Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘ENCERROU-SE ontem em Estocolmo a conferência anual da ONO (Organization of News Ombudsmans), que congrega as cerca de cem pessoas que exercem o cargo em veículos de comunicação no mundo.

A capital da Suécia é o local mais apropriado para essa reunião, já que foi naquele país que a palavra nasceu e a função foi criada, em 1713, como explicou Par-Arne Jigenius, ombudsman do diário sueco ‘Dagens Nyheter’.

Charles 12 era rei da Suécia, uma das maiores potências da época, com um território que incluía as atuais Letônia, Finlândia, Estônia, parte da costa alemã do Báltico e parte da Rússia. Ele ficou famoso pelas guerras que conduziu contra a Dinamarca e a Rússia, inicialmente com sucesso, mas encerradas com um revés tão caro ao país, que ele jamais voltou a ter a importância geopolítica que tinha na época.

Quando estava exilado na Turquia, influenciado por experiências similares que ali observara, Charles 12 criou o Gabinete do Supremo Ombudsman. A palavra vinha do sueco umbuds man, que significa representante.

Desde o início, apesar da imponência do título, o ombudsman só tinha poder para receber reclamações do público, investigá-las e enviá-las aos departamentos do governo capazes de resolver soberanamente cada assunto.

Charles 12 era um grande guerreiro. Mas quando resolveu estabelecer o ombudsman pensou como político sobre como conciliar de forma pacífica conflitos de interesses entre os cidadãos e o Estado.

Com o passar dos anos, o cargo inspirou tentativas similares em governos, empresas e, finalmente, a partir de 1967 (no ‘Courier-Journal’ e no ‘The Louisville Times’, em Louisville, Kentucky) em jornais e depois em outros veículos de comunicação.

O ombudsman é alguém que procura soluções mutuamente satisfatórias para partes em desacordo. É um agente da conciliação, não do litígio; promove a harmonia, não o dissenso. Seu modelo é o diplomata, não o militar.

Às vezes, em sociedades que se encontram em momentos de grande excitação ideológica, alguns podem idealizar o ombudsman como o encarregado de atacar, punir ainda que só pela humilhação pública quem consideram inimigos.

Não é isso que ele deve fazer. Não foi para isso que a instituição foi concebida. Nem na esfera do Estado nem na esfera da mídia.

A troca de idéias em Estocolmo entre profissionais de países tão diversos como Brasil, Turquia, EUA, Colômbia, Reino Unido, Estônia, Geórgia, Itália, África do Sul, Suíça, Austrália e Suécia, mostrou que, apesar de diferenças culturais, econômicas, políticas e sociais, a missão do ombudsman de mídia é clara.

Ela tem basicamente três dimensões, todas fundamentais. Uma é mediar os desentendimentos eventuais entre consumidor e produtor de informação. A segunda, estimular o aperfeiçoamento técnico do veículo em que trabalha. A terceira, ajudar a expandir a consciência pública sobre o papel dos meios de comunicação na sociedade e refinar a relação entre eles e ela.

Noutra feliz coincidência do encontro da ONO de 2008, a presidência da entidade é ocupada por uma jornalista de Kentucky, o Estado do sul dos EUA onde o primeiro ombudsman de imprensa trabalhou.

Ela é Pam Platt, do ‘Courier-Journal’. Em seu bem-humorado discurso de abertura da conferência, comparou o que fazem os ombudsmans com recente aventura sua de navegar sozinha num caiaque na Flórida em rio cheio de jacarés. Para se sair bem nas duas situações ela recomenda duas prioridades: nunca parar de remar e conhecer bem o caminho. Um bom conselho.’

***

‘Doações a partidos’, copyright Folha de S. Paulo, 1/6/08.

‘Em minha opinião e na dos 14 leitores que se manifestaram sobre o assunto ao ombudsman a reportagem que a Folha publicou na segunda sobre doações a partidos colecionou equívocos.

Ela mostra, com tom de denúncia, que grandes empresas que fizeram doações ao PT em 2007 receberam por serviços prestados ao governo federal no segundo mandato do presidente Lula quantia 54 vezes maior do que a doada.

As doações foram legais e são públicas. O jornal, ao questioná-las, pode passar a impressão de não aprovar esse tipo de operação prevista na legislação. Não preferirá, de certo, que se faça uso de caixa dois e de clandestinidade.

Por serem grandes empresas, é natural que elas viessem a receber grandes contratos do governo federal. Se as licitações e concorrências que venceram também não apresentam irregularidades, não há razão para espanto.

Em todos os países em que doações a partidos políticos são permitidas pela lei, é comum que grandes corporações as façam a todas as agremiações políticas em condições de chegar ao poder. No Brasil, não é exceção.

Tanto é assim, que em retranca separada e menor, não mencionada na capa, o jornal registrou que ao menos algumas das mesmas empresas também doaram ao PSDB e receberam por serviços prestados aos governos de São Paulo e Minas Gerais.

O mais estranho é que quem se dispôs a fazer as contas descobriu que a relação entre o doado e o recebido no caso do PSDB é muito maior do que no caso do PT. Mas o destaque tanto na primeira página quanto nas internas foi para as doações ao PT.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 1/6/08.

‘Ombudsman – O Relógio de Pascal’, de Caio Túlio Costa (São Paulo: Geração Editorial, 2006) – relato da experiência do primeiro ombudsman da Folha (a partir de R$ 29,25)

PARA VER

‘Rainha Cristina’, de Robert Mamoulian, com Greta Garbo e John Glibert (1933) – filme ambientado na Suécia duas gerações antes da criação do posto de ombudsman mostra a importância da diplomacia na resolução de conflitos (disponível em DVD na coleção Greta Garbo, volume 1, que inclui também os filmes ‘Mata Hari’ e ‘Grande Hotel’, a partir R$ 69,90)

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