Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cenas de uma tragédia antiga

Gostaríamos de relatar a vocês o fato acontecido no dia 25 de fevereiro deste ano na redação da Gazeta Mercantil em São Paulo, que teve como desfecho a demissão sumária e injusta de dois jornalistas: a do editor do Caderno Carro/indústria automobilística Renato Acciarto, e da repórter de finanças Alessandra Paz.

Na quinta-feira, dia 24 de fevereiro, recebemos um e-mail interno do editor-chefe do jornal, Klaus Kleber, promovendo uma reunião entre os funcionários interessados em solucionar as pendências com a Gazeta Mercantil e os representantes da Editora JB, entre eles, o vice-presidente administrativo da companhia, Hélio Tuchler.

A reunião já começou mal. Hélio Tuchler reclamou a ausência de representantes da redação e disse que ‘não tinha pensado que conversaria os problemas um a um’.

Os cinco jornalistas na mesa de reunião, começaram a dialogar sobre os problemas graves e sem solução por parte da empresa. A Editora JB, desde outubro de 2003, demitiu toda a redação e comunicou que todo o pagamento a partir daquela data seria efetuado com a contra-apresentação de notas fiscais. Mas para essa mudança de pessoa física para jurídica, a Editora JB não pagou a rescisão prevista na CLT, não pagou a multa, nem os salários atrasados desde 2001. Também não depositaram nosso fundo de garantia no período em um claro desrespeito às leis trabalhistas e tributárias brasileiras.

De outubro de 2003 para cá, enquanto trabalhávamos na abertura de nossas empresas, a Editora JB se calou, não falou mais na rescisão e continuou pagando os salários de forma inconstante/instável a cada mês.

Agora, ao que tudo indica, bateu o desespero na Editora JB. As propostas apresentadas por Helio Tuchler há duas semanas, depõem contra as leis e o bom senso de qualquer trabalhador.

No dia 25 de fevereiro, a empresa propôs aos funcionários que estes dêem duas notas fiscais a cada mês, uma para receber o salário do corrente e outra para justificar os pagamentos realizados no ano passado. Na visão de grande parte da redação, a sugestão além de contra a lei, também é economicamente inviável, dada a situação financeira ruim de boa parte dos jornalistas da Gazeta Mercantil, com pelo menos oito salários atrasados desde 2001.

Ao saber da tarefa difícil que o aguardava, de enganar e ludibriar ainda mais os jornalistas da GZM, Hélio Tuchler, naquela sexta-feira estava bastante truculento.

A primeira reunião com os jornalistas aconteceu ao meio-dia de 25 de fevereiro. Nela estavam presentes o vice-presidente da Editora JB, a diretora de RH (Renata Leal), o diretor-financeiro (Demétrio?), dois representantes da empresa de contabilidade contratada pela Editora JB (ContaCom), um funcionário do RH (Maximiliano) e mais cinco jornalistas (Renato Acciarto, Alessandra Paz, Gláucia Maria Andrade, Claudia Mancini, Ana Carolina Saito e Luciana Collet).

No início do encontro, Hélio destacou três itens que estavam causando problemas à Editora JB. O primeiro é que muitos jornalistas tinham medo que a abertura dessas empresas poderiam afetar o vínculo trabalhista com a Gazeta Mercantil. Outro obstáculo era que muitos funcionários estavam com o ‘nome sujo’ [por terem ficado inadimplentes] e por isso não conseguiam abrir a empresa. E o terceiro, que muitos jornalistas estavam fazendo ‘corpo mole’ na abertura das empresas, já que não queriam pagar impostos.

Renato Acciarto disse a ele que isso não era verdade, que toda a redação estava se esforçando já que a declaração do Imposto de Renda de 2004 seria um grande problema para todos, tudo por causa da empresa que os colocara em um grande imbróglio tributário/jurídico. Alessandra Paz disse que havia um quarto problema, dos jornalistas que já tinham entregue à ContaCom toda a documentação há vários meses, mas a empresa de contabilidade não dava andamento ao processo de abertura das empresas porque não estava recebendo os pagamentos por parte da Editora JB.

A discussão prosseguiu, inclusive com apartes do diretor-financeiro da empresa, que chamou os colegas várias vezes de mentirosos quando o fato é real e facilmente comprovável.

Por tudo o que os funcionários da empresa estão passando, com salários atrasados, seguidos atos desrespeitosos e sem pagamento do mês de janeiro até aquela data (dia 25 de fevereiro), no entanto, ouvimos de repente o que mais não queríamos ouvir.

Hélio Tuchler em pé, começou a esbravejar, que todos calassem a boca, porque quem mandava na empresa era ele. Ouvindo aqueles gritos, e a tentativa de mais uma humilhação pública (no 11º andar do prédio da rua Ramos Batista, 444), os jornalistas Renato Acciarto e Alessandra Paz se levantaram da mesa e deixaram a reunião. Resultado?

Em um ato truculento e injusto, Hélio Tuchler pediu os nomes dos dois e os demitiu na tarde daquele mesmo dia. Os jornalistas pediram uma comunicação formal, o que a empresa não fez. E ainda pior: não pagou nem os salários de janeiro, nem de fevereiro, os quais eles tinham direito e, inclusive, já trabalhado por isso. Ainda mais: não há fundo de garantia depositado, nem multa para os jornalistas, muito menos vergonha na cara de quem comanda uma empresa que desafia a lei e as pessoas que colaboram para sua existência com o suor de cada dia. Obrigado pela atenção [7 de março de 2005].

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Respectivamente, ex-editor do caderno Carro/ Indústria Automobilística e repórter de finanças da Gazeta Mercantil