Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

BLOGOSFERA
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Internautas brasileiros confiam cada vez mais em blogs, 30/6

‘Em pesquisa realizada por e-mail com 1820 participantes em todo o Brasil, o Instituto de Pesquisas Qualibest indica que 12% do total de entrevistados acreditam totalmente e 86% acreditam parcialmente nas informações que encontram em um diário virtual. Já 72% dos entrevistados afirmaram que, por meio dos blogs, já obtiveram informações que ajudaram a formar uma opinião sobre uma marca ou serviço.

O estudo, que teve por objetivo construir o perfil do leitor de blogs no Brasil e avaliar quais são os blogs mais lidos e conhecidos no País, aponta que 89% já acessaram algum, pelo menos uma vez, e a média de acessos diários é de uma para a maioria dos entrevistados, e de duas ou mais vezes, para 25%. Quanto ao tempo de acesso, 60% afirmam que dedicam menos de uma hora a cada acesso e 34% gastam de uma a duas horas. Entre os temas preferidos estão curiosidades (18%), humor (15%), internet (10%), seguidos de notícias e tecnologia em geral (9% cada). Apenas 9% dos entrevistados costumam acessar blogs internacionais

Os sites de busca (48%) e recomendações de outras pessoas (30%) foram apontados como as formas mais citadas para se conhecer um blog novo. A leitura do conteúdo foi o recurso mais citado (86%), sendo que a maioria dos entrevistados acredita que fotos e vídeos são os recursos mais importantes em um blog.’

 

 

ESTADÃO
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O Estado de S. Paulo lança banco de imagens, 30/6

‘O Grupo Estado lançou um banco de imagens, no qual todo o acervo fotográfico de O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e da Agência Estado está disponível. O serviço, exclusivo para assinantes, disponibiliza documentos que datam do início do século passado até os dias atuais. O acesso é feito pelo portal da Agência Estado, que também possui área para edição e armazenamento de imagens.’

 

 

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Grupo Estado nega que esteja à venda, 27/6

‘O Grupo Estado divulgou nota, na noite desta sexta-feira (27/06), negando que a empresa esteja sendo negociada. Desde a última quinta-feira (26/06), informações sobre uma possível venda para o grupo Globo têm circulado na imprensa. A Infoglobo, por meio de assessoria, confirmou que a empresa está analisando a oportunidade de compra.

Diz a nota:

‘Comunicado

O Conselho de Administração do Grupo Estado nega as informações que têm sido veiculadas sobre a venda parcial ou integral desta companhia.’’

 

 

Milton Coelho da Graça

Folha inquieta com a venda do Estadão, 27/6

‘A Folha de S. Paulo encara preocupada a notícia sobre a compra do Estado pela Infoglobo – ainda não confirmada por nenhum dos dois lados, mas dada como certa por várias pessoas que vinham acompanhando a negociação há algumas semanas.

Havia quatro interessados, mas o mais preocupante para a Folha seria exatamente O Globo, porque as duas empresas têm uma operação em que são associadas – Valor Econômico – e certamente será difícil manter o mesmo clima de bom entendimento mantido até agora entre os dois maiores jornais do País.

Roberto Marinho sempre respeitou um suposto acordo sem papel, só ‘assinado’ por fios de bigode, pelo qual não atravessaria a fronteira para o sul e os paulistas também continuariam a freqüentar o Rio só como balneário (os Sirotski também seriam parte do pacto, prometendo ser eternamente uma organização jornalística sulista e já satisfeitos com as praias de Torres e Camboriú).

Mas, como os fios de bigode seriam só do pai, os três filhos de Roberto Marinho não teriam se sentido obrigados a respeitá-los. Diante dos sinais de dificuldades financeiras da Gazeta Mercantil, o lançamento de Valor em aliança com a família Frias na prática teria extingüido o tal acordo.

E a pá de cal sobre qualquer acerto territorial foi a compra do título e relançamento do Diário de S. Paulo.

O Estadão vinha acumulando problemas financeiros e cobrindo-os com empréstimos até o ponto em que os bancos fecharam a torneira e assumiram a direção administrativa e financeira do jornal, mantendo a família Mesquita apenas no comando editorial. Mas bancos entendem muito de dinheiro mas não são especialistas na arte de fazer jornal. E, com o plano de demissão voluntária, iniciaram a operação de reduzir drasticamente os custos e passar o jornal adiante.

Apareceram quatro candidatos, segundo as melhores informações que pude obter, diante do obstinado sigilo geral: Editora Abril, Infoglobo, o deputado federal Vittorio Medioli (dono do conglomerado de transportes Sada e dos jornais Tempo e Supornotícias – um dos maiores sucessos da imprensa diária nos últimos anos) e um fundo que todos só chamam de ‘misterioso’.

A assessoria de imprensa da Infoglobo (empresa que reúne apenas a mídia impressa das Organizações Globo) não confirmou até o final da tarde hoje, sexta-feira 27, o fechamento do negócio com o Estadão. Se e quando for confirmado, acho inevitável que a Folha não fique quietinha. Entre outras possibilidades, ela é dona do título Folha Carioca e a presidente de O Dia, Gigi de Carvalho, certamente estaria disposta a conversar. Ela tem como trunfos um parque gráfico moderno, dois títulos fortes (Meia Hora também está vendendo bem), duas irmãs claramente prontas a mudar os rumos de suas vidas e tudo isso só dependendo de um bom chantilly financeiro.

E se a Infoglobo tiver de encarar um trio de jornais – Folha para a Classe A (enfrentando O Globo), O Dia para a classe B (enfrentando o Extra) e Meia Hora no estilo Supernotícia)?

Tudo isso é hipótese, minha gente, mas nosso mundo está esquentando.’

 

 

JORNALISMO DE CADEIRA
Marianna Senderowicz

Matérias de dentro da redação: clipping ou notícia?, 30/6

‘Em meio ao crescimento marcante da quantidade de veículos de comunicação (10% em 2007, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj), é visível também uma mudança nem sempre bem-vinda na prática jornalística: a falta de matérias investigadas em ambientes externos às redações. Chamado de ‘jornalismo de gabinete’, esse tipo de postura ganha força devido, principalmente, à facilidade de acesso à informação via internet, abastecida continuamente por agências de notícias e uma fonte tentadora para quem tem pouco tempo de apuração e recursos financeiros limitados.

Apesar de não existirem dados que comprovem seu crescimento, a prática tem levantado polêmicas entre profissionais da área ao mesmo tempo em que encontra respaldo no ambiente corporativo e nos próprios leitores, que exigem cada vez mais agilidade no processamento das informações e incentivam as coberturas em tempo real. ‘De certa forma essa técnica é influenciada pelas novas tecnologias, mas também existe uma tentativa dos veículos em baixar custos’, acredita José Torves, diretor da Fenaj.

Para a professora da UFRGS Sandra de Deus, doutora em Comunicação e Informação e diretora administrativa do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), o embasamento em informações e impressões de terceiros pode ser uma ameaça à qualidade do trabalho. ‘Passa a haver um afastamento dos acontecimentos e das fontes. O retrato da realidade deixa de ser fiel, construído com vieses provenientes daquilo que o jornalista não viu, mas que alguém contou para ele’, analisa. No caso da cobertura no rádio, especialidade da professora, a situação é mais grave. ‘Hoje, o repórter de rádio acaba lendo no ar uma notícia que está em um portal de internet, esquecendo que rádio depende mais de ambientação do que qualquer outro veículo.’

Contudo, apurar fatos via internet ou telefone não resulta, necessariamente, em uma matéria ruim. ‘Fazer a pauta sem sair da redação pode ser benéfico ou maléfico. Claro que entrevistas sempre melhoram quando feitas pessoalmente, mas nem sempre o custo compensa o benefício. E nem todas as pautas exigem que a averiguação seja feita externamente’, aponta Ana Estela de Sousa Pinto, integrante da diretoria da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Para ela, em casos em que a reportagem tem a observação como um de seus pilares ou trata de conflitos, a situação é outra. ‘Se um avião cair no meio da cidade, não faz sentido apurar por telefone, sendo preciso testemunhar. No caso específico de uma pauta que exija investigação, como o desvio de verbas de um hospital, será importantíssimo ir ao local e constatar que ele não tem os equipamentos que deveriam ter sido comprados’, acrescenta.

Repórteres X redatores

Ainda segundo a Fenaj, em 2008, o aumento da quantidade de veículos de comunicação deve chegar a 16% no país. No caso dos portais digitais, o crescimento faz com que a possibilidade de erros seja ainda maior, na medida em que uma mesma informação é capaz de correr o mundo em poucos instantes e que a ausência de deadline aumenta a euforia para colocar os conteúdos no ar. Recebendo conteúdo de fontes e idiomas variados, o webjornalismo passou a ser executado basicamente por redatores que reproduzem o material recebido. No entanto, orientações são dadas para reduzir ao máximo os erros nesse tipo de mídia. ‘Existem dois fatores a serem considerados em coberturas on-line: a velocidade e a verdade’, avalia Cuca Fromer, gerente de Projetos Editoriais do Terra. De acordo com ela, existe uma preocupação constante com a agilidade na transmissão das notícias, mas todos os fatos devem ser checados. ‘Obtemos informações a partir de agências, rádio-escuta e demais veículos, mas temos como princípio verificar qualquer afirmação antes de publicar.’

A jornalista comenta episódio recente em que a maioria dos sites brasileiros noticiou um suposto acidente aéreo que, na verdade, não passou de um incêndio em estabelecimento comercial paulista: ‘Nesse caso não houve uma apuração, apenas uma reprodução de outro portal que havia divulgado o fato. Isso acabou resultando em uma informação errada, mas essa não é a recomendação passada aos redatores.’ Cuca acredita que a corrida pela informação seja um fenômeno mundial. ‘Todo mundo está conectado e atrás da informação constante, o que amplia a chance de que uma notícia errada corra o mundo todo em poucos minutos. Esse cenário obriga os veículos a aceitarem que erram e a aprenderem a corrigir o erro tão rápido quanto o cometeram.’

Evolução ou retrocesso?

Apesar do temor acerca da qualidade da produção jornalística brasileira, em alguns veículos a realidade das apurações está começando a mudar. Conforme Marta Gleich, diretora de Jornais On-line do Grupo RBS, tal tendência, que beneficiava uma acomodação geral nas empresas de comunicação, já está sendo combatida. ‘A RBS, por exemplo, instalou uma redação integrada para profissionais de jornal impresso e internet, aumentando a troca de informações e a produção de conteúdo’, comenta. De acordo com a jornalista, que já desempenhou as funções de repórter, editora e editora-chefe, a proposta de coberturas multimídia fez com que mais gente passasse a cobrir acontecimentos externos para que se pudesse disponibilizar ao público informações completas. ‘São necessários vídeos, fotos, depoimentos em áudio e outros recursos para incrementar a notícia, e isso só se consegue pessoalmente.’

A representante da RBS conta que, no caso de coberturas fora do estado e do Brasil, foi escolha da organização aderir a conteúdo fornecido por agências. ‘Priorizamos os acontecimentos locais, sendo inexistente a prática de correspondentes fixos, com exceção de Brasília. Quando existe uma demanda pontual, como Olimpíadas, catástrofes naturais, eleições ou outra, sempre são enviados profissionais por um tempo determinado para esse tipo de cobertura.’

Na visão de Torves, porém, a maioria dos veículos ainda não atentou para o quadro e será preciso aumentar a conscientização dentro das empresas do setor para evitar a consolidação de redatores no lugar de repórteres. ‘A credibilidade dos veículos com informações mais detalhadas e apuradas in loco será determinante para que haja investimento em reportagem’, afirma. Sandra, da UFRGS, acredita que a pressão da sociedade pode ser decisiva para o retorno dos repórteres de rua. ‘Espero que o jornalismo diário tenha futuro e que, em virtude da exigência dos cidadãos, o jornalista possa apurar o acontecimento ao vivo. Se seguirmos no mesmo caminho, certamente as matérias serão cada vez mais baseadas em releases e agências de notícias’, conclui.’

 

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

‘Senhor, estarei te irritando’, 25/6

‘Nesta segunda-feira, dia 23, foi o lançamento no Rio de Janeiro do livro ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’, obra organizada pelo jornalista Tiago Baeta, do grupo iMasters, com textos de 44 profissionais do mercado digital brasileiro sobre os novos rumos da web.

Estou presente na coletânea com o artigo ‘O que aprendi com a Encyclopaedia Galactica’, uma crítica à aposta do Homem na tecnologia como principal forma de armazenamento da Informação. Ao longo do coquetel de lançamento, os autores se reuniram para apontar o que existiria de ‘provocativo’ no cenário futuro da internet. Não titubeamos em eleger a falta de autoria o mal maior que assola a Rede.

Autoria não é para quem quer, mas para quem pode – o que não significa que apenas alguns eleitos conseguem produzir conteúdo próprio sem citar (ou copiar, mesmo) a idéia dos outros. Todos são capazes de reproduzir em texto, áudio ou imagem o que têm em mente, e não na de outrem. A questão é ter coragem, um item raro hoje em dia, e não apenas na mídia digital.

Alguns jovens de talento, porém, destacam-se da multidão para fazer diferença. Já conhecia há algum tempo o bravo Raphael Crespo, jornalista carioca de 30 anos, que decidiu criar, como tantos, um blog. Fosse qualquer um, lá iríamos nós navegar por outro dos inúmeros ‘blogs-espelho’, como costumo chamar, e que abunda na web. São páginas que não são nada mais que clipping de notícias e textos de outros sites, portais e até mesmo outros blogs. Acabam virando referência, sim, mas o que fazem é repetir, como um papagaio, o que outros já disseram. O sucesso deste ‘modelo’ surge graças aos que não tem tempo de navegar pelas ‘fontes’ do blog (tantas), e acabam por elegê-lo bookmark diária.

Mas o blog de Raphael, não. Surgiu, de cara, com o objetivo de incomodar, fazer pensar e, principalmente, colocar na tela tudo o que pensamos de pior sobre um dos males do dia-a-dia, o telemarketing. ‘Senhor, estarei te irritando’ (o nome do blog), nada mais é que uma catarse – coletiva, se você se deixar se envolver – pelo assunto. Faz-se piada com a desgraça dos outros (quem já não teve vontade de transformar em pó uma atendente de telefonia celular?), o que nada mais é o que acontece conosco.

O autor, em sua cruzada para manter-se são e lutar pelo nosso equilíbrio, denuncia o que pode ser apontado, e descreve em posts entre o cômico e o apocalíptico (tragicômico é pouco neste caso) diálogos entre vítimas e algozes. Ou entre duas vítimas, mesmo, se formos levar a sério a cansativa rotina de um atendente de telemarketing.

‘Senhor, estarei te irritando’ é um blog que vale a pena visitar pelo apelo que tem – não apenas nos momentos de ira -, mas pela maneira com que Raphael lida com um assunto que poderia ficar para sempre no âmbito das piadas de salão e mesas de chope.

Autoria é isso – o resto é eco.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Infligir ou infringir, eis a questão?, 26/6

‘Quero a presença de

Mariângela na minha

hora derradeira

(Talis Andrade in Partilha do Corpo)

Infligir ou infringir, eis a questão?

O considerado Orlando Ferreira Franco Filho, paulistano formado em Comunicação Social, envia matéria do Jornal da Tarde cuja chamada de primeira página diz, sob o título Motoristas de ônibus chocam instrutores:

‘Em todas as viagens foram infligidas pelo menos uma norma do Código de Trânsito ou algum direito dos passageiros.’

‘E a responsabilidade é, certamente, do editor, o qual infringiu as normas do bom jornalismo, pois a matéria propriamente dita estava correta’, escreveu Orlando, preocupado com o que se publica por aí afora:

‘Estou cada vez mais perplexo com a queda da qualidade das matérias jornalísticas. A princípio pensei ser resultado da extinção dos revisores nas redações. Depois, pus a culpa na proliferação do uso de computadores com seus editores de texto e corretores ortográficos.

Infelizmente, verifico que se trata mesmo de falhas na formação dos estudantes desde o curso primário. Poucos sabem usufruir da riqueza da língua portuguesa e, pior, não se interessam nem mesmo por conhecer o significado das palavras. O resultado é uma porção de textos pasteurizados, cheios de clichês e recheados de erros.’

Janistraquis, veterano de tantas Redações, garante que os editores sentem muita falta de uma inesquecível figura assassinada pelo ‘jornalismo moderno’:

‘Hoje o elemento é obrigado a escrever, não pode mais botar a culpa no copidesque…’.

(A propósito de boas palavras, uma repórter do GloboNews informou durante o velório de dona Ruth Cardoso que esta era ‘ex-mulher’ de FHC; meu assistente protestou: ‘Ora, a morte não transforma ninguém em ex’.)

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Secos & Molhados

Millôr Fernandes escreveu certa vez que imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Pois Janistraquis fez ingente pesquisa nesse bordel de interesses no qual a hipocrisia se deita com tudo quanto é abominoso e concluiu:

‘Considerado, ou Millôr exagerou ou a imprensa acaba de arriar as calças definitivamente, pois é impressionante o que tem de jornalista a defender o indefensável. Daqui a pouco os mais chaleiros e escova-botas vão iniciar um movimento-monstro e eleger o presidente Lula para a Academia Brasileira de Letras!!!’

Espera-se que pelo menos Carlos Heitor Cony vote contra.

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Talis Andrade

Leia no Blogstraquis a íntegra de Quando Alegre Partiste, cujo fragmento é a epígrafe desta coluna. O considerado mestre Talis inspira-se num personagem de romance e compõe belo poema que integra o novo livro intitulado Partilha do Corpo, o qual seguirá para a gráfica junto com as derradeiras chispas da festa junina.

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Roberto Dinamite

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, que já viu de tudo nesta vida, até mesmo a ameaça de aliança entre Aécio Neves e o PT, pois Camilo lia a Tribuna da Imprensa, deparou com uma preciosidade exposta na página de esportes e despachou aqui pra sede:

Futebol é mesmo complicado. Veja fragmento da notícia a propósito da eleição do Dinamite para a presidência do Vasco da Gama – ‘(…) Derrotou com facilidade a chapa do atual presidente Eurico Miranda, por 827 votos contra 45. Com isso, Roberto Dinamite está prestes a assumir a presidência do clube. Nunca na história do Vasco a chapa vencedora deixou de eleger o presidente.’

Penso que em nenhum lugar do mundo a chapa vencedora deixou de eleger; se é vencedora, elegeu!

Janistraquis acha que você diz isso, ó Camilo, porque é torcedor do Cruzeiro, em cujas eleições prevalecem a honestidade e a lógica; no Vascão nem sempre é assim, taí o próprio Eurico que não nos deixa mentir. Portanto, é melhor esperar um pouco mais.

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Assalariados da nação

Chamada de capa do UOL, às 17h20 de segunda, 23/06:

Pesquisa Ipea — Salário dos pobres sobe mais que dos ricos.

Janistraquis avaliou a extensão do estrago, ensaiou um sorrisinho debochado e mandou ver:

‘Considerado, o Brasil é certamente o único país em que rico recebe salário; gostaria que o Ipea informasse quem paga esses salários. Será o governo ou a verba sai das maracutaias descobertas e divulgadas pela imprensa?’

A pergunta procede e a gente espera a resposta, embora minutos depois a palavra salário tenha sido substituída por rendimento no site do UOL.

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Velho pessegueiro

Quando preparava meu café nesta friorenta e anuviada manhã, divisei da janela as flores a cobrir o velho e insistente pessegueiro, o qual, já adulto, aqui nos recebeu há mais de três décadas. Sobreviveu a todas as geadas e mantém abundante floração, embora poucos, porém perfeitos, sejam os frutos de sua persistência e que tanto atraem os passarinhos.

Há alguns anos eu lhe dei o nome de Oscar, em homenagem a Niemeyer, este outro fenômeno da natureza que floresce e frutifica a ignorar o tempo e seus invernos.

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Prodígios prodigiosos

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo banheiro, em subindo-se nas bordas do vaso sanitário, ainda é possível escutar os gritos presidenciais anunciando reajuste médio de 8% nos benefícios do Bolsa Família, a pouco mais de três meses das eleições municipais, pois Roldão encontrou no Correio Braziliense dois tropeços duma vez:

1 — PALCO DE CIRURGIAS — Os bonecos são manipulados à vista da platéia. A subvenção (sic) das técnicas tradicionais é uma das marcas do grupo, adepto do chamado realismo reduzido, o que beira uma atmosfera próxima do real, mas a dilui ao denunciar o tempo inteiro de que se trata de teatro.

Eta, texto enrolado. ‘Subvenção das técnicas tradicionais’ quer dizer ‘subversão’… não é?

2 — PRODUÇÃO CAI E CONSUMO SOBE — Para minimizar o impacto do alto preço do diesel de aviação a Air Canadá deverá retirar de operação suas aeronaves Boeing 767-200 até outubro.

A Air Canadá conseguiu uma façanha tecnológica: operar as turbinas a jato dos seus Boeings com óleo Diesel.

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‘Curintiano’ feroz

A coluna Radar, de Veja, comandada pelo considerado Lauro Jardim, noticiou que Pelé foi assaltado em Santos por um grupo de bandidos adolescentes e encapuzados. ‘É o Pelé, é o Pelé!’, clamou o craque, mas assim mesmo roubaram-lhe um cordão de ouro, o celular e o relógio.

Corre por aí outra versão: quando o Rei baixou o vidro do carro e mostrou a cara, a gritar ‘É o Pelé!’, um dos encapuzados respondeu, metendo-lhe a arma no nariz: ‘Mais acontece que nóis semo curintiano…’.

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Obras sociais

Janistraquis mostra-se solidário com dona Maria Letícia, que caiu da cama e quebrou a clavícula:

‘Considerado, espero que, mesmo imobilizada, dona Marisa Letícia continue a desenvolver seu utilíssimo trabalho à frente das obras sociais do governo. Sabemos que cair da cama é bem menos grave do que cair de um vigésimo andar.’

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Bosta de vaca

Janistraquis tenta reunir os fazendeiros e sitiantes da região em torno de um movimento capaz de revolucionar o campo; quem tiver bosta de vaca na propriedade abrirá a porteira aos demais, num gesto tanto democrático quanto engenhoso.

A abundância de fertilizantes naturais vai garantir a riqueza do solo e todos haveremos de almoçar e jantar graças a uma idéia simples e honesta, nascida do bom senso quando este se encontra com a necessidade.

Em reverência ao senador Marcelo Crivella, pioneiro de tais arroubos d’alma, Janistraquis deu ao projeto o nome de Estrume Social.

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Desigualdade

Esta saiu dos Grupos de Discussão do UOL Economia:

Você percebe a redução da desigualdade no seu dia-a-dia?

Meu assistente nem precisou pensar:

‘Considerado, pelo menos aqui no sítio tal ‘redução’ aumentou dramaticamente, pois as galinhas ainda encontram o que comer todos os dias e nós, que comíamos uma vez por dia, agora comemos dia sim, dia não.’

É a pura verdade e nem podemos comer as galinhas, porque aí ficaríamos sem os ovos. Os ovos das galinhas, explico melhor.

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Nota dez

O considerado Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), do Rio de Janeiro, escreveu na Agência Carta Maior:

(…) O problema de Fernando Henrique é o inconformismo com o sucesso do presidente que lhe sucedeu. Por ironia do destino, aquele que era para ser o governo marcado pela brevidade, consolidou as promessas da ética republicana e logrou avanços incontestes no campo dos direitos da cidadania. A incorporação de massas que, por longa data, lutaram por demandas datadas dos séculos XVIII, XIX e XX, promove o encontro do país com ele mesmo nesse milênio.

Leia aqui a íntegra do artigo, no qual também se lê períodos assim:

(…) O que se pede ao notório teórico da Nova Dependência é que não despreze a inteligência dos leitores de classe média. O ressentimento, ponto de chegada da inveja, é compreensível, mas, quando usado como arma política, revela apenas um Narciso ferido, sem qualquer noção de limite. Um passo à beira do ridículo.

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Errei, sim!

COISA DE MICTÓRIO – A matéria de capa do Segundo Caderno de O Globo até que estava boa. Assim, quando Janistraquis exclamou ‘horripilante, considerado! Horripilante!’, referia-se apenas ao chamado acabamento. O olho dizia: ‘Desejo faz Vera Fischer, Guilherme Fontes e Juca de Oliveira se embrenharem no universo trágico de O’ Neill’.

O, com perdão da palavra, título, proclamava: Um bonde chamado ser humano.

Janistraquis, que por muitos anos cuidou dos mictórios do Teatro Ruth Escobar, levantou a voz: ‘Considerado, sempre que o bonde de Tennessee Williams se embrenha no desejo de Eugene O’Neill, a cultura segue a pé para o brejo’. Acompanhada do jornalismo, lembrei a tempo. (janeiro de 1994)’

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

 

CENTENÁRIO
Eduardo Ribeiro

Tem um japonês trás de mim, 25/6

‘Já dizia a música de Chico Buarque de Hollanda, a Bye bye Brasil, numa das estrofes, ao falar das facetas e personagens brasileiros; ‘tem um japonês trás de mim’.

Essa estrofe me veio à cabeça por ocasião das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, cantada, com merecimento, em prosa e verso por toda a sociedade brasileira, em especial a mídia. E em especial, mais ainda, por este Jornalistas&Cia, que saiu com uma requintada edição na última quarta-feira contando a saga pioneira dos japoneses também na imprensa brasileira. Foi uma edição que trouxe prazer e orgulho, sobretudo por ter sido conduzida brilhantemente por um deles, Celso Kinjô, que deveria ser também personagem, mas aceitou ser o contador da história. Na minha vida profissional sempre tive japoneses por perto e com todos eles a magia do jornalismo teve um encanto ainda maior.

Um deles foi o próprio Celso Kinjô, que em meados dos anos 1970 foi redator-chefe da revista Placar, num tempo em que eu lá estive, trabalhando como free-lancer, na equipe do Tabelão, a seção que cuidava de organizar os números dos vários campeonatos esportivos, sobretudo futebol. Na equipe tinha ainda um outro japonesinho querido: o José Luiz Ohi, ilustrador de mão cheia, que continua por aí fazendo charges, caricaturas, vinhetas e muito mais.

Kinjô era muito querido e importante naquela equipe, sem que precisasse lançar mão de qualquer outro expediente que não fosse o seu talento e o bom senso para ser respeitado.

Enturmava-se na galhofa e na bagunça, mas nunca perdia a elegância e a compostura. De lá saí e nossos caminhos se cruzariam depois, ele como fonte, no Jornal da Tarde, e eu já produzindo este J&Cia. E agora, na produção do Especial sobre o centenário da imigração japonesa que ele produziu sob encomenda e que pode ser conferido por aqueles interessados na história e a na saga dos japoneses jornalistas no www.jornalistasecia.com.br .

Aprendi muito também com um outro nisei, Kazumi Kuzano, nos tempos em que ambos éramos repórteres da revista A Construção São Paulo, da Editora Pini, no Bom Retiro. Ele já com alguma quilometragem rodada e eu bem foquinha, ainda, com pouco mais de um ano de profissão.

Lembro-me de uma ocasião em que o nosso chefe, Nildo Carlos de Oliveira, me incumbiu de entrevistar o então prefeito Olavo Setúbal, no lugar do Kazumi. O homem tomou um susto quando me viu, pois estava esperando um japonês e quem chegou no lugar foi um menino, então com 23 anos de idade. Demos muita risada depois, até porque no final deu tudo certo. Kazumi depois enveredou pelo jornalismo político no Jornal da Tarde e já há mais de 15 anos fundou e dirige o jornal Itapevi Agora, na cidade onde sempre morou. E não quer mais saber de São Paulo.

Na mesma Pini, convivi nos dois anos em que lá estive com Denise Yamashiro, integrante de clã que já está na terceira geração de jornalistas. Era filha de José Yamashiro e sobrinha dos Onaga.

Tem também uma outra japonesa que é uma das profissionais mais elogiadas e benquistas do jornalismo brasileiro, que atende pelo nome de Nair Keiko Suzuki. É uma figura de um caráter, de uma capacidade e de um coração imensos. Nunca trabalhei diretamente com ela, mas já há uns 25 anos nossos caminhos se entrecruzam, por força das atividades complementares que exercemos. Hoje editora-adjunta de Economia do Estadão, já esteve também na Gazeta Mercantil, Fiesp, Folha de S.Paulo, sempre encontrando tempo na sua agitada agenda para ouvir as pessoas, seja para uma história, uma sugestão de pauta ou mesmo um desabafo. Tem uma capacidade incrível de trabalho e é unanimidade nacional. Eu diria até um pouco mais: triste a profissão que não tem ao menos uma Nair na suas hostes.

E a Reiko Miura? Quanto militamos juntos no Sindicato dos Jornalistas, na Fenaj, na CUT, contra a ditadura em alguns momentos, e contra os patrões, em outros… Ela sempre muito mais que eu, mas nem por isso se considerava melhor ou pior que qualquer um dos companheiros militantes. Temos para com ela também uma dívida de gratidão por ter aberto mão de muitas coisas pessoais para trabalhar pelo coletivo.

Nessas reminiscências não pode faltar também o Rivaldo Chinem, companheiro que sempre esteve por perto e que se transformou num dos maiores fãs e incentivadores do FaxMOAGEM, que mais tarde se transformaria neste Jornalistas&Cia, que a tantos cativa. Rivaldo é hoje assessor de imprensa da Força Sindical e quando tem tempo ministra cursos na área de assessoria de imprensa e comunicação empresarial ou escreve livros sobre essa atividade ou outras, como o que produziu sobre a imprensa alternativa no Brasil.

Nos tempos em que fui assessor de imprensa do Sindipeças e que militei mais diretamente no Sindicato dos Jornalistas, teve um outro japonês de quem me aproximei bastante, o Koishiro Matsuo, assessor de imprensa que montou sua própria agência de comunicação, a Texto Final, que ele toca até hoje. Koishiro apoiava todas as iniciativas do Sindicato dos Jornalistas, participava das atividades e tratava a todos com uma cortesia e uma atenção únicas.

Outro que conheci na lida foi o Fideo Myia, que passou por algumas das mais importantes redações (sempre como fonte deste J&Cia), como Jornal da Tarde e IstoÉ Dinheiro, e que hoje integra a equipe de comunicação da TAM. Fideo sempre exerceu de forma exemplar a profissão, sendo um dos profissionais mais corretos que já conheci na carreira. Entregaria a ele de olhos fechados minha carteira e tenho certeza de que ela voltaria com algum a mais.

Marcelo Onaga, campeão absoluto de tênis nos torneios de imprensa que se fazem por aí, também se transformou em amigo e fonte por onde passou: Jornal da Tarde, Correio Braziliense, Embraer, revista Exame, onde está atualmente. Pouco antes, tive o prazer de conhecer seu pai, Romeu Onaga, então assessor de imprensa da Petrobras em São Paulo, e figura que viabilizou o primeiro patrocínio ao Prêmio Vladimir Herzog do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, num momento em que as empresas ainda mantinham uma certa reserva em relação a atividades políticas, sobretudo àquelas focadas em anistia e direitos humanos, como era o caso do prêmio. Depois de alguns anos tendo o apoio de Onaga e da Petrobras o prêmio se consolidou também como iniciativa de interesse institucional para as organizações privadas. Romeu já se foi, mas deixou um legado dos mais notáveis para o jornalismo brasileiro.

Pouco importa os nomes aqui citados, todos de amigos queridos. Importa é prestar um tributo a esses japoneses que para cá vieram, cem anos atrás, redescobrir a vida e ajudar a construir um País melhor.

Temos muito a avançar, mas com profissionais como esses que citei, nosso destino certamente será melhor.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

 

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Uma derrota da Nação, 23/6

‘O XIS DA QUESTÃO – O Exército, que já começou a descer o Morro da Providência, paga um alto preço pela imprudência de se ter deixado banhar na mistura mal-cheirosa de um projeto cujo discurso social encobre táticas de luta por votos. Porém, mesmo sem reduzir a importância do impacto causado pela morte dos jovens Wellington, Marcos e David, o essencial do estrago feito está em outro plano – o do desvio das funções constitucionais do Exército.

Agora, exige-se sabedoria para transformar o desastre em lição

Com a autoridade que lhe é conferida pela história pessoal de cidadão, jornalista e escritor, Zuenir Ventura assinou sábado passado, no jornal O Globo, um artigo (‘Cabo eleitoral verde-oliva’) que deveria ser lido e debatido por todos os brasileiros que, como eu, até agora não atinam com razões que possam justificar a presença do Exército no Morro da Providência. Como se sabe, o que levou o Exército ao Morro foi o projeto ‘Cimento Social’, do senador, ex-bispo da Igreja Universal e candidato a prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella. Um projeto, portanto, com claras motivações político-eleitorais. E que é pago com verbas do PAC, que tem boa essência, mas cuja embalagem propagandística é também isca eleitoral.

É evidente que o assassinato dos jovens Wellington, Marcos Paulo e David Wilson, e a responsabilidade direta de uma patrulha militar nesse crime, dão ao episódio dramaticidade propícia a explorações oportunistas no debate da questão. Mas Zuenir Ventura está acima de tais riscos, até porque, já em dezembro do ano passado, em outro artigo que assinou, ele chamava a atenção da nação brasileira para a burla que esse projeto representava sob o ponto de vista do interesse público.

Como Zuenir Ventura escreveu sábado passado, ‘só mesmo a credulidade do Exército e a prodigalidade do presidente Lula com nosso dinheiro para não suspeitar de um projeto em que o custo para reformar uma casa (R$ 22 mil) é mais da metade do preço para construí-la por inteiro (R$ 32 mil)’.

No artigo anterior, o de dezembro, Zuenir não dispunha desses dados. Mas o articulista já sentia o perigo explosivo da combinação de fatores em que se apoiava o projeto: ‘(…) dava para imaginar que a mistura de assistencialismo social com política, religião, Exército e traficantes resultaria numa argamassa perigosa’.

O Exército paga, agora, alto preço pela imprudência de se ter deixado banhar na mistura mal-cheirosa do discurso social que encobre táticas de luta por votos. A morte dos três jovens projeta uma sombra inesperada, difícil de apagar, na imagem pública da instituição militar, altamente respeitada e respeitável.

Porém, mesmo sem reduzir a importância do impacto causado pela morte de Wellington, Marcos e David, o essencial do estrago feito está em outro plano – o do desvio das funções constitucionais do Exército.

Por mais estranho que pareça e por mais explicações que reclame o ‘entendimento’ entre o segundo-tenente Vinícius Ghidetti e os traficantes assassinos, a materialidade e as motivações da morte dos três jovens serão certamente esclarecidas pela investigação policial. Mas a polícia não responderá à pergunta mais complexa que os cidadãos fazem, por enquanto sem obter resposta: o que a subida militar ao Morro da Providência tem a ver com as finalidades do Exército? – que vêm a ser a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e a proteção à lei e à ordem, desde por iniciativa de algum dos poderes constituídos.

Nas lutas em que as Forças Armadas por dever se envolvem, as causas obrigatórias terão de ser, sempre, as que dão finalidade à instituição militar, atrás citadas. Não foi o caso da subida ao Morro da Providência.

Não por outras razões, paira no espaço abstrato da Nação a sensação de que, na pequena e dramática experiência militar do Morro da Providência, o Brasil saiu derrotado.

O Exército, os políticos e os que fazem a discussão pública precisam agora de sabedoria, para transformar em lição o revés da experiência militar vivida no ‘Projeto Cimento Social’. E o artigo de Zuenir Ventura, n’O Globo de sábado passado, pode dar boa contribuição para isso.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

 

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Em meio a crise, TV Brasil transmite arraiá!, 23/6

‘Fica até sem graça criticar a TV que ninguém vê. O telespectador brasileiro que não é bobo continua ignorando a TV do governo. Não participa nem se interessa pela sua existência, programação e muito menos pela sua gestão.

O público não prestigia a TV Brasil. Até agora, sua programação não passa de colcha de retalhos com produtos requentados da velha TVE e da TV Cultura de São Paulo. A TV Brasil continua sendo ‘promessa’ de bons programas.

Mas apesar da falta de novidades na programação, a TV Brasil se tornou a alegria dos jornalistas. Tornou-se fonte inesgotável de… más notícias. Não faz sucesso, mas se tornou uma ‘sucessão’ de denúncias, acusações e boas manchetes:

Orlando Senna, diretor-geral da TV Brasil pede demissão

Orlando Senna deixa TV Brasil e critica Tereza Cruvinel

‘É uma estrutura engessante’, afirmou Senna.

O que motivou a saída de diretores

Divergências no modelo de rede da TV Brasil motivaram saída de diretores

Segundo matéria divulgada pelo Observatório da imprensa (ver aqui), ‘surgiram duas grandes vertentes na condução das emissoras, em especial da TV Brasil, com o grupo do ministro Martins mais voltado ao jornalismo e a corrente do Ministério da Cultura focada na produção audiovisual…O equilíbrio delicado entre os dois grupos foi marcado por conflitos freqüentes que dificultaram os primeiros passos da recém-criada empresa, da montagem da equipe à definição da grade de programação’.

Enquanto isso, outro grupo, de advogados, denunciava…

OAB acusa TV Brasil de censura por cancelar programa

Mas, nas últimas horas, houve uma reviravolta surpreendente nesta novela:

OAB reconhece mal-entendido com TV Brasil

Mas, como em toda novela, teve surpresa e final feliz. Apesar de haver uma rede de TV da Justiça, igualmente paga pelos nossos impostos, é anunciado que…

TV Brasil terá novo programa sobre temas jurídicos

‘A responsabilidade editorial será da TV Brasil, diferente do que acontecia no ‘Direito em debate’, onde a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Rio de Janeiro, era a responsável.’

Tudo a ver!

A empresa de comunicação do governo continua rendendo boas manchetes. Mas todas essas denúncias e acusações devem fazer parte de conluio ou ‘perseguição’ da grande mídia capitalista contra essa iniciativa tão importante para o governo. Os grandes jornais e redes de TV brasileiras devem estar temerosos, se sentindo ameaçados e provavelmente estão ‘boicotando’ a nova emissora.

‘Arraiá’ Brasil

Enquanto isso, em meio à crise de poder, programação e gestão, ao invés de debater seus problemas de maneira pública e transparente, a TV Brasil prefere ignorar a realidade e … comemorar as festa juninas:

TV Brasil estréia programação em rede com São João.

‘A partir das 22h de sexta-feira (20/06) a TV Brasil fará sua primeira cobertura em rede nacional. O programa Arraial Brasil vai mostrar festas juninas’.

Tudo a ver!

Pobre Brasil

A transmissão ao vivo e em rede das festas juninas do nordeste pode não ter encantado o telespectador brasileiro. Foi muito pobre e precária. Um festival de péssimas imagens, som inaudível e repórteres que entravam no ar com problemas técnicos, sem saber o que fazer e dizer. Um show de amadorismo onde ficava evidente a pressa, a falta de planejamento, preparação e principalmente, a falta de direção. O Arraial Brasil foi demonstração evidente de como não se deve fazer TV em pleno século XXI.

Não foi sucesso de crítica nem obteve bons índices de audiência. Mas deve ter alcançado seus objetivos. Mesmo com tantas falhas, a cobertura deve ter agradado aos donos do poder. Principalmente, ao presidente da república. No domingo da TV Brasil, não houve espaço para denúncias, críticas ou más notícias. Tudo era festa.

Enquanto isso, nas outras redes de TV, assistíamos a diversas reportagens e ainda mais denúncias sobre o envolvimento do exército brasileiro na morte dos moradores do morro da Providência, chacina em Duque de Caxias, escândalo no futebol e tantas outras más notícias que insistem em incomodar nossos governantes.

Há seis meses no ar, a TV Brasil confirma as piores previsões para o presente e o futuro.

Continua sem programação original e é ignorada pelo público. Após mais de seis meses de ar, em pleno mês de junho, se tornou uma fogueira de vaidades políticas.

Tem de tudo na TV Brasil. Menos TV de verdade.

Pobre Brasil!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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