MÍDIA & CULTURA
Gugu e o galo amarelo
‘Um galo amarelo. Um galo amarelo e imenso. Do tamanho de uma pessoa. Ele encara Peter Griffin. Peter Griffin o encara. De um instante para o outro, Peter Griffin pula pela janela e passa a estrangulá-lo. O galo amarelo reage, socando-o e bicando-o. A luta prossegue. Os dois caem num bueiro. Continuam a se socar nos andaimes de um prédio. Chocam-se contra uma roda-gigante. A roda-gigante se desprende e esmaga uma série de carros. Peter Griffin e o galo amarelo destroem tudo em seu caminho. Cambaleiam pela cozinha de um restaurante. Peter Griffin joga uma panela de água escaldante no rosto do galo amarelo. A luta chega ao fim. O galo amarelo parece morto. Inesperadamente, ele abre o olho esquerdo. Retornará.
Peter Griffin é o protagonista do desenho animado Family Guy. A luta com o galo amarelo é recorrente no seriado. Ela se insere bruscamente na trama. Num instante, Peter Griffin está à mesa de jantar, com sua mulher. No outro, ele está batendo no galo amarelo. Quando a luta acaba, ele regressa para a mesa de jantar, e o episódio é retomado do ponto em que fora interrompido. Assim mesmo: de maneira perfeitamente gratuita. Trata-se da imagem mais perturbadora de nosso tempo. Se Peter Griffin é Clitemnestra, o galo amarelo é sua Electra. Se Peter Griffin é Sherlock Holmes, o galo amarelo é seu Moriarty. Se Peter Griffin é Humbert Humbert, o galo amarelo é seu Quilty. Cada sociedade produz sua figura de Nêmesis. A nossa Nêmesis, representada por um desenho tosco, é um ser de outra espécie, que nos embrutece, nos bestializa. Eu sou Peter Griffin. Do lado de fora da janela, um galo amarelo me encara. Estou pronto para esmurrá-lo, igualando-me a ele.
No Brasil, só Gugu, em seus melhores momentos, consegue causar o mesmo estranhamento que o galo amarelo de Family Guy. No principal quadro de seu programa, Gugu manda emigrantes de volta à cidade de origem, dando-lhes de presente uma geladeira, uma antena parabólica e uma coifa. O espectador é tomado por uma angústia kierkegaardiana. Na última semana, uma mulher retornou à casa dos pais, depois de dez anos de ausência. Dramaticamente, os pais foram incapazes de reconhecê-la. Enxotaram-na. Sim, é o programa do Gugu, mas poderia ser uma peça de Ibsen. Se Ibsen fosse brasileiro. E se ele arrumasse um emprego no SBT.
Paulo Coelho declarou à Playboy que é o mais importante intelectual brasileiro. É mesmo. Compare-o aos demais. Em termos de idéias e de linguagem, sua obra não é mais vexatória do que a de Antonio Candido. Depois de declarar que era o mais importante intelectual brasileiro, Paulo Coelho pediu ao repórter: ‘Refaz a frase para que eu não pareça arrogante’. O simples fato de se identificar como um intelectual brasileiro já é um atestado de modéstia. Ser o mais importante intelectual brasileiro é igual a ser a prostituta número quatro do Cazaquistão. Borat pode até se orgulhar disso, mas a gente sabe o que significa. Ao nosso redor, tudo se brutalizou. O galo amarelo está à espreita. Um dia, ele conseguirá nos matar.’
MEMÓRIA / ALEXANDER SOLJENTSIN
Barba de Tolstoi, alma de Dostoievski
‘Saudade da União Soviética. Também conhecida por URSS (serviço poupa-Google para os jovens: a sigla quer dizer União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), quase tudo deu errado em sua atribulada existência (1917-1991), mas pelo menos um produto notável ela gerou: o dissidente soviético. Que vozes respeitáveis! Que impacto universal não provocavam! Entre todos, o mais notável foi o que morreu na semana passada, em Moscou, aos 89 anos: o escritor Alexander Soljenitsin.
O dissidente russo era, à sua época, a mais acabada encarnação do ‘grande homem’. Ninguém mais fala em ‘grande homem’. Antes se falava. Júlio César foi um grande homem. Napoleão foi um grande homem. Depois veio a consciência do custo que cobraram, em vidas, para atingir o estágio de grandes homens, e ficou incorreto continuar a referir-se a eles como tal. O epíteto sobrou para as pessoas dedicadas a causas de indiscutível justeza e dotadas de inatacável autoridade moral. A podridão do regime da URSS não oferecia margem a dúvidas. Os dissidentes eram intelectuais dispostos a sacrifícios pessoais, inclusive enfrentar a prisão e o exílio, em favor da causa. A combinação de causa justa com autoridade moral encaixava-os à perfeição no molde do grande homem. Foram os últimos. Depois deles não surgiram causa nem autoridade moral suficientes para produzir grandes homens.
Ora, direis, e os dissidentes chineses? Não são espécies da mesma têmpera. Falta-lhes o páthos que distinguia os dissidentes russos e, entre eles, sobretudo, Soljenitsin. Falta-lhes a barba de Soljenitsin. Soljenitsin irrompeu no cenário russo e mundial com a barba de Tolstoi e a alma revolta de Dostoievski. Eram armas que, num russo, equivalem a um escudo sagrado e a uma espada invicta. Com elas derrotou um câncer, quando tinha 35 anos, sobreviveu a oito anos de prisão, no Gulag (poupa-Google: sigla do órgão governamental que administrava os campos de concentração soviéticos), e contribuiu para a derrocada de um regime. Seu livro mais conhecido, Arquipélago Gulag, é um completo e impressionante compêndio da repressão na era soviética. A crueldade cínica do regime revela-se em histórias como a da moça que é cortejada por um agente do regime, apaixona-se por ele, aceita um convite para o Balé Bolshoi, assiste ao espetáculo em idílio com o acompanhante – para no fim do espetáculo ser conduzida por ele à Lubianka, a praça de Moscou onde ficava a polícia secreta. E no entanto…
No entanto, entre 1976 e 1994, período durante o qual, depois de expulso da URSS, viveu nos Estados Unidos, o mundo travaria conhecimento com um outro Soljenitsin. Enganava-se quem pensava que enfim ganharia o sossego que as perseguições na terra natal jamais lhe haviam permitido. Enganava-se mais ainda quem imaginava que a democracia ocidental lhe merecesse os louvores. Ao contrário, a barba de Tolstoi e a alma de Dostoievski agora se punham em guarda contra um novo inimigo. Num famoso discurso na Universidade Harvard, teceu seu diagnóstico do lado do mundo em que agora vivia. Atacou o consumismo. Chamou o processo democrático de ‘vitória da mediocridade’. Investiu contra os filmes ‘cheios de pornografia, de violência e de horror’ e contra a imprensa, dada a ‘adivinhações, rumores e suposições’ que levam a julgamentos ‘apressados, imaturos e superficiais’.
Seu ponto era a perda de espiritualidade num mundo movido a ambições materiais. A vida espiritual, para ele, estava sendo destruída tanto no Oeste quanto no Leste – no Leste ‘pelas maquinações do partido governante’ e no Oeste pelos ‘interesses comerciais’. Se algumas de suas conclusões podem fazer sentido, outras o projetam para algum lugar distante da história. Soljenitsin via o desenvolvimento humano numa trilha errada que, iniciada no Renascimento, ganhara velocidade no Iluminismo. Ou seja: perdemo-nos ao perder os valores da Idade Média. Alguns o viram como um dissidente também no Ocidente, mas na verdade ele ia além: era um dissidente do tempo em que vivia. Com isso, perdeu a audiência. Como pode alguém que prega contra os valores do seu tempo ser aclamado pelas pessoas do seu tempo? Não encarnava mais o grande homem. Este ficara lá atrás. Morrera junto com a União Soviética.’
O homem que expôs o horror soviético
‘No discurso fúnebre que proferiu em homenagem a Émile Zola, morto em 1902, o escritor Anatole France deixou uma afirmação memorável sobre o autor de Germinal: ‘Ele foi um momento da consciência humana’. Referia-se sobretudo à atuação de Zola na defesa de Alfred Dreyfus, oficial do Exército injustamente acusado de traição, em um caso que dividiu a França no fim do século XIX. As palavras de France caberiam com mais justiça ao russo Alexander Soljenitsin, que morreu de problemas cardíacos em Moscou, no dia 3, aos 89 anos. Soljenitsin bateu-se contra o grande Leviatã do século XX: a máquina totalitária da União Soviética. Sua obra mais celebrada, Arquipélago Gulag, é uma radiografia do estado comunista e de seu sistema de prisões para dissidentes políticos (‘Gulag’ é a sigla em russo de Diretório Geral de Campos). ‘Arquipélago Gulag é a maior e mais poderosa condenação de um regime político erigida nos tempos modernos’, declarou o diplomata americano George Kennan, profundo conhecedor da política soviética.
Nascido em 1918, um ano depois da revolução comunista, Soljenitsin começou sua trajetória de confrontos com o totalitarismo em 1945, quando ainda servia no Exército Vermelho na guerra contra a Alemanha nazista. Uma carta em que fazia piadas sobre Stalin foi interceptada. Bastou para que fosse condenado ao Gulag. Passou oito anos em prisões e campos diversos, e mais três degredado em um assentamento remoto na porção oriental da União Soviética. No exílio, foi diagnosticado com um tumor maligno no estômago e só com muita dificuldade conseguiu autorização para buscar tratamento em uma cidade maior. Em 1956, foi reabilitado como ‘patriota soviético’ e se estabeleceu em Riazan, cidade próxima de Moscou. Sobrevivera ao exílio e ao câncer e estava prestes a se tornar a grande voz literária da dissidência.
O comunismo vivia então um período de distensão, sob a guarda do premiê Nikita Kruchev, famoso por seu discurso de denúncia dos crimes do antecessor, Joseph Stalin, morto em 1953. Foi graças a esse relaxamento do aparato policial que Soljenitsin pôde publicar, em 1962, a novela Um Dia na Vida de Ivan Denissovich, relato cru do cotidiano de um prisioneiro do Gulag. Kruchev lera a novela e recomendara pessoalmente a sua liberação à cúpula comunista. ‘Existe um stalinista dentro de cada um de nós. É preciso extrair esse mal’, argumentou. Comparado a Recordações da Casa dos Mortos, de Dostoievski, Ivan Denissovich transformou Soljenitsin em uma celebridade literária – mas também o tornou suspeito para a linha dura comunista, que voltaria ao poder quando Kruchev foi ‘aposentado’ compul-soriamente e Leonid Brejnev tomou seu lugar, em 1964.
A repressão manteve Soljenitsin sob estreita vigilância, mas ele continuou escrevendo textos, que circulavam em cópias clandestinas. Já era então re-conhecido internacionalmente como um grande escritor, a ponto de ganhar o Prêmio Nobel, em 1970, sob protestos de Moscou. Graças a sua fama, passou a receber centenas de cartas de ex-prisioneiros políticos, material que serviu para a composição de sua obra máxima, Arquipélago Gulag, misto de memórias e ensaio histórico. Os números levantados pela obra assombram: nada menos do que 60 milhões de pessoas foram internas em campos de prisioneiros, que, Soljenitsin frisava, existiram desde o início da revolução. O livro não se limitou a atacar o stalinismo, como queria Kruchev: era uma condenação global do comunismo, desde Lenin.
Contrabandeado para fora da União Soviética em microfilme, Arquipélago Gulag teve sua primeira edição em russo publicada em Paris, nos últimos dias de 1973, mas repercutiu de imediato em Moscou. ‘O arruaceiro Soljenitsin escapou ao controle’, reclamou Brejnev em uma reunião da cúpula do Partido Comunista na qual se aventou até a possibilidade de executar o escritor. Acabou prevalecendo a proposta de Iuri Andropov, chefe da KGB e futuro sucessor de Brejnev: em fevereiro de 1974, Soljenitsin foi forçado ao exílio no Ocidente. Passou algum tempo em Zurique, mas acabou se estabelecendo, com a segunda mulher e os filhos, em uma cidadezinha rural do estado de Vermont, nos Estados Unidos, onde trabalhou incansavelmente em um vasto ciclo de romances históricos, A Roda Vermelha.
Soljenitsin não se encantou com a democracia e a liberdade de mercado dos Estados Unidos. Em pronunciamentos polêmicos, condenou aquilo que percebia como a degeneração espiritual do Ocidente – cujos sintomas seriam a televisão e o rock. Patriota ortodoxo, nunca perdeu a confiança na queda do comunismo. A história confirmou sua fé: a União Soviética dissolveu-se em 1991, e Soljenitsin voltou à Rússia em 1994. Seguiu criticando a política russa, mas já não tinha a autoridade pública dos tempos de dissidência. No fim da vida, ensaiou alguns elogios ao autocrata Vladimir Putin. Sua desaprovação aos ataques da Otan contra o genocida sérvio Slobodan Milosevic tampouco lustra sua biografia. Mas são deslizes menores na trajetória de um homem que defendeu corajosamente a dignidade humana ante o terror totalitário. Um momento da consciência humana.’
TELEVISÃO
A grande caça aos atores
‘O próximo folhetim das 8 da Globo, com título provisório de Caminho das Índias, tem estréia prevista para o começo do ano que vem – mas um drama já se desenrola nos bastidores. Ele gira em torno da escalação do elenco. Dia sim, dia não, a autora Glória Perez trata do assunto em seu blog. Em seus posts, ela rufou os tambores para anunciar que o veterano Tony Ramos embarcaria no projeto. Em seguida, comemorou a conquista de atores que hoje estão nas novelas das 6 e das 7. Também usou da internet para, digamos, tomar posse de Márcio Garcia (ou, dependendo do ponto de vista, desmentir que o artista, recém-contratado pela Globo depois de passar pela Record, lhe fora imposto como galã a contragosto): ‘Ninguém tasca, eu vi primeiro!’. Sua maior batalha foi pela heroína. Um dos poucos nomes plausíveis, senão o único, para o papel de uma beldade indiana, a morena Juliana Paes já estava na novela das 8 atual. Mas isso não deteve Glória: ela convenceu a emissora a abortar a participação da atriz em A Favorita para fazê-la mergulhar em sua viagem hindu. E nem esperou sua saída se concretizar para noticiar no blog que Juliana está aprendendo a vestir sári e fez uma imersão no mundo do telemarketing (ela será uma telemarqueteira indiana). O noveleiro João Emanuel Carneiro cobrou pedágio para liberar o passe: em breve, a jornalista sonsinha representada por Juliana em A Favorita será assassinada de forma brutal. Mas o autor é solidário com Glória, pois já sentiu o drama na pele: em qualquer folhetim da Globo, escalar o elenco tornou-se tarefa complexa. ‘É um desespero’, diz.
A Globo tem um elenco de 500 atores fixos. Destes, 150 formam uma reserva estratégica – são os rostos conhecidos de que a emissora não abre mão. O gargalo se estreita quando a questão é achar atores com carisma para segurar um papel central e fazer a diferença no ibope. Essa elite é composta de aproximadamente cinqüenta nomes – o que explica por que os noveleiros se angustiam tanto. A opção no horário das 8 se reduz ainda mais. Nos últimos dez anos, pouco mais de vinte atores responderam por 75% dos papéis de destaque nessas novelas (veja o quadro). Nenhum grupo é mais crítico do que o dos galãs na faixa dos 30 aos 40 anos. Atores desse nicho como Eduardo Moscovis e Rodrigo Santoro se afastaram das novelas para embarcar em aventuras no teatro ou no cinema. E os que sobraram são disputados. É o caso de um Marcello Antony, que desempenhou quatro papéis de peso em folhetins das 8 desde 1998. Ele não foi o protagonista propriamente dito de nenhum deles, enquanto o colega Murilo Benício acumula dois desses papéis. Mas Antony goza de uma unanimidade entre os noveleiros que Benício nunca conquistou.
Unanimidade, aliás, é algo raro entre os noveleiros. Silvio de Abreu e Glória Perez são olhados de viés por alguns de seus pares, pela maneira como ‘capturam’ seus escolhidos. ‘A Glória tem essa característica: quando ela diz ‘eu quero’, ninguém se atreve a impedir’, diz Aguinaldo Silva. Reclama-se também das panelinhas de determinados autores. Malu Mader, por exemplo, é da turma de Gilberto Braga, e ninguém tasca. Mas mesmo um autor tão disputado quanto Braga às vezes tem de engolir seus micos. Recentemente, ele reclamou em público da falta de química com a atriz Alessandra Negrini, que fez as gêmeas de Paraíso Tropical – o noveleiro queria Cláudia Abreu para os papéis, mas ela declinou do convite porque estava grávida.
O fato de um grupo pequeno de artistas monopolizar os holofotes não chega a surpreender – no cinema e na TV americanos, em vários períodos também se viveu sob a égide do ‘sistema de estrelas’. Mas, no caso das novelas da Globo, as dificuldades se avolumaram nos últimos anos. Hoje se produz mais dramaturgia na emissora e as novelas ficaram mais longas e apinhadas de personagens. Para compor seu time atual de 160 atores, a Record tirou muita gente da Globo nos últimos anos e limitou ainda mais as opções. A rede tem de lidar com os humores das estrelas. Muitas se recusam a fazer novelas porque preferem uma vaga numa sitcom ou minissérie, nas quais se trabalha menos. Há ainda outros contratempos. Na busca de uma protagonista para a novela das 7, Beleza Pura, pensou-se primeiro em Cláudia Abreu e Carolina Dieckmann, mas ambas estavam em licença-maternidade. Giovanna Antonelli, a terceira opção, já estava no ar em Sete Pecados. Apostou-se então na emergente Regiane Alves – que, apesar de ser uma graça, não emplacou no papel.
É claro que a Globo nunca deixa de testar novos nomes. Mas, nas novelas de qualquer horário, isso tem de ser contrabalançado com a presença de um contingente de atores ‘de retorno garantido’. ‘Um casal romântico bonitinho a gente sempre arranja. O problema são os personagens que mantêm uma novela de pé’, diz Aguinaldo Silva. Ele mesmo recorreu à apagada Marjorie Estiano em Duas Caras, mas não dispensou uma dupla mais que testada e aprovada, Susana Vieira e Renata Sorrah. ‘Essas, sim, fazem falta’, diz.
Ter o dom de ‘segurar a onda’ de uma novela não equivale a um atestado de talento (embora em alguns casos as duas qualidades coincidam). Como lembra Silvio de Abreu, a história do cinema e da TV está repleta de atores ruins que foram excelentes protagonistas e atores de primeira que nunca chegaram lá. ‘Sempre foi e continuará sendo raro encontrar gente com carisma verdadeiro’, diz. No estamento mais baixo da elite das novelas estão os artistas em quem a Globo já detectou uma centelha especial, mas que ainda precisam provar a que vieram. Grazi Massafera, a ex-Big Brother, terá sua chance como protagonista da próxima novela das 6, Negócio da China. Da mesma forma, Juliana Paes vai ter de mostrar serviço em Caminho das Índias. Nem que seja só para justificar o drama armado por Glória Perez.
AS CASTAS DAS NOVELAS
Globo conta com um elenco fixo de 500 atores, dos quais 150 formam o primeiro time de seus folhetins. Mas a lista daqueles que têm carisma para segurar um papel central e fazer a diferença nos índices de audiência é bem menor, de não mais que 50 nomes. Pode-se dividi-los da seguinte forma:
AS APOSTAS
São aqueles que já demonstraram ter carisma, mas ainda estão por provar que funcionam como protagonistas. Nesse nicho, a carência de nomes masculinos salta aos olhos.
Exemplos: Isis Valverde, Juliana Paes, Grazi Massafera, Priscila Fantin, Deborah Secco, Mariana Ximenes, Murilo Rosa.
OS EMERGENTES
Nessa categoria figuram atores mais jovens que ascenderam à elite do elenco da Globo nos últimos anos, depois de vencer a prova de fogo de seus primeiros papéis de destaque.
Exemplos: Carolina Dieckmann, Giovanna Antonelli, Reynaldo Gianecchini, Murilo Benício, Flávia Alessandra, Rodrigo Santoro, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Thiago Lacerda.
A TROPA DE ELITE
Trata-se de artistas na faixa dos 30 aos 50 e poucos anos que são disputados a tapa pelos autores, por serem opções seguras para um tipo de papel crucial numa novela das 8: o dos protagonistas maduros.
Exemplos: Glória Pires, Edson Celulari, Christiane Torloni, Marcello Antony, Claudia Raia, Fábio Assunção, Patrícia Pillar, Cláudia Abreu, Marcos Palmeira, José Mayer, Ana Paula Arósio.
A PRATA DA CASA
São os veteranos cuja trajetória se confunde com a história das novelas. Seus rostos são familiares para o público e remetem de imediato às produções da Globo. Mesmo em papéis secundários, sempre atraem atenção.
Exemplos: Susana Vieira, Glória Menezes, Lima Duarte, Renata Sorrah, Tony Ramos, Tarcísio Meira, Antonio Fagundes, Regina Duarte, Marília Pêra.’
Marcelo Marthe
Ninguém é o que parece
‘Na terça-feira passada, dissipou-se o suspense que sustentava a novela A Favorita desde o início, há dois meses. Até então fazendo pose de santinha que amargou dezoito anos de prisão por um crime que não cometeu, Flora (Patrícia Pillar) confessou o assassinato de Marcelo, milionário de quem foi amante. Com a revelação, o noveleiro João Emanuel Carneiro deixou desorientada boa parte dos espectadores – que enxergavam na rival de Flora, Donatela (Claudia Raia), uma vilã perfeita. Enquetes na internet mostravam que três em cada quatro espectadores torciam por Flora. Ela era sofrida, injustiçada – mas dotada de espírito maternal e capaz de generosidade. Donatela, por sua vez, era uma perua arrogante, daquelas que param o carro em vagas para deficientes. O capítulo de terça-feira jogou por terra as ilusões. Depois de revelar sua alma negra, Flora roubou um carrão, saiu em disparada escutando heavy metal e soltou uma gargalhada de filme de assombração. Assassinou o médico gay vivido por Walmor Chagas com três tiros de revólver (para não dar chance ao velho) e transformou Donatela em principal suspeita do crime. O efeito foi o desejado pela Globo: os 46 pontos de média obtidos no ibope foram a melhor audiência da novela até ali. Mas a guinada tem seus riscos: será preciso um trabalho de ourives para fazer de Donatela uma mocinha palatável.
Uma das regras do melodrama tradicional é não frustrar expectativas: transformar o bonzinho em monstro pode ser visto como traição do pacto entre autor e espectador. O contrário – fazer do antipático um herói – não é menos complicado. ‘Mas eu sei para onde estou indo’, diz Carneiro, o confiante. ‘Eu li muito Pirandello’, arremata, referindo-se ao dramaturgo italiano mestre em lidar com o véu das aparências. Para desfazer a rejeição a Donatela, o noveleiro anuncia que vai ‘desconstruir Claudia Raia’. O processo já começou. Depois de cair na arapuca de Flora, Donatela dormiu num túnel imundo. Antes sempre maquiada e com cabelos alisados por uma chapinha implacável, ela agora tem os cachos desgrenhados. Será presa – e uma carcereira subornada por Flora a trancará com um rato, bicho que lhe dá fobia. ‘O povo vê Donatela com preconceito porque ela é rica’, diz Carneiro. ‘Agora, vai ter de refletir sobre isso, pois ela pode ter mil defeitos, mas não é assassina.’ Enquanto o povo reflete, Flora vai multiplicar suas maldades. Uá-há-há-há-há!’
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