h, no Universal, que se trata.

De ‘Six’, os produtores importaram Rachel Griffiths (a Brenda do clã funerário), agora na pele de Sarah Walker, uma das irmãs do título. Depois de largar um cargo executivo para se dedicar a marido e filhos, ela volta ao mercado num alto posto da empresa alimentícia da família. Logo identificará ‘pontos cegos’ na contabilidade.

Essas irregularidades -e uma discussão com a amante- farão o coração do patriarca Bill parar ao fim do primeiro episódio da série. Mais tarde, a leitura do testamento será a senha para virem à tona rusgas que pareciam apaziguadas.

O documento nomeia Sarah para a sucessão do pai, frustrando o irmão Thomas, vice-presidente do grupo. Para Justin, o caçula que já é veterano de guerra, o choque é a orientação paterna para que Kitty, a irmã com quem tem mais afinidade, cuide das finanças dele.

Quem pacifica o lar é Sally Field, que recentemente recebeu o Emmy de atriz em série dramática pela atuação como a viúva Nora. Ao receber o prêmio, teve o discurso censurado ao vivo pela Fox (cuja inclinação conservadora é notória) ao dizer que ‘se as mães governassem o mundo, não haveria nenhuma des…[som é cortado]… graça de guerra’. A emissora diz que cortou a fala por causa da palavra ‘desgraça’, não pela menção bélica.

Mãe x filha

A política também faz das suas na ficção de ‘Brothers’ -que teve um início instável nos EUA, em setembro de 2006, e chegou a ter o episódio piloto totalmente refeito. Mãe e filha, respectivamente liberal (democrata) e conservadora (republicana), Nora e Kitty mal se falam por causa das convicções políticas conflitantes.

A situação degringolou de vez quando Kitty apoiou a decisão de Justin de ir lutar na guerra do Afeganistão. Na volta do front, os traumas foram aliviados à base de drogas.

Em entrevista por telefone à Folha, na última quinta, de Los Angeles, o ator Dave Annable, 28, intérprete de Justin, diz que a perspectiva de encarnar um veterano de guerra chegou a assustá-lo. ‘Fiquei com medo de não saber fazê-lo, porque é algo [a guerra] com que o país está lidando neste momento. Senti que era uma grande responsabilidade contar a história deles [os soldados] corretamente.’

Para encarar o papel, ele conversou com ex-combatentes em San Diego (Califórnia). ‘Eles me falaram sobre a guerra, a sensação de voltar para casa e, sobretudo, sobre como a relação deles com a família mudou’, conta. O que ele pensa sobre o conflito no Iraque não é desta vez que se saberá. Ele se sai com um comentário genérico. ‘Meus olhos têm estado abertos à guerra por causa do personagem. O que sei é que quero ver nossos garotos de volta para casa sãos e salvos.’

Quando a segunda temporada de ‘Brothers’ começar nos EUA, hoje à noite, Justin terá sido mandado para o Iraque. No retorno, estará às voltas com um ferimento na perna.’

Cássio Starling Carlos

Série traduz atritos dos EUA, mas sem pontapés

‘Relacionamentos familiares são tema recorrente de séries de TV desde seus primórdios. A diferença nas últimas décadas é que os retratos de famílias passaram a enfatizar os desajustes coletivos e individuais, alcançando desse modo um patamar superior de realismo e drama.

‘Brothers & Sisters’, série que estréia nesta quarta, no Universal, começa como outras que a precederam, com esboços já consistentes dos integrantes a partir de pinceladas psicológicas e situações de conflito iminentes ou preexistentes. O episódio piloto se ocupa em tecer essa etapa da trama para que o espectador se interesse imediatamente, sem adiar essa fase e correr o risco de não amarrar a audiência.

O modo como as relações são desenhadas confirma que a família se mantém firme como o grupo com maiores chances de oferecer temperatura e variedade dramática. E ‘Brothers & Sisters’ não economiza as possibilidades de crise, ao incluir temas como o da mãe superocupada, do casamento desgastado, do caçula que foge dos padrões de responsabilidade, de um filho gay e da filha que se foi e retorna para um indispensável acerto de contas.

O mais interessante, entretanto, é como a série assimila outra família, a nação, dramatizando as discordâncias políticas, tema por meio do qual ‘Brothers & Sisters’ faz observações pró e contra o governo Bush e a guerra no Iraque.

Como se trata de uma produção Disney, é bom não esperar a força dos pontapés na instituição, que deram força a séries como ‘Família Soprano’ e ‘A Sete Palmos’. Pois, por mais problemas internos que enfrente, os Walker parecem acreditar que as feridas só se curam sob os cuidados que uma família sólida pode dar.

BROTHERS & SISTERS

Avaliação: bom’

Marcelo Bartolomei

Futura faz dez anos e busca discussão política

‘Com um trabalho voltado a comunidades, escolas e ONGs, o canal educativo Futura dá início à comemoração da sua primeira década.

A celebração desses primeiros dez anos começa amanhã na programação, que traz várias estréias e entra numa área em que o canal ainda não havia conseguido penetrar: a política.

Começa no dia 8, às 22h, uma série de dez documentários realizada em conjunto com 42 emissoras de 33 países, que discutirá e apresentará diferentes modelos de democracia.

‘Queríamos trabalhar para ajudar na formação do eleitor, pois os jovens estão confundindo ação política com o que os políticos têm feito. Vamos fortalecer a ação sem entrar na formação partidária’, diz Lúcia Araújo, gerente-geral do canal.

A necessidade de discutir política começa com ‘Por que Democracia?’ (‘Why Democracy?’). O programa, que será exibido diariamente, vai além dos documentários, que vêm da China, Bolívia, Dinamarca, Japão, Paquistão, Egito, Índia, EUA, Rússia e Libéria.

A série mobilizará parte da grade do canal, com discussões e noticiários, além da participação brasileira no projeto ‘Casa da Democracia’, que reúne dez jovens que vivem juntos numa casa na Cidade do Cabo (África do Sul), numa espécie de ‘Big Brother’, onde discutirão via internet a democracia em seus países. Erick Menezes Peixoto, estagiário do canal e fruto do programa ‘Geração Futura’ (produzido por estudantes) é um dos escolhidos.

Além disso, 11 brasileiros, como Débora Colker, MV Bill e Lenine, entre os famosos e anônimos, gravaram perguntas sobre o tema que serão feitas a representantes mundiais e exibidas durante a programação.

Começa também uma nova temporada do infantil ‘Teca na TV’, programa de esquetes dramatúrgicas de meia hora dirigido às crianças. A atração ganhou novos cenários e personagens, em 65 episódios, e uma versão da personagem em desenho animado.

O canal -que pode ser visto também na TV aberta, por meio de universidades e via parabólica- enfrenta para os próximos dez anos o desafio de ampliar seu alcance no país. Um dos focos é a região Norte, onde tem trabalhado com comunidades da Amazônia para capacitar educadores e ONGs a usarem o conteúdo da programação em seus projetos. ‘A gente não está só no ar mas também na terra. Nosso desafio é como fazer a comunidade se ver representada na nossa programação e como utilizá-la em benefício dela’, diz Araújo.

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL É TEMA DE SEMINÁRIO

Os dez anos do Futura também geram reflexão. O canal, por meio da Fundação Roberto Marinho, realiza, nos dias 8 e 9 em São Paulo, o ‘Seminário Internacional Comunicação para Transformação Social’. O evento reunirá interlocutores de outros países, que apresentarão iniciativas de sucesso. Lúcia Araújo, gerente-geral do Futura, cita exemplos como a Al-Jazeera Children’s Channel, no Iraque.’

Ana Laura Nahas

Band lança amanhã seu ‘Flashdance’

‘As inspirações declaradas de ‘Dance Dance Dance’, novela que a Band coloca no ar amanhã, às 20h15, são os musicais ‘Grease’ (1978), ‘All that Jazz’ (1979), ‘Fama’ (1980), ‘Flashdance’ (1983) e ‘Dirty Dancing’ (1987). À moda de John Travolta, Olivia Newton-John e companhia, a ex-paquita Juliana Baroni estrela aquela que é anunciada pela emissora como a primeira ‘novela musical’ realizada pela TV brasileira.

‘Dance Dance Dance’, o slogan adianta, é uma novela com cara de filme. Folhetim feito com tecnologia de alta definição (assim como ‘Duas Caras’, que também estréia amanhã), a atração investe pesado em imagens que a aproximam do cinema e da publicidade.

Apesar disso, não dispensa os elementos tradicionais do gênero, como o amor cheio de percalços, a disputa de poder, as traições vindas de todos os lados e os conflitos familiares: Sofia Ivanitch ama Rafael Marques Pimentel, mas seu pai (o vilão), sua noiva (a menina fútil) e sua sogra (a sócia do vilão) tentarão afastá-los, enquanto ela batalha para ser bailarina.

‘Teremos de uma a cinco cenas de dança por capítulo’, adianta Elisabetta Zenatti, diretora-geral de programação e diretora artística da Band.

De musical, no entanto, o primeiro capítulo tem uma única cena, em que Baroni e o ator gaúcho Ricardo Martins (‘Chocolate com Pimenta’) dançam um tango e adiantam as idas e vindas afetivas que viverão nos 159 capítulos seguintes.

Cinderela

O diretor da novela, Del Rangel, promete que a coisa muda de figura a partir do quarto episódio.’Primeiro apresentaremos a trama. Depois, teremos todos os aspectos de um musical e uma típica heroína que sai do interior para realizar o sonho de ser bailarina’, define.

A menina em questão tem 29 anos de idade, 18 de carreira e, agora, seu primeiro papel principal. ‘Estou realizando dois grandes sonhos, o de fazer um musical e o de protagonizar um projeto’, conta Baroni, que estudou balé e jazz e fez uma ‘imersão’ em musicais para viver a personagem.

‘Vi tudo: de ‘Moulin Rouge’ aos filmes de Fred Astaire e Ginger Rogers’, enumera.

Algum eco de ‘High School Musical’, série produzida para a TV pelos estúdios Disney e alçada a hit infanto-juvenil e franquia milionária?

Zenatti garante que não. ‘Me inspirei muito mais em ‘Fama’, defende a diretora, que idealizou o projeto ao lado da colombiana Juana Uribe, criadora de ‘Betty, a Feia’.

A idéia, ela diz, é subverter o que se tem visto na teledramaturgia atual. ‘Nossas novelas não podem ser papai e mamãe’, diz Zenatti, a respeito da falta de tradição da emissora no gênero e da concorrente-mor, a Globo, cuja nova novela ‘Duas Caras’ vai ao ar 45 minutos depois de ‘Dance Dance Dance’.’

Bia Abramo

As distâncias entre periferia e centro

‘‘ANTÔNIA’ VOLTOU à TV, depois de uma passagem intrigante pelo cinema. Quando o longa de Tata Amaral chegou aos cinemas, depois de uma temporada bem-sucedida na TV, a expectativa era a de que houvesse uma confluência de públicos, o que não se confirmou.

É claro que a primeira especulação explicativa seja a da existência de um divórcio entre os dois públicos, o de cinema e o de TV. De acordo com ela, os espectadores que se interessariam pelo universo de ‘Antônia’ -feminino, da periferia- teriam se contentado com a série na TV e não teriam ou o hábito ou as condições para ir ao cinema; e, por sua vez, o público de classe média, que vai ao cinema, só teria interesse na periferia quando ela promete as emoções fortes do confronto e da violência.

Pode ser, mas talvez haja algo que escape a essa explicação publicitário-demográfica: mais do que um divórcio, há um abismo de comunicação entre a periferia e o centro que torna os diálogos quase impossíveis.

Sintoma dessa impossibilidade foi o que se viu no ‘Roda Viva’ com Mano Brown: os entrevistados, cada um à sua maneira, desconfortáveis e postiços seja no papel ‘compreensivo’, seja no da ‘proximidade’, o entrevistado sem ter lá muito o que dizer, tanto por conta da própria falta de eloqüência como diante de algo que parecia ser uma não-compreensão do propósito das perguntas.

Ainda assim, foi um dos programas mais importantes da história do ‘Roda Viva’, justamente por ter tornado explícita, quase dolorosa, a dificuldade gigantesca do diálogo. As ferramentas tradicionais fornecidas pelas ciências sociais, pela cultura e mesmo pelo jornalismo, não são mais suficientes para fazer a ponte sobre esse abismo que nos funda. Ou, pelo menos, não da forma como ainda empregamos esses instrumentos a partir do centro.

Pois bem, e ‘Antônia’ nisso tudo? Minissérie e filme são, em tudo, mais positivos do que, digamos, o rap dos Racionais MC’s, e apostam numa possibilidade, se não de diálogo, pelo menos de trânsito. Só que, como sugerem os roteiros dessa segunda temporada, essa circulação está, a todo momento, marcada, definida e, por vezes, truncada pelas distâncias. Mesmo que conduzida por um olhar mais ou menos externo, portanto, também afetado pela distância, as histórias de ‘Antônia’ se dão num regime de mão dupla.

A ficção, entretanto, tem lá seus truques para fazer as coisas acontecerem -ainda por cima se é boa, como é o caso de ‘Antônia’. De qualquer maneira, esses abismos, silêncios e distâncias têm informado algo que parece vital entender.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Veja

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