Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Veja

TV & INTERNET
Diogo Mainardi

Não sofro de diegomainardice

‘O que eu sabia sobre Sabrina Sato: ela participa de um programa de TV. Agora sei também que ela tem uma pinta na testa. Mais ainda: sei que ela desistiu de tirar a pinta. Esse foi o fato que atraiu o maior número de leitores da Folha Online, alguns dias atrás. A nota era acompanhada por uma fotografia de Sabrina Sato sorridente, com sua pinta na testa. Pinta é um negócio nojento. Tire a pinta, Sabrina Sato.

A TV está sendo progressivamente esvaziada pela internet. Pela primeira vez, no Brasil e no resto do mundo, a TV perde público. Os espectadores desligam seus aparelhos e migram em massa para o computador, passando mais tempo na internet. E qual é o principal assunto na internet? A TV. No caso, a pinta na testa de Sabrina Sato. Ou, pouco antes, igualmente entre as notícias mais lidas da Folha Online, o choro de Deborah Secco num programa de auditório.

Além de ler sobre a TV, a platéia da internet faz comentários atarantados sobre a TV. Assim como faz comentários atarantados sobre todos os outros temas. A internet é como o teatro de José Celso, em que a platéia é chamada para o centro do palco e se torna protagonista do espetáculo. Amadoristicamente, cada um desempenha seu próprio papel, improvisando um comentariozinho desimportante aqui, outro ali. O mundo se transformou num gigantesco Teatro Oficina, onde se encena um espetáculo infinito de José Celso, do qual ninguém pode fugir. Trata-se de um pesadelo bem mais medonho do que qualquer distopia totalitária imaginada por George Orwell ou Aldous Huxley. Quero minha dose de ‘Soma’!

Umberto Eco criou a fantasia demagógica do ‘lector in fabula’, em que o leitor é estimulado a participar do romance com suas idéias, transformando-se, ele mesmo, em autor. A internet é isso: um monte de maus leitores dotados de más idéias que cismam em interagir com maus autores. É o território dos opinionistas que opinam sobre a opinionice de outros opinionistas. É a água parada onde prolifera a diegomainardice hemorrágica.

Pode parecer um contra-senso, mas eu nunca sofri de diegomainardice. Só opino porque é meu trabalho. Se desse, eu desligaria imediatamente o computador e passaria o resto do dia estatelado na cama, na frente da TV, assistindo a um programa de culinária, um seriado americano, um torneio de golfe ou uma comédia antiga com Alberto Sordi. O que eu tenho a opinar sobre o programa de culinária ou o seriado americano? Alegremente, nada. A TV é minha droga da felicidade, meu sedativo, meu ‘Soma’. Desde que eu fique distante de Sabrina Sato e de sua pinta na testa. Ela faz aflorar um monte de idéias em minha mente, todas elas rabiosas e incongruentes, transportando-me para o palco do Teatro Oficina, onde José Celso e sua platéia encenam eternamente a Guerra de Canudos. E agora? Como a gente sai daqui?’

 

BLOG EM CUBA
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Auto-retrato – Yoani Sánchez

‘Filóloga por formação e professora de espanhol para estrangeiros ‘por questão de sobrevivência’, a cubana Yoani Sánchez Cordero, 32 anos, foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time por causa do blog que escreve há um ano, o Generación Y, em que relata o cotidiano de Cuba. Por telefone, ela falou à repórter Renata Moraes.

O que a levou a criar o blog?

Estava farta de algumas coisas que afetam a vida da maioria dos cubanos e que não são contadas na televisão, nas rádios nem na imprensa oficial. Decidi, então, expor experiências pessoais, como a minha decepção com o resultado da votação do Parlamento, a falta de limão no mercado ou as coisas absurdas que acontecem na escola do meu filho Teo, de 12 anos. Com isso, penso contribuir para as mudanças que julgo necessárias em meu país.

Como consegue manter o blog?

Em Cuba, isso é uma aventura. Faço os textos em casa e depois busco um lugar onde possa me conectar. Lamentavelmente, só os altos funcionários do governo ou os estrangeiros que vivem no país podem ter uma conexão em casa. Dependo dos dois cibercafés públicos que há em Havana e dos hotéis. As filas nos cibercafés públicos chegam a durar três horas e os preços são proibitivos: entre 5 e 6 pesos conversíveis por hora, o que significa quase um terço do salário do cubano médio. Nos hotéis, é ainda mais caro. Por tudo isso, meu blog não tem uma atualização diária. Mas os visitantes me perdoam (a página tem em torno de 4 milhões de acessos por mês).

Existe censura do governo sobre o conteúdo do GENERACIÓN Y?

Direta, não. O que já ocorreu foram invasões de hackers que me insultaram e tumultuaram as discussões. Suponho que sejam pessoas que conheço, gente da imprensa oficial. Mas nunca houve censura explícita.

Entre 2002 e 2004, você morou na Suíça. O que pretendia ao mudar-se para lá?

Ir embora definitivamente, por causa da situação econômica de Cuba. Conseguimos – eu, meu marido e meu filho – permissão para viajar, provando que iríamos visitar amigos.

E por que resolveram voltar?

Meus pais adoeceram e precisavam de mim. Tive medo de ser presa, mas voltei mesmo assim. Quando fui ao departamento de imigração pedir a repatriação, encontrei muitas pessoas que, por diversos motivos, decidiram voltar também, mesmo correndo o risco de sofrer represálias. Não recebi nenhuma punição, mas as autoridades da imigração me advertiram de que eu ‘nunca mais voltaria a sair do país’.

Do que mais sente falta em Cuba?

De um transporte público que funcione e de mais facilidade para comprar comida, que é um motivo de neurose para qualquer dona-de-casa cubana. Mas sinto falta, principalmente, de um ambiente político neutro e da possibilidade de participar das decisões que afetam a vida de todos. Aqui, só recebemos ordens. O ambiente militarizado me sufoca. Sinto-me como um soldado, ouvindo o tempo todo expressões de guerra: ‘lutar’, ‘resistir’, ‘revolução’.

Qual é a expectativa dos cubanos com a ascensão de Raúl Castro?

Infelizmente, sinto que, entre as pessoas da minha geração, reina a apatia política. Sentimos que o país não nos pertence. Neste sistema paternalista em que vivemos, fizeram com que sempre esperássemos por ordens que vêm de cima, o que criou uma espécie de paralisia. As pessoas precisam começar a sentir que esta ilha lhes pertence e parar de esperar as soluções do governo – ou de fazer planos de ir embora.’

 

INTERNET
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Quem quer dinheiro?

‘Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que 1,2 bilhão de pessoas usam a internet em todo o mundo. O que a maior parte desse contingente faz o tempo todo na web? Buscas, buscas e mais buscas. Somente nos Estados Unidos, são realizados 10,6 bilhões de pesquisas a cada mês na rede de computadores. Tamanha audiência ergueu um mercado especialmente atraente para as empresas de tecnologia. O problema – ao menos para a concorrência – é que o Google se tornou imbatível nesse segmento. O site domina 60% das buscas feitas entre os americanos. O segundo colocado, o Yahoo!, tem apenas 20% do total, e a Microsoft, na terceira posição, modestíssimos 9%. No restante do mundo, a lavada do Google segue a mesma proporção. Para reverter esse jogo, na semana passada, Bill Gates anunciou que a Microsoft vai pagar a quem usar parte de seu serviço de pesquisas na internet.

O pagamento será indireto e, por enquanto, vale para quem mora nos Estados Unidos. Na prática, é um programa de fidelização de clientes, batizado de Live Search Cashback. Funciona assim: quem fizer comparações de preços no site da Microsoft (search.live.com/cashback) antes de comprar algum produto na web terá como crédito uma pequena porcentagem do valor da aquisição. No momento em que o usuário acumular 5 dólares, receberá um reembolso numa conta bancária, pelo correio, ou como crédito no serviço on-line PayPal. O sistema conta com 10 milhões de produtos de 700 companhias. ‘Queremos oferecer o melhor resultado em buscas e estamos dando um estímulo para que as pessoas usem nosso site’, disse Gates. Mas a tentativa de arranhar a liderança do Google foi mais longe. No Live Search Cashback, as empresas vão pagar à Microsoft somente quando for realizada a venda de um produto. No Google, as companhias pagam por cada clique em um de seus anúncios.

O novo lance da Microsoft ocorre após uma série de tentativas frustradas de compra do Yahoo!, justamente para fortalecer sua posição na web. E, certamente, não será o último. Hoje, o mercado de anunciantes na internet movimenta 20 bilhões de dólares por ano. Foi ao abocanhar uma gorda fatia desse mercado que o Google ampliou seu faturamento de 10 bilhões de dólares em 2006 para 16,6 bilhões de dólares no ano passado. Um salto que aguça a sede da concorrência.’

 

Thomaz Favaro

Todo mundo dá palpite

‘A Wikipédia é uma enciclopédia como nunca se viu: oferece 9,8 milhões de verbetes em mais de 250 línguas, que podem ser consultados gratuitamente. Um dos dez sites mais visitados da internet, ela funciona como um livro aberto, para ser escrito e editado pelos próprios leitores. Qualquer pessoa pode, à frente de um computador, alterar, adicionar ou apagar trechos e verbetes da enciclopédia eletrônica. Uma conseqüência dessa liberalidade é a guerra de versões e opiniões atualmente travada em torno de alguns assuntos. Muitos verbetes são constantemente alterados por leitores que não concordam com seu conteúdo ou querem acrescentar algo. Mas há os que são apenas brincalhões ou vândalos, que insistem em adulterar o texto com informações falsas ou insultos. Entre alterações e correções – estas feitas também pelos editores da Wikipédia –, os artigos mais controversos chegam a ser modificados 40.000 vezes por mês.

Tal quantidade de intervenções transmite um aviso: não acredite em tudo o que você lê na Wikipédia. Por outro lado, possibilita uma curiosa apuração dos assuntos mais controversos da atualidade. O verbete campeão de discórdia é o dedicado ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Não chega a ser surpresa. Bush é impopular entre os americanos (seu índice de aprovação está entre os mais baixos da história) e sua imagem no exterior é ainda pior. O gênero mais freqüente de comentário contrabandeado para dentro do verbete de Bush pode ser definido pela palavra insulto. Cabe aos editores do site – auxiliados por um grupo de voluntários interessados em manter a integridade da Wikipédia – a tarefa de limpar toda essa sujeira.

No ranking dos temas mais polêmicos há discussões sóbrias, como aquela referente à maneira correta de lidar com temas religiosos. O verbete Jesus está entre os dez mais alterados, porque muitos leitores consideram parcial o viés cristão com que o artigo foi escrito. Há também muita controvérsia entre aficionados de jogos eletrônicos. Eles tratam a Wikipédia como se fosse um foro de discussões para fanáticos por esse ou aquele console. Como é de prever, os colaboradores da enciclopédia on-line têm opiniões fortes no quesito cultura pop. Entre os vinte verbetes modificados com maior freqüência estão Britney Spears, Michael Jackson e Beatles. O único tema científico da lista polêmica é o aquecimento global. Aparece na 12ª posição, um atestado de como o assunto mexe com a opinião pública.

A Fundação Wikipédia, que gerencia o site, criou alguns mecanismos para impedir o vandalismo. Só leitores cadastrados podem dar palpite nos verbetes mais visados. Uma equipe de dezoito funcionários é encarregada de policiar as modificações feitas pelos leitores. O grosso do trabalho, na verdade, é realizado por um grupo de voluntários, os chamados wikipedistas. Cada um deles é especialista em um ou vários assuntos, os quais acompanha de perto. Eles são informados automaticamente sempre que alguma alteração é feita, mesmo que se trate de uma única vírgula. ‘Esses programas de alerta são ferramentas simples que auxiliam no policiamento dos verbetes e aumentam a qualidade da enciclopédia’, disse a VEJA o americano Loren Terveen, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Autor de um estudo sobre incorreções na Wikipédia, Terveen observou que o tempo médio de sobrevivência de um erro ou insulto é de doze horas. Se o verbete é inteiramente apagado, o retorno é bem mais rápido: em média, está de volta em 2,8 minutos.’

TELEVISÃO
Marcelo Marthe

Balanço zerado

‘Na última terça, no programa O Aprendiz 5, da Record, os treze executivos que ainda disputavam a chance de ter uma sociedade milionária com o publicitário e apresentador Roberto Justus enfrentaram um teste de conhecimentos gerais – tarefa moleza, em tese, para profissionais com diplomas universitários. Mas só em tese. Diante de um perplexo Justus, os representantes das equipes ‘Foccos’ e ‘Masters’ deram derrapadas que só seriam perdoáveis com Luciana Gimenez e Sabrina Sato, as tapadas honorárias da TV. Ao ser questionada sobre quais estados brasileiros fazem fronteira com a Venezuela, a participante Sandra respondeu que era apenas o Amazonas – ignorou Roraima. O concorrente Henrique citou o Amapá, que fica longe da divisa venezuelana. Esse último também não soube dizer de que cidade são originários os soteropolitanos – embora se trate de Salvador, ele saiu-se com o nome de Salto. Numa terceira pergunta, Justus quis saber quais são as línguas oficiais faladas nos países da América do Sul – e ninguém acertou. A seguir, Sandra respondeu que o governador do Rio de Janeiro é Cesar Maia (o prefeito carioca), e não Sérgio Cabral. E o colega inventou um político que não existe, Nelson Machado. Mais tarde, na sala de reunião em que Justus passa o tradicional sabão nos candidatos, Henrique tentou vender a idéia de que o chute fora uma amostra de sua ‘criatividade’.

Os testes de conhecimentos gerais são explorados de diversas formas na TV. No Show do Milhão, os candidatos estudavam previamente para responder às sabatinas de Silvio Santos, amparados por uma bancada de universitários. O Aprendiz tratou a questão em sua forma mais pura. Como as pessoas não se prepararam de antemão, revelou-se quanto são preparadas de fato. Mais grave do que os tropeços foi o desprezo flagrante dos participantes em relação a esse quesito – como se conhecimentos gerais fossem peso morto, e não parte da bagagem de uma pessoa, digamos, civilizada. ‘O objetivo é encontrar um sócio para você, não um mestre em conhecimentos gerais’, chegou a reclamar Henrique, o campeão dos erros, a Justus. O apresentador, com razão, não deixou barato: ‘Nada disso. Os negócios vão exigir que sua formação seja fora de série’.

Em tempo: a produção de O Aprendiz também tropeçou. Ao dar resposta a quais são as línguas oficiais da América do Sul, mencionou o português, o espanhol, o inglês, o francês e o holandês. Mas também são oficiais as línguas indígenas guarani, falada no Paraguai, e quíchua e aimará, de Bolívia e Peru.’

 

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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