Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Ernesto Rodrigues

‘Raridades da grade

O imprevisível e irregular Móbile, em sua edição de 27 de maio, teve a felicidade de mostrar, na abertura, uma versão hilariante dos irmãos Paulo e Chico Caruso para o clássico de Frank Sinatra ‘One for my baby’, de Johnny Mercer e Harold Arlen, em uma suposta interpretação do presidente Lula. O quadro serviu para lembrar a falta que faz, na grade adulta da TV Cultura, um humorístico de qualidade. O humor, atualmente, apenas se ‘hospeda’ em quadros e espaços eventuais da programação da emissora. Infelizmente.

Estréia tímida

Profissa, o novo quadro do Pé na Rua, com aquele tipo de informação que todo jovem quer ter sobre o mundo e o mercado que o esperam, foi inaugurado com a maquiadora Vanessa Rozan, uma eficiente e simpática representante da categoria.

A edição, no entanto, ficou dependente demais de uma sucessão de falas – todas boas, diga-se – da entrevistada a maior parte do tempo. Os videografismos, as inserções ilustrativas de filmes e de programas televisão e outros recursos de narrativa típicos do Pé na Rua apareceram mais apenas no final da reportagem, junto com a citação de maquiadores e estilos famosos. Não é difícil concluir que a causa dessa monotonia incomum foi uma eventual falta de equipe ou mesmo de tempo, mas o quadro poderia ter tido uma estréia menos modesta.

Sugestão legítima

De uma telespectadora para este ombudsman:

‘Muito oportuno o convite de última hora feito pelo Roda Viva ao senador Álvaro Dias, para auxiliar o espectador no entendimento dos interesses que existem por trás da CPI da Petrobras (…) Façam o possível para praticar um bom jornalismo, convidando o presidente da Petrobras para ocupar a mesma posição no centro da roda com a mesma rapidez. Afinal, permitir que o outro lado se manifeste é o mínimo que um programa de interesse jornalístico deve fazer para mostrar sua isenção, não é?’

Resposta rápida

Do Coordenador do Núcleo de Jornalismo, Toninho Neves:

‘Ernesto,

Em resposta ao pedido da telespectadora, o José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás, já foi convidado e já aceitou o convite. Ele será o entrevistado do Roda Viva no dia 8 de junho. Assim como pede a telespectadora, o programa cumpre seu papel de fazer o bom jornalismo colocando no centro da Roda os dois lados da questão.

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E a receita? (28/5/09)

Quem trabalha em televisão sabe: o telespectador não gosta de ouvir lições ou sugestões de qualquer espécie que não estejam acompanhadas de uma certa coerência ou que não sejam sejam plausíveis.

No caso do Ecopatrico, um programa que trafega com um discurso explicitamente missionário e militante no complexo terreno da mudança de comportamentos culturalmente muito arraigados, seria importante acrescentar, à coerência, a sustentabilidade também nas lições, sugestões e soluções apresentadas. Principalmente quando as visitas da dupla de apresentadores do programa são chamadas de ‘inspeção eco-prática’, como aconteceu no episódio gravado no apartamento em que vivem o DJ Eugênio Lima, a produtora cultural Iramaia Moura e a pequena Aurora, filha dos dois.

Com a qualidade e o estilo limpo e moderno de sempre na produção, na edição e no acabamento gráfico, o Ecopratico diagnostica com eficiência uma série de insustentabilidades na casa de Eugênio e Iramaia, entre elas a bagunça provocada pelos brinquedos de Aurora, a incapacidade do DJ de se desapegar de tralhas antigas, a falta de plantas na sala, a inexistência de filtro para a água da casa, um aquecedor a gás velho e defeituoso e um chuveiro inadequado para os banhos da filha.

Até aí, o telespectador, mesmo sendo um daqueles céticos que não se entusiasmam muito com a bandeira do programa, não tem como discordar das análises e propostas que os dois apresentadores fazem aos donos da casa. É, no entanto, na hora das soluções – quando a equipe do programa ‘invade’ o apartamento com gavetões novos para a sala, prateleiras, estantes, varais, um moderno filtro de água, chuveirinho metálico e um aquecedor a gás novinho em folha – que uma pergunta de muitos telespectadores fica sem resposta: quem pagou o pequeno banho de loja?

É óbvio que foi a produção do programa, alguém poderá dizer, acrescentando que a situação exibida é apenas um exemplo do que poderia ser feito em casos – ou casas – semelhantes. Tudo bem. O problema, no entanto, é que a decisão de simplesmente fornecer os aparelhos e materiais necessários ao casal – ignorando uma realidade orçamentária na qual os dois tentam economizar para poder comprar as caras papinhas orgânicas para a filha – desmonta consideravelmente o raciocínio e a lógica de ‘reality show ambiental’ sobre a qual está montado todo o projeto do programa.’De graça eu também quero’, deve ter dito, impiedosamente – e, no caso, com uma certa dose de razão – pelo menos parte dos telespectadores que acompanharam o episódio.

Apontar a incoerência de uma solução descolada da realidade sócio-econômica de Eugênio e Iramaia, longe de ser uma implicância de céticos ambientais, é remeter à questão fundamental que permeia o debate, os avanços e os recuos da luta por um planeta sustentável nos planos individual, empresarial e governamental: a hierarquização dos problemas e, consequentemente, das soluções.

Despesa e receita, respectivamente

Como sempre.

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Fogo amigo (27/5/09)

Os filmetes que a TV Cultura veicula atualmente, nos quais presumíveis telespectadores da emissora enfrentam situações cotidianas como se fossem especialistas extraordinariamente bem-preparados e articulados – têm a marca da criatividade e do humor típicos da propaganda de qualidade. Mais pelo roteiro e pelo ótimo desempenho dos atores, diga-se, do que pela tosca inserção do logotipo da Cultura na tela dos receptores de TV mostrados no final de cada filme.

Humor e acabamento à parte, caberia refletir se, em vez de atrair mais audiência e, consequentemente, fazer aumentar a importância e o impacto social da emissora, a mensagem da campanha não estaria aprofundando ainda mais as diferenças e estranhamentos entre o telespectador clássico da TV Cultura, mostrado nos filmes como um superdotado intelectual, e o telespectador comum da TV aberta, apresentado, ainda que de forma discreta, como um mal-informado em estado de choque com a desenvoltura do interlocutor.

Será que o telespectador navegante de TV aberta, assistindo a um desses filmes, sente mesmo o impulso embrionário de aprimoramento cultural imaginado pelos responsáveis pela campanha? Ou será que o recurso à caricatura, apesar de ser uma ferramenta legítima e muitas vezes eficiente da propaganda, no caso não está afastando ainda mais esse telespectador da programação da TV Cultura?

Parece desnecessário ou redundante produzir e exibir uma campanha publicitária para mostrar o que todo mundo já sabe: que o conteúdo da TV Cultura é bem diferente do das outras emissoras abertas. Muito mais importante e urgente, portanto, talvez fosse produzir uma campanha igualmente criativa que procurasse desmontar a imagem de emissora elitista, inacessível, complexa e enfadonha. Uma campanha que democratizasse o conteúdo da Cultura, mostrando que ele não é assim tão complicado, que ele pode ser uma alternativa saborosa no controle remoto e que, no caso da programação adulta, ele não é necessariamente mais uma penosa obrigação para o cidadão que chega em casa exaurido por tantos outros deveres de casa diários que a vida nos impõe.

Um bom roteiro para essa alternativa de campanha institucional não seria um problema, considerando a qualidade da campanha que está no ar.

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De Coutinho a Ronaldo (26/5/09)

Questão de ordem

Não deve haver país algum no mundo onde os telespectadores não gostem de polêmica, de controvérsia ou do debate franco e aberto de idéias. Da mesma forma, deve ser muito difícil encontrar, em qualquer lugar do mundo, telespectadores que apreciem debates tumultuados em que ninguém consegue completar uma frase sem ser interrompido por outro participante da conversa que, por sua vez, também não consegue chegar ao ponto final de sua intervenção.

O Roda Viva de 25 de maio com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, apesar dos bons momentos em que a cena política e econômica brasileira foi discutida com autoridade e profundidade tanto pelo entrevistado quanto pelos convidados que o sabatinaram, acabou prejudicado por marolas de impaciência jornalística que, em alguns momentos, chegaram às portas da deselegância.

Nada contra o conteúdo ou o motivo das intervenções. Não faltou pertinência nem competência à mesa. O problema é que as perguntas de Sérgio Malbergier (Folha de S. Paulo) Milton Gamez (IstoÉ Dinheiro), Denise Neumann (Valor Econômico) e Sônia Racy (O Estado de S.Paulo) acabavam quase incompreensíveis, por terem sido feitas de forma tumultuada e sem que Heródoto Barbeiro usasse de suas prerrogativas de âncora para organizar um pouco mais a conversa. Nesses momentos, Luciano Coutinho, entre paciente e intimidado, não conseguiu concluir várias de suas respostas.

No final do programa, o próprio Coutinho aderiu ao estado de ânimo da bancada e interrompeu o encerramento que era feito por Heródoto Barbeiro para agradecer o convite do Roda Viva e a participação de seus entrevistadores.

O exemplo do Ronaldo

Quantos telespectadores da TV Cultura que gostam de música clássica sabem explicar, em detalhes, a diferença entre uma filarmônica e uma sinfônica? Quantos outros admitem publicamente não saber qual é a diferença?

Um telespectador chamado Ronaldo, cujo sobrenome prefiro omitir por não ter certeza se ele concordaria com a citação do email que me enviou, não sabe a diferença entre uma sinfônica e uma filarmônica. Ronaldo também não tem o menor constrangimento de reconhecer que não sabe.

O importante para ele, além da música clássica que ele adora, é saber o quanto antes tudo o que for possível saber sobre o assunto. Daí o seu email, que reproduzo na íntegra por se tratar de uma síntese autêntica e reveladora da mais crucial das contradições da TV Cultura:

‘Quero, com esta mensagem, agradecer e elogiar a TV Cultura pela ótima programação musical. Gosto muito do Sr. Brasil, do Viola… enfim, todos eles. Acho de muito bom gosto o Prelúdio com Julio Medaglia, mas, na série Clássicos, acho que fica faltando uma apresentação, uma explicação do que está sendo mostrado. Apenas vejo uma orquestra tocando… e não sei de quem é a composição ou o porquê DAQUELA obra. A musica clássica exige uma explicação, quando mostrada na tv, principalmente para uma pessoa comum como eu, que gosta de boa música, mas que não sabe a diferença de uma orquestra sinfônica e uma filarmônica. Muito obrigado à TV Cultura e parabéns a todos seus profissionais.’

Em tempo: uma orquestra filarmônica, na sua origem, em nada difere de uma sinfônica quanto à quantidade de instrumentistas. As duas se diferem apenas na sua natureza, pois as filarmônicas são orquestras mantidas por grupos de admiradores, enquanto as sinfônicas são mantidas pela iniciativa privada ou governamental.

(Fonte: forum.cifraclub.com.br)’