VENEZUELA
SIP encara imprensa chavista em Caracas
‘Não é nova a hostilidade do governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, em relação aos meios de comunicação privados que lhe fazem oposição. E essas rusgas voltaram à tona nos últimos dias, com a decisão da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, pelas iniciais em espanhol) de realizar em Caracas sua reunião semestral, que se encerra hoje. A SIP, constituída como entidade continental desde 1948, notabiliza-se por denunciar violações da liberdade de expressão e, nos últimos anos, tem alertado para as ações do Estado venezuelano contra a livre imprensa.
´No atual clima político instalado na Venezuela, realizar essa reunião em Caracas foi um grande desafio´, disse ao Estado Earl Maucker, presidente da SIP e diretor do jornal Sun-Sentinel, de Fort Lauderdale, na Flórida. ´Mas de nenhum modo significa provocação. Estamos dispostos a conversar com o presidente Chávez. Ele foi convidado para o nosso encontro, assim como o ministro (de Comunicação e Informação) Andrés Izarra. Também pedimos que nos recebesse, mas, até agora, não tivemos resposta.´
Entre as principais preocupações da SIP em relação ao governo – que, em maio do ano passado, não renovou a concessão da emissora de maior audiência do país, a RCTV (leia ao lado) – estão os casos de assédio fiscal a empresas de comunicação, regulamentações que limitam o direito à informação, ausência de transparência na distribuição de propaganda oficial etc.
´Sempre que ocorre um protesto contra o governo, vejam que coincidência, a Globovisión (emissora de TV privada de linha opositora) chega ao local em minutos´, indignou-se o diretor da estatal Agência Bolivariana de Notícias (ABN), Freddy Fernández, durante o Encontro Latino-Americano contra o Terrorismo Midiático – o ´fórum alternativo bolivariano` organizado pelo chavismo em reação à presença da SIP na capital. A Globovisión respondeu em editorial: ´Não é coincidência, sr. Fernández! É jornalismo independente.` O fórum pró-chavista teve início na quinta-feira, um dia antes do início da reunião da SIP, com denúncias de vínculos da entidade com a CIA e o Departamento de Estado dos EUA. De acordo com a maioria dos participantes, a SIP é o eixo de uma grande conspiração de ´terrorismo midiático` com o objetivo de ´minar os esforços dos governos progressistas para promover justiça social` e de ´atender aos interesses do império e do grande capital´.
Ontem à tarde, um pequeno grupo de manifestantes chavistas encenou uma peça teatral sobre o conflito entre a mídia, o povo, o Estado e o grande capital, na frente do hotel onde se realizava a reunião da SIP. O protesto terminou pacificamente.
IMPRENSA OFICIAL
O governo tem veiculado amplamente a tese da conspiração midiática por meio rede de comunicação do Estado venezuelano, que inclui quatro emissoras de TV – sem contar a Telesul, consórcio formado com outros países sul-americanos do qual a Venezuela é a maior acionista -, duas rádios de alcance nacional, uma agência de notícias e centenas de meios comunitários.
´Nos últimos dias, o ministro Izarra adotou a política de enviar cartas a meios do exterior, como o jornal americano Washington Post e o espanhol El País, para queixar-se do que chamou de campanha contra o governo da Venezuela´, disse o diretor do jornal venezuelano El Nacional, Miguel Mora. ´Não seria mais eficiente o governo deixar de praticar ações negativas, abrir-se ao diálogo e parar de qualificar qualquer meio que lhe faça críticas de subversivo ou terrorista?´
´Não haverá diálogo nem reconciliação entre o governo e os meios de comunicação e a sociedade venezuelana enquanto Chávez e seus ministros não abandonarem a retórica conspiratória, que tacha de traidores da pátria todos os que fazem críticas´, diz Teodoro Petkoff, diretor do jornal Tal Cual.’
Chávez quer fim de imprensa livre, diz relatório
‘O relatório sobre a Venezuela divulgado ontem na reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa, em Caracas, acusou o governo do presidente Hugo Chávez de querer acabar com a liberdade de expressão no país. O informe da instituição afirmou que o objetivo do governo Chávez é acabar com os meios de comunicação independentes, agredir e intimidar jornalistas e eliminar a liberdade de expressão e informação.’
RCTV recupera prestígio e faz crescer procura por TV a cabo
‘Determinada a sobreviver, a Rádio Caracas Televisão (RCTV) – que teve a renovação de concessão para emitir em canal aberto negada pelo governo de Hugo Chávez e saiu do ar em maio de 2007 – começa a recuperar seu prestígio, apesar da limitação da transmissão via cabo. Segundo a diretora do departamento jurídico da emissora, Moirah Sánchez Sanz, que cita números da Câmara Venezuelana de Comércio, a RCTV foi responsável por um aumento de 30% na venda de assinaturas de TV a cabo entre junho e feverereiro.
´Apesar de tudo que sofremos, já somos o canal a cabo de maior audiência da Venezuela, superando até gigantes internacionais, como CNN, Cartoon, Fox, Sony, etc.´, disse Moirah ao Estado. ´Isso é uma demonstração clara de nossa capacidade de resistir à violência de que fomos vítimas.´
A RCTV, com uma grade de programação popular – composta por novelas, programas de auditório, filmes e telejornais – e cobertura nacional, era vista por 70% da população. Muitos analistas venezuelanos atribuem ao fechamento da emissora a derrota de Chávez no referendo de dezembro, no qual pretendia aprovar uma série de reformas constitucionais que ampliariam substancialmente seus poderes e lhe permitiriam candidatar-se a quantas reeleições quisesse.
´O fechamento da RCTV mostrou o cinismo do governo a um setor grande da população que ainda confiava em Chávez´, afirmou o chefe de informação do jornal El Universal, Miguel San Martín. ´Mostrou a face do regime interessada em fustigar o dissenso e calar as críticas por meio da violência política.´
Coincidência ou não, por mais que sejam contestados e qualificados de manipuladores pelo chavismo, dois institutos de pesquisa – o Keller & Associados e o Datum – vêm indicando um acentuado declínio na popularidade de Chávez, situando-a entre 20% e 30%. Nas eleições de 2004, Chávez foi reeleito com quase dois terços dos votos.
A TVes, emissora estatal que assumiu o espaço da RCTV, não decola: sua audiência é de 6% das TVs ligadas e já foi alvo de críticas até de Chávez, que sugeriu a adoção de programas mais atraentes. A principal acusação do líder venezuelano à RCTV, e o pretexto para varrê-la do ar, era a de que ela apoiou o fracassado golpe golpe contra ele em maio de 2002.
A restrição das transmissões da RCTV teve conseqüências drásticas para a empresa. ´Dos 3.000 funcionários que tínhamos, ficaram apenas cerca de 1.500´, diz Moirah. ´Graças a alianças com algumas emissoras estrangeiras, como a colombiana RCN, estamos internacionalizando a programação e recuperando a confiança dos patrocinadores que sempre nos acompanharam. Com isso, temos batido seguidos recordes de anunciantes para emissoras a cabo, o que tem nos ajudado a manter a RCTV como uma empresa economicamente viável.´
Juridicamente, explicou Moirah, a situação da TV segue complicada. ´Há duas semanas, o Tribunal Supremo negou uma medida cautelar que havíamos impetrado. Isso acontece sistematicamente e não vejo como poderemos recuperar o sinal aberto enquanto o Judiciário estiver controlado pelo governo.´’
Chávez X Imprensa
‘Maio de 2000 – Lei Habilitante: Após aprovação de medida, Hugo Chávez é acusado de ampliar seu poder de forma abusiva
Abril de 2002 – Greve na PDVSA: Chávez é acusado por meios de comunicação privados de tentar politizar estatal, após demitir diretores
Abril de 2002 – Tentativa de golpe: TVs culpam chavistas por 15 mortes em confrontos. Chávez fecha 4 TVs, acusando-as de abusar da liberdade de expressão.
Dezembro de 2002 – Greve geral: Manifestantes pró-Chávez atacam sedes de emissoras e jornalistas, que acusam governo de intimidação.
Agosto de 2004 – Referendo: TVs acusam Chávez de ter fraudado vitória no referendo que o manteve no poder
Maio de 2007 – Fim da concessão da RCTV: Chávez se recusa a renovar concessão da emissora, acusando-a de ter apoiado o fracassado golpe de Estado de 2002′
1968
Eventos abriram novos caminhos
‘O escritor Carlos Fuentes viveu de maneira intensa a primavera européia de 1968. Em maio, presenciou a revolta dos estudantes franceses contra o conformismo, saindo às ruas armados de tinta e pichando os muros de Paris com dizeres diversos, como ´A política está na rua´, ´Consumidores ou participantes?` e ´O álcool mata. Tome LSD´. Meses depois, ele viajou ao lado de Gabriel García Márquez e Julio Cortázar até Praga, na antiga Checoslováquia, para visitar Milan Kundera. Lá, dias antes, manifestantes enfrentaram os invasores soviéticos, buscando humanizar o comunismo. Finalmente, em dezembro, comoveu-se, a distância, com a decisão do governo mexicano em atirar contra estudantes em uma manifestação – o ´massacre de Tlatelolco´.
Três eventos de grande importância ocorridos em um mesmo ano. ´1968 é um desses anos-constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço´, conta Fuentes, que uniu seus relatos pessoais, escritos no calor da hora, e formou o livro Em 68, que a Rocco lança nesta semana.
Ele conta que, na França, presenciou a insatisfação da juventude parisiense com a ordem conservadora, capitalista e consumidora, que havia esquecido a promessa humanista de luta contra o fascismo. Já a Primavera de Praga não combatia o sistema comunista – humanizava-o, democratizava-o e socializava-o. E o movimento mexicano de 68, no qual o governo de Diaz Ordaz reprimiu violentamente os estudantes em Tlatelolco, representou uma ruptura flagrante entre a legitimidade revolucionária como fundamento de todos os governos.
´Mas, como o maio parisiense, a Primavera de Praga e o ano 68 mexicano sofreram uma derrota de Pirro, ou seja, derrotas aparentes cujos frutos só puderam ser avaliados a longo prazo: derrotas pírricas, vitórias adiadas´, comenta Fuentes, que conversou com o Estado por telefone. ´Os caminhos da democracia e da crítica social se abriram graças aos movimentos de Paris, Praga e México.´
Ainda há muito que se falar sobre os movimentos de 1968?
Sim, mesmo passados 40 anos. O mundo mudou muito, mas uma simultaneidade de eventos marcou aquele ano: Paris, Praga, México e também em Chicago, onde houve eleições. Eventos cruciais como os de 1848, quando revoluções de ruptura entre burguesia e proletariado se estenderam de Paris a Budapeste. Foi essa simultaneidade que me motivou a escrever esse livro.
E são mesmo derrotas pírricas?
Sim. Na França, em 68, desapareceu o velho partido socialista de Guy Mollet. O mesmo aconteceu com Suécia e Argélia. Com isso, abriu-se caminho para um novo socialismo encabeçado por François Mitterrand. Em Praga, a reação à ocupação soviética provocou uma série de movimentos que resultou na queda do muro de Berlim, em 1989, e no fim do poder da União Soviética. E, no México, graças ao sacrifício do movimento estudantil, derrotado naquele ano, abriu-se caminho para a atual democracia mexicana, que certamente não existiria sem os acontecimentos de 68. Portanto, foram movimentos que, embora derrotados, trouxeram muitos benefícios para a humanidade.
Em sua opinião, a história se repete ou se refaz?
Não acredito que se repita nunca. A história é um evento contínuo, mas sempre único. É um engano pensar que haja repetição.
E o que alimenta uma mudança: a nostalgia ou a esperança?
Falamos aqui de duas utopias. Uma é regressiva, que busca a sociedade perfeita. É aquela pregada por D. Quixote aos pastores, a de Ovídio, para quem as pessoas se amam sem conflito ou guerra. E a outra é a utopia do futuro, que busca uma sociedade ideal. Mas creio que não passam de utopias – nossa preocupação tem de ser com o presente, no qual está o passado (nossa memória) e o futuro (nosso desejo). O tempo de se realizar algo é sempre o agora, considerando que a história não é simplesmente uma coleção de fatos, mas um horizonte de possibilidades.
É possível combater a injustiça sem que isso provoque mais injustiça?
Creio que não se consegue a justiça de forma absoluta, instantânea. Veja o caso da eleição americana, na qual hoje uma mulher e um negro disputam a candidatura do Partido Democrata. Isso seria inconcebível antes, não fosse a histórica luta dos negros por seus direitos civis – os mesmos que, nos séculos passados, foram açoitados, sodomizados, jogados ao mar, mortos de fome. E também pela luta das mulheres, que só tinham a possibilidade de ser donas de casa e conquistaram seus direitos pouco a pouco, não de maneira radical. Creio que a atual situação americana é bem ilustrativa. Trata-se de um país cuja independência veio com uma revolução colonial, que não equilibrou os direitos entre homens e mulheres. Houve uma guerra civil para emancipar os negros, seguido da luta pacífica de Martin Luther King. Processos pelos quais se acumulam direitos – às vezes com violência, outros politicamente, mas em luta constante para, ao menos, garantir a manutenção desses direitos acumulados.
Ou seja, embora os ideais mais utópicos tenham sido derrotados, o que se conseguiu foi uma sociedade mais democrática?
Com certeza. Temos vitórias parciais que são mais importantes que derrotas. O direito da mulher, a emancipação do negro, a defesa do meio ambiente, a defesa pela alimentação são alguns trunfos. Não viveremos sem problemas, é certo, portanto, temos de nos socorrer nas soluções do passado para imaginar como resolver.
Ainda é possível dizer que vivemos sob os ares de 1968?
Não, de forma nenhuma. Como disse antes, a história não se repete. O correto é analisar esse fato passado para descobrir o que não conseguimos conquistar naquele momento. Para isso serve a comemoração destes 40 anos – e não a celebração de vitórias particulares.
E o que dizer hoje da frase de Milan Kundera, uma visão bem pessoal do mundo, segundo a qual ´o totalitarismo é um idílio´?
É verdade, porque o idílio vive pouco. O próprio Kundera foi membro do partido comunista checo e viveu os momento que descreve em seus romances. Para o jovem saído da 2ª Guerra Mundial, a liberdade era conquistada via comunismo. Mas logo se percebeu que isso duraria pouco. A lição que fica é a seguinte: não podemos confiar em idílios.
Dez Dias Na Paris DE Maio De 1968
10 Paris amanhece com o grafite ´É proibido proibir – Lei de 10/5/1968´, em resposta à inscrição ´É proibido colar cartazes – Lei de 29/07/1881´, afixada nos muros da cidade. À noite, 20 mil estudantes enfrentam a polícia, episódio que ficou conhecido como ´Noite das Barricadas´.
13 Estudantes e trabalhadores franceses decretam greve geral de 24 horas em Paris, protestando contra políticas trabalhistas e estudantis do governo.
14 A Sorbonne, que havia sido reaberta pelo presidente Charles De Gaulle no dia 11, é ocupada por estudantes.
17 Cerca de 100 mil grevistas ocupam fábricas francesas; aeroportos e a Rádio e Televisão da França são afetadas. 60 mil policiais vigiam as ruas de Paris.
18 Em apoio aos estudantes, Louis Malle, François Truffaut, Roman Polanski, Alan Resnais e Milos Forman retiram seus filmes do Festival de Cannes, que acabam sendo cancelado.
20 Seis milhões de grevistas ocupam 300 fábricas na França; Paris amanhece sem metrô, ônibus, telefones e outros serviços.
21 Trabalhadores ocupam centrais de energia elétrica e luz em Paris.
25 George Pompidou, primeiro-ministro francês, inicia negociações com centrais sindicais que já contabilizam 10 milhões de grevistas por todo país.
29 Cerca de 200 mil pessoas fazem passeata por Paris; confronto entre estudantes e policiais é filmado por Jean-Luc Godard.
30 Charles De Gaulle, presidente da França, dissolve a Assembléia Nacional e convoca eleições gerais, com o apoio das Forças Armadas.’
Elias Thomé Saliba
Única coisa em comum entre os rebeldes era o desejo de rebelar-se
‘Se os historiadores reconhecem revoluções pela torrente de palavras que elas deixaram ou pelo recorde de quilometragem de testemunhos e intérpretes, o movimento de maio de 1968 só perde para a Revolução de 1789. E isso se nos limitarmos ao âmbito da cultura francesa. Porque se considerarmos as barricadas do Quartier Latin como o epicentro de um movimento mais vasto, abrangendo outros acontecimentos daquele ano – da invasão da Checoslováquia à queda de Nixon -, aí a torrente de palavras bateria todos os recordes. Com a próxima efeméride da rebeldia, a tendência é que essa torrente de palavras aumente. As recordações transformam-se no que Unamuno ironizava como ´paixão de maturidade´. Balanços daquele ano dificilmente escapam do emaranhado das lembranças e a época toda corre o risco de tornar-se mais um daqueles ´lugares de memória` onde ficam nossas expectativas nostálgicas.
Talvez seja por isso que as mais notáveis interpretações de maio de 68 só foram unânimes em ressaltar o caráter imprevisível dos acontecimentos. Argumentaram que o protesto tinha sido apenas o estopim de uma tendência cultural de intolerância à autoridade; outros disseram que a Guerra do Vietnã é que foi decisiva; muitos lembraram que a TV é que foi importante, pois deu um inédito alcance mundial aos protestos; ou que a invasão da Checoslováquia pelos russos é que amplificou tudo; houve até quem argumentasse que o maio de 68 talvez nem tivesse existido se os governos não tivessem adotado políticas tão fortemente repressivas…
´Um ano de ruptura com um mundo que parecia pertencer a outra galáxia´, ´combustão espontânea de espíritos rebeldes´, ´turbilhão de efeitos contraditórios´. Se acreditássemos em todas essas designações, teríamos de recorrer à teoria do caos para explicar maio de 1968.
A intensidade seria um sintoma de silenciosa e imperceptível mudança cultural? Intelectuais mais velhos, simpáticos ao movimento (como Sartre), ou antipáticos (como Raymond Aron), pertenciam a uma geração que nunca admitiu uma revolução sem finalidade ou a recusa de uma ordem sem o vislumbre de uma outra alternativa. Por mais intensa que fosse como experiência emocional, ética ou estética, toda revolução deveria ter um objetivo político. Hobsbawm expressou a mesma simpatia e incompreensão: ´O clima entre os jovens de 68 foi revolucionário, mas incompreensível aos velhos esquerdinhas de minha geração, e isso não apenas porque a situação não fosse revolucionária sob qualquer aspecto realista. Parecíamos usar o mesmo vocabulário, mas não falar a mesma língua.` Mas incompreensível mesmo ao historiador talvez tenha sido a incapacidade dos rebeldes em distinguir entre o pessoal e o político. Talvez seja da historiadora Sheila Rowbotham (aluna de Hobsbawm e com 25 anos em 68) o depoimento que mais bem captou essa indistinção: ´Meus sentimentos pessoais já não estavam em primeiro plano. A energia do coletivo externo era tão intensa que as fronteiras da intimidade davam a impressão de estarem se derramando nas ruas.´
A única coisa que os rebeldes tinham em comum era, afinal, o desejo de se rebelar. Mas o que realmente arrastou multidões e empurrou jovens a sacrifícios, prisões, mortes foram aquelas criativas bandeiras, que mixavam irreverência chocante com inocência quase esquisita, apagando diferenças entre o pessoal e o político. Derradeiros espasmos de uma utopia do coletivo que se diluiriam num individualismo cético, hedonista e carente de qualquer eixo de gravidade? Difícil saber. Até porque hoje seria quase impossível replicar a intensidade emocional daquela torrente de palavras no cotidiano dispersivo de nossos blogs, podcasts e mensagens eletrônicas.
Elias Thomé Saliba é historiador, professor da USP e autor, entre outros livros, de As Utopias Românticas’
Jotabê Medeiros
Todo mundo quer saber: quem é essa garota?
‘No filme Quem É Essa Garota?, Madonna atuava e cantava a música-tema, que falava de uma garota que, quando você a avistasse, era melhor ´fazer uma oração e beijar seu coração´, porque ela era fogo. ´Quien es esa niña, who´s that girl?/ Señorita mas fina/ who´s that girl?´, cantava Madonna.
Bom, a garota da foto não chegava a ser uma Nikki Finn, mas em 1979 ela passou um carão histórico no então presidente do regime militar, João Baptista de Oliveira Figueiredo. O general linha-dura caiu do cavalo ao ter de enfrentar uma menina parada dura.
Estava tudo pronto para um evento protocolar, daqueles em que políticos posam com crianças para aparecer na capa do jornal do dia seguinte. Não tem erro: criança na foto é sempre algo popular e simpático, e amolecem mesmo a imagem de um general que dizia não gostar do cheiro do povo, como era Figueiredo.
Foi assim que o fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky descreveu a cena que ele testemunhou, e registrou de forma irretocável: ´Lançamento do carro a álcool em Belo Horizonte. A imprensa mineira e a nacional estavam presentes e um grupo de crianças foi levado ao Palácio da Liberdade para cumprimentar o presidente Figueiredo. Deu zebra: a primeira da fila negou o aperto de mão ao Presidente da República, apesar dos pedidos dos fotógrafos. Percebi que não aconteceria o aperto e fotografei.´
O autor da foto, hoje com 69 anos de idade e mais de 50 de profissão, tem no currículo uma respeitável história de coberturas fotográficas de eventos políticos no País. Trabalhou para as revistas Manchete, Fatos e Fotos e IstoÉ e para os jornais O Globo, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Última Hora, entre outros.
Na ocasião, Nicolaevsky trabalhava para O Globo. ´Corri para a redação para revelar e transmitir a foto para o Rio. Para minha surpresa eles não publicaram a foto! Desconfiaram! Queriam o ´cumprimento´. Fui ameaçado de dispensa caso não entregasse o fotograma. Foi exigido que mandasse o filme sem cortá-lo no primeiro vôo para o Rio. O que foi feito. Não publicaram nada… Resolvi, por minha conta, mandar para outros veículos, que publicaram com destaque até no exterior´, contou.
O site Pictura Pixel Electronic Photomagazine deu a partida na história, ao republicar, no dia 1º de fevereiro, com texto do fotógrafo Cláudio Versiani, a foto esquecida de 1979. A partir daí, o fotógrafo Juvenal Pereira e Juliana Resende, da agência noticiosa BR Press, iniciaram a campanha Quem É Essa Garota?, motivada pelo Dia Internacional da Mulher, que se alastrou pela blogosfera, chegou ao blog do jornalista Luis Nassif e a algumas publicações do País, como o Jornal do Commercio.
´A fotografia é o ´meio` definitivo para se registrar a história. Uma fotografia você pode pegar na mão ou olhar na tela do computador, ou ainda na parede, por quanto tempo quiser. O vídeo, que é uma linguagem que hoje se mistura com a fotografia nos multimídias dos jornais e websites de fotografia, não se presta a isto´, considera o fotógrafo Claudio Versiani, que começou a carreira em 1978, em O Globo, em Belo Horizonte, onde conheceu Nicolaevsky.
´Eu era um estudante de jornalismo fazendo o primeiro trabalho free lance de minha vida e Guinaldo, um experiente profissional. Ele me recebeu de braços abertos, como se costuma dizer, e me ensinou as chamadas manhas da profissão. Guinaldo Nicolaevsky é daqueles amigos para toda a vida.´
A garota marrentinha (e corajosa) da foto hoje teria uns 35 anos, segundo estimativas dos fotógrafos. Com o retorno da imagem à internet, muita gente apareceu para comentar ou teorizar sobre o trabalho. ´É o melhor retrato da ditadura que vi em minha vida´, disse o cineasta Silvio Tendler. Mas nada de a protagonista aparecer, pelo menos até agora.
O blog do jornalista da área econômica Luis Nassif, ao comentar a campanha, recebeu dezenas de e-mails. ´Maravilhosa foto e menina. É a porcaria da ditadura ali, exposta, didaticamente´, escreveu o jornalista.
Como uma ação puxa outra, Juvenal Pereira acabou entrando em contato com Nicolaevsky, que está um pouco adoentado, pedindo autorização para indicar o seu trabalho fotográfico para a Coleção Pirelli Masp de Fotografias. O professor Rubens Fernandes Júnior, um dos curadores da coleção, concordou em avaliar o material, e a filha de Nicoaevsky, Bertha, permitiu que as imagens sejam analisadas e, futuramente, tornem-se objeto de uma exposição.
´Ele está com a voz fraquinha, convalescendo de outra cirurgia, e autorizou a indicação´, contou Pereira. Falando à reportagem por telefone, Nicolaevsky, que tem um desbragado senso de humor, diz que tem tido ´notícias animadoras` dos seus médicos, mas sua recuperação depende que ele coma. ´E eu tenho apetite zero. Se eu ainda estiver vivo no domingo, quando sair a sua matéria, compro um exemplar´, brincou.
Ele conta que, naquele dia em que a menina se recusou a apertar a mão de Figueiredo, o general nem o viu fotografando. A garota, recorda, se recusou terminantemente, e não apertou mesmo a mão do general. ´Só mesmo criança inocente.´
O fotógrafo diz que ficou ´sensibilizado` com a mobilização. Para ele, o registro foi importante – entre outros da época – porque ´ajudou muito o povo brasileiro a demover os militares que se assenhoraram no poder´. A foto, entretanto, embora tenha ficado famosa, só foi publicada em jornais alternativos e de esquerda. ´Eu cedi, para que ela não se perdesse.´
Nicolaevsky começou a fotografar aos 15 anos e teve carteira assinada como fotógrafo profissional aos 18 anos. ´Meu primeiro instrutor foi Alaor Barreto´, lembra. Dali em diante, trabalhou no jornal do PCB, no Última Hora de Samuel Wainer, entre outros.
Sua filha, Bertha, enumerou alguns de seus trabalhos que ele mais preza: um ensaio sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade e outro sobre Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e um registro do trabalho do pintor Candido Portinari em seu ateliê no Leme, no Rio, entre outros.
A Copa do Mundo de 1994, que cobriu nos Estados Unidos, foi para ele ´uma Copa relativamente fácil´, com poucos picos dramáticos. Um deles foi uma cotovelada do lateral Branco, que deixou um adversário sangrando bastante. ´Os Estados Unidos surpreenderam o Brasil naquela Copa.´
Guinaldo Nicolaevsky orgulha-se de ter nascido em Vila Isabel, e até cantarola o lendário samba de Noel Rosa, Feitiço da Vila, para afirmar sua satisfação com o fato. ´São Paulo dá café, Minas dá leite, e a Vila Isabel dá samba.´
O Autor
Guinaldo Nicolaevsky, de 69 anos, filho de imigrantes russos, é carioca de Vila Isabel, terra de Noel Rosa. Um dia, quando tinha 15 anos, o irmão mais velho, que já o tinha apresentado ao Partido Comunista (PCB), o levou para visitar a redação do diário de esquerda Imprensa Popular. ´Fiquei fascinado.` Dali em diante, começaria uma carreira que o levou aos principais veículos de imprensa do País, como Estado, Folha, Manchete, O Globo. Sua última grande cobertura foi a Copa de 1994, nos Estados Unidos.
Meninos & Regimes
REVOLUÇÃO INFANTIL: O presidente João Figueiredo não tinha mesmo sorte com as brigadas infantis: no dia 4 de maio de 1979, durante uma cerimônia solene, o menino – alheio ao sisudo ritual militar – passou em disparada ´fuzilando` os milicos, em foto do veterano Alencar Monteiro para o Estado. Monteiro fotografou, entre outros lugares, no Alto Xingu, onde registrou índios doentes na década de 70.
VIETNÃ, 1972: O fotógrafo vietnamita Nick Ut fez a famosa foto da menina Kim Phuc correndo pela estrada em desespero após sua aldeia ser bombardeada com napalm, em 1972. Apesar da força da imagem, um editor da Associated Press rejeitou inicialmente o material por conter nu frontal. O escritório central em Nova York avaliou de maneira diferente. A garota foi levada para a América e recebeu tratamento. Kim Phuc, que hoje vive no Canadá, disse que Nick Ut salvou a vida dela. Ambos são amigos. Ut começou a fotografar com 16 anos para a AP depois que seu irmão, Huynh Thanh My, foi morto no conflito.
OLHOS DE MEL: Esta foto clássica está em exposição em São Paulo no momento, na mostra Magnum 60 Anos, que ocupa a Caixa Cultural. O fotógrafo Steve McCurry fotografou para a capa da National Geographic a menina afegã Sharbat Gula, em 1985. Ela foi reencontrada 17 anos depois, pelo próprio McCurry, e a mudança em seu rosto fica como testemunha de uma vida sofrida num país sofrido, o Afeganistão.
DESCONFIADO: O garoto se vestiu a rigor, está seriamente concentrado no discurso do presidente militar, mas sua expressão parece ser de incredulidade. O crédito no verso da foto está difícil de identificar, mas parece ser de Reginaldo Manente, autor do famoso flagrante do jovem torcedor chorando após a eliminação do Brasil na Copa de 1982. A imagem ocupou toda a primeira página do Jornal da Tarde.’
CONDOLEEZZA
As histórias de uma moça nem sempre bem-comportada
‘Quando a mulher Hillary Clinton e o negro Barack Obama ambicionam a presidência americana, pelo Partido Democrata, é fascinante saber mais sobre a vida e a ambição da mulher negra (e republicana) Condoleezza Rice, Condi para os íntimos e não íntimos. Elisabeth Bumiller, veterana repórter do New York Times, nos presenteia com uma biografia da secretária de Estado e ex-assessora de Segurança Nacional Condoleezza Rice: An American Life (Random House, 400 págs., US$ 27,95), que é, ao mesmo tempo, simpática (em respeito ao vigor pessoal de Condi) e dura (por sua frouxidão e cumplicidade nos fiascos da política externa americana).
Condi nunca passou privações na vida. Filha de uma família culta e rigorosa (pai era pastor presbiteriano e a mãe, professora), foi preparada para superar os obstáculos da segregação racial no Alabama, onde nasceu em 1954, no alvorecer da luta pelos direitos civis.
Seus pais a protegeram da segregação para que ela não se sentisse cidadã de segunda classe. O resultado é que esta mulher altamente competitiva (que antes da carreira acadêmica se aperfeiçoou como pianista clássica e patinadora no gelo) nunca demonstrou grande sensibilidade pela política das cotas raciais (ou mesmo pelos direitos da mulher), como evidenciaram as controvérsias que marcaram seu mandato como reitora da Universidade de Stanford.
Ironicamente, Condi deve sua ascensão à política de cotas e a uma série de mentores, todos homens brancos que a trataram com condescendência. Por sua competitividade e disciplina, ela provavelmente daria certo na vida, mas quem sabe se chegaria lá em cima, como a mais poderosa mulher negra da diplomacia americana, sem a ajuda da história e de um punhado de homens brancos.
O poder significa responsabilidades. Por sua intimidade com a dinastia Bush, Condi atingiu o centro do círculo decisório com o atual presidente. Como lembra Elisabeth Bumiller, o inexperiente e ignorante George W. Bush ficou à vontade com esta mulher que poderia tanto falar de política externa, como de futebol americano. Ela dava autoconfiança a Bush.
O preço é que no primeiro mandato de Bush, quando era assessora de Segurança Nacional, Condi negligenciou sua função. Na condição de confidente, ela estimulou os impulsos do unilateralismo caubói de Bush e não desafiou a dupla da pesada Dick Cheney e Donald Rumsfeld (respectivamente, vice-presidente e secretário de Defesa). E não alertou o presidente sobre os sinais de perigo antes dos atentados do 11 de setembro e, mais tarde, sobre os riscos da aventura iraquiana.
Elisabeth Bumiller é mais camarada com a Condoleezza Rice secretária de Estado. Diz que no cargo ´ela tentou construir estabilidade das ruínas da política iraquiana que ela ajudou a criar´. Os resultados são mistos, como demonstram as crises nucleares da Coréia do Norte e do Irã. A possibilidade de dar a volta por cima é fruto da ´contínua reinvenção` de Condi e também do carreirismo. Um importante mentor foi Brent Scowcroft, ex-assessor de Segurança Nacional do primeiro presidente Bush. Realista por excelência, ele se desiludiu com os rumos idealistas da política externa americana na invasão do Iraque. Bumiller escreve que Bush filho e Condi ficaram ´furiosos` com as objeções do velho sábio. Condoleezza telefonou para o mentor e mandou bala.
A troca de lealdades era natural. Em uma avaliação implacável, Elisabeth diz que ´a verdadeira ideologia de Condi era ter sucesso´. Com tanta ambição, a curinga Condi pode ser ainda carta do baralho político. Entre as figuras do governo Bush, Condoleezza sempre conseguiu preservar alguma popularidade. Em caso de triunfo deste presidente, ela poderia ter sido candidata na certa à sua sucessão. Fala-se que uma ambição menor teria sido concorrer ao governo da Califórnia. Condi está na bolsa de especulações como companheira de chapa do republicano John McCain nas eleições de novembro.
Incredulamente, a Bush o que é de Bush. Quem diria. O presidente republicano trouxe um homem negro (Colin Powell) e uma mulher negra (Condoleezza Rice) para o círculo mais íntimo do poder, abrindo assim novas possibilidades históricas. Condi talvez nunca chegue ao pináculo, mas sua ascensão pode até facilitar o triunfo de uma mulher ou de um negro da banda rival dos democratas.’
TELEVISÃO
Menina, eu sou é homem. Sou?
‘Ele é moreno, tem 1,80 m de altura, barba, voz grossa e um andar másculo. Seu personagem na novela Beleza Pura, da Globo, lembra os galãs do cinema antigo e já está arrasando corações.
Pela descrição, parece se tratar de Reynaldo Gianecchini. Mas não. Quem dá vida ao dr. Mateus é a atriz Mônica Martelli, que também faz Helena na trama, mulher que perdeu o marido farmacêutico em um acidente e, para sustentar o filho asmático, assume o lugar do falecido em uma clínica estética.
Ver uma mulher bancar o macho na TV é bem menos comum do que assistir a homens travestidos. Mas de qualquer maneira, esse personagens à Tootsie – filme que um ator desempregado faz o maior sucesso quando finge ser mulher – sempre divertem.´Os homens me perseguem. Em minha primeira peça profissional, eu era Menelau, o rei de Esparta´, conta a atriz.
Por ser alta, Mônica diz que seu tipo físico deve tê-la ajudado a ganhar o papel na novela das 7. ´Gravando com o Humberto Martins, ficamos quase do mesmo tamanho. E olha que uso sapato de homem.` Segundo ela, além da estatura, a produção não estava atrás de uma humorista, mas de alguém que fizesse drama e comédia.
E se você pensa que ter aparência masculina é algo rápido, que basta colocar um bigodinho, está enganado.
´Leva uma hora para pôr a barbicha. A Valéria Toth (responsável pela maquiagem) cola fio por fio para fazer o acabamento. Fica muito natural.´
Mesmo tendo uma voz grave, Mônica acredita que o mais difícil foi achar o tom certo para o dr. Mateus. ´Faço fonoaudiólogo há muito tempo e pratico exercícios vocais meia hora antes de entrar em cena. Mas geralmente acabo ficando rouca.´
ADEUS, PÊLOS
Sempre presentes em humorísticos , os personagens de sexo trocado fazem parte da história da teledramaturgia. Glória Menezes que o diga. Em 1966, ainda na TV Excelsior, ela viveu Cristina e Cristiano, em Alma de Pedra, novela em que se passava por homem para vingar o pai assassinado. Seu personagem, assim como o de Mônica, foi obrigado a usar barba postiça.
Mas na hora de saber quem sofre mais na pele do outro, os homens largam na frente. Para Lúcio Mauro Filho, que, em 2003 e 2004, fez parte de Sexo Frágil (em que todos os atores se vestiam de mulher), além da maquiagem, o pior era ter de depilar a sobrancelha e colocar um extensor que puxava o rosto para dar um ar mais delicado. ´Dos meninos, só eu não tinha de depilar as pernas, por causa de A Grande Família. Passamos a entender as mulheres. Elas sofrem demais´, fala o ator.
Em Bang Bang (2005-06), Evandro Mesquita e Kadu Moliterno passaram apuros como as irmãs Henaide e Denaide. ´A maquiagem era terrível. Aquele lápis de olho, o pancake, era chato pra caramba! Demorava mais de uma hora para fazer, porque tinha de esconder a sobrancelha. Mais para o fim da novela, começamos a simplificar, porque já não agüentávamos´, conta, sem saudades e traumatizado, Evandro Mesquita. O ator ainda é categórico. Se o chamassem para um novo papel feminino, a primeira resposta seria um sonoro ´não!´.’
Etienne Jacintho
Abril trará novas temporadas
‘Além da estréia de Pushing Daisies, o público do Warner Channel também poderá conferir o 4º ano de L Word, que finalmente chega à grade do canal este mês. Na Sony, a novidade é a chegada da 7ª temporada de Scrubs. Já a Fox traz o 5º ano de Nip/Tuck. O FX adiou a estréia da nova temporada de My Name Is Earl. Confira as estréias do mês e os horários de exibição:
Pushing Daisies – Série inova no visual e conta a história romântica e divertida de Ned, que tem o poder de ressuscitar os mortos. A atração foi muito bem de crítica e conquistou fãs fiéis nos Estados Unidos. É, com certeza, um dos melhores lançamentos do ano por aqui. Dia 10, às 21h, na Warner.
L Word (4ª temporada) – Depois da morte de Dana e de Shane ter abandonado Carmen no altar, as mulheres de L Word voltam para mais romances complexos como o caso entre Jenny e Moira, que está indecisa sobre sua operação para trocar de sexo. Dia 7, às 22 h, na Warner.
Scrubs (7ª temporada) – J.D. tenta resolver seu romance com Elliot, mas acaba desistindo. Neste ano, Tom Cavanagh volta a participar da série como o irmão de J.D. O convite surgiu como uma brincadeira anos atrás, por causa da semelhança entre Tom e Zach Braff. Dia 22, às 20h30, na Sony.
Nip/Tuck (5ª temporada) – Os cirurgiões plásticos Sean e Christian se mudam para Los Angeles e precisam conquistar a nova e exigente clientela. Dia 23, às 22h, na Fox.’
Ubiratan Brasil
Os encantos do amor surreal
‘O diretor tem um nome complicado para nossos parâmetros, Bakhtiar Khudojnazarov, mas esse jovem (nasceu em 1965) do Tajiquistão é autor de um dos filmes mais simpáticos e originais dos últimos tempos. Luna Papa (Lume), de 1999, tem como narrador um bebê que ainda está no ventre da mãe, Mamlakat. Essa garota de 17 anos quer ser atriz. É órfã de mãe. O pai cria coelhos, e o irmão ficou retardado por causa da explosão de uma bomba. Mamlakat não se cansa de proteger o irmão, mas não cuida de si mesma – acaba seduzida, numa noite de lua, por um desconhecido que afirma ser ator. Ele some. O pai e o irmão saem em sua busca. Querem que ele repare o mal que causou casando-se com Mamlakat. A repressora população da cidade discrimina a garota, chamando-a de prostituta. A história conta ainda com mais personagens – um aviador que lança um touro do céu e um médico que compra sangue e perde dinheiro nas cartas. Ambos tentam assumir o filho de Mamlakat, mas a narrativa toma sempre rumos inesperados que fazem Luna Papa ganhar cores surreais. É nesse momento que o diretor exibe seu talento, criando imagens insólitas e inesquecíveis.’
Júlia Contier
Tem casseta nova na área
‘Sangue novo nas Organizações Tabajara. A Globo estréia nesta semana sua nova programação, e Cláudia Rodrigues marca sua entrada na trupe do Casseta & Planeta. Com o fim de A Diarista, a humorista entra no lugar de Maria Paula, que está em licença-maternidade. A seguir, um papo com a nova casseta.
Como foi o convite para fazer parte dos cassetas?
O Claudio Manuel me ligou e eu aceitei na hora porque sou muito fã deles.
E você vai interpretar vários personagens, a Diarista…
Não, a Diarista não vai. Eu já tinha falado na reunião que não. Aí a imprensa inventa umas coisas. Vou com a Sirene, acho, a empregada que eu fazia no Sai de Baixo. Não quero usar a Marinete, porque tenho esperança de que ela volte.
Por que A Diarista acabou?
Acabou porque acabou, a casa resolveu dar chance a outras coisas.
Você está participando do processo de criação dos cassetas?
Não, a gente troca muita figurinha no estúdio, mas eles fazem isso há muito tempo.
Vocês se divertem nas gravações?
Todo mundo acha que em programa de humor a gente ri o tempo todo, mas não é assim.
Para quem já foi protagonista, acha que é descer fazer algo em um grupo?
Estou tranqüila. Se as pessoas vão achar: ´Nossa, ela desceu, ´tá` fazendo Casseta.` Ué, o País é livre, não é?
Quando A Diarista acabou, ouvimos histórias de que teria sido por desentendimento.
Olha, não quero falar do fim da Diarista. Não agüento mais, a gente fala uma coisa, já desdobram, ligam pra Dira (Paes), ligam pra outro. É tanta gente morrendo no País e nêgo querendo saber o que aconteceu, se foi uma briga, se não foi…
Tem vontade de ficar fixa no Casseta?
Estou lá só há duas semanas. Acho até arrogante da minha parte falar que eu quero ficar.
Então, boa sorte nessa fase de gravações.
Obrigada. Estou honrada. Chamaram um monte de gostosona e chamaram a comediante pra dar conta dos cassetas. Falo: ´Olha aí, cadê as peitudas?` Isso foi uma piada.’
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