Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ministério Público vai apurar
abusos das TVs na crise paulista


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Revista Consultor Jurídico


Quarta-feira, 24 de maio de 2006


CAOS EM SP
Claudio Julio Tognolli


Ministério Público investiga entrevistas de presos na TV


‘O Ministério Público de São Paulo abriu nesta quarta-feira (24/5) Inquérito Civil para apurar entrevistas com supostos líderes do PCC, exibidas nas televisões entre 15 e 19 de maio, período em que o estado de São Paulo foi abalado por uma onde de ataques a pessoas e imóveis do sistema de segurança e de rebeliões em presídios.


‘As notícias veiculadas na grande Imprensa, de que três emissoras de televisão, excedendo-se no direito de informação, teriam na semana de 15 a 19 de maio, veiculado falsas entrevistas ou falsas informações sobre a recente e lamentável onda de ataques, deflagradas pelo crime organizado (Primeiro Comando da Capital – PCC), cujo conteúdo é de veracidade duvidosa e com pesado apelo psíquico e emocional’, diz a portaria 11/06 de autoria da promotora Débora Pierre.


A portaria cita nominalmente os jornalistas Marcelo Rezende, da Rede TV e Roberto Cabrini da Rede Bandeirantes, além da Rede Record. A procuradora Débora Pierre foi quem investigou a fraudulenta entrevista com líderes do PCC veiculada pelo apresentador Gugu Liberato há dois anos.


A procuradora cita na portaria a ‘falsa entrevista’ com Marcos Willians Herba Camacho, o Marcola, apontado como o líder da organização criminosa Primeiro Comando da Capital, feita pelo jornalista Roberto Cabrini, da Rede Bandeirantes. Para ela ‘a responsabilidade do apresentador Roberto Cabrini e da própria Rede Bandeirantes deve ser apurada, pois ainda que a entrevista seja verídica, violaram norma legal que impede comunicação daqueles que se encontram em regime especial de retenção’.


No momento da entrevista, feita por telefone, Marcola estava detido no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, sob Regime Disciplinar Diferenciado, no qual o preso é mantido incomunicável.


A procuradora cita também entrevista com outro suposto integrante do PCC conhecido como Macarrão, transmitida pelo Jornal da Noite da Rede Record, cujo apresentador não identifica. Ela se propõe também a apurar a responsabilidade do jornalista Marcelo Rezende na divulgação de ‘suposta orientação, que teria sido dada pela Polícia Militar para que os alunos de universidades fossem liberados em razão da segurança, o que causou grande pânico’


Leia a íntegra da Portaria 11/06


‘Considerando as notícias veiculadas na grande Imprensa, de que três emissoras de televisão, excedendo-se no direito de informação, teriam na semana de 15 a 19 de maio, veiculado falsas entrevistas ou falsas informações sobre a recente e lamentável onda de ataques, deflagradas pelo crime organizado (Primeiro Comando da Capital – PCC), cujo conteúdo é de veracidade duvidosa e com pesado apelo psíquico e emocional.


Considerando os fortes indícios de que as emissoras de televisão e seus apresentadores tinham por objetivo, não o sagrado direito à informação, mas simplesmente elevar os pontos de audiência, incidindo em prática comercial abusiva, notadamente pelo impacto que os ataques causaram na cidade e nos cidadãos, impondo-lhes com essas entrevistas e falsas informações maior medo, pânico, enfim, comportamento prejudicial à sua segurança.


Considerando que o repórter Marcelo Rezende (Rede TV) deu falsas informações, segundo dito pela Oficial da Polícia Militar – Setor de Comunicação Social – a respeito da suposta orientação, que teria sido dada pela Polícia Militar para que os alunos de universidades fossem liberados em razão da segurança, o que causou grande pânico e congestionamento das linhas do 190.


Considerando ainda, que o apresentador Roberto Cabrini (Rede Bandeirantes) teria veiculado em seu programa Jornal da Band, falsa entrevista com um dos chefes do crime organizado conhecido pelo codinome Marcola.


Considerando também, que o referido líder do grupo estava em regime de incomunicabilidade, a veiculação da entrevista, além de ter causado perplexidade na sociedade já atingida em sua honra e moral, causou em cada um dos telespectadores medo e desamparo, notadamente porque o suposto entrevistado não deixou de ressaltar que os acontecimentos seriam amostra daquilo que poderia ser feito pelo grupo.


Além disso, a responsabilidade do apresentador Roberto Cabrini e da própria Rede Bandeirantes deve ser apurada, pois ainda que a entrevista seja verídica, violaram norma legal que impede comunicação daqueles que se encontram em regime especial de retenção.


Considerando-se ainda, que a Rede Record (apresentador a ser averiguado) no programa ‘Jornal da Noite’ veiculou assemelhada entrevista com outro líder do referido grupo, conhecido pelo codinome ‘Macarrão’, incidindo nas mesmas práticas já referidas.


Considerando-se o fato de que o conteúdo da criação intelectual contribuiu para exacerbar o sentimento de assombro, indignação e de descrédito nas instituições, notadamente, as responsáveis pela segurança pública.


Considerando ainda, que o objeto social das empresas é a comunicação social e na sua atividade deve observância e respeito ao direito à integridade moral, erigido pela Constituição Federal como norma de valor fundamental (art. 5º., V e X).


Considerando igualmente, que não há somente direitos individuais violados e que ao Estado compete velar por prevenir e reprimir todo e qualquer ato ilícito.


Considerando do mesmo modo, que a REDE BANDEIRANTES, REDE RECORD e REDE TV, e os responsáveis pela condução dos programas citados, envolveram-se na prática do abuso do direito de informar e da liberdade de expressão assegurados às emissoras de televisão, em patente agressão aos princípios morais e éticos regentes da sociedade brasileira.


Considerando do mesmo modo, que também o direito dos consumidores foi erigido ao patamar constitucional e que consumidor não é somente aquele descrito no art. 2º da Lei Federal nº 8.078/90, mas também todas as vítimas de evento decorrentes de ato ou fato envolvendo relação de consumo, assim como, todas as pessoas determináveis ou não expostas às práticas comerciais (art. 29 do Código de Defesa do Consumidor), marcadamente aquelas consideradas hipossuficientes.


Considerando-se também a tendência crescente no sentido de considerar que, na atividade publicitária, consumidor não é apenas o indivíduo diretamente visado, mas todos os integrantes da sociedade atingidos pela prática comercial, especialmente quando demonstrada a respectiva abusividade, cujo rol exemplificativo encontra-se no art. 37, parágrafo 2º.do CDC.


Considerando-se outrossim, o fato de que as informações coletadas junto a Mídia denotam aumento dos percentuais de audiência em decorrência dessas veiculações, o que potencialmente ampliou e difundiu os efeitos econômicos favoráveis às empresas e aos apresentadores.


Considerando-se igualmente, que a Lei Federal nº 8.078/90 tutela não apenas a integridade econômica, mas, também – e principalmente – a incolumidade física e moral dos consumidores e também, que o escopo da ordem econômica, tem por razão última a proteção dos interesses dos consumidores, destinatários dos produtos e estes, por sua vez, o direito à indenização cabal dos prejuízos ou outras medidas que assegurem efetivamente seus interesses.


Considerando-se que as evidencias são fortes e demonstrativas da ilicitude e a imoralidade da conduta, tomada com intuito exclusivo de lucro e em benefício próprio, olvidando-se da sua importante função social, logrando violar, a um só tempo, vastíssimo rol de direitos fundamentais de milhões de pessoas integrantes da combalida sociedade brasileira.


Considerando-se ainda, que a forma adotada pelos envolvidos fere diversos princípios: dignidade da pessoa humana, a função social da comunicação de massa, confiança, veracidade, transparência, boa-fé objetiva, moralidade dentre outros.


Considerando finalmente, sem prejuízo da responsabilidade penal, que já se encontra em franca apuração, também compete ao Ministério Público à defesa dos direitos constitucionais e dos direitos coletivos e dentre eles os de milhões de consumidores, notadamente no sentido de buscar o ressarcimento dos prejuízos morais e patrimoniais.


Resolve instaurar o inquérito civil (art.106, ‘caput’, da Lei Complementar 734, de 26 de novembro de 1993, e art.8°, § 1°, da Lei 7347 de 24 de julho de 1985), para apurar devidamente os fatos e, posteriormente, se necessário, promover a competente Ação civil pública em face da empresa e dos responsáveis pela veiculação da referida entrevista, determinando, desde logo, as seguintes providências:


1. Registro e autuação da presente Portaria e dos documentos que a acompanham;


2. . Notifiquem-se as redes de televisão, os apresentadores indicados, para que no prazo de 10 dias apresentem suas respostas;


3. . Requisite-se da TV Record a fita contendo a entrevista ocorrida no Jornal da Noite, de 16 de maio de 2006


4. . Oficie-se ao Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (GAECO), solicitando-lhe informações necessárias a respeito dos fatos narrados.


5. . Oficie-se à Secretaria da Administração Penitenciária a respeito do que constar sobre as entrevistas que teriam sido feitas com os líderes da facção criminosa, conhecidos como Marcola e Macarrão.


6. . Oficie-se ao Comando da Polícia Militar para que possamos ouvir em audiência própria as declarações da Major Maria, Chefe interina do Setor de Comunicação Social daquela corporação,


7. . Oficie-se ao Ministério Público Federal na pessoa da Doutora. Eugenia Fávero, solicitando-lhe informações a respeito de eventual procedimento aberto em face dos fatos narrados;


8. . Cientifique-se o CENACON.


Deborah Pierri


Promotora de Justiça’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 24 de maio de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O show tem que continuar


‘Início de tarde, ao vivo por Globo News, Band News, CBN e outras rádios, UOL e outros portais, ‘advogada de Marcola depõe e chora na CPI das Armas’.


Com o Congresso Nacional de volta às telas, embora se tratasse da violência de São Paulo, a pefelista Laura Carneiro, do Rio, e o petista Paulo Pimenta, do Rio Grande do Sul, comandaram o espetáculo.


O show foi cheio de alternativas. No intervalo da Globo, em seguida:


– CPI do Tráfico de Armas acaba de exibir imagens do circuito interno, mostrando que a advogada mentiu.


Depois:


– Para a CPI, a advogada entrou na sala como uma testemunha e vai deixar a comissão como acusada de vários crimes.


E depois:


– A CPI aprovou ouvir o criminoso Marcos Camacho no fórum da Barra Funda, em São Paulo.


O show tem que continuar. Todos à Barra Funda.


Na escalada do ‘Jornal da Band’, à noite:


– CPI ouve os advogados do PCC, mas não consegue provas de que a gravação foi entregue a criminosos.


Muito além do espetáculo, naquele mesmo começo da tarde entidades de direitos humanos faziam as contas e divulgavam, na manchete do portal Globo.com:


– SP: 30 mortos podem ser inocentes.


Mais algumas horas e, na Folha Online:


– Secretaria de Segurança revê dados e reduz número de suspeitos mortos.


Mais à noite, na primeira manchete do dia no ‘Jornal da Record’, ressurge o mesmo número 30:


– A polícia muda o balanço da guerra. Agora seriam 79 mortos, 30 a menos.


Na primeira manchete do ‘Jornal Nacional’:


– Mortes na ação da polícia de SP têm novos números. Existe suspeita de execução por grupos de extermínio.


O PÚBLICO E O PRIVADO


Costa sob ataque nos sites de mídia, desde o fim de semana


O ministro das Comunicações está sob ataque desde o final da semana. Primeiro, no site Pay-TV e outros, ‘o presidente do Grupo Bandeirantes, Johnny Saad, voltou a bater na Globo’ devido ao ministro, que ‘finge que não vê nada nas fusões que estão aí’. Foi uma referência a Sky, DirecTV e Net, que estariam levando a TV paga a uma concentração no ‘Jardim Botânico’. Para o empresário, o governo ‘terceirizou as Comunicações’.


Sob o título ‘O ministro, o público e o privado’, ontem foi a vez do professor da UnB Murilo Ramos, no Terra Magazine, que criticou Hélio Costa por declarar, sobre a TV digital: ‘Dizem que eu defendo a TV. Bem, eu não vou para a história como o responsável pela destruição da TV brasileira’. Para o colunista, ele ‘constrange o presidente da República a escolher determinado sistema, o mesmo defendido pelas Organizações Globo’.


MANTEGA X PALOCCI


As críticas à indicação do ‘desenvolvimentista’ Júlio Sérgio de Almeida, ligado à Unicamp e à indústria, para a Fazenda foram respondidas ontem pelos fartos elogios dos ministros Tarso Genro e Luiz Marinho, no site Carta Maior, que constatou:


– O ministro Mantega vem buscando relaxar a ortodoxia que reinou com Pedro Malan e Antonio Palocci.


GUERRA DE AUDIÊNCIA


Às vésperas de nova rodada de pesquisas, Delúbio Soares voltou à CPI dos Bingos para quatro horas de depoimento. Mas a concorrência inusitada da CPI das Armas terminou por tirar do ar o ex-tesoureiro do PT, nos canais de notícias e nas rádios.


Não tem problema. Como observou a Globo News, a CPI já convocou a ex-mulher de Rogério Buratti.’


ARGENTINA
Flávia Marreiro


Hackers expõem políticos e jornalistas argentinos


‘Cerca de 30 pessoas, entre políticos do primeiro escalão do governo argentino, juízes e jornalistas, tiveram suas caixas de e-mail invadidas por hackers e as senhas pessoais de acesso ao correio eletrônico divulgadas na internet.


Em alguns casos, como o do ex-ministro da Defesa José Pampuro, hoje senador, os espiões divulgaram em um site parte de sua correspondência.


A lista inclui ainda o secretário particular do presidente Néstor Kirchner e de sua mulher, Fabian Gutierrez, o ex-prefeito de Buenos Aires Aníbal Ibarra e ainda Eugenio Zaffaroni, ministro da Corte Suprema. A maior parte dos que tiveram o sigilo de e-mails quebrado (suas senhas divulgadas), porém, é de diretores e jornalistas dos maiores jornais do país: ‘Clarín’ e ‘La Nación’.


O ministro chefe-de-gabinete do governo Kirchner, Alberto Fernández, classificou a onda de espionagem como ‘tremenda’ e, embora não apareça nos sites divulgados pelos hackers, disse que também foi vítima da invasão de privacidade eletrônica.


Fernández afirmou que não há ligação do episódio com agentes da Side (Secretaria de Inteligência do Estado). ‘Francamente não creio que a Side se meta nisso’, afirmou anteontem. É que a principal hipótese apontada pelas vítimas da espionagem e pela imprensa é que os hackers são ex-funcionários da agência de inteligência, demitidos em 2001.


Também se suspeita de narcotraficantes investigados pela Justiça argentina e até de ex-agentes do recém desmontado serviço de inteligência das Forças Armadas do país (leia texto nesta página).


Antecedentes


O caso de espionagem veio à tona na última segunda-feira, quando o jornalista Ernesto Tenenbaum, colunista de uma rádio do grupo ‘Clarín’, afirmou que os endereços de sua caixa de correio haviam recebido mensagens enviadas a partir de seu e-mail, sem que ele soubesse.


Além de correspondência privada, os e-mails enviados indicavam sites com listas endereços e senhas e correspondências particulares de políticos, funcionários e juízes. A operação se repetiu com outros quatro jornalistas.


Entre as correspondências divulgadas pelos espiões estavam as do jornalista do ‘Clarín’ Daniel Santoro. Ele já havia denunciado, no começo deste mês, que sua caixa de e-mail havia sido invadida e que os hackers haviam roubado conversas dele com um juiz. O tema das mensagens roubadas era uma investigação de narcotráfico -contrabando de cocaína envolvendo dois sérvios. O juiz havia passado informações ao jornal com o compromisso de que seu nome não seria publicado (o chamado ‘off the record’), mas os e-mails chegaram à defesa dos traficantes.


Na semana passada, o ‘Clarín’ entrou com uma ação na Justiça pedindo investigação do caso. Ontem, o jornal informou que o senador José Pampuro havia se juntado ao diário na ação. Pampurro afirmou ao ‘La Nación’ que os e-mails e uma foto de sua neta divulgadas pelos hackers eram verdadeiros.


‘No material divulgado há datas diferentes, há espionagem do ano passado. Foi uma espécie de ameaça para mostrar que os mesmos que espionaram Santoro podem espionar outros jornalistas e que já espionaram políticos’, disse Lucio Fernández, do ‘Clarín’, designado pelo jornal para falar à Folha sobre o caso.


Confidências


A maior parte do conteúdo divulgado pelos hackers, porém, não trata de temas políticos: é sobre vida privada das vítimas. Há e-mails com fotos, troca de confidências e preferências sexuais.


‘Isso é lixo puro por meio do qual pretendem extorquir e sujar jornalistas, políticos e juízes’, afirmou o ex-prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra.


O conteúdo estava ainda ontem disponível em um site da rede, atribuído a ex-agentes da Side ligados ao ex-banqueiro menemista Raúl Moneta. Moneta, segundo o jornal ‘Pagina/12’, manteve uma rede de espionagem, no passado, que contava com os serviços do ex-agente da CIA, Frank Holder, o mesmo que teria passado à revista ‘Veja’ a lista de contas de políticos brasileiros no exterior.’


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A operação


‘Hackers invadiram e-mails de jornalistas e políticos e difundiram informações na internet


OS ALVOS DOS HACKERS


Políticos


Alberto Fernández, chefe-de-gabinete de Kirchner; José Pampuro, senador da base de Kirchner, ex-ministro da Defesa; Aníbal Ibarra, ex-prefeito de Buenos Aires; Eugenio Zaffaroni, ministro da Corte Suprema argentina; Fabian Gutierrez, secretário de Kirchner. Há ainda um ex-secretário de Estado e o prefeito da cidade de Quilmes


Jornalistas


Bartolomé Mitre (diretor do ‘La Nación); Hector Magnetto (presidente do grupo Clarín); Daniel Santoro (repórter especial do ‘Clarín’); Ernesto Tenenbaum (da rádio Mitre e do grupo Clarín)’


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Espionagem ocorreu antes na Marinha


‘A onda de espionagem eletrônica de políticos e jornalistas argentinos acontece dois meses depois de um outro escândalo de espionagem ilegal ser descoberto em uma base da Marinha argentina, no sul do país.


O caso -que derrubou dois militares de alta patente da Marinha- começou em março com a denúncia da ONG Cels (Centro de Estudos Legais e Sociais), com base no depoimento de um oficial.


O militar, transformado em testemunha, informou que na base Almirante Zar, em Chubut, espionavam-se políticos, jornalistas e militantes de direitos humanos. Desde 1992, as Forças Armadas estão proibidas de realizar serviços de inteligência sobre assuntos internos.


Na base, foram encontrados relatos de espionagem e pastas de arquivo com recortes de jornal e investigações próprias. No material, havia dados sobre a ministra da Defesa, Nilda Garré -que fora perseguida durante a ditadura- e um arquivo extenso sobre um ex-funcionário do gabinete.


Como reação à crise, o ministério da Defesa ordenou a desarticulação de todo serviço de inteligência das Forças Armadas. Agora, sob ordens exclusivas do Ministério da Defesa e do governo nacional.’


IRÃ
Folha de S. Paulo


Irã fecha jornal por charge ofensiva


‘O governo iraniano fechou ontem o jornal oficial ‘Irã’, um dos três maiores do país, além de prender seu editor-chefe, Mehrdad Qasemfar, e um chargista, Mana Neyestani. O fechamento e as prisões foram atribuídos a uma charge que teria sido o motivo de protestos de centenas de membros da etnia azeri, na segunda-feira, na cidade de Tabriz.


A medida, primeira do tipo tomada pelo presidente Mahmoud Ahmadinejad, demonstra preocupação do governo com sinais de ruptura interna, em meio ao impasse com os Estados Unidos.


Membros do governo, incluindo o ministro da Cultura, se desculparam publicamente pela charge e enfatizaram a importância da união nacional diante da tensão com Washington, que acusa o Irã de desenvolver armas nucleares.


‘Está claro que as mãos maldosas dos estrangeiros estão se esforçando para provocar conflitos étnicos, tribais e religiosos’, disse o promotor público Ghorban Ali Dorri Najafabadi, que também afirmou que o Irã ‘está vigilante e odeia os Estados Unidos’.


Os azeris são o maior grupo dentre as minorias étnicas do Irã, somando cerca de um quarto da população do país -que é de 70 milhões de pessoas, a maioria de origem persa.


A charge mostrava uma barata falando a língua azeri e sugeria que os azeris tinham pouca inteligência. No desenho, pessoas tentavam ensinar a barata a falar ‘barata’, em persa, e ela respondia, em azeri, ‘o quê?’. Não houve, no entanto, explicação para o fato de os protestos terem começado na semana seguinte à publicação da charge.


Disputas


O país viveu uma onda de fechamentos de jornais nos últimos anos, em meio a disputas entre reformistas e conservadores durante o governo do presidente reformista Mohammad Khatami (1997-2005). Na época, o judiciário, conservador, fechou mais de cem jornais pró-reforma e prendeu dezenas de escritores e editores.


Mas o governo de Ahmadinejad, ultraconservador, não tomou medidas contra os dois jornais moderados que ainda restam no país -apesar de fazerem algumas poucas críticas fortes à liderança religiosa, como faziam os reformistas.


O Irã é uma colcha de retalhos étnica, mas suas várias minorias têm geralmente estado calmas nas últimas décadas, com poucas demonstrações abertas de oposição ao governo. Porém, há sinais de mudança, como uma série de ataques a bomba ocorridos no ano passado, em Khuzestan, centro da minoria árabe do país.


Rússia


O chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, pediu a Teerã que aceite as propostas para solucionar a crise nuclear feitas pelo Conselho de Segurança da ONU, cujos representantes se encontram hoje, em Londres. Rússia, EUA, China, França e Reino Unido tentam traçar uma estratégia para dissuadir o Irã de continuar seu programa nuclear a partir de um pacote de incentivos.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


52% da classe alta acessa internet todo dia


‘A internet está presente em apenas 12% dos domicílios brasileiros, mas é acessada diariamente por 52% das pessoas que têm renda mensal igual ou superior a R$ 4.500.


Essa é uma das principais conclusões de pesquisa do Ibope Inteligência sobre o perfil e hábitos de consumo do internauta brasileiro, realizada a pedido do UOL, empresa na qual os grupos Folha e Portugal Telecom têm participação.


Os resultados serão apresentados hoje em São Paulo no seminário ‘Mídia Internet: O Futuro Chegou’. Destinado a diretores de marketing de empresas, o evento tem o objetivo de ampliar a fatia da internet no mercado publicitário.


O seminário é fechado, mas poderá ser assistido gratuitamente pela internet no site www.midiainternet.com.br.


No ano passado, as ações de marketing na rede cresceram 12% em relação a 2004, enquanto o mercado publicitário teve expansão total de 7,4%. Ainda assim, a internet ficou com apenas 1,7% da receita de anúncios de 2005, o equivalente a R$ 265 milhões, segundo o Projeto Intermeios.


‘Se o anunciante está em um mercado de produtos um pouco mais sofisticados, ele não pode ficar fora da internet’, diz Marcelo Coutinho, diretor-executivo do Ibope Inteligência e responsável pela pesquisa.


O levantamento indica que 1 em cada 5 pessoas (20,4%) com renda de R$ 3.000 a R$ 4.499 mensais realizou compras pela internet nos 30 dias anteriores à realização da pesquisa. Na faixa de renda superior a R$ 4.500 a relação sobe para 27% (cerca de 1 em cada 4 pessoas).


Somadas as duas faixas de renda mais altas, o Brasil registra um índice de compras pela internet superior ao de países como Itália (15%) e Espanha (20%), observa Coutinho.


‘No topo da pirâmide social o acesso à internet é muito freqüente’, ressalta Enor Paiano, diretor de Publicidade e Comercial do UOL. ‘Temos que nos preocupar não apenas com a penetração da internet, mas também com o poder aquisitivo dos usuários’, diz.


A pesquisa mostra, por exemplo, que 34,8% dos brasileiros que compram vinhos importados são usuários freqüentes da internet -os ‘heavy users’, que acessam a rede todos os dias. Entre os que compraram carros nos 12 meses anteriores à pesquisa, 21,5% acessam a internet diariamente.


Apesar de serem apenas 10,9% do universo pesquisado, os ‘heavy users’ representam 48% das pessoas que realizaram quatro ou mais viagens de avião nos 12 meses que antecederam o levantamento. Os usuários médios, que usam a rede ao menos quatro vezes por semana, responderam por 19% das viagens.


Os usuários freqüentes da internet também têm escolaridade superior à da população em geral: 12,9% dos que possuem pós-graduação são ‘heavy users’ da rede. Na população total, o índice é de 3%.


Metodologia


O Ibope realizou o levantamento dentro do Target Group Index, que tem por alvo a população de 12 a 64 anos que mora nas regiões metropolitanas do país e no interior dos Estados do Sul e Sudeste. ‘São as áreas do país com maior potencial de consumo’, diz Coutinho.


A pesquisa ouviu 16,8 mil pessoas, representativas de um universo de 60,74 milhões de brasileiros. Os dados foram cruzados com o Netview, que traça o perfil de navegação do internauta a partir de softwares instalados nos computadores de 4.000 usuários da rede.


‘A importância da rede deve ser entendida não apenas do ponto de vista quantitativo, mas também qualitativo’, conclui a pesquisa.’


TELEVISÃO
Elvira Lobato


Cade julgará hoje fusão e jogos exclusivos na TV paga


‘O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) julga hoje dois processos estratégicos para as Organizações Globo no mercado de TV por assinatura: a fusão da Sky com a DirecTV e a reclamação da Associação NeoTV contra a política de exclusividade de transmissão das partidas de futebol, que beneficia as operadoras de TV paga filiadas ao sistema Net.


Nos dois casos, a manifestação do procurador-geral do Cade, Arthur Badin, é desfavorável aos interesses da Globo. Em relação à fusão, ele considera que não ficou provado que ela trará benefícios para o consumidor, conforme alegado pelas empresas, e diz que, sem essa comprovação, o Cade deve não apenas rejeitar a fusão mas determinar que a DirecTV seja vendida a terceiros sem vínculos com a Globo.


Os acionistas da Sky e da DirecTV justificaram o pedido de fusão, no Cade, argumentando que seria uma forma de tornar a TV via satélite competitiva com a TV a cabo e, ainda, que são necessários altos investimentos no negócio.


O processo administrativo da NeoTV foi aberto em 2001. A associação sustenta que a programação esportiva é essencial para a competitividade das operadoras de TV paga e reivindica o acesso aos canais SporTV nas mesmas condições de preço oferecidas às afiliadas Net.


O parecer do procurador-geral do Cade foi favorável ao pedido da NeoTV.’


Daniel Castro


Globo inaugura TV digital em dezembro


‘A TV Globo começa em dezembro a transmitir TV digital para toda a Grande São Paulo. Isso só não ocorrerá se o presidente Lula não cumprir promessa de editar até o final deste mês decreto instituindo o padrão tecnológico e regras básicas do modelo de exploração do negócio, que deve movimentar R$ 100 bilhões nos próximos anos no país.


Segundo Octavio Florisbal, diretor-geral da Globo, a emissora de São Paulo está quase pronta para a TV digital. Seu controle mestre na avenida Paulista (que continuará irradiando TV analógica no canal 5) só precisa de um equipamento complementar para transmitir também TV digital, em um outro canal, a ser definido.


A Globo emitirá uma única programação digital (a TV digital permite a um canal atual se dividir em quatro). A emissora espera que o decreto de Lula obrigue todas as redes a transmitirem um só sinal, para evitar que pequenas TVs se dividam e loteiem as freqüências.


Inicialmente, poucos programas (como ‘A Diarista’ e filmes) serão em HDTV (alta definição), um dos principais benefícios da TV digital, com uma imagem superior à dos atuais DVDs. A Globo usará a Copa para fazer uma megademonstração fechada de HDTV via satélite. Pelo menos 150 locais no país receberão quase todos os jogos em altíssima definição. Em São Paulo, já estão confirmadas exibições abertas ao público nos shoppings Eldorado, Anália Franco e Higienópolis.


TV MUDA 1


A Globo conseguiu no Tribunal de Justiça do Rio suspender decisão judicial de primeira instância que, na semana passada, a proibiu de usar, sem autorização prévia, músicas de compositores associados ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), como Caetano Veloso e Roberto Carlos, o que inviabilizaria quase toda a sua programação.


TV MUDA 2


Globo e Ecad reiniciaram em 2005 uma nova disputa judicial por valores que a rede tem de pagar por direitos autorais. O Ecad pede R$ 10,5 milhões por mês. A Globo, que já desembolsa R$ 3 milhões, acha isso um absurdo e aceita pagar, no máximo, R$ 4 milhões.


FUNDO DO POÇO


O ‘Programa do Ratinho’ se despediu das segundas-feiras com uma audiência desesperadora: só quatro pontos no Ibope. No SBT, já se aposta que, se não se recuperar agora aos sábados (o que parece uma missão impossível), Ratinho será encostado por Silvio Santos.


NÃO É O CULPADO 1


Foi com Lucimara Parisi, e não com Fausto Silva, que Angela Sander ‘trombou’ no ‘Domingão do Faustão’. Sander perdeu o cargo de diretora-geral do programa após uma crise de depressão. Jayme Praça já ocupa seu lugar.


NÃO É O CULPADO 2


Embora subordinada ao diretor-geral do ‘Domingão’, Lucimara Parisi é ‘intocável’ -trabalha com Fausto Silva desde antes do ‘Perdidos na Noite’. Sander discutiu com ela duas vezes recentemente.’


Lúcio Ribeiro


2ª temporada de ‘Lost’ termina hoje nos EUA


‘A noite que mudará tudo. É com esta pegada apocalíptica que a emissora americana ABC está inundando jornais e revistas com anúncios do final da segunda temporada do seriado ‘Lost’, que vai ao ar hoje nos EUA, em episódio especial de duas horas de duração.


Segundo os produtores da série, cerca de 20 milhões de americanos (mais os incontáveis ‘agregados’ da internet no mundo todo): 1-) Saberão finalmente por que o avião caiu 2-) Terão mais pistas conclusivas de quem são ‘Os Outros’ e 3-) Verão mais um de seus personagens principais morrer.


‘Live Together, Die Alone’ é o nome do episódio derradeiro de ‘Lost’, que deixará, sim, alguns nós misteriosos desatados para uma terceira temporada, prevista para outubro.


No Brasil, a série que mostra a saga dos sobreviventes do vôo 815 da companhia aérea Oceanic numa ilha (nem tão) deserta no Pacífico está no 11º episódio da segunda temporada, que tem um total de 24. Aqui, os capítulos inéditos passam às segundas no canal pago AXN.


Com trama que envolve alucinações, numerologia, espiritismo, teorias conspiratórias, o seriado consegue manter uma audiência alta nos EUA mesmo com a tática de complicar constantemente sua história. O ‘Lost’ do título da série se refere aos sobreviventes na ilha e também a seus espectadores.


Na primeira semana de maio, ‘Lost’ foi o 11º programa mais visto nos EUA, atraindo 15,6 milhões de pessoas à TV. Nesta semana final, espera-se que o seriado, no ar desde setembro de 2004, entre no Top 5.


Além da TV, ‘Lost’ também é fenômeno multimídia. Virou o ano sendo a série de maior número de downloads para o formato iPod, além de ter grande saída para celulares e podcast. Na internet, a febre em torno do seriado é não menos intensa. Fãs virtuais de ‘Lost’ discutem desde o primeiro dia ‘o que está por trás da série’.


Existe até um programinha para Windows que simula o contador de tempo do computador do seriado. Para quem não acompanha a atração, há um computador em um abrigo da ilha no qual é preciso inserir uma senha a cada 108 minutos, sob o risco de… Bom, na série ninguém ainda pagou para ver o que acontece se a senha não for colocada no tempo certo.’


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O Globo


Quarta-feira, 24 de maio de 2006


ARGENTINA
Janaína Figueiredo


Jornalistas são espionados na Argentina


‘BUENOS AIRES. Os jornais ‘Clarín’ e ‘La Nación’, os dois mais importantes da Argentina, denunciaram ontem a existência de uma rede de espionagem de jornalistas que funciona por meio da internet. Segundo os jornais argentinos, a ação da rede começou no fim de semana passado, quando várias pessoas receberam e-mails supostamente enviados por jornalistas que jamais mandaram as misteriosas mensagens.


Os e-mails continham endereços de páginas na internet nas quais apareciam nomes, endereços eletrônicos e senhas de vários jornalistas argentinos, por exemplo, do diretor do jornal ‘La Nación’, Bartolomé Mitre.


Ex-ministro da Defesa, atual senador, também espionado


Nas mesmas páginas foram divulgadas, também, as senhas de acesso às caixas de mensagens de alguns políticos, juízes e empresários, além de conversas pessoais das pessoas envolvidas no escândalo. Uma das vítimas da espionagem foi o ex-ministro da Defesa e atual senador peronista José Pampuro. As misteriosas páginas mostraram fotos de uma neta de Pampuro e trocas de e-mails entre o senador e amigos pessoais. ‘Trata-se de um fato muito grave. Estou analisando a situação com meus advogados para apresentar uma denúncia à Justiça’, disse o senador ao ‘La Nación’.


Vários dos falsos e-mails que circularam no fim de semana passado foram enviados da caixa de mensagens do jornalista Luis Majul, que apresenta programas de rádio e TV. Para o jornalista argentino, ‘é fácil deduzir que existe uma grande organização por trás de tudo isso. O que sinto é que querem gerar confusão. Sempre que aumenta a tensão entre o poder e a imprensa alguém tenta fazer ruído’.


Apenas um jornalista entrou até agora na Justiça


Até mesmo o chefe de Gabinete do governo, Alberto Fernández, braço direito do presidente Néstor Kirchner, admitiu ter sido vítima da rede de espionagem informática. Segundo ele, a Secretaria de Inteligência do Estado (Side) não tem nada a ver com o escândalo.


– Evidentemente existem problemas de segurança que terão de ser analisados e que não têm nada a ver com o Estado e sim com alguma pessoa do setor privado que está usando e-mails alheios – afirmou ele.


Até agora, o único jornalista que entrou na Justiça foi Daniel Santoro, do ‘Clarín’. Segundo o jornal, a caixa de mensagens de Santoro foi violada e desapareceram várias mensagens que ele enviara ao juiz Daniel Rafecas, encarregado de investigar um caso de narcotráfico.’


SOFTWARE LIVRE
Lino Rodrigues


Pirataria ainda em alta


‘Apesar da maior mobilização do governo federal e de entidades da iniciativa privada para combater a pirataria, o Brasil continua perdendo a guerra contra esse tipo de crime. Pelo menos no segmento de softwares. Pesquisa divulgada ontem pela Associação Brasileira de Software (Abes), em conjunto com a Business Software Alliance (BSA), mostra que, em 2005, de cada 100 programas para computadores pessoais (ou PCs) vendidos no país, 64 eram cópias pirateadas.


– A situação é preocupante. Mesmo com os planos oficiais de combate a esse crime, que são conduzidos pelo Conselho Nacional de Combate à Pirataria, criado no fim de 2004, ainda existe uma enorme oferta de produtos ilegais nas ruas, que inviabiliza a venda dos programas originais – observou o coordenador jurídico da BSA, André de Almeida.


Foi o terceiro ano seguido em que o índice de pirataria de softwares não recua no Brasil: em 2003, era de 61%, em 2004, subiu para 64%, mantendo-se nesse patamar no ano passado. Como o mercado brasileiro de informática vem crescendo a taxas de 20% ao ano, as perdas acarretadas pela pirataria à indústria de software se expandem. Foram de US$ 519 milhões em 2003; subiram para US$ 659 milhões em 2004; e no ano passado as empresas de software deixaram de vender US$ 766 milhões no país, um salto de 14% sobre 2004.


– Esse é um setor complicado de se atuar por causa da diferença de preços entre o produto original e o pirata – disse o presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial, Emerson Kapaz.


No mundo, índice de cópias foi de 35%


No mundo, a taxa média de participação dos softwares piratas também manteve-se estável no ano passado, em 35%, com perdas globais estimadas em US$ 34 bilhões, 5% (ou US$ 1,6 bilhão) a mais que no ano anterior. Essa alta das perdas deveu-se a uma expansão de 7% no mercado global de softwares, segundo a BSA.


No ranking de perdas provocadas pela pirataria à indústria de software, o Brasil ocupa a décima posição. O campeão em volume de prejuízos são os Estados Unidos, com US$ 6,8 bilhões, embora os programas ilegais representem somente 21% do mercado – menor índice entre os 97 países pesquisados.


A China vem em seguida, com perdas de US$ 3,89 bilhões, e uma incidência de programas piratas de 86%, apesar de uma redução de quatro pontos percentuais em relação a 2004. Com tal índice de ilegalidade, a China ocupa o quarto posto no ranking dos campeões mundiais de pirataria de software, que é encabeçado pelo Vietnã e por Zimbábue, ambos com 90% de programas ilegais nos seus mercados. A Indonésia vem atrás, com 87%.


Uma diminuição de 10 pontos percentuais na participação dos softwares ilegais no mercado brasileiro, segundo estimativa da Abes, traria ao setor um acréscimo de faturamento de pelo menos US$ 3,7 bilhões anuais, e um aumento na arrecadação tributária de US$ 550 milhões. Além da geração de 21 mil novos empregos na área de softwares e de serviços.


A situação América Latina, como um todo, é ainda pior que a brasileira. De acordo com a pesquisa, a participação de softwares piratas na região cresceu de 63%, em 2003, para 68% no ano passado. E as perdas nesse período aumentaram de US$ 1,26 bilhão para US$ 2 bilhões.


Segundo Almeida, da BSA, o principal canal de disseminação de cópias ilegais de software é o chamado ‘mercado cinza’ de microcomputadores – PCs montados clandestinamente com componentes roubados ou contrabandeados. Esses equipamentos respondem por dois terços do mercado brasileiro. Ou seja, de cada 100 microcomputadores vendidos no Brasil, pelo menos 75 são clandestinos.


Outro fato que tem favorecido os piratas é a morosidade da Justiça brasileira em punir os infratores.


– Levamos ao todo cerca de sete anos para chegar ao fim de um processo – afirmou Almeida.


Segundo o coordenador do grupo de trabalho antipirataria da Abes, Emilio Munaro, em 2006 as ações para conter a venda de cópias de programas piratas serão concentradas em três linhas: apoio legislativo, com reforma nas leis; continuidade nas campanhas de conscientização; e aumento das ações de apreensão de cópias piratas.’


CAOS EM SP
Zuenir Ventura


O medo que dá medo


‘Quando é que os paulistas sentiram mais medo? Curiosamente, não foi no sábado e no domingo, os dias mais terríveis do terror, quando aconteceram os ataques mmmmimmais intensos, mas na segunda-feira, no day after, quando o pior já tinha passado. ‘Foi então que caiu a ficha’, me diz alguém num encontro na sexta-feira passada, uma semana depois da madrugada em que começaram os assassinatos de policiais e as rebeliões nas penitenciárias.


Havia uns dez paulistanos reunidos nesse jantar, todos ainda sob o efeito de um choque como jamais imaginaram sofrer. Não se falava de outra coisa. Além da dimensão inédita que atingiu a violência, houve o fator surpresa: ao contrário do Rio, São Paulo não estava preparado. ‘Perdemos muita coisa de repente’, explica um dos presentes. ‘A auto-estima, a invulnerabilidade, a mania de grandeza.’


Foi na segunda-feira que, levado pelos boatos, o medo chegou às ruas elegantes dos Jardins, aos shoppings centers (20 dos 50 foram fechados), aos escritórios e às salas de aula. O dono de uma rede de 50 cinemas me contou que teve de encerrar as sessões às 3 horas da tarde: ‘Havia um clima de histeria entre funcionários moradores da periferia, e também o público, todo mundo chorando.’


Uma professora disse que não vai esquecer a aula que deu para uma sala quase vazia – quatro alunos de uma turma de 50. Pelos relatos, fica-se sabendo que aquilo já não era mais o medo puro, e sim o pânico, a paranóia, ou seja, o medo no seu grau máximo de irracionalidade, o medo do medo, quando se continua temendo e já não há mais razão para temer. O medo descrito por Guimarães Rosa, ‘uma pressão que vem de todos os lados’.


‘Fui para casa cedo, liguei a televisão e, perplexo, não reconhecia o que via. Tudo era estranho, principalmente aquelas ruas vazias, desertas, de uma cidade que a gente sempre soube que não podia parar.’ Eu ouvia meus amigos lamentando suas perdas, pensava em nós, cariocas, e não sabia o que era pior, se a nossa resignada aceitação do medo crônico que há anos tomou conta do Rio ou se a indignação deles com a novidade, com o susto que levaram. Choravam a velha cidade que tinham perdido e se apavoravam com a outra que estava surgindo em seu lugar – feroz, desconhecida.


Eu ainda me encontrava em São Paulo quando começou a Virada Cultural, um evento em que centenas de shows, peças teatrais, espetáculos de dança e música tomaram as ruas do Centro durante 24 horas seguidas. A cidade parecia dar a volta por cima, querendo esquecer inclusive os inocentes que, ao lado dos bandidos, a polícia executou. É possível que Sampa tenha voltado ao normal. Quanto às pessoas, não sei, mas talvez nunca mais voltem a ser as mesmas.’


CÓDIGO DA VINCI
Artur Xexéo


Um filme de mistério sem mistério algum


‘Pesquisas recentes constataram que, num canto remoto das Ilhas Galápagos, mora uma moça que não leu ‘O código Da Vinci’, de Dan Brown. Deve ter sido para ela que Ron Howard dirigiu a versão cinematográfica do romance, atualmente em cartaz em praticamente todos os cinemas do planeta. Só isso justifica a exibição de um filme de mistério em que toda a platéia sabe o que vai acontecer na cena seguinte. Bem, talvez isso seja um exagero. Talvez exista mais gente que não tenha lido ‘O código Da Vinci’. Talvez a platéia não se importe de saber o que vai acontecer a seguir, quando o mistério no cinema vem de um best-seller. Estão aí os filmes inspirados nos romances de Agatha Christie para comprovar. Mas por que então esta versão de ‘O código da Vinci’ é tão aborrecida?


Todo o mundo – literalmente – que leu o livro teve a mesma sensação de que aquilo dava um filme. Mais de uma das resenhas que o livro recebeu na imprensa referiu-se ao fato de o romance ter a estrutura de um roteiro cinematográfico. Talvez esteja aí a explicação para o resultado do filme. Visto o filme que segue tão fielmente as páginas do best-seller, percebe-se que ‘O código Da Vinci’, o livro, não era tão cinematográfico assim.


Há duas linhas na narrativa do romance. Na primeira, o leitor acompanha uma aventura de tirar o fôlego. Um corpo encontrado no Louvre, a suspeita de que um simbologista é o culpado, a aparição de uma policial que parece gostar do simbologista, a fuga dos dois por uma maratona de eventos que vão durar 24 horas seguidas sem dar tempo de os personagens – e também os leitores – respirarem.


A outra linha são as pistas deixadas no caminho da dupla de heróis. A cada capítulo, o leitor encontra uma nova informação que vai desvendando um enigma que, nas últimas páginas, tem a força para desestruturar a história da Igreja Católica.


As duas linhas formam uma trama de ação e mistério que, aparentemente, garantiria a base de um filme empolgante. Passada para a tela, o mistério torna-se enfadonho, e a ação quase não existe, pelo menos nos termos sugeridos pelas páginas do livro.


O enigma é o que há de menos cinematográfico no romance. No livro, o leitor participa da trama buscando um espelho para ler uma frase que Leonardo da Vinci escreveu ao contrário ou procurando uma reprodução da tela da Última Ceia para compará-la com a descrição que o romance apresenta. No filme, o quebra-cabeças original vira um blablablá difícil de acompanhar.


O mais surpreendente é que a ação vertiginosa descrita no romance também não aparece nas telas de cinema. A correria está toda lá, mas quase em câmera lenta. Não dá para torcer pelos protagonistas. Nunca parece que eles correm risco de vida ou que estão à beira de desvendar um mistério que pode mudar a História.


Por alguma insondável razão também, o roteiro, que segue linha por linha o que Dan Brown escreveu, resolveu ser econõmico justamente na trama amorosa que une os dois personagens principais. E o que no livro era um par romântico no cinema tornou-se apenas uma parceria investigativa.


Nada disso, porém, parece que vai atrapalhar a bilheteria que Hollywood imaginava para o filme. Só no primeiro fim de semana de exibição, o filme arrecadou US$ 77 milhões nos cinemas americanos, tornando-se a melhor estréia de 2006. Não houve crítica negativa – e a exibição do filme em Cannes foi seguida de uma série de bonequinhos dormindo – que aplacasse a fúria avassaladora com que ‘O código Da Vinci’ chegou às telas. No resto do mundo, o filme chegou aos US$ 144 milhões. No Brasil, ele ultrapassou a marca de 1,1 milhão de espectadores em apenas dois dias, deixando para trás o até agora campeão do ano, ‘A Era do Gelo 2.’ Ficou em quarto lugar entre as maiores estréias no país nos últimos 20 anos, perdendo apenas para as duas aventuras do Homem-Aranha e ‘Harry Potter e o Cálice de Fogo.’


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Parem as rotativas que as assessorias de imprensa continuam nos surpreendendo com notícias de última hora. A que acaba de chegar merece uma atenção especial: ‘O casamento do empresário e apresentador Roberto Justus, 51 anos, com a modelo e atriz Ticiane Pinheiro, 29, realizado na noite de sábado, teve direito a drinques exclusivos. Segundo nota divulgada pela assessoria de imprensa do casal, para Justus, foi criada uma bebida com licor de pêssego não alcoólico, e para Ticiane, um drinque levemente alcoólico à base de uva itália.’ Mas o que é isso? Assessoria de imprensa do casal? Mas para assessorar o quê? E o Roberto Justus e a Ticiane Pinheiro acreditam mesmo que um casamento que começa com a dupla divulgando o que bebeu na cerimônia tem alguma chance de dar certo?


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Dona Candoca quer saber: Por que cargas d’água o tio Gigi, que passou a novela inteira usando um suéter nas costas, justamente quando se aproxima o inverno e ele deveria vesti-lo está agora de blazer até quando faz café na cozinha?’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 24 de maio de 2006


IRÃ
O Estado de S. Paulo


Irã fecha jornal oficial por ‘ofensa’


‘Charge em diário da agência ‘Irna’ revoltou a minoria azerbaijana


O governo iraniano fechou ontem um de seus principais jornais, Irã, e prendeu o editor-chefe Mehrdad Qasemfar e o chargista Mana Neyestani por terem publicado uma charge ofensiva para a minoria azerbaijana – que saiu às ruas em protesto.


A charge, publicada sexta-feira pelo diário da agência oficial Irna (um dos três maiores do país), mostrava uma barata falando o idioma turco azerbaijano e sugeria que os azerbaijanos seriam idiotas. ‘Trata-se de material divisor e provocativo’, afirmou o organismo estatal que supervisiona a imprensa. Foi o primeiro fechamento de um jornal no Irã desde a posse, no ano passado, do presidente linha-dura Mahmud Ahmadinejad. A medida, acompanhada de pedidos de desculpas feitos pelas autoridades aos azerbaijanos, parece ser uma demonstração do temor do governo de que os EUA possam tentar insuflar uma revolta entre minorias étnicas do país. ‘As mãos malignas de estrangeiros estão se esforçando para provocar divergências tribais, étnicas e religiosas nas atuais circunstâncias’, afirmou o procurador-geral Ghorban Ali Dorri. ‘Nossa nação está vigilante e odeia os EUA.’


Outras autoridades ressaltaram que o Irã está unido na disputa com os EUA – que acusam a república islâmica de tentar produzir armas nucleares.


Os azerbaijanos são a minoria mais numerosa do Irã, somando cerca de um quarto dos 70 milhões de habitantes desse país de maioria étnica persa. Revoltados com a charge, milhares de azerbaijanos marcharam segunda-feira por Tabriz e outras cidades do noroeste do Irã. Alguns quebraram janelas da sede do governo de Tabriz. A polícia dispersou os protestos com gás lacrimogêneo.’


TV DIGITAL
O Estado de S. Paulo


Governo ainda discute padrão de TV digital


‘A uma semana do prazo dado pelo governo (30 de maio) para o anúncio do padrão de TV digital que será adotado no País, não há sinal de que o Palácio do Planalto já tenha uma definição sobre os diversos temas que envolvem essa escolha, como o modelo de negócios que será adotado pelas emissoras de TV e a regulamentação dessa mudança, que deverá passar pelo Congresso. Segundo técnicos da área, a única certeza que se tem a respeito da questão é a forte tendência do governo a escolher o padrão japonês, que concorre com os modelos europeu e americano.’


INCLUSÃO DIGITAL
Renato Cruz


Grandes empresas reforçam aposta no software aberto


‘Não é por acaso que o símbolo do evento Linux World Conference & Expo, que começou ontem em São Paulo, é um pingüim de gravata (o pingüim é o símbolo do Linux, e a gravata o associa a executivos). Grandes empresas reforçam a aposta no software de código aberto – como o Linux -, despidas de viés ideológico. ‘A questão deve ser analisada de maneira pragmática, e não por razões filosóficas’, afirmou Dan Frye, vice-presidente mundial do Centro de Tecnologia Linux da IBM.


No começo do governo Lula, o código aberto – ou software livre – foi adotado como bandeira política, mas acabou enfrentando problemas para ser implementado. Enquanto isto, este tipo de programa de computador foi ganhando espaço na iniciativa privada. O software proprietário, como o Windows, da Microsoft, exige o pagamento de licença e não pode ser modificado pelo usuário. O software de código aberto, ou livre, como o Linux, não exige pagamento de licença e pode ser modificado pelo usuário.


A IBM anunciou ontem a ampliação de seu Centro de Tecnologia Linux no Brasil. Ele passou de 15 pessoas para 45. Além do espaço que ocupa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o centro passa a ter também instalações em Hortolândia (SP). Foram investidos US$ 2,2 milhões na expansão do centro. Pode não parecer muito, para uma empresa com investimentos estimados em US$ 1 bilhão por ano em código aberto, mas o centro brasileiro está entre os cinco maiores do mundo. A IBM conta com 600 programadores em seus 20 centros mundiais, em 10 países, para desenvolver projetos de código aberto.


‘O software de código aberto nos permite crescer em área em que ainda não temos grande presença’, afirmou Jeff Smith, vice-presidente de Linux e Código Aberto da IBM. ‘Não haverá uma guerra entre código aberto e privado. A tendência é de coexistência. O que não parece ser uma notícia de jornal sensacional.’


Como prova da coexistência entre o software aberto e o proprietário, ele citou o sistema de servidor de internet Apache, de código aberto, que foi integrado desde 1998 no Websphere, um programa proprietário da IBM.


Além da IBM, os grandes expositores do evento são a Novell, a Red Hat e a HP. Até mesmo a Microsoft participa do congresso.


Amanhã, o gerente-geral de Estratégia de Mercado da empresa, Bill Hilf, deve falar sobre a integração de produtos da Microsoft com software de código aberto, e sobre sua experiência no Linux/Open Source Software Lab, localizado em Redmond, sede mundial da companhia.


Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas aponta que o Linux tinha ano passado uma fatia de 16% do mercado brasileiro de sistemas operacionais para servidores. O Windows ficava com 63%. No computador de mesa, no entanto, a participação do programa da Microsoft era de 97%.


A Novell quer crescer neste mercado, com uma versão de Linux lançada no ano passado. ‘O sistema operacional está mais evoluído em tecnologia, está muito similar a um desktop da Microsoft’, disse Ricardo Fernandes, presidente da Novell do Brasil. Em um ano, a empresa conseguiu vender o sistema para 6 mil computadores de mesa no País. Segundo ele, estão em negociação dois grandes contratos com centrais de atendimento. Um deles deve ser assinado este ano.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Cultura exibe BBC


‘Batizada como Cultura Mundo, uma série de docudramas – documentários que prevêem dramaturgia como reconstituição dos fatos – é um dos quatro tipos de produtos da grife BBC que a TV Cultura passa a exibir na semana de 5 de junho, quando estréia sua nova grade. O pacote BBC na tela da Cultura inclui ainda a série Planeta Azul (tudo sobre o mar), Testemunha Silenciosa e Dupla Identidade, produção que bate na tecla de serviços de espionagem.


A programação made in BBC é a primeira faceta concreta de um acordo assinado ontem entre Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, e o diretor da BBC nas Américas, José Sánchez. A parceria prevê a troca de experiências entre as duas emissoras e, cereja do bolo, um seminário internacional de TV pública previsto para setembro, em São Paulo.


‘Funcionários da Cultura também poderão ir a Londres para fazer estágio na BBC’, conta Mendonça ao Estado. Outra troca de aprendizado entre as duas está no trabalho com bonecos – vide Cocoricó. A programação infantil, aliás, deve entrar no protocolo de cooperação firmado ontem.’


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