Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Brasil é o maior país
pentecostal do mundo


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 29 de janeiro de 2007


MÍDIA & RELIGIÃO
Leandro Beguoci


Brasil é o maior país pentecostal


‘O Brasil é hoje o maior país pentecostal do mundo. Levantamento de um instituto americano indica que o país reúne 24 milhões de seguidores de igrejas como a Universal do Reino de Deus, a Assembléia de Deus e a Renascer em Cristo.


Os dados constam de relatório do World Christian Database, base de dados elaborada pelo Seminário de Teologia Gordon-Conwell, um dos quatro maiores dos EUA, sem ligação com nenhuma vertente cristã.


O levantamento é feito no mundo inteiro a partir de consultadas às igrejas cristãs checadas com trabalho de pesquisa de campo, um processo caro.


Os dados de 2006 indicam que os pentecostais brasileiros superam por larga margem os 5,8 milhões de pentecostais dos EUA, onde essa vertente do protestantismo surgiu no começo do século 20 em reação à presumida falta de fervor evangélico entre os metodistas.


No Brasil, a grande maioria dos evangélicos é pentecostal. Eles acreditam nos dons do Espírito Santo, no exorcismo e em curas espirituais.


Os pentescostais brasileiros formam hoje um grupo equivalente, por exemplo, à população muçulmana do Iraque, segundo os dados do ‘World Factbook’ da CIA, a agência norte-americana de inteligência.


Apesar do grande crescimento que experimentou nas últimas décadas, o grupo pentecostal no Brasil ainda é muito inferior à maioria católica. Especialistas ouvidos pela Folha estimam, a partir do Censo de 2000, que existam 138 milhões de católicos no país hoje. O Brasil continua sendo o maior país católico do mundo.


Costumes


Uma outra pesquisa, feita pela fundação americana Pew Forum, que estuda a influência da religião na sociedade, mostra que 62% dos fiéis brasileiros não nasceram pentecostais. Foram convertidos -45% deles a partir do catolicismo.


O estudo da Pew Forum, divulgado no final do ano passado, chama-se ‘Espírito e Poder -análise dos pentecostais de 10 países’. A entidades foi a dez países (EUA, Brasil, Chile, Guatemala, Quênia, Nigéria, África do Sul, Índia, Filipinas e Coréia do Sul) para saber como crêem e o que defendem os pentecostais em cada um desses lugares.


A pesquisa mostra, por exemplo, que 73% dos pentecostais brasileiros acham que os líderes políticos devem ter fortes convicções religiosas e que 65% deles acreditam que grupos religiosos devem expressar suas convicções políticas. Ao todo, 83% dos pentecostais brasileiros acham que o país vive um declínio moral.


Entre a população como um todo, esses números caem, para os dois primeiro índices, a 57%. Para moral, vai a 79%.


Nos EUA, 87% dos pentecostais acham que seus líderes políticos devem comungar suas fortes convicções religiosas e 79% declararam que grupos religiosos devem ter influência política. Todos os números que têm alguma relação com uma agenda política são maiores que os dados brasileiros. Com uma exceção: o declínio moral, que é visto como grave problema por 62% dos fiéis dos EUA.


‘Nos EUA, o pentecostalismo teve uma ligação muito forte com os movimentos negros. No Brasil, restou a batalha moral, porque o Estado sempre foi mais próximo dos católicos’, diz Luiz Felipe Pondé, professor de teologia da PUC-SP.


Para ter idéia do peso da moral na agenda pentecostal, a bancada de pastores na Câmara dos Deputados no Brasil caiu pela metade na eleição passada. Foi para 30 deputados devido ao envolvimento de pastores parlamentares em escândalos.


A bandeira moral erguida pelos pentecostais brasileiros também está adaptada ao conjunto da população.


Entre os pentecostais dos países pesquisados pela Pew, o Brasil é o segundo que mais tolera o divórcio: 37% dizem reprovar a separação de casais contra 15% do total da sociedade em geral. Nas Filipinas, o número sobe para 84% entre os pentecostais e para 70% no geral. Em compensação, o Brasil está entre os que mais reprovam o aborto: 91% dos pentecostais contra 79% ao todo. Nos EUA, esses dados caem para 64% e 45%, respectivamente.


‘O interessante da pesquisa é que mostra que a religião não é a única fonte de valores para as pessoas’, afirma o sociólogo e professor titular aposentado da USP Reginaldo Prandi.


Apenas em um item abre-se um abismo entre os pentecostais e às outras pessoas: o fervor religioso. Entre os entrevistados pela Pew Forum, 86% dos pentecostais dizem que vão à igreja ao menos uma vez por semana. Na população como um todo, o dado cai para 38%. Quando o assunto é leitura da Bíblia, 51% dos pentecostais dizem ler o livro sagrado todo dia, contra 16% das demais pessoas.’


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Para estudiosos, reação católica não deu certo


‘No final dos anos 90, a Renovação Carismática Católica, que tem como maior expoente o padre-cantor Marcelo Rossi, era tida entre alguns setores da Igreja Católica como uma solução para a perda de fiéis para os pentecostais. A pesquisa da Pew Forum mostrou que, ao menos até agora, a estratégia não deu resultado.


Segundo a pesquisa, 34% da população brasileira se diz carismática, o que equivale a cerca de 62 milhões de pessoas. O problema é que os hábitos dessas pessoas não diferem muito dos outros cristãos – o que abre caminho para futura conversão.


Paul Freston, professor da pós-graduação em ciências sociais na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos) e autor de livros e artigos sobre pentecostais e carismáticos, afirma que, tal como a categoria ‘católico não-praticante’, vem surgindo o termo ‘católico-carismático não-praticante’.


‘Muitos católicos passaram a se identificar com os carismáticos e isso deve estar ligado à ascensão dos padres cantores’, afirma Freston.


A renovação carismática é o lado católico do pentecostalismo e, tal como os protestantes, também valoriza os dons concedidos pelo Espírito Santo, a oração intensa e a prece em línguas.


‘É claro para nós que os carismáticos são importantes para a igreja, mas também é claro que eles valorizam primeiro a renovação pessoal e depois a evangelização de outras pessoas’, disse o padre Luiz Alves de Lima, professor do Centro Universitário Salesiano e assessor para a catequese da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).


‘Um dos fatores que podem explicar o fato de tantas pessoas se dizerem carismáticas é a catequese. Percebemos que muitos catequistas hoje são carismáticos, e acabam influenciando crianças e jovens’, afirma o padre Alvez de Lima.’


Vinícius Queiroz Galvão


Estevam e Sonia Hernandes terão hoje primeira audiência nos EUA


‘Estevam e Sonia Hernandes, fundadores e líderes da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, devem comparecer hoje ao tribunal federal da Flórida para a primeira audiência do processo a que respondem pelas acusações de contrabando de dinheiro e depoimento falso à polícia.


Prevista para quarta-feira passada, a sessão inicial foi suspensa a pedido da procuradoria, que não havia conseguido o indiciamento do casal no júri popular. Nos EUA, um grupo de 25 jurados decide se o acusado é passível ou não de responder a uma ação criminal. No Brasil, o procedimento seria equivalente ao juiz aceitar ou não denúncia do Ministério Público.


A audiência de hoje deve ser apenas protocolar. O juiz encarregado dos processos do período (na semana passada era Patrick A. White) deve definir o calendário processual e informar os réus do indiciamento.


O casal foi preso no último dia 9 com US$ 56.467 mil supostamente não declarados à alfândega. Ficaram cerca de duas semanas detidos.


Sob liberdade condicional e vigiada, o casal não apareceu no tribunal semana passada. Eles usam um chip no tornozelo e são monitorados eletronicamente por agentes federais americanos. O casal está em sua mansão avaliada em US$ 1 milhão em Boca Ratón, Miami.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Muito barulho


‘Na despedida do blog da BBC para o fórum, ‘como todo ano, Davos rendeu muito barulho’, buzz, mas nada de surpresa. No enunciado da agência AP nos sites dos jornais, sobre suposta retomada das negociações, ‘EUA, Europa e maiores potências falham em obter avanço nas conversas comerciais’. Celso Amorim e colegas não passaram do ‘compromisso vago’.


Sobrou a história de um acordo sobre aquecimento global, que o britânico Tony Blair espalhou em Davos, no destaque do ‘Observer’, ‘após recentes conversas com George Bush, Lula da Silva, do Brasil, e Angela Merkel, da Alemanha’. Mais barulho por quase nada.


OUTRO FÓRUM


Não foi mais animador o Fórum Social de Nairóbi, encerrado no meio da semana com a decisão de se pulverizar em 2008. O destaque de ontem na Agência Brasil, que cobriu extensivamente todo o encontro, era que os brasileiros da organização querem o FSM de volta em 2009, no Paraná de Roberto Requião ou na Bahia de Jaques Wagner.


PODE ATÉ SER


A ‘Economist’ foi das poucas publicações globais que deram atenção ao FSM -com ironias como a de que o ‘denominador comum’ dos 80 mil participantes é ‘crer que o mundo com mais igualdade e paz pode até ser possível’.


A revista sublinhou a presença dominante de ‘católicos romanos’ e a defesa difusa de um ‘socialismo cristão’.


GATES E TV


Em Davos, Gates no painel sobre Web 2.0 ou participativa


Após o esforço deliberado de tirar o foco dos nomes do showbiz, as estrelas em Davos foram da web, como Bill Gates, da Microsoft. Ele liderava ontem os ‘+ lidos’ da Folha Online e os ‘top 10’ do Digg, em ambos editado pelos próprios internautas. Disse estar ‘espantado como as pessoas não vêem que em cinco anos todos vão rir da TV’ de hoje, que seria engolida por YouTube etc.


Em tempo, Gates não apareceu à toa em Davos. Nem vai à toa, hoje, ao ‘Daily Show’, de Jon Stewart. A Microsoft está em semana de esforço para lançar o Windows Vista.


BETA Com Gates e Hurley em Davos, ontem a web espalhava um vídeo, destaque nos sites de edição social, dizendo estar em testes a Google TV. O vídeo é elaborado, mas seria ‘hoax’, trote


GOOGLE E TV


Uma avaliação não se questiona, diz o blog ‘oficial’ Davos Conversation: ‘Olhando toda a semana, o evento mais quente na cidade foi, sem dúvida, a festa do Google, sexta à noite’.


Para blogs e sites de mídia, é do Google também ‘a notícia mais importante que saiu de lá’ -dada por Chad Hurley, fundador do YouTube, hoje parte do Google, em aparte no mesmo painel sobre Web 2.0. Vem aí o pagamento aos ‘usuários que geram conteúdo’, ou seja, os internautas que postarem vídeos no YouTube.


A TV COMO ELA É 1


Também nos ‘+ lidos’, a notícia de que uma mulher ligou para o ‘Fala que Eu te Escuto’ (Record) e criticou a Igreja Universal por ‘satanizar’ o candomblé. O ‘bispo’ debatia se os problemas na vida privada da atriz Suzana Vieira eram efeito de ‘macumba’.


A TV COMO ELA É 2


A vida privada da atriz foi a atração também na Globo, no ‘Domingão do Faustão’. Disse ela, ao vivo, que ‘tudo vale a pena quando a alma não é pequena’. Para Fausto Silva, ‘é problema dela com o marido’.


É a TV hoje, que Bill Gates proclama estar perto do fim.’


INGLATERRA
Folha de S. Paulo


Indiana Vence Big Brother Britânico


‘A atriz indiana Shilpa Shetty, 31, ganhou ontem o ‘reality show’ britânico ‘Celebrity Big Brother’ depois de ter sido vítima de preconceito racial. Seu inglês com sotaque foi ironizado por três participantes do programa. Os comentários geraram um incidente diplomático entre o Reino Unido e a Índia e obrigaram o premiê Tony Blair a se manifestar.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


YouTube quer dividir suas receitas com os usuários


‘Chad Hurley, um dos fundadores do YouTube, anunciou durante o Fórum Econômico Mundial que o site irá passar a dividir as receitas de publicidade com seus usuários.


Hurley, que em novembro passado vendeu a empresa que ajudou a fundar para o Google por US$ 1,65 bilhão, afirmou que uma das maiores inovações em que estão trabalhando no momento é encontrar uma forma de fazer com que os usuários do YouTube possam lucrar com os conteúdos que postam.


Na página do YouTube, são vistos cerca de 70 milhões de vídeos diariamente.


‘Temos uma audiência suficientemente grande para poder respaldar a criatividade dos internautas repartindo os ganhos com os usuários’, disse Hurley. ‘Iremos trabalhar nisso nos próximos meses.’


Mas Hurley não deu detalhes sobre percentuais das receitas a que os usuários terão direito nem de que forma isso poderá ser contabilizado.


Hurley afirmou que, quando fundou o site, ele e seus parceiros -Steve Chen e Jawed Karim- pensaram que dividir os ganhos com os internautas poderia criar uma comunidade de usuários apenas motivados por interesses financeiros, ao invés da paixão pelos vídeos, como desejavam. Por isso, resistiram esse tempo todo à idéia de compartilhar suas receitas. Com agências internacionais’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 29 de janeiro de 2007


INTERNET
Pedro Doria


Massa ou nicho?


‘Esse é um dado que podíamos prever mas, sem os números, não dava para provar. Fato é que aquilo que é baixado pela internet nas redes de compartilhamento de arquivos é justamente o mais consumido nas rádios, tevês, cinemas e lojas de discos e DVDs.


O programa campeão da pirataria é a série House, seguida de American Idol; dentre os filmes, Piratas do Caribe, Borat em segundo. E no ranking da música tem dois Justin Timberlake no top 10.


Os números, publicados pela revista Forbes, são levantados pela BigChampagne.com, uma empresa especializada nisso: em analisar o que vai de computador em computador nos subterrâneos da rede mundial.


Então há de ser isso: a velha promessa da internet de sagrar-se o bastião da diversidade, de vender mais o nicho do que o imensamente popular, frustrou-se. O que as pessoas querem baixar, mesmo, é aquilo que a massa está ouvindo ou assistindo de qualquer forma.


Essa, ao menos, é a conclusão que a trupe da Forbes sugere. Só que estão errados – e por dois motivos.


O primeiro é que muita coisa que não se encontra nas lojas é baixada pela internet. Não tem volume para aparecer numa lista dos dez mais, é fato, mas o nicho é assim. A rede continua com sua competência para o nicho: afinal, ela permite a distribuição por quase nada de quase tudo. A música do desconhecido também está lá e uns dois ou três a ouvem. Às vezes, mil ou dois mil. Se não bate Justin Timberlake no ranking, a culpa não é dos poucos curiosos que vasculham por novidades, a massa é que é assim – por natureza afeita a copiar todo o resto, não varia por nada.


O segundo motivo é algo que, com alguma crueldade, podemos chamar de distorção do iPod. Se o aparelhinho da Apple solucionou o problema de quem queria carregar sua música digital para onde fosse, também limitou o lado digital da música.


Veja-se uma Amazon, essa loja estupenda que ora nos serve pela rede. Depois de tantos anos comprando livros por lá, hoje dependo de suas indicações. O software da loja sabe o que procuro com detalhes minuciosos e sugere lançamentos ou raridades perdidas em seu catálogo com bastante precisão. Novidades a respeito de determinados assuntos não me escapam mais. (Se acaso o dinheiro falta para a compra, a história é outra.)


Usuários de rádios colaborativas assim, como a Pandora.com, reportam o mesmo tipo de interação. Como são muitos os usuários é possível fazer um balanço de gostos. E se alguém procurar Bruce Springsteen, cá o colunista o faria, encontrará também o que mais ouvem aqueles que ouvem Springsteen. É esse boca-a-boca em escala global que fortalece o mundo dos nichos na internet.


Acontece que a experiência da maioria dos adeptos da música digital ainda está isolada do mundo – não pelos fones brancos que fazem sumir o barulho do metrô mas pelo sistema fechado, à prova de cópias, que faz parte do iPod. É um isolamento artificial que o organismo da internet tratará de contornar.


Hoje, usuários de iPods têm suas músicas trancadas e incomunicáveis no banco de dados do iTunes. Elas só conversam com outros iTunes na mesma rede local. Se conversassem além, e já há programinhas que improvisam esta conversa, sua biblioteca de músicas poderia ser comparada com a biblioteca de outros na internet. Bibliotecas similares encontradadas servem ao software para dar dicas.