Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carlos Eduardo Lins da Silva

‘Parte do ódio de alguns críticos contra veículos de comunicação de massa deriva da convicção que têm do seu poder de manipular a opinião do público em questões vitais, como eleições.

Jornais, revistas, emissoras de rádio e TV não desfrutam desse poder, como comprovam vasta pesquisa empírica acumulada há pelo menos 60 anos e os próprios fatos da história recente.

Líderes políticos tidos como hostilizados pela imprensa, como Jânio Quadros, Luiza Erundina, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva elegeram-se para cargos importantes apesar da suposta campanha da mídia contra si.

Quando os que são vistos como protegidos do jornalismo, como Fernando Collor, José Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso, vencem, então o resultado é atribuído ao poder esmagador dos grandes meios.

É evidente que, no mínimo, outras variáveis devem interferir no processo. Se não os aliados da ´imprensa burguesa` sempre ganhariam.

Os que denunciam a pretensa capacidade extraordinária de influir da mídia, claro, se acham imunes a ela. Mas, em atitude que denota desprezo pelos cidadãos comuns que dizem defender, crêem que os outros não dispõem dos mesmos instrumentos e, portanto, precisam de proteção.

Desde 1948, ano de estudo clássico na cidade de Elmira, Estado de Nova York, sobre a influência de jornais sobre eleitores no pleito presidencial americano, sabe-se que em temas que compõem o núcleo de valores e convicções de uma pessoa os meios de comunicação importam muito menos do que outras instituições, como família, igreja, sindicato, escola, clube, grupo de amigos.

Mas há aspectos da vida política em que a imprensa pode mesmo exercer papel muito relevante, mais até do que o de outros atores significativos. Um deles é o da definição da agenda pública.

Há uma infinidade de temas em permanente debate numa sociedade democrática. E há momentos específicos em que decisões são tomadas com efeitos duradouros para toda a coletividade.

Dois desses assuntos foram definidos recentemente, e a opinião pública pouco se manifestou sobre eles. No dia 9 de julho, projetos de lei que descriminalizavam o aborto foram arquivados na Câmara dos Deputados. No dia 10, o Senado aprovou projeto de lei que define novos tipos de crimes praticados por meio da internet.

São duas questões que têm grande interesse para os leitores da Folha. No entanto, o jornal não os preparou para o que vinha: não publicou artigos, não promoveu debates, não deu reportagens extensivas sobre o que poderia acontecer, nem mesmo os alertou para a iminência da decisão.

O Congresso Nacional, freqüentemente execrado, não por motivos injustos, é uma instituição com grande transparência. O calendário de suas sessões é público. A agenda das comissões e do plenário, idem. Quem tiver interesse e disposição pode participar e influir.

À imprensa cabe ajudar o cidadão que quer tomar parte no processo a fazê-lo. Por que não divulgar mais a agenda do Poder Legislativo e fazer com que ela coincida com a da sociedade? Por que não aproximar os representantes e os representados?

Se o Congresso está distante da população, é melhor forçá-lo a aperfeiçoar-se do que pregar o seu fechamento ou ignorá-lo. O mesmo se aplica às Assembléias Legislativas, Câmaras Municipais, Executivos dos três níveis e as diversas instâncias do Judiciário.

O jornalismo pode contribuir muito na construção de pontes que possibilitem essa melhora, como demonstram diversos exemplos de outros países. É só querer.’

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‘O caso Andréa Michael’, copyright Folha de S. Paulo, 27/7/08.

‘Circulou na internet diálogo atribuído à repórter Andréa Michael, da Sucursal de Brasília da Folha, e Guilherme Sodré Martins, consultor de Daniel Dantas, sem esclarecer sua origem. Alguns leitores (poucos) cobraram do ombudsman condenação à jornalista e, do jornal, sua demissão (com humilhação, sugeriu um).

O relatório da Polícia Federal não contém nenhuma transcrição de diálogo com participação de Michael. Há relato de conversa entre Martins e Dantas, em que o consultor avisa ao banqueiro de que ´André [sic] Michael, da Folha, tá fazendo por encomenda uma matéria contra você, tá certo?´.

O consultor de Dantas o informava de que matéria havia sido ´encomendada` para prejudicá-lo. Andréa Michael, em férias quando a Operação Satiagraha foi desencadeada, afirma jamais ter dito estar fazendo matéria sob encomenda. O relatório final da PF excluiu menção anterior de que havia preparado matéria ´sob encomenda´.

Ela escreveu e teve publicada em 26 de abril reportagem sobre investigação que a PF fazia sobre Dantas. Alguns leitores acreditam que isso o alertou e favoreceu. Pode ser. Mas custo a crer que Dantas precise ler jornal para ter informações de seu interesse.

Obrigação de jornalista é publicar informações confirmadas de interesse público. Michael e a Folha o fizeram.’

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‘Para ler’, copyright Folha de S. Paulo, 27/7/08.

‘´Políticas Públicas Sociais e os Desafios para o Jornalismo´. Andi e Cortez Editora, 2008 (a partir de R$ 29,93) – coletânea de textos sobre como a imprensa pode contribuir mais para a formação de políticas públicas

´Como Exercer sua Cidadania´. Bei, 2003 (R$ 42) – excelente manual sobre instrumentos com os quais o cidadão pode influir em decisões de interesse coletivo

PARA VER

´Proibido para Menores´, de Mark Waters, com Mariel Hemingway e Griffin Dune, 2002 – relato do confronto democrático nos EUA em 1986 entre grupo de pais organizados para combater o que consideravam pornografia em letras de música e de artistas empenhados em garantir a liberdade de expressão

´Obrigado por Fumar´, de Jason Reitman, com Aaaron Eckhart, 2005 (a partir de R$ 14,99) – bem humorada crônica de como se faz a defesa legal, mas para alguns ilegítima, dos interesses da indústria do tabaco junto ao governo e à opinião pública nos EUA

ONDE A FOLHA FOI BEM

Obama

Ainda não rendido pelo charme do candidato, jornal cobre sua campanha com espírito crítico e não o trata como já eleito

Revista

Reportagem de capa de domingo passado sobre destinos originais para turistas mirins é bom serviço para pais inovadores

E ONDE FOI MAL

Rodada Doha

Cobertura das negociações tem sido desproporcionalmente enxuta para sua importância

Cotidiano

Fotos na capa da edição nacional de terça-feira não tinham qualidade técnica para um jornal como a Folha

Satiagraha

Leitor continua sem análise que o ajude a perceber o sentido dos fatos noticiados

Afogado em números

Notícia sobre arrecadação de impostos na segunda amontoa cifras cuja dimensão é de difícil compreensão para pessoa comum

Assuntos mais comentados da semana

1. Operação Satiagraha

2. Eleições municipais

3. Cobertura de futebol’