DANIEL DANTAS
Nossa, Rodrigo Pereira, Marcelo Godoy e Renato Cruz
Grampos mostram lobby por supertele
‘Grampos da Polícia Federal mostram que lobistas de Daniel Dantas contataram
a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para garantir a fusão entre as
empresas Oi e Brasil Telecom. Os lobistas, diz a PF, são Guilherme Henrique
Sodré Martins, o Guiga, Humberto José Rocha Braz, o Guga, e Luiz Eduardo
Greenhalgh, chamado de Gomes. A conduta dos três, ainda segundo a PF, ‘soa como
figuras dos três mosqueteiros: um por todos e todos por Daniel Dantas’, e que o
trabalho do trio é quase perfeito, com estratégias e relações que ultrapassam os
limites da ética e da legalidade.
Os federais alegam que Braz e Greenhalgh, ex-deputado pelo PT, trataram do
acordo entre o Citibank e o Grupo Opportunity, de Dantas. ‘Com a criação de uma
?supertele? com a fusão das operadoras Oi-Telemar, Telemig, Brasil Telecom e
Amazônia Celular, possivelmente com a autorização da Presidência da República
(via decreto, já que a fusão atualmente é ilegal) e recursos do BNDES, daí a
necessidade de reunião com Dilma (o que pode caracterizar tráfico de
influência).’ ‘Sua participação foi fundamental na criação da supertele’,
conclui a PF.
Em conversa gravada no dia 13 de março deste ano, Greenhalgh diz a Braz que
tentou falar com ela – identificada pela PF como Dilma – e recebeu um não. Ele
afirma ainda que ela teria dito que o governo já se metera demais no assunto da
fusão das empresas de telecomunicação. No dia 15 de março, Dantas pede para
deixar Gomes (Greenhalgh) de sobreaviso para ‘falar em alguma instância’.
Nove dias depois, em 24 de março, Martins comenta que seus clientes terão
audiência com Dilma para tratar do ‘leite longa vida’. À tarde, Martins volta a
dizer que seus clientes haviam conversado com Dilma, que teria feito de conta
que não o conhecia, e comenta que o pessoal da indústria do leite ficou
impressionado com a esperteza dela em descobrir onde está a ‘sacanagem’.
No dia 28 de março, Martins mantém nova conversa com Greenhalgh. Diz que
falou com o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). O ex-deputado petista conta que
conversou com a ministra pela manhã noticiando a conclusão do acordo entre Citi
e Dantas e agradeceu pela ajuda.
Muitas vezes Dilma é chamado de Margaret, em referência à
ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher. O codinome é citado no dia 9
de abril, quando Martins diz que o ‘Arquiteto’ esteve com Margaret, e ela teria
informado que o quadro estava mantido.
O acordo para a fusão foi fechado, segundo conversa entre Dantas e Martins,
às 20h36 em 27 de março. Uma hora depois, Martins ligou para Heráclito. Disse
que tudo foi resolvido e agradeceu a ajuda. Em seguida, telefonou para Geddel
Vieira Lima, ministro da Integração Nacional, para dizer que Dantas mandou um
abraço.
No dia 25 de abril, a Oi anunciou a compra da Brasil Telecom por R$ 5,863
bilhões. Mesmo assim, as ações dos lobistas continuaram. Em 5 de junho, Dantas
pergunta a Martins se existe relação entre as denúncias sobre a Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) e a Variglog e o atraso da aprovação da fusão das
empresas de telecomunicação. O lobista explica que há alguém criando problemas.
No acordo com a Oi, Dantas conseguiu negociar um valor acima do comum para
sua participação minoritária. O Opportunity vai levar R$ 981,5 milhões no total,
sendo R$ 268,8 milhões pelas ações que têm na controladora da Brasil Telecom e o
restante por participações diretas.
A assessoria de Dilma informou que ‘Martins não teve audiência na Casa Civil
em 2007’. ‘Em 2008, ele acompanhou audiência concedida à comitiva da Associação
Brasileira do Leite Longa Vida.’ Geddel afirmou que mantém relação de amizade
com Martins e a ligação gravada pela PF pode ter ocorrido. ‘Mas nada de imoral
pode ter sido tratado. Ele tem relação com o Dantas. Eu não’, disse. Afirmou
ainda que nunca recebeu pedido para intermediar reunião entre o lobista e Dilma.
Heráclito nega relação com os lobistas. Dantas, afirmou seu advogado, Nélio
Machado, não vai se pronunciar. Greenhalgh não deu retorno.’
Vera Rosa
Governo não ajudou Dantas, garante Carvalho
‘O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto
Carvalho, afirmou ontem que só acionou o Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) para verificar se havia alguma investigação envolvendo Humberto Braz –
homem da confiança do banqueiro Daniel Dantas – porque recebeu informação de que
ele estava sendo perseguido por ‘gente da Presidência’. Contrariado com o que
chama de ‘descontextualização’ de seu diálogo com o ex-deputado Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT), capturado pelo grampo telefônico da Operação Satiagraha,
Carvalho garantiu a amigos, porém, que jamais agiu em favor de Dantas.
‘Tanto é verdade que o governo não interferiu em nada que Daniel Dantas foi
preso’, afirmou o chefe de gabinete de Lula, numa conversa reservada. Carvalho
disse lembrar-se de ter recebido pessoalmente Greenhalgh – de quem é amigo há
mais de duas décadas – apenas três vezes neste ano, no Palácio do Planalto.
Num dos encontros, o ex-deputado – que é advogado de Dantas – afirmou
desconfiar que alguém do governo vasculhava a vida de Humberto Braz. Braço
direito de Dantas e ex-diretor da Brasil Telecom, Braz é o homem que, pouco
depois, tentou subornar a PF com US$ 1 milhão para que a Operação Satiagraha
fosse arquivada. Está foragido.
O grampo da PF revelou que Carvalho telefonou para Greenhalgh, no dia 29 de
maio, para tranqüilizá-lo. Motivo: no dia anterior, o amigo havia solicitado a
ele que checasse a existência de investigação da Presidência ou da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) sobre Braz.
Carvalho disse a interlocutores que Greenhalgh alegou, ao fazer o pedido,
preocupação com a segurança de Braz porque ele teria sido perseguido no Rio. ‘Eu
entendi que poderia ser um seqüestro’, contou o chefe de gabinete, que está em
férias e só volta ao Planalto na segunda-feira. Pelo relato do ex-deputado a
Carvalho, a Divisão Anti-Seqüestro da Polícia Civil, no Rio, constatou que a
perseguição ocorrera a mando do governo federal.
Na ligação para Greenhalgh, o chefe de gabinete assegurou não haver
sindicância nem da Presidência nem da Abin. Informou ainda que, após acionar o
GSI, descobriu que a placa do carro fornecida como sendo dos perseguidores era
‘fria’. ‘Então eu acho que o mais provável é que o cara ?tava? armando mesmo
alguma coisa’, observou o assessor de Lula. ‘Mas com documento falso, que também
no Rio é muito comum.’
INTIMIDADE
A intimidade entre Greenhalgh e Carvalho – que se conheceram no PT – fica
evidente no telefonema. ‘Deixa eu te falar uma coisa: tá ouvindo o grito da
menina?’, pergunta o ex-deputado, numa referência à sua filha, de um ano e dois
meses. ‘O grito da vida’, responde o auxiliar de Lula.
A certa altura do diálogo, porém, Greenhalgh pede que Carvalho dê ‘um toque’
em Luiz Fernando Correa, diretor-geral da PF, e reclama do delegado Protógenes
Queiroz, que comandou a Satiagraha. Carvalho parece desinformado sobre o
assunto: ‘Ele ?tá? onde o Protógenes agora?’
No fim da conversa, os dois combinam encontro no dia seguinte na reunião que
haveria do Diretório Nacional do PT.
Greenhalgh foi, mas Carvalho não apareceu. O chefe de gabinete também garante
não ter acionado o diretor-geral da PF. A amigos, o ex-deputado criticou a
atuação do ministro da Justiça, Tarso Genro, no episódio e disse estar
‘indignado’. A PF pediu a prisão de Greenhalgh, que foi negada. ‘Nem mesmo
durante a ditadura militar fui envolvido numa investigação por conta de minha
atuação em defesa de meus clientes’, escreveu ele em nota.’
APAGÃO
Celso Ming
O apagão da internet
‘Virgílio Freire foi diretor da Telesp em 1990 e diretor de Operações da
então TVA, diretor da BellSouth e da Vésper. Hoje, mantém consultoria sobre
telecomunicações.
Em carta a esta coluna, sustenta que o apagão da internet ocorrido há duas
semanas em São Paulo é conseqüência do pouco-caso da Telefônica para com seus
clientes. Ele repele os argumentos da empresa expostos tanto em entrevista
concedida por seu presidente, Antonio Carlos Valente, quanto em comunicado
oficial, de que a empresa possui ‘plano B’ e de que tudo não passou de uma
‘anomalia rara e complexa’, impossível de prever.
Freire evoca seus conhecimentos na área e afirma que essa pane só ocorreu por
falha grave: ‘A Telefônica não deve ter comprado sistemas duplicados nem
projetado interconexões duplicadas com a rede mundial. E isso aconteceu porque
deu prioridade à economia de equipamentos.’
Ele denuncia o que chama de maximização de lucros que beneficia o acionista
controlador, a Telefónica S.A. E avisa que a Telefônica do Brasil não incorpora
no seu sistema de governança uma filosofia de qualidade que beneficie o
cliente.
‘As compras da Telefônica são feitas pela ?Mesa de Compras?, instituição
implantada pelos espanhóis. A remuneração dos profissionais que a compõem é
constituída de uma parte fixa, relativamente pequena, e uma parte variável,
calculada como porcentagem dos descontos que conseguem. Como os vendedores já
sabem disso, incorporam um over-price para poder ?dar descontos?. A Telefônica
usa do seu poder de compra para extorquir descontos de forma leonina. Assim,
quem paga pouco recebe pouco. No frenesi ibérico de pagar o mínimo, a empresa
comprou o mínimo de equipamentos necessários para operar a internet e, assim,
maximizar o lucro, situação que contribuiu para o desastre.’
Freire atribui parte do que aconteceu também à excessiva terceirização dos
serviços da empresa: ‘Na Telefônica, você não é atendido por um funcionário
comprometido com a qualidade de atendimento e a satisfação do cliente. É
atendido por um funcionário da firma Atento, controlada pela Telefónica
(holding). A Telefônica do Brasil contrata os serviços da Atento, a Atento
recebe pelos serviços prestados e tem um lucro que é remetido para Madri.’
E continua: ‘Quando liguei para reclamar que meu Speedy estava fora do ar, o
atendente da Atento, um robô como sempre, teve a desfaçatez de dizer que ?o
sistema está em manutenção?. Pedi que registrasse a reclamação e a resposta foi
incrível: não era possível registrar minha reclamação porque o Sistema de
Registro de Reclamações estava fora do ar, em razão da pane na internet. Ora, o
Sistema de Registro de Reclamações é totalmente independente da internet. Eles
desligaram os computadores para que não fossem registradas as reclamações.
Fraudes assim são comuns, mas a Anatel não toma conhecimento delas.’
‘Esta pane deve ir para o Guinness. Nunca, em nenhum país, houve desastre
dessas proporções. A internet é totalmente à prova de panes. Salvo em casos de
incompetência primária…’
(No Confira, você tem a resposta resumida da Telefônica às acusações.)
CONFIRA
A assessoria de imprensa da Telefônica deu as seguintes respostas para as
denúncias:
Os fornecedores são de renome internacional, comprometidos com a qualidade:
Cisco, Lucent, Juniper, NetGear, Belklin, D-Link, 3Com, TP-Link, etc.
Não é verdade que o suposto excesso de terceirização tenha impedido solução
rápida. A Telefônica mobilizou 150 de seus técnicos para sanar a falha.
Registro de reclamações – A empresa confirma que o Sistema de Registro de
Reclamações nada tem a ver com a internet. ‘Deve ter sido falha do atendente de
algum call center.’’
TECNOLOGIA
Peter Svensson, AP
iPhone 3G falha na estréia nos EUA
‘O tão aguardado lançamento do novo iPhone 3G, da Apple, virou ontem um
grande fracasso da tecnologia da informação, porque os compradores não
conseguiram fazer com que seus aparelhos trabalhassem. ‘É uma coisa lamentável e
um enorme transtorno’, comentou Frederick Smalls, corretor de seguros de
Whitman, Massachusetts, depois de passar duas horas ao telefone com a Apple e a
AT&T, tentando fazer funcionar seu novo iPhone.
Nas lojas dos EUA as pessoas esperavam do outro lado do balcão para que seus
aparelhos fossem ativados, enquanto atrás delas iam se formando longas filas.
Muitos clientes haviam acampado por muitas horas na fila para serem os primeiros
a adquirir o novo aparelho, que atualiza o que foi lançado há um ano acelerando
o acesso à internet e acrescentando um chip de navegação.
Um porta-voz da AT&T, a operadora exclusiva do iPhone nos EUA, disse que
houve um problema global com os servidores, que impediu que os telefones
pudessem ser totalmente ativados nas lojas, conforme havia sido planejado. Em
vez disso, os funcionários disseram aos compradores que fossem para casa e
conectassem seus aparelhos aos computadores, disse o porta-voz Michael Coe.
Entretanto, também foi extremamente difícil conectar-se com os servidores do
iTunes de casa, e os telefones acabaram ficando sem uso, salvo para chamados de
emergência.
O problema se estendeu aos proprietários do modelo da geração anterior do
aiPhone. Uma atualização do software divulgada para este telefone na sexta-feira
de manhã, pedia que o aparelho fosse reativado por meio do iTunes. ‘É uma
bagunça’, queixou-se o fotógrafo freelance Giovanni Cipriano, que depois de
atualizar seu iPhone de primeira geração, descobriu que não podia usá-lo.
Quando o iPhone chegou ao mercado, no ano passado, os clientes fizeram todo o
procedimento de ativação em casa, e os balconistas ficaram livres para atender
às vendas. Mas o novo modelo é subsidiado pelas operadoras e, portanto, a Apple
e a AT&T planejavam que todos os telefones fossem ativados nas lojas para
que os clientes ficassem vinculados a um contrato. Na sexta-feira, o telefone
começou a ser vendido em 21 países, criando uma enorme sobrecarga nos servidores
do iTunes.
O iPhone foi muito elogiado pela facilidade com que pode ser usado e por seus
vários recursos, mas a Apple acaba de ingressar no ramo da telefonia celular, e
cometeu alguns erros. Quando lançou o primeiro telefone nos EUA, um ano atrás,
inicialmente fixou um preço alto para os aparelhos, de US$ 499 a US$ 599,
depois, apenas dez semanas mais tarde, resolveu reduzir o preço em US$ 200, o
que deixou os primeiros compradores possessos.
O lançamento em outros países foi lento, porque a Apple queria que as
operadoras adotassem o seu esquema de preços pouco usual, que incluía o
pagamento de tarifas mensais à Apple. O modelo do novo telefone para empresas
obedece às normas da indústria, e o preço é menor: US$ 199 ou US$ 299,
dependendo da configuração, nos EUA.
Na quinta-feira, a Apple já havia registrado problemas com o lançamento de um
novo serviço de dados, o MobileMe. O serviço visa a sincronizar informações
pessoais dos usuários nos aparelhos, como os iPhones, mas muitos usuários não
tiveram acesso às suas contas.
SUCESSO
A febre do iPhone foi maior ainda no Japão, onde os consumidores estão
acostumados com telefones repletos de recursos tecnológicos, que procuram
restaurantes, têm e-mail, fazem downloads de músicas, lêem romances digitais e
fazem compras eletrônicas. Mais de mil pessoas fizeram fila fora da loja da
Softbank Corp. em Tóquio e os telefones se esgotaram rapidamente.
‘Veja o design obviamente inovador’, disse Yuki Kurita, 23, ao sair da loja
com seu novo iPhone, carregando sacolas de roupas e um skate que ele usara como
cadeira durante a espera. ‘Estou muito emocionado só em pensar em mexer
nele.’
O telefone foi lançado inicialmente na Nova Zelândia, onde centenas de
pessoas formaram filas fora das lojas. ‘Steve Jobs sabe o que a gente quer’,
disse a desenvolvedora de web Lucinda McCullough ao jornal neozelandês
Christchurch Press, referindo-se ao diretor-executivo da Apple. ‘E eu preciso de
um novo telefone.’’
INTERNET
Renato Cruz
Projeto contra crimes virtuais recebe críticas na rede
‘O projeto de lei contra crimes virtuais, aprovado na quarta-feira pelo
Senado, recebe críticas na internet. Uma petição online contra ele já havia
recebido, na noite de ontem, mais de 27 mil assinaturas. Especialistas em
cultura digital apontam que o projeto promove a invasão de privacidade e
restringe a liberdade do internauta.
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator do projeto, discorda. Para ele,
as críticas vêm de uma ‘interpretação equivocada’ do texto: ‘O projeto é um
grande avanço para o Brasil, que fica em sintonia com os países mais avançados’.
A versão aprovada pelo Senado incluiu modificações apresentadas pelo senador
Aloizio Mercadante (PT-SP). Azeredo chegou a apontar o resultado com uma
parceria PT-PSDB. O texto precisa ainda ser votado na Câmara.
A petição online foi criada por André Lemos, professor da Universidade
Federal da Bahia (UFBA); Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Faculdade
Cásper Líbero; e João Carlos Rebello Caribé, publicitário e consultor de
Negócios em Midias Sociais. ‘O substitutivo do senador Eduardo Azeredo quer
bloquear o uso de redes P2P, quer liquidar com o avanço das redes de conexão
abertas (Wi-Fi) e quer exigir que todos os provedores de acesso à Internet se
tornem delatores de seus usuários, colocando cada um como provável criminoso’,
diz a carta aberta que acompanha a petição.
O senador Azeredo afirma que o texto foi alterado antes da votação para
acabar com imprecisões. Para Amadeu, os problemas não foram resolvidos. ‘A
redação aprovada continua atacando o direito de compartilhamento de arquivos,
criminaliza as redes P2P e transforma os provedores em capatazes do copyright e
delatores de usuários’, diz Amadeu.
‘Como o que é aprovado é o texto e não o release da assessoria de imprensa do
Senado, não podemos concordar com qualquer redação que permite interpretações
futuras que proibam o compartilhamento de arquivos, a remixagem e o uso justo de
bens culturais’, completa. As redes P2P permitem a troca de arquivos entre
usuários.
O projeto tem vários pontos polêmicos. Um deles é a responsabilidade,
transferida ao provedor, de verificar o uso criminoso que as pessoas fazem do
acesso. O provedor teria que ‘informar, de maneira sigilosa, à autoridade
competente, denúncia que tenha recebido e que contenha indícios da prática de
crime sujeito a acionamento penal público incondicionado, cuja perpetração haja
ocorrido no âmbito da rede de computadores sob sua responsabilidade’.
‘O provedor não pode virar central de denúncia’, afirma Eduardo Parajo,
presidente da Associação Brasileira dos Provedores de Acesso, Serviços e
Informações da Rede Internet (Abranet). Pela proposta, os provedores, as
empresas e as repartições públicas que possuem redes de computadores deverão
manter um registro do uso que as pessoas fazem de seus computadores por três
anos. Não seria possível, por exemplo, existirem redes sem fio abertas, com
tecnologia Wi-Fi, por que não haveria registros dos usuários.
‘A proposta de lei em si é benéfica, mas ainda existem problemas de redação e
técnica legislativa’, afirma a advogada Gisele Truzzi, do escritório Patricia
Peck Pinheiro Advogados. Do jeito que está, um usuário pode ser incriminado, por
exemplo, se enviar um arquivo com vírus, mesmo sem saber da contaminação, ou se
receber, inadvertidamente, uma mensagem com conteúdo de pornografia
infantil.’
FOTOGRAFIA
Marianna Aragão
Agfa muda foco e investe no Brasil
‘Como parte de um mercado que quase deixou de existir, o de imagem e
impressão fotográfica, a multinacional belga Agfa passou por uma prova de fogo
na última década. Precisou adaptar seu modelo de negócios – o que incluiu a dura
decisão de dar fim às operações de papel de fotografia e se abrir para novas
áreas – e amargou anos de prejuízo.
No Brasil, não foi diferente. Desde que começou a operar no País, há 12 anos,
a fábrica da empresa em Suzano (SP) havia recebido apenas um único investimento
da matriz, de US$ 3 milhões, em 2005.
Há dois anos, porém, a operação brasileira começou a dar sinais de que
poderia ser a emissora de boas novas para a companhia. Com o crescimento da
economia e da demanda interna nesse período, a área gráfica da Agfa Brasil
cresceu 45%. O resultado fez o País ser escolhido como destino do principal
investimento da multinacional belga nos próximos anos.
A unidade do interior paulista vai receber 15 milhões para dobrar sua
capacidade de produção. ‘A fábrica estava ficando pequena para atender à
demanda’, afirma o presidente da Agfa Graphics para a América Latina, Fabrizio
Valentini.
As chapas, equipamentos e softwares produzidos pela empresa abastecem
indústrias como a de impressão, publicidade e embalagens de bens de consumo.
‘Somos um termômetro da economia’, diz Valentini. Pelo menos 20% do que é
produzido no País é exportado para os Estados Unidos e países da América Latina
e Europa.
Além da expansão da fábrica, os recursos serão aplicados para trazer ao
Brasil uma nova tecnologia desenvolvida pela empresa: chapas para impressão
‘ecológicas’, que dispensam o tratamento de resíduos e reduzem o uso de
químicos. O Brasil será o terceiro país a receber o produto, depois da Alemanha,
principal operação da Agfa no mundo, e dos EUA.
A Agfa entrou no Brasil em 1996, ao adquirir a divisão de chapas para
impressão da alemã Hoechst. Hoje, a empresa também produz equipamentos para
diagnósticos médicos por imagem. Esse segmento foi responsável por 28% do
faturamento de R$ 250 milhões que a empresa registrou no Brasil no ano passado.
A área gráfica tem a fatia restante.
Segundo Valentini, argentino que trabalha há 22 anos na indústria gráfica e
há 10 na Agfa, a operação brasileira puxa o resultado da empresa na América
Latina. Em 2000, a região respondia por 4% das vendas globais. Este ano, o
porcentual deve ficar em 9%. O Brasil representa 4% do faturamento do
grupo.’
TELEVISÃO
Gustavo Miller
Os Muppets do mal
‘A MTV estréia na madrugada de amanhã para segunda-feira o Fur TV, um
programa britânico com três fantoches beberrões e mal-educados.
A atração irá ao ar todos os domingos à 0h30 e dá para entender o motivo de
ser tão tarde. De temática adulta, os fantoches Fat Ed, Mervin e Lapeño Enriquez
(que, com esse nome hispânico, é brasileiro) falam mais palavrões que Beavis
& Butthead e protagonizam algumas situações que parecem ter sido tiradas de
South Park.
Para se ter uma idéia, o episódio que a MTV exibe amanhã mostra os três
fantoches tentando pagar as contas de casa com o dinheiro que eles arrecadaram
na produção de filmes, hum, ‘eróticos’ para a internet.
Apesar de ser novidade na grade televisiva brasileira, FurTV não é algo novo
por essas bandas. Trechos do programa fazem sucesso na internet, principalmente
no YouTube. No próprio site da MTV britânica é possível assistir aos oito
episódios da 1ª temporada do show.
FurTV nasceu como um curta-metragem que foi premiado num concurso da BBC em
2003. Só neste ano é que ele virou um programa de meia hora na MTV UK.’
Sérgio Augusto
Todos nós gostaríamos de ter esse analista
‘Muito estranho e decadente anda este mundo. Não faz tanto tempo assim que
Orlando Silva era um cantor (‘o cantor das multidões’) e não um ministro dos
Esportes; e Alvaro Lins era um dos maiores críticos literários do País e não um
policial bandido; e Paul Weston era um pianista, maestro e arranjador americano,
casado com a cantora Jo Stafford, e não um psicanalista. Desses três homônimos,
ora absolutos na memória popular, o único que não nos envergonha do presente é o
terceiro, o Dr. Paul Weston.
A quem não o conhece, imagino que a maioria dos leitores, um conselho: vale a
pena conhecê-lo. E não apenas porque seu verbete na Wikipedia seja três vezes
maior que o do maestro Paul Weston e só um pouco menor que o da renomada
lacaniana Elisabeth Roudinesco. Feito notável, considerando-se que o músico Paul
Weston (1912 -1996), da mesma forma que Mlle. Roudinesco, não pertencem ao
universo da ficção, e o Dr. Paul só existe na televisão, é um personagem, uma
figura fantasiosa.
Dr. Paul, interpretado pelo irlandês Gabriel Byrne (Ajuste Final, Os
Suspeitos) na telessérie Em Terapia (In Treatment), é o psicoterapeuta do
momento, um fenômeno do imaginário televisivo tão empático quanto o Dr. Gregory
House. Em outro registro, evidentemente. House pode ser o melhor diagnosticador
do mundo, o cínico mais perspicaz e engraçado que um hospital já empregou, mas
não é páreo para o sedutor Paul, que, até pelos encantos inerentes ao seu
ofício, transformou-se em poucas semanas no objeto do desejo de milhões de
telespectadoras, analisandas ou não.
Claro que se Em Terapia fosse apenas uma série a mais, um trivial psicodrama,
um subproduto de As Três Faces de Eva e Gente Como a Gente, e na poltrona do
analista estivesse sentado o feio e carrancudo Lee J. Cobb (como em As Três
Faces de Eva) ou o insípido e sorumbático Judd Hirsch (como em Gente Como a
Gente), e não o charmoso e expressivo Byrne, sua repercussão teria sido
outra.
Se você nunca a viu, entre outros motivos por não ser assinante do HBO, torça
por uma reprise (improvável por causa do rígido formato da série) ou espere
pelos DVDs da primeira temporada, que nos EUA serão postos à venda em 9 de
setembro. A primeira temporada, infelizmente, chegou ao fim na noite de ontem,
após 43 sessões. E a segunda temporada só começa a ser gravada daqui a três
meses, não mais em Los Angeles mas em Nova York, detalhe, de resto, irrelevante,
pois a ação da série se concentra, basicamente, em dois espaços fechados: a
casa/consultório do Dr. Paul e a casa/consultório de sua supervisora,
supostamente situados nos arredores de Washington.
Receio ser atingido por uma síndrome de abstinência a partir da próxima
segunda-feira. Muitos telespectadores (e sobretudo muitas telespectadoras) o
serão. Em Tratamento era viciante, até para quem, como eu, nunca fez nem
pretende fazer análise. Psicoterapeutas, de ambos os sexos, sempre houve, com
menos e mais destaque, em teledramas e sitcoms, como no velho show de Bob
Newhart, em M*A*S*H*, Frasier, Monk , A Família Soprano, até em Jornada nas
Estrelas. Recentemente o HBO lançou outra série psi, Tell Me You Love Me, com
Jane Alexander no papel de uma terapeuta de casais em conflito. Nenhum dos
citados, porém, equipara-se ao personagem encarnado por Byrne. Nem sequer a
festejada analista do mafioso Tony Soprano, até porque a Dra. Jennifer Melfi
(Lorraine Bracco) não passava de uma coadjuvante, e o Dr. Paul é o astro, o
centro gravitacional, o superego de Em Tratamento.
Num mercado em que o sucesso de audiência é medido na escala dos milhões, In
Treatment estreou com o pé esquerdo. Apenas 446.000 telespectadores assistiram
ao primeiro capítulo da série, nos EUA, em 28 de fevereiro deste ano. Época mais
propícia para emplacar uma nova série, impossível. Os roteiristas de filmes para
cinema e TV americana estavam em greve; os canais apelavam para reprises; mas
ainda assim só gradativamente In Treatment firmou-se como um sucesso de estima,
um programa imperdível para uma camada sofisticada de telespectadores, que às
vezes se sentia como se estivesse assistindo a uma versão americanizada de um
filme de Ingmar Bergman, com um texto afiadíssimo (o que não chega a ser
surpresa nas melhores telesséries americanas, o atual filé mignon da
criatividade hollywoodiana) e um elenco na ponta dos cascos.
Uma idéia original: de segunda a sexta, às 20h30, repetindo às 23h30, uma
consulta diferente, com meia hora de duração, precedida da consulta anterior, às
20 h e 23 h, respectivamente. Os louros da novidade pertencem ao cineasta Hagai
Levi, cuja sacada redundou, primeiro, numa série de enorme êxito na televisão
israelense, Be’Tipul, cujos episódios iniciais foram exibidos numa mostra de
filmes israelenses realizada em São Paulo no mês passado. O restante da glória
vai para o colombiano Rodrigo García, que a adaptou, produziu e dirigiu para a
TV americana, sem abrir mão da presença de Levi em sua alentada equipe de
produtores executivos, de que também faz parte o ator Mark Wahlberg (indicado ao
Oscar de coadjuvante por sua atuação em Os Infiltrados).
Filho de Gabriel García Márquez, Rodrigo, que já fora premiado por seu
trabalho na série Six Feet Under, dirigiu 22 dos 43 episódios da primeira
temporada e só não se responsabilizou pelo roteiro de duas consultas. Levi
escreveu o roteiro de 25 episódios. Apesar da diversidade de autores (ao todo,
quatro diretores e 12 roteiristas), a série não sofreu visíveis mutações
estilísticas e oscilações na condução dos atores, ainda que algumas sessões
tenham resultado mais bem-sucedidas do ponto de vista dramático do que outras,
em grande parte por obra da superioridade de determinados atores ou da maior
solidez de seus personagens.
Segunda-feira era o dia de Laura, jovem anestesista encarnada pela bela
australiana Melissa George, ir ao consultório do Dr. Paul. Terça era a vez do
escabreado piloto de guerra Alex, vivido pelo ator negro Blair Underwood, a mais
rica performance da série depois de Mia Wasikowska, a estreante atriz que fez da
ginasta Sophie, paciente das quartas-feiras, a adolescente mais intensamente
conflituosa dos últimos tempos. Às quintas, o litigioso casal Amy (Embeth
Davidtz) e Jake (Josh Charles). Às sextas, o Dr. Paul saía de seu nicho para
abrir sua psique para a Dra. Gina (Diane Wiest), velha amiga e supervisora. Saía
e continuará saindo: Byrne e Wiest foram os únicos intérpretes até agora
confirmados para a segunda temporada.
Édipos mal resolvidos, pais tenebrosos, ressentimentos acumulados, culpas
abissais, transferências e contratransferências eróticas: deu de tudo um pouco
no divã do Dr. Paul, que, aliás, nem divã é, mas um sofá de três lugares. Tão
surpreendente foi a primeira temporada que até os pacientes a princípio menos
interessantes, como o casal Amy-Jake, passaram a disputar nossa atenção em pé de
igualdade com os demais, e as figuras mais marcantes durante toda a série ou
saíram de cena cedo demais (caso de Laura, desistência, e Alex, suicídio) ou de
forma contraditoriamente convencional (caso de Sophie). Em Tratamento, portanto,
teve lá suas imperfeições, porém mínimas, irrelevantes.
Ocioso entrar em detalhes sobre algo que já saiu do ar, mas não resisto à
tentação de confessar que torci para que Paul largasse a mulher, Kate (Michelle
Forbes), e ficasse com Laura, um heresia do ponto de vista psicoterapêutico,
mas, quem sabe, uma promessa de felicidade para o atormentado analista. Ele
próprio deixou escapar, no divã da dra. Gina, que Laura talvez tenha sido ‘o
último amor de sua vida’; vale dizer, sua última chance de voltar a ser feliz,
já que ao lado da (como direi? malévola? perversa?) Kate, a urtiga cresceu.
Vinte anos mais jovem do que ele, Laura chegou a dar a impressão de ser uma
ninfomaníaca, uma autêntica ‘chave de cadeia’. Afinal não era nada disso e sua
visão idealizada do Dr. Paul, fruto de um corriqueiro caso de ‘transferência
erótica’, poderia, no meu leigo e quiçá idealizado modo de entender, evoluir
para um relacionamento saudável, maduro, redentor.
Na vida real, Paul já teria perdido sua licença para clinicar, objetou um
analista nova-iorquino, referindo-se especificamente a uma reação extremada do
terapeuta às provocações de Alex. Num momento de fraqueza, Paul, tomado de
fúria, esvaziava no rosto de Alex uma xícara de café. As fraquezas de Paul é que
o tornaram um personagem tremendamente carismático. Sua grandeza é ser frágil,
vulnerável, sujeito a cometer besteiras, e uma fonte aparentemente inesgotável
de compaixão. ‘Ele ouve, ele se preocupa, ele é real’, desmanchou-se em elogios
a crítica Ruth La Ferla. ‘Ele é todo ouvidos. E olhos. E mãos’ –
acrescentou.
Confere. As mãos, sobretudo: ora sobre o braço da poltrona, ora cruzadas
sobre o rosto ou juntas sobre a boca, elas têm mais empatia que suas palavras,
uma força hipnótica que, pelo que se lê na internet, enlouquece as mulheres.
‘Claro que Paul é um símbolo sexual’, admite Rodrigo García. Mas também ele
faz questão de salientar que a idealização do personagem pelas telespectadoras
tem muito a ver com os deslizes reconfortantemente humanos do personagem. Eis um
caso de transferência erótica, sem o perigo de uma contratransferência. Dr.
Paul, afinal de contas, não existe na vida real. Se existisse, não daria conta
de todos os candidatos a uma sessão semanal em seu consultório. Ano que vem ele
estará de volta, com novos pacientes e novas demonstrações de fraqueza. E novos
adeptos. Pois, como disse alguém, compaixão é um afrodisíaco.’
Etienne Jacintho
Discovery vai furar matéria do Fantástico
‘O Fantástico do último domingo mostrou parte da história de um adolescente
inglês problemático e prometeu para este domingo a seqüência. Anunciada como
‘exclusiva’, a história faz parte da série Anjolescentes, da BBC, em cartaz no
Discovery Home&Health. O canal pago exibirá a história completa domingo, às
10 h, antes do Fantástico. A Central Globo de Comunicação diz que o Fantástico
não cometeu equívoco. ‘A Globo é emissora de TV aberta e, portanto, na TV
aberta, a série da BBC está sendo exibida com exclusividade pelo
Fantástico.’’
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