PIRATARIA
Manhunt 2 chegou às bancas de camelôs antes do lançamento
‘Probido em alguns países, devido às cenas fortes, o jogo foi beneficiado pela polêmica mundial Considerado o jogo mais violento e polêmico produzido até hoje, Manhunt 2 chegou às lojas na quarta-feira 31, não por acaso a data em que os americanos comemoram o Dia das Bruxas. E veio mostrar que as constantes comparações do mundo dos videogames com a indústria do cinema não são mera semelhança. A exemplo do lançamento do filme brasileiro Tropa de Elite, versões piratas do software chegaram aos camelôs com semanas de antecedência.
O vazamento, atribuído a um funcionário da Sony na Europa, alimentou as discussões sobre o teor da trama, que tem tudo para se tornar um sucesso no mercado. O que equivale a dizer que o jogo tem potencial para desbancar o faturamento de um blockbuster das telonas. O game mais famoso do ano, Halo 3, produzido para o console Xbox 360, da Microsoft, arrecadou 170 milhões de dólares no primeiro dia de vendas, e com isso ultrapassou a bilheteria da estréia de Homem-Aranha 3, de 150 milhões de dólares.
Vendido por cerca de 30 dólares (nas bancas de camelôs brasileiros, é encontrado por apenas 10 reais), Manhunt 2 recebeu classificação indicativa M, ou ‘mature’, restrito a jogadores maiores de 17 anos, dispostos a se passar por um assassino que escapa de um manicômio. A crítica de um site especializado, o Ars Technica, detalha bem a polaridade com que foi recebido o lançamento: ‘Seria melhor para a indústria dos videogames se estivéssemos defendendo um produto que fizesse algo mais com a violência do que simplesmente esfregar nosso nariz nela’. A decepção traduz a batalha que se deu para viabilizar a publicação do jogo, que passou por censuras.
Em junho, o órgão responsável pela classificação dos videogames nos EUA, o ESRB, disse que Manhunt 2 receberia a indicação AO, só para jogadores maiores de 18 anos, o que inviabilizaria a venda em grandes cadeias como a Wal-Mart. Uma versão modificada foi submetida pelos desenvolvedores, a Rockstar Games, e liberada para venda com classificação M.
O mesmo não aconteceu em alguns países da Europa. No Reino Unido, o conselho de classificação de filmes, BBFC, analisou as duas versões. A primeira recebeu a proibição total de venda e a segunda, com a violência de algumas execuções reduzida, recebeu o mesmo destino, o banimento. Mesmo assim, o jogo pode ser comercializado legalmente pela internet, para ser baixado nos computadores. A estratégia exploraria uma brecha na lei, que veta a venda apenas em lojas físicas.
‘O impacto das revisões do tom sombrio, ou da natureza essencial do jogo, é claramente insuficiente. Existe uma certa redução no detalhe visual de algumas mortes por execução, mas em outras a natureza visceral e casualmente sádica permanece’, disse David Cooke, diretor do órgão. A desenvolvedora recebeu sugestões de mudanças para que a venda fosse liberada, mas respondeu que ‘são inaceitáveis e representam um passo para trás para os videogames’.
A proibição não impediu que a versão original, sem cortes, chegasse às mãos dos jogadores. Um empregado da Sony européia recebeu uma cópia sem cortes e a distribuiu pela internet. Embora a empresa o tenha demitido, os donos de PlayStation 2 puderam testá-lo muito antes do lançamento. O que parece só ter aumentado a expectativa em torno do título.
A Rockstar, desenvolvedora do título, é conhecida pelos temas polêmicos que aborda. A série Grand Theft Auto coloca o jogador na pele de um criminoso que precisa cumprir tarefas para subir na hierarquia de gangues urbanas. Isso se dá por roubos de carros, motos, tráfico de drogas, assassinatos e até o gerenciamento de uma rede de prostituição.’
GLOBO
Tempos obscuros, ainda
‘Na edição 468 (de 31 de outubro de 2007), CartaCapital publicou uma reportagem de capa assinada pelo jornalista Alisson Avila. O texto trazia informações inéditas sobre a queda de audiência da TV Globo neste ano e o conseqüente crescimento da Record e de outros concorrentes. Baseava-se em números oficiais de restrita circulação do Ibope, principal instituto a medir a participação das emissoras no mercado.
Originalmente, Avila, um experiente repórter especializado em mídia, iria publicar as informações no veículo onde trabalhava, o jornal Meio & Mensagem. Mas, como os tempos andam estranhos, para não dizer coisa pior, no jornalismo brasileiro, em vez de ver seu trabalho exposto com destaque nas páginas do diário, o jornalista acabou demitido. Avila recusou-se a promover alterações, solicitadas à diretoria do Meio & Mensagem pela Rede Globo, com o objetivo de minimizar o enfoque da reportagem, desfavorável à tevê da família Marinho.
Não foi o primeiro caso no Meio & Mensagem em que um profissional foi demitido por pretender simplesmente narrar os fatos como eles são, princípio basilar da profissão. No ano passado, o editor Costábile Nicoleta foi convidado a deixar a empresa após a publicação de um texto sobre a morte de Octávio Frias que relatava as próximas relações do publisher da Folha de S.Paulo com a ditadura militar. Coisa que até os paralelepípedos da alameda Barão de Limeira estão cansados de saber. Em nota oficial, tanto a Globo quanto o M&M negaram interferências no trabalho de Avila. Segundo a direção do Meio & Mensagem, ele foi demitido não por causa do conteúdo, mas pelo tom da discussão com a editora do jornal, Regina Augusto.’
Não há dinheiro que nos compre
‘Graças ao site Comunique-se, que decidiu investigar o caso, soube de nova reação da Globo à recusa, de nossa parte, de um anúncio que se destinava à edição especial, já nas bancas, sobre As Empresas Mais Admiradas no Brasil. Resulta de uma pesquisa realizada, com total independência, pela TNS InterScience, sem qualquer interferência da Editora Confiança e desta revista.
Quem responde pela Globo é Luis Erlanger, diretor do CGCom. Parece ter encontrado o caminho do xeque-mate ao acentuar que foi o setor comercial de CartaCapital que procurou a Globo. A bem da melhor compreensão dos leitores, esclareço a seguir.
Primeiro, todos os premiados da pesquisa foram procurados pelo departamento comercial da revista, inclusive a Globo, 20ª classificada.
Segundo, a Globo, ao sabor de uma criatividade digna das Panzer Divisionen da Wehrmacht, buscou espaço de uma página para um anúncio nitidamente ofensivo.
Terceiro, respondemos que não poderíamos sair com aquele, por razões óbvias, mas que de bom grado publicaríamos outro disposto a não nos ofender.
Quarto, a Globo achou por bem desistir do espaço, o que é seu direito.
Quinto, as declarações de Erlanger, que enfeitam o post do Comunique-se, insistem em expor a sutileza da Divisão Panzer.
Diz Erlanger: ‘O que ele (ou seja, eu) sonegou aos seus leitores foi que o setor comercial de CartaCapital entrou em contato oferecendo espaço para o anúncio. Como nós íamos ficar sabendo da pesquisa?’ Pois todos os premiados não sabiam da pesquisa, e todos foram contatados no mesmo momento. Elementar, Conselheiro Acácio.
Mas os Panzer teimam em estacionar em El-Alamein. Afirma ainda Erlanger: ‘Só achamos que a revista que vive em campanha contra a Globo talvez acolhesse a nossa criatividade. Quer dizer que apesar de tudo que eles condenam o nosso dinheiro é bem-vindo?’
Não percamos tempo para comentar a criatividade global. Vale acentuar apenas que CartaCapital, ao contrário de inúmeros brasileiros graúdos, e dos miúdos sujeitos à doutrinação dos sabujos do poder, não teme a Globo, que ao longo de sua afortunada trajetória se esmerou em inúmeras campanhas de porte proporcional ao poderio dos seus tanques.
A favor do golpe de 1964. A favor do golpe dentro do golpe de 1968. A favor das violências da ditadura de sorte a não sofrer qualquer gênero de censura jornalística. Contra as Diretas Já. A favor da candidatura de Fernando Collor em 1989. Sistematicamente contra a candidatura Lula em 1994, 1998, 2002 e 2006, sem deixar de recorrer, em diversas oportunidades, a lances de inaudita baixeza, enquanto, como os demais da mídia, trombeteava imparcialidade.
Segundo CartaCapital, a Globo, favorecida acintosamente pelos ditadores de plantão, com a inestimável contribuição do ministro da Justiça de Ernesto Geisel, Armando Falcão, e já em tempos ditos de redemocratização pelo governo Sarney, quando a contribuição decisiva foi a do ministro das Comunicações Antonio Carlos Magalhães, e por inúmeros políticos em todas as conjunturas, é a mais perfeita representação de uma mídia de uma mão só, voltada para os mesquinhos interesses da minoria.
Se uma pesquisa entre mais de 1.200 empresários e executivos a premia, CartaCapital não se recusa a noticiar o fato, ao contrário de outros órgãos midiáticos nativos, prontos a esquecer os méritos dos concorrentes, grandes e pequenos. Não se tome, porém, o bom resultado obtido pela Globo como demonstração de apoio popular.
Enfim, não negaríamos espaço a um anúncio que valorizasse o desempenho sem ofender o veículo disposto a hospedá-lo. E se a questão é o dinheiro, não há quantia que nos compre.’
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.