‘Nome de rua é referência e ao mesmo tempo a essência da cidade, emprestando-lhe face e identidade’. José Borzacchiello da Silva – geógrafo e professor da UFC
O assunto já estava quase esquecido, mas o professor Paulo Elpídio de Menezes Neto encarregou-se de reavivá-lo no artigo ‘À espera de um nome’, publicado no O Povo (Opinião, página 7, 23/3), no qual ele tece considerações sobre a polêmica ocorrida nas páginas deste jornal referente à proposta de mudanças dos nomes das avenidas Beira Mar e da Universidade.
Longe de ser ‘guerra santa’, como disse o articulista, a discussão demonstrou que há pessoas – jornalistas, arquitetos, geógrafos, historiadores, pesquisadores e cidadãos comuns – na sociedade fortalezense que não aceitam mais o sacrifício de nomes de ruas e avenidas para dar lugar a homenagens partidas de vereadores a personalidades ilustres desta terra.
Iniciada com o artigo da ombudsman emérita do O Povo, jornalista Adísia Sá, o assunto mereceu cartas de leitores e outros artigos, como o do geógrafo José Borzacchiello da Silva, motivando também a excelente série de reportagens sobre nomes de ruas e avenidas de Fortaleza, produzida pela repórter Mariana Toniatti.
Da parte deste ombudsman, houve acirramentos de ânimo, é verdade, mas, sem nenhum constrangimento, eu soube reconhecer que havia exagerado em algumas palavras empregadas contra o vereador Paulo Mindêllo, autor da proposta de mudança dos nomes das avenidas Beira Mar e da Universidade para Dom Lorscheider e Reitor Martins Filho, respectivamente. Mas nada retirei – e nem retiro – da essência dos comentários feitos: a defesa do patrimônio imaterial de Fortaleza.
Como diz o leitor e memorialista Luís Edgard Cartaxo de Arruda Júnior ‘O Povo sabiamente alavancou na consciência cidadã dos habitantes de Fortaleza um desejo enorme de resgatar o respeito à história desta capital. Refiro-me às páginas áureas advindas da serie de reportagens sobre nomes de ruas que esse jornal publicou, causando perplexidade e pondo a nu a descompostura com que são tratadas as denominações das vias e logradouros por alguns legisladores desta cidade luz. Sinceramente Fortaleza não merece. Exige-se um mínimo de pudor no trato do passado de nossa história’.
Por mais merecedores de honras que sejam os homenageados, não se pode apagar, sem mais nem menos, nomes já consagrados pela população por mais ‘simples’ e ‘trivais’ que eles sejam.
Os políticos cearenses, especialmente os vereadores, precisam entender que há outras maneiras de homenagear personalidades sem o sacrifício dos nomes das ruas e avenidas já existentes.
É bom também lembrar o artigo 680 do Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza que diz, no parágrafo 3º – ‘Não serão admitidas modificações na denominação já tradicional de logradouros públicos ou bairros’.
‘Paris en colère’
Admirador da cultura francesa, o professor Paulo Elpídio de Menezes Neto teria coragem de propor, em Paris, a mudança do nome Quartier Latin para Quartier Robe-Grillet? Da avenida Champs-Elysées para avenida Charles de Gaulle? Como diz a canção Paris en colère, na voz de Mireille Mathieu, ‘il faut voir les pavés sauter quand Paris se met en colÕre’ (‘É preciso ver as pedras de calçamento saltarem quando Paris fica com raiva’, numa tradução livre).
Troca de assinaturas e de gênero
Seria cômico se não fosse trágico. A assinatura de Simone Pessoa saiu trocada pela de Airton Monte na crônica ‘Briga no pátio do colégio’ (Vida & Arte, 23/3, página 2). Logo no início, notava-se algo errado. O pior é que, nos dias seguintes, O Povo não deu nenhuma explicação sobre o ocorrido e nada saiu na seção ‘Erramos’, embora eu tenha registrado o fato no comentário interno. Ficou o escrito pelo não escrito.
O contraditório
‘Fala Cidadão’. Leitora católica Magnólia Almeida protesta, na carta ‘Com pesar’ (‘Fala Cidadão’, Opinião, página 4) contra o lançamento da coleção de livros espíritas, pelo O Povo: ‘Setores da Igreja Católica já vinham prevenindo a seus adeptos para as investidas contrárias à nossa fé na Semana Santa’. Na mesma edição e no mesmo espaço, Nilze Costa e Silva, em ‘Boa idéia’ (na mesma edição e no mesmo espaço), elogia a iniciativa do jornal em encartar a coleção Sem Mistérios: ‘Achei ótima a preocupação do jornal com a espiritualidade dos leitores’.
É essa pluralidade que faz O Povo um jornal diferente dos outros. Que ela (a pluralidade) seja sempre mantida em todos os temas polêmicos.
Cadeiras cativas
Leitor Humberto Ellery Sobrinho manda duas cartas (datadas de fevereiro, mas eu só as recebi terça-feira, 25/3) para o ombudsman chamando a atenção para as pessoas que, segundo ele, têm cadeira cativa na seção de cartas do O Povo. Entre os nomes citados por ele estão: Godofredo de Castro, Larry Barbosa, João Teles, Geraldo Siffert Júnior e Sérgio Villaça.
Diz ele, numa das cartas: ‘Em oposto aos que não têm vez, fácil destacar os ´sócios vitalícios´ ou ´inquilinos privilegiados´ da seção em referência (Cartas). Entre eles, Godofredo de Castro, Larry Barbosa, João Teles e, máxime, o Geraldo Siffert Jr., um antilulista de carteirinha, cujo prestígio, em relação à citada coluna, chegou ao ponto de ter duas cartas editadas na mesma edição’.’