Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rasa como um pires

Em palestra na Semana de Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo, do ano passado, José Hamilton Ribeiro – o único correspondente brasileiro na Guerra do Vietnã, onde perdeu uma perna –, disse que a mídia televisiva é rasa como um pires. Ou seja, não se aprofunda, geralmente, nos assuntos apresentados em seus jornais. A cobertura da guerra civil em São Paulo não fugiu à regra: foi rasa também.

Na maioria dos telejornais noturnos de 15 de maio faltaram alguns questionamentos e faltou também um princípio básico do jornalismo: o outro lado da história, o lado do PCC, dos presos comuns e das populações da periferia, principal palco dos confrontos. Outro questionamento fundamental para uma cobertura corajosa e clara faltou no noticiário: quem são os 39 ‘criminosos’ mortos pela polícia? Sabe-se que 14 eles são ‘criminosos’. E os outros cinco, o que são? Não responderam.

A versão oficial

O único jornal que se preocupou em ouvir o lado do PCC foi o Jornal da Noite, da Band. O apresentador Roberto Cabrini falou por telefone, provando a facilidade de contato com os presos, com quatro detentos. Dois homens e duas mulheres de três presídios diferentes que se auto-intitulavam integrantes do PCC. Os presos tentaram mostrar o ‘lado humano’ da organização criminosa quando discorreram sobre os projetos sociais do PCC nas favelas. Denunciaram a violência nos presídios, onde a polícia impôs o terror por conta da violência nas ruas.

Alguém aí viu algum veículo de imprensa mostrar o que realmente estava acontecendo dentro dos presídios? E ainda mais grave: alguém aí sabe se os 58 mortos pela polícia são realmente ‘criminosos’ como publicou toda a mídia? Possivelmente poucas pessoas o sabem. Os jornalistas mais uma vez ficam com o mais fácil, a versão oficial. Deixam de lado outro princípio básico do bom jornalismo: a investigação.

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Estudante de Jornalismo e estagiário do Diário do Grande ABC