‘E o incidente que acabou virando ‘crise internacional’ nas páginas do O Povo. A manchete ‘Cearenses barrados em Portugal’ somada ao título ‘nova crise diplomática’ (Primeira Página, 13/6, sexta-feira última) e a matéria ‘Cinco cearenses são deportados de Portugal’ (página 10, Fortaleza), assinada por Daniela Nogueira, Flávio Pinto e Ricardo Moura, mereceram repúdio de dois leitores – Roselane Bezerra e Paulo Alcobia – que, através de e-mails, manifestaram desaprovação pela maneira como O Povo abordou o assunto.
A primeira critica, em termos duros, os jornalistas citados e diz: ‘Há um grave erro na matéria, na própria capa do jornal há uma grande contradição, pois, ao chamar a atenção do leitor por meio de um título ‘bombástico’ – Cinco cearenses são deportados de Portugal – encontramos uma definição do tipo de pessoas que queria adentrar este país, ou seja, sem documentos ou dinheiro suficiente para passar férias em qualquer país da Europa’.
Acusa ainda o jornal de ‘incitar a opinião pública contra um país que leva seus cidadãos a investir ou passar as férias no Estado do Ceará’. Pois infelizmente, os comentários que tal matéria incita são classificar os portugueses de manués e joaquins numa clara manifestação de preconceito, e enquanto isso nós brasileiros fomos aqui os kledsons ou aurinetes’.
Acrescenta a Sra. Roselane Bezerra: ‘Gostaria que estes jornalistas fossem informados do número de imigrantes ilegais que há em Portugal e realizasse uma matéria séria a respeito do fenómeno do tráfico de pessoas e da própria realidade sócio económica vivida na Europa.
Paulo Alcobia também se manifesta no mesmo tom indignado: ‘Assim, venho demonstrar-lhe a minha mais profunda indignação contra a injustiça, a falta de precisão e sem dúvida a incoerência com que é chamada à primeira página uma notícia deste teor.
‘O Povo’, diz Alcobia, ‘já não é mais um jornal regional, é lido por centenas de portugueses e brasileiros aqui em Portugal. Não entendo porque é que para comentar um artigo tenho que morar em solo brasileiro, dado que o registo é só para moradores no Brasil’.
Acrescenta: ‘Para finalizar e sem querer ensinar ninguém, o drama do tráfico de pessoas não é uma brincadeira. Alimentar a idéia que as pessoas têm o direito de entrar em Portugal, apenas porque querem uma vida melhor, é um crime. Infelizmente essas pessoas ficam expostas a todo o género de problemas. São as pessoas mais pobres e com desconhecimento total da cultura e das dificuldades económicas dos países para onde desejam ir legitimamente melhorar a sua vida que mais sofrem na pele esse falso idealismo eqüilátero. Essas pessoas vêm ser exploradas barbaramente, não são turistas, nem intelectuais que vêm a congressos, como, infelizmente aconteceu em Espanha. Os portugueses amam os brasileiros e uma notícia desta é a barbárie’.
Sensacionalismo, não
A editora-executiva de Cotidiano, jornalista Tânia Alves, assim se manifestou sobre a crítica da leitora Roselane Bezerra (até então não havia recebido o e-mail do Sr. Paulo Alcobia): ‘Não concordo com a leitora que a matéria seja sensacionalista, muito menos que os jornalistas que assinam a matéria sejam desinformados. O texto está pautado em cima de fatos. Os brasileiros foram realmente deportados de Portugal. E contamos a história de alguns deles. Em nenhum momento a matéria está incitando a opinião pública contra Portugal. Esta é uma leitura totalmente descabida. E por fim, acho que a leitora não acompanha O Povo. A questão do tráfico internacional de pessoas é assunto sempre abordado nas nossas páginas’.
Destaque excessivo
O ombudsman compreende a indignação dos leitores Paulo Alcobia e Roselane Bezerra, mas não concorda com as críticas feitas aos três jornalistas, profissionais de reconhecida competência e princípios éticos. Acho, no entanto, que foi dado excessivo destaque ao incidente, elevado à condição de ‘crise internacional’ na página interna e ‘crise diplomática’ na Primeira Página. Pela grafia das palavras,’económico’, ‘registo’, ‘género’, percebe-se que, pelo menos, o Sr. Paulo Alcobia é cidadão lusitano.
De qualquer maneira, é bom saber que O Povo é muito lido por portugueses e brasileiros residentes em Portugal.
Assinantes
Apesar dos esforços realizados pela direção do jornal (contratação de pessoal), os assinantes continuam a queixar-se da central de atendimento telefônico 3254-1010. São inúmeras as reclamações feitas contra o serviço de pessoas que optam por assinar O Povo, mas esbarram em dificuldades diversas, tais como não entrega ou atraso de exemplares e, o que é pior, ficam impossibilitadas de fazer a reclamação no número telefônico destinado ao atendimento dos leitores.
‘Simpatias’
Nada contra as colunas especializadas em ocultismo, horóscopos, simpatias, búzios etc. Há gente que gosta. Mas acho um pouco demais o jornal bancar duas páginas do caderno com ‘simpatias’ para o Dia dos Namorados. Uma leitora reclama e acha que O Povo, com tal atitude, incentiva a fé em ‘crendices inúteis’. A reclamação faz sentido.’