Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

FHC vs. LULA

Silvio Navarro, Felipe Seligman e Maria Luiza Rabello

País quer quem fale bem a língua, diz FHC

‘O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou ontem o Congresso Nacional do PSDB, em Brasília, afirmando que quer ‘brasileiros melhor educados, e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria.’

O ex-presidente cometeu um erro de português. Especialistas consideram que, de acordo com a norma culta da língua, o correto seria ter dito ‘brasileiros mais bem educados’.

Em suas mais duras críticas desde que começou o evento tucano, FHC não mencionou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nem o PT, mas sua fala foi entendida pelos presentes como uma alusão ao presidente petista.

Em um esforço para tentar separar as denúncias do valerioduto tucano do escândalo do mensalão, o PSDB, no último dia do congresso, deixou para FHC desferir a artilharia pesada contra o governo e o PT, a quem o ex-presidente se refere como ‘elitezinha que se abotoou ao poder’.

O tucano citou Lula logo na primeira frase do discurso, mas, no decorrer da fala, passou a ocultar o nome do presidente Lula. Permeou o discurso com frases para rebater as críticas do PT que o partido e seus membros são elitistas.

‘Nosso partido tem gente acadêmica, não temos vergonha disso. Tem gente que sabe falar mais de uma língua, e também sabemos muito bem falar a nossa língua. Muitos brasileiros ainda não puderam saber falar bem a nossa língua e muito menos as outras’, afirmou FHC para os militantes.

‘E nós faremos o possível e o impossível para que saibam falar bem a nossa língua. Queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria.’

Lula já se referiu em vários discursos ao fato de não ter diploma universitário e disse ser ‘vítima de preconceito’. Em um discurso em setembro, em Santo André (SP), Lula disse que ‘se criou o dogma neste país de que só poderia ser presidente da República quem tivesse diploma universitário. Esse era o dogma, como se pudesse haver qualquer confusão entre a capacidade de gerenciar, a capacidade de tomar decisão política e a quantidade de anos de escola. Os anos de escola servem para um milhão de coisas, mas para decisão política é preciso, antes de tudo, saber de que lado se está e saber se tem consciência ou não de que lado a pessoa está governando ou está tomando posição’.

Na saída do evento tucano, o governador de São Paulo, José Serra, também negou a imagem de que o PSDB é um partido da elite e fez coro à declaração de FHC. ‘Não existe esse estigma [de elite]. Fui eleito e ganhei em São Paulo em todas as regiões e estratos sociais. Minas teve perfil semelhante. O PSDB não é partido de elite, é de gente que trabalha e estuda’, disse.

Sobre o futuro, disse que prevê uma ‘batalha muito dura’ ao PSDB em 2010, mas que o ‘tempo de vacas gordas’ vai desaparecer e que ‘há tempestades lá fora’. ‘Tenho muita informação, sou professor nos EUA, acompanho de perto.’

O tucano também fez questão de falar na crise política com o episódio do mensalão, tema preferido entre os líderes da sigla ontem. Da tribuna da convenção, FHC narrou uma cena ocorrida em 2003, quando ele se despediu de Lula no dia da posse. Afirmou que ouviu do petista que ‘deixava um amigo’ no Palácio do Planalto, mas, com o tempo, seu governo ‘escolheu o caminho do valerioduto e do mensalão’.

O mensalão também permeou o discurso do novo presidente tucano, Sérgio Guerra.’

MÍDIA & VIOLÊNCIA

Fábio Amato E Mario Cesar Carvalho

Radialista sofre novo atentado em São José

‘O radialista João Alckmin foi ferido anteontem por dois tiros quando caminhava pelo centro de São José dos Campos (SP), onde ele apresenta um programa de rádio. O atirador não foi identificado.

Parente distante do ex-governador Geraldo Alckmin, o radialista foi operado ontem para retirar uma bala alojada perto do pescoço e não corre risco de morte. Ele apresenta o programa ‘Showtime’ na rádio Piratininga e é conhecido por denúncias contra a exploração ilegal de caça-níqueis na cidade.

Segundo ele, ‘esse atentado foi coisa da banda pobre da polícia’. Ele diz que foi ‘processado por 22 delegados, alguns deles com sério envolvimento com caça-níquel’ e não é preciso ser um gênio para saber quem ordenou o ataque.

Em julho, um advogado que pegou carona no carro da mulher do radialista também foi baleado no pescoço, aparentemente por ter sido confundido com Alckmin.’

CRÔNICA

Ruy Castro

Outro dia, há 40 anos

‘RIO DE JANEIRO – Era novembro de 1967, uma segunda-feira. Na quinta-feira daquela semana, Guimarães Rosa tomaria posse na Academia Brasileira de Letras. Justino Martins, editor da ‘Manchete’, chamou o quase foca, que era eu, e me mandou entrevistar o escritor. Alguém me passou um número, telefonei e Rosa, em pessoa, atendeu.

Apresentei-me e disse o que queria: uma entrevista ‘definitiva’, um pingue-pongue em profundidade, uma conversa de horas ou, quem sabe, dias. Na onipotência dos 19 anos, eu me julgava à altura -meses antes, ganhara um prêmio literário patrocinado pela Esso com um pernóstico ensaio sobre ele. E, delirante, já me via em seu apartamento no Posto 6, entre livros e gatos, com Rosa me explicando a gênese do vaqueiro Riobaldo.

Mas Rosa me despertou: a posse estava às portas e ele não terminara de escrever seu discurso. Gentilíssimo, pedia desculpas, mas não podia atender ninguém. Insisti, ele ficou firme e sugeriu que eu procurasse sua filha Vilma: ‘Ela sabe tudo sobre mim’. Instou-me a ir à posse -que dúvida!- e me prometeu uma cópia autografada do discurso.

Assim, nos dias seguintes, fiquei sabendo tudo de Rosa pelos olhos de Vilma. Fui à posse e, por acaso, me vi postado ao lado do púlpito de onde Rosa, emocionado, lia seus papéis. Findo o ato, ele saiu cumprimentando todo mundo, sem enxergar ninguém. Quando me apertou a mão pela segunda vez, falei-lhe da cópia autografada, mas ele nem me ouviu.

Tudo bem. Das conversas com Vilma, eu iria compor um retrato íntimo de seu pai. Mas Rosa, coração castigado pela cerimônia, sofreu um infarto fatal três dias depois, no domingo. Justino cancelou meu perfil e pediu a Magalhães Junior, redator da revista e amigo de Rosa, uma impressão mais pessoal. Pelo menos, saí na foto da posse.’

TV DIGITAL

Simone Cunha e Tatiana Resende

Conversor digital chega ao varejo na 2ª

‘Os primeiros aparelhos de TV já prontos para receber o sinal digital começam a chegar às lojas na próxima semana, às vésperas do lançamento da TV digital no Brasil, em 2 de dezembro, considerado o terceiro marco após o início das transmissões, em 1950, e da TV em cores, em 1972.

Só três fabricantes, entre as empresas consultadas pela Folha, confirmam a produção de aparelhos com os conversores digitais já embutidos. Também chegam ao varejo os conversores para permitir que as TVs já disponíveis no mercado recebam o sinal digital dentro do padrão japonês, o escolhido pelo governo federal após uma disputa com os padrões europeu e americano.

As transmissões digitais começarão pela Grande São Paulo. A previsão é que, até 2013, chegue a todos os municípios. Porém, o sinal analógico continuará a ser transmitido até 2016, por isso não há pressa para a troca ou adaptação dos aparelhos.

No entanto, quem optar pela migração terá imagem com qualidade de DVD, dizem especialistas, mesmo se não tiver uma TV de alta definição (com 1.080 linhas). ‘O limite de qualidade da imagem será as linhas da TV, mas a imagem será melhorada porque não haverá fantasmas’, diz o coordenador do Laboratório de Vídeo Digital da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), Guido Lemos.

É preciso lembrar que, para captar o sinal digital, será preciso ter uma antena UHF interna ou externa.

A Philips é o único fabricante, até agora, que vai oferecer TVs e conversores. Walter Duran, diretor de tecnologia da empresa para a América Latina, admite que os equipamentos estão caros, mas ressalta que ‘tem que iniciar a venda, gerar demanda, para baratear’.

A Samsung optou por fabricar apenas as TVs. A diferença de preço entre um modelo semelhante da empresa e aquele com conversor embutido, de acordo com Benjamin Sicsú, vice-presidente da Samsung para Novos Negócios da América Latina, fica em torno de 15%. O diretor da Philips preferiu dizer apenas que a diferença seria ‘mais ou menos’ o valor do conversor. A LG também terá TVs com conversores embutidos, mas não divulgou o preço.

Público-alvo

Esse custo alto de lançamento dos conversores vai determinar o público-alvo. ‘Quem comprará nesse primeiro momento serão os consumidores de tecnologia, que querem as novidades primeiro, e as pessoas que têm mais de uma TV em casa’, diz Lemos.

A escolha do conversor com melhor custo/benefício para cada caso vai depender do tipo da televisão. A qualidade da imagem é definida pelo número de linhas, quanto mais linhas, maior a definição. Um conversor para TVs de 1.080 linhas, por exemplo, vai oferecer uma boa imagem se acoplado a um aparelho de 480 linhas, mas essa ligação não vai ser satisfatória na situação inversa.

Para Sicsú, quem tem TV de tubo ‘deve comprar um conversor exatamente no limite da TV que tem’. Como a resolução desse aparelho é de 480 linhas, os conversores mais baratos alcançarão a qualidade de imagem máxima. ‘O que tiver a mais [de resolução] a TV não vai utilizar’, ressaltou.

Já quem tem TV de LCD ou plasma deve ‘obrigatoriamente’ comprar o conversor de 1.080 linhas, diz o coordenador de TV Digital da Universidade Mackenzie, Gunnar Bendicks. Esses aparelhos têm pelo menos 720 linhas de resolução, por isso precisam de conversores melhores para alcançar maior qualidade de imagem.

‘O problema é saber se o consumidor vai querer pagar essa melhoria’, questiona Sicsú. Para ele, ‘o preço do conversor vai cair’, e o próximo passo das indústrias é lançar TVs menores, voltadas para a classe média.

Um dos representantes dos fabricantes consultados, que não quis se identificar, chegou a afirmar que não via vantagens em comprar logo uma TV com o conversor embutido porque quando a interatividade plena (ver texto abaixo) for possível, provavelmente no final do próximo ano, o televisor terá que ser novamente trocado para usufruir dessa interação.

Assim como os da Philips e da Positivo, os conversores da CCE (disponíveis só em 2008), da Gradiente e da Semp Toshiba serão compatíveis com televisores de todos os fabricantes, enquanto a Sony optou por produzir um aparelho que só pode ser conectado às TVs de uma de suas linhas (Bravia).

Na próxima semana, os fabricantes devem se reunir com o governo federal para discutir formas de baratear os conversores, o que deve acontecer com incentivos fiscais e o aumento da demanda.

A ameaça do presidente Lula de estimular a importação dos conversores, para forçar a redução, é considerada inócua pela indústria porque o Brasil escolheu um sistema tecnológico com especificidades que não existem em outros países.

O ministro Hélio Costa (Comunicações) já afirmou várias vezes que seria possível vender o aparelho por R$ 200.’

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Regiões de SP podem ficar sem sinal

‘Hoje, 56% dos domicílios da cidade de São Paulo recebem sinal analógico de TV de baixa qualidade, segundo estudo da Universidade Mackenzie. Com a transmissão digital, 98% terão sinal de boa qualidade.

A cobertura digital, mostra o estudo, alcança toda a capital, mas Gunnar Bedicks, coordenador de TV Digital da instituição, diz que há regiões que podem não receber o sinal por suas condições topográficas. ‘No Parque D. Pedro [região central], dificilmente vai chegar sinal porque é um buraco.’

Guido Lemos, da UFPB, diz que, nesses casos, as emissoras podem instalar transmissores de baixa potência nos locais para resolver o problema. ‘Em regiões mais baixas da cidade ou com muitos prédios, pode acontecer [de não haver sinal], mas vai ser uma exceção.’

Daniel Slaviero, presidente da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), diz que pode haver diferença na recepção do sinal em uma mesma rua, assim como acontece hoje com o sinal analógico.

A diferença é que hoje o sinal pode ser captado com baixa ou média qualidade, o que provoca chuviscos e sombras na imagem. Na TV digital, a imagem será ‘perfeita’ ou não haverá imagem.

As áreas de sombra não serão iguais para todas as emissoras porque isso depende do gerador de cada uma. Se houver falha na recepção, o consumidor pode voltar a ver a programação daquela emissora pelo sinal analógico, disponível em um número de canal diferente.

Inicialmente, as emissoras veicularão a mesma programação nos dois sinais.

Cronograma

O Ministério das Comunicações fez um cronograma das cidades que vão receber o sinal até a cobertura total, em 2013. Nos próximos dois anos, há previsão de início das transmissões em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e Brasília. Apesar de não haver data fixa, as emissoras devem chegar juntas a cada local, pois, segundo Slaviero, o sucesso da TV digital vai depender da oferta de programação e da quantidade de consumidores dispostos a investir nos equipamentos para ter acesso ao conteúdo.

A cidade do Rio de Janeiro deve ser a próxima a receber o sinal, entre abril e maio.

Como a TV paga não terá transmissões digitais na mesma data, Lemos acredita que as imagem das TV a cabo ou satélite ficarão piores, o que deve levar a uma corrida pela migração para o novo padrão. A ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura) diz que as conversas para mudar o sinal e os conversores já estão em curso, mas ainda não há prazo definido para ocorrer. (SC e TR)’

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Indústria ainda testa equipamentos e venderá aparelhos sem interatividade

‘Os conversores e televisores digitais encontrados nas lojas a partir da semana que vem virão sem interatividade plena -possibilidade de o espectador enviar informações às emissoras em testes ou escolhas do final de programas, por exemplo.

O coordenador do desenvolvimento do Ginga, software que permite a interatividade, Guido Lemos, da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), diz que as indústrias estão em fase de finalização e testes do software nos receptores, por isso não deve haver equipamentos completos no dia 2.

Segundo Lemos, o software está pronto, ao contrário do que dizem alguns fabricantes, mas é preciso fazer adaptações para produzir em escala industrial. ‘No momento, há pelo menos cinco empresas tentando desenvolver o Ginga no menor período possível.’

Mesmo assim, ele acredita que vale a pena comprar o conversor incompleto -sem permitir o envio de informações entre telespectador e emissora. ‘Se eu morasse em São Paulo e tivesse condições financeiras, iria comprar o conversor.’

A interatividade remota, que permite o acesso a informações enviadas pelas emissoras, como a escalação de um time que está jogando, estará disponível nesses primeiros aparelhos.

Mas para não ficar com um equipamento defasado, o coordenador de TV Digital da Universidade Mackenzie, Gunnar Bendicks, orienta o consumidor a se certificar de que há possibilidade de atualização do equipamento com o Ginga. No entanto, nenhum dos fabricantes consultados e que vai comercializar receptores ou TVs tem essa opção.

O vice-presidente de novos mercados da Samsung, Benjamin Sicsú, concorda que a falta de interatividade deve ficar clara para o consumidor. ‘Vem outro modelo com interatividade e o consumidor tem de saber disso.’

Segundo Roberto Barbieri, diretor da Semp Toshiba, ‘até agora não está claro o hardware que será usado’ para a interatividade plena, por isso os conversores da empresa não poderão ser atualizados.

Essa interação total também depende de um canal de comunicação com o telespectador, como internet ou telefone. Esse é outro dos entraves apontados pelos fabricantes para viabilizar a interatividade plena.

Lemos acredita que o uso dessa comunicação pelas emissoras vai impulsionar as vendas dos equipamentos: o consumidor verá mais diferenças entre as duas TVs e terá mais vontade de comprar a digital.

Para ele, o principal motivo de o preço dos conversores ficar tão acima da expectativa do governo, de R$ 200, é o pouco tempo para desenvolver tecnologia e testar os equipamentos. ‘Tem fabricante que não está lançando modelos porque não tem segurança na máquina.’

Sicsú afirma que a indústria ainda está fazendo ajustes nos equipamentos. ‘Está todo mundo apanhando ainda.’

Essa incerteza também teria levado a um conservadorismo da indústria no volume de equipamentos produzidos. ‘Alguns fabricantes finalizaram as caixas [conversores] e nem houve testes. Depois que isso ocorrer é que vão aumentar a produção’, diz Lemos.

Segundo ele, ‘a previsão do ministro Hélio Costa [Comunicações] não é maluca: há possibilidade de o preço do conversor chegar a US$ 50 [R$ 90]’, mas em quatro anos.

Sicsú aponta o pequeno número de fornecedores dos componentes dos conversores para o encarecimento do produto. ‘À medida que a produção aumentar, o custo será reduzido’. (SC e TR)’

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Conversores já estavam à venda nesta semana na região da Santa Ifigênia

‘Apesar de os conversores só chegarem às grandes redes varejistas na segunda-feira, há consumidores que já estão desfrutando da qualidade da TV digital nesta semana -as emissoras estão transmitindo o sinal em caráter experimental. De acordo com Marco Szili, presidente da fabricante Tele System no Brasil, cerca de 500 aparelhos foram vendidos em São Paulo e até no Rio de Janeiro, onde as transmissões digitais só chegam no próximo ano.

A matriz do fabricante fica na Itália, mas os aparelhos vieram da filial asiática e chegaram há três semanas. Todos foram vendidos, diz Szili. O próximo lote, com 10 mil itens, chega em dezembro.

Suheil Haddad, da Capital das Antenas, que fica na Santa Ifigênia (centro de SP), não detalhou a quantidade de vendas do aparelho durante a semana, mas já estava preocupado com os consumidores que não conseguiria atender, já que o estoque havia acabado ontem à tarde.’

TELEVISÃO

Lúcio Ribeiro

Sete DVDs trazem 6º ano de ‘24 Horas’

‘Carregada com sete discos e muita polêmica dentro e fora da tela, chegou às lojas a caixa de DVDs da sexta temporada da explosiva (mesmo) série ‘24 Horas’, estrelada por Kiefer Sutherland e que estreou na TV brasileira em abril deste ano.

O box traz um CD bônus com as tradicionais cenas excluídas, refeitas, estendidas e com ângulos alternativos, e que contém também um especial sobre os efeitos de maquiagem, o making of da cena de explosão nuclear em área urbana, uma interferência cômica do convidado Ricky Gervais, o onipresente escritor e ator inglês do momento, além de vários ‘mobisodes’, conteúdo exclusivo de curta duração feito para divulgar a série por meio de celulares de última geração.

A sexta temporada começa diferente das anteriores. O herói do seriado, o agente Jack Bauer, uma espécie de James Bond da geração PlayStation (as iniciais seriam coincidência?), desta vez luta pela própria vida. E os ataques terroristas, que ele tanto evita, desta vez já estão em pleno curso de destruição.

O novo dia na (ainda) vida do agente ora empregado, ora desempregado do governo americano começa em um tempo equivalente a 20 meses depois de quando a quinta temporada acabou. Ele chega da China, onde passou como prisioneiro os quase dois anos, sendo torturado como punição a um conflito internacional que causou em temporada passada. Cabeludo e com uma barba enorme, Bauer chega desfigurado, resgatado pelos EUA para servir de moeda de troca com um terrorista árabe, que quer sua pele.

Jack Bauer volta a ser Jack Bauer logo no início deste ‘Dia 6’, quando, amarrado pelas mãos e pés, consegue matar um terrorista armado, em um ataque nada ortodoxo, com a boca.

Ficção?

O começo da sexta temporada de ‘24 Horas’ nos EUA (em janeiro deste ano) provocou discussões sobre ficção e realidade. O país está sofrendo em seu quintal uma série de ataques por parte de grupos muçulmanos. Um deles é praticado quando o terrorista explode um ônibus usando um tocador de MP3 similar ao iPod, uma das principais invenções americanas dos tempos modernos.

A partir daí, um secretário de Estado sustenta a manutenção de campos de concentração de muçulmanos nas grandes cidades americanas, julgando que todo árabe e seus descendentes são terroristas até prova em contrário.

Enquanto isso, o contraterrorista Jack Bauer faz com as próprias mãos a apologia da tortura, em nome da salvação do ‘mundo livre’, sempre com a permissão velada ou não da Casa Branca ‘fictícia’.

No ano passado, chamou a atenção, nos EUA, um evento bancado por uma fundação conservadora, cujo tema era ‘A série ‘24 Horas’ e a Imagem dos EUA na Luta contra o Terrorismo – Fato, Ficção ou Não Importa?’. A discussão voltou à baila em jornais e revistas americanos.

A caixa de DVDs é uma oportunidade para os fãs assistirem à série legendada, com som original. No meio de sua exibição na TV, em julho, o canal pago Fox passou a mostrar ‘24 Horas’ (e outros seriados) dublado, sem nenhum aviso prévio, o que causou revolta em muitos fãs.

24 HORAS

Distribuidora: Buena Vista

Quanto: R$ 150, em média’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo

Revista Consultor Jurídico

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