’22/05/2006
A grande novidade do fim-de-semana foi a reforma gráfica da Folha, implantada na edição de ontem, domingo.
A minha primeira impressão foi de excessos. Excesso de recursos gráficos, excesso de cores, excesso de informações pingadas.
Fiquei com a impressão também de que o jornal ficou um pouco mais parecido com o seu principal concorrente, o ‘Estado’. Esta última impressão advém de apenas três aspectos: o uso, pelos dois jornais, de tons variados de verde na Primeira Página, a mudança da linha fina (antes acima do título, agora abaixo, como o ‘Estado’) e os logotipos dos cadernos. Embora os logos do ‘Estado’ estejam em caixa alta e os da Folha em caixa baixa, ficaram mais parecidos porque estão ambos agora alinhados no alto à esquerda e, além disso, os da Folha perderam o logo da Folha.
Houve uma reclamação séria, de Janio de Freitas (‘Explicar é preciso’, na coluna de ontem, na página A7).
Achei positivo o destaque que o jornal deu, no alto de todas as editorias, aos canais disponíveis para contatos dos leitores com a Redação e com a empresa: telefones, fax e e-mails das editorias, telefones do Serviço de atendimento ao assinante e endereço eletrônico do ombudsman.
Mas, como disse no início, são apenas as primeiras impressões. Faço minhas as palavras finais da coluna de Janio de Freitas: ‘Bom destino, são os votos’.
Ficou de difícil leitura o quadro no alto da Primeira Página de hoje com destaque para o que parecia ser um título com erro de concordância, ‘Entrevista iranianas’. O leitor, para entender, tem de desbravar um pequeno texto com corpos e tipos diferentes. Ficou parecendo anúncio de filme.
‘Painel’
Excesso de Gabeira no ‘Painel’ (pág. A4) de hoje: ‘Tiroteio’ e ‘Contraponto’.
Equilíbrio
Dois pré-candidatos ao governo de São Paulo escreveram ontem sobre a criminalidade e a violência dos últimos dias em São Paulo. Um deles, José Serra (PSDB), teve o seu artigo (‘O inimigo é o crime’) publicado no alto da página A3 e chamada na Primeira Página do jornal. O outro, Aloizio Mercadante (PT), teve o seu (‘Criminalidade e economia’) publicado no pé da página B4 de ‘Dinheiro’. O tratamento diferenciado é injustificável e deixa mal a Folha.
Corrupção
A Folha registra o número de 800 participantes da manifestação, na Avenida Paulista, contra a corrupção. O ‘Estado’ fala em 3 mil e informa que teria havido concentrações em 22 cidades. O jornal deveria ter dado mais atenção para o movimento, que se diz apartidário e foi convocado pelo movimento Reforma Brasil apenas pela Internet, um sinal dos tempos.
No Rio, conta o ‘Globo’, fizeram uma manifestação pequena na Cinelândia e uma caminhada até o Aterro do Flamengo. Participaram as atrizes Cristiane Torloni e Lúcia Veríssimo.
A notícia não está, no caso, no número de participantes, mas na reação pública, aparentemente apartidária, às denúncias de corrupção nos governos e legislativos. Quem são? O que defendem? Que propostas têm?
É interessante que tenham conseguido fazer as manifestações, mesmo que pequenas, às margens dos canais tradicionais que têm cobertura da mídia.
Guerra urbana
Com apenas quatro páginas, está muito magra a Edição Nacional de ‘Cotidiano’ da Folha de hoje.
Segundo o ‘Valor’ de hoje, o orçamento da Secretaria de Segurança cresceu 70% durante o governo Alckmin (foi a segunda secretaria com mais recursos, atrás de Educação), mas estes recursos foram quase todos destinados à PM e ao policiamento preventivo, negligenciando os investimentos em investigação policial e na polícia técnico-científica. A Folha ainda não fez uma boa reportagem sobre a política de segurança pública do governo Alckmin.
Virada Cultural
A cobertura da Folha apenas menciona que, longe do Centro, a Virada Cultural ‘foi menos prestigiada’ e que moradores de Guaianases, na zona leste, voltaram para casa cedo porque ainda tinham medo (capa de ‘Ilustrada’). A atenção da Folha não deveria ter se voltado exatamente para estas áreas mais distantes e amedrontadas? Não são nelas que o medo provocado pelos ataques do PCC e pela reação violenta da polícia ainda domina?
Copa 2006
O recurso encontrado pelo ‘Globo’ – uma foto aérea, na capa do seu caderno de esportes – para dar aos leitores uma idéia da localização do hotel da seleção brasileira de futebol e do campo de treinamento nesta temporada na Suíça é muito melhor do que o escolhido pela Folha, um mapa da região.
Correções
O editorial ‘Aritmética prisional’ dá dois números diferentes para o total de presos que o sistema penitenciário de São Paulo ganha a cada mês: 840 e 890. Pela conta, são 840.
Três erros na reportagem ‘Santos cai no Rio e deixa a liderança’, página D6 da Edição Nacional (um deles foi corrigido na Edição SP):
O gol do Fluminense foi no 2º tempo, e não no 1º, como está no placar abaixo da linha fina; o time do Rio está, infelizmente, na quarta posição, e não na terceira; e quem lançou a bola que originou o gol contra do Santos foi Thiago Silva, e não Marcelo.
19/05/2006
A Folha dá voz à polícia: ‘PM diz que não matou inocentes’. O ‘Globo’ realça a extensão das ações do PCC em São Paulo e cobra transparência: ‘A guerra do tráfico em São Paulo (7º dia) – Polícia assume 107 mortes mas resiste a divulgar lista de nomes’.
O ‘Estado’ e vários jornais buscaram suas manchetes na degravação da fita da sessão secreta da CPI do Tráfico de Armas:
‘Estado’ – ‘Políticos também seriam alvo do PCC, revela gravação’.
‘Agora’ – ‘PCC compra gabarito de concurso para entrar na PM’.
‘Correio Braziliense’ – ‘Investigação liga PCC à máfia dos concursos’.
‘O Dia’ – ‘Terror de São Paulo tem rede de 500 mil aliados’.
Eleições 2006A
O título ‘Intelectual diz que agora tudo é culpa da elite’ (pág. A7 da Edição SP da Folha) faz supor que as críticas do cientista político Bolivar Lamounier à entrevista publicada ontem pela Folha com o governador Cláudio Lembo são ‘neutras’, de caráter ‘acadêmico’. O jornal deveria deixar claro no título que se trata de um intelectual filiado ao PSDB – o partido objeto de parte das críticas de Lembo. E, para ser equilibrado, deveria ter entrevistado intelectuais que fizeram leitura diferente da entrevista do governador. O PFL há de tê-los.
Guerra urbana
Em relação à fita da sessão secreta da CPI das Armas, não ficou claro se a informação dos delegados de que haveria a transferência de presos foi gravada ou não. Segundo a Folha (capa de ‘Cotidiano’): ‘Na parte dos depoimentos que veio à tona, não há referência ao plano de transferir líderes da facção, o que teria detonado a onda de violência. Segundo parlamentares ouvidos pela Folha, o assunto foi mencionado no final’.
Ficou boa a arte ‘Cronologia dos ataques’, nos rodapés das páginas C4 e C5.
Dois problemas, no entanto:
– não informa o número de mortos nos presídios rebelados;
– informa que ontem (‘Controle’) teria havido 14 mortes, e destaca: 14 agentes de segurança/22 suspeitos. É o caso de correção.
O texto ‘Para ombudsman, TVs ajudaram a criar pânico’ (pág. C7 da Ed. Nacional e C9 da Ed. SP) termina de forma muito confusa e provavelmente contém um erro. Na Edição Nacional, o texto termina com uma aspa de declaração de alguém da TV Globo sem identificação. Quem da Globo desqualificou a avaliação do professor Laurindo Lalo Leal Filho? O texto da Ed. SP atribui a resposta, que parece ser da Globo, ao ‘apresentador’ Marcelo Rezende.
Há um erro na capa de ‘Cotidiano’, na reportagem ‘Polícia diz que SP errou com PCC e ajudou facção a crescer’. Na Edição Nacional, o texto informa que, segundo os delegados ouvidos na sessão reservada da CPI das Armas, o PCC teria plantado uma ‘sementinha’ em Mato Grosso do Sul e, como para comprovar, o jornal lembra que nos últimos dias presos se rebelaram em Mato Grosso e decapitaram um detento. Ou a rebelião foi em Mato Grosso do Sul e o jornal confundiu com Mato Grosso, ou foi em Mato Grosso, e os delegados não se referiam ao Estado. Na Edição SP esta dito que os presos se rebelaram em Mato Grosso do Sul, embora já não se refira à decapitação.
Por falar nas ações ocorridas em outros Estados durante os ataques do PCC, o jornal informou, na sua Primeira Página de segunda-feira, que as rebeliões se estenderam a presídios do Rio. Como não vi esta notícia na Folha nem em outros jornais, apontei a possibilidade erro na Crítica Interna de terça-feira, mas até agora não obtive resposta (confirmando a informação) nem encontrei a correção (caso não se confirme a informação).
‘Painel do Leitor’
Não sei se é a antecipação de uma mudança prevista para a nova reforma gráfica do jornal, mas se mostrou uma boa solução editorial a publicação da carta do presidente da Kroll no meio do noticiário sobre o caso Opportunity (‘Kroll nega ter conhecimento sobre contas’, pág. A9 da Edição SP), e não, como é costume do jornal, no ‘Painel do Leitor’.
18/05/2006
A Folha destaca na manchete da Primeira Página a entrevista com o governador de São Paulo, Cláudio Lembo: ‘Lembo culpa ‘elite branca’ por violência’. ‘Elite branca’, ‘burguesia muito má’, ‘minoria branca muito perversa’, a ‘bolsa da burguesia terá de ser aberta’ – a entrevista com o governador é uma surpresa atrás da outra, o que justifica a opção pela manchete. O que faltou, internamente, foi um texto de apoio que apresentasse este governador – formação, desempenho em cargos públicos, pensamento, incoerências – que o paulista mal conhece, segundo comprovou pesquisa do Datafolha publicada em 15 de abril. É surpreendente também que o jornal não tenha colocado um repórter colado nele desde a noite de sexta-feira para relatar como Lembo de fato administrou esta crise. O que temos até agora são as suas próprias declarações e alguns poucos bastidores. Ele é um personagem ainda não decifrado.
‘Estado’ e ‘Globo’ dão manchete para o vazamento de informações da reunião reservada da CPI que teria desencadeado os ataques do PCC:
‘Estado’ – ‘PCC obteve relato secreto por R$ 200; celular terá bloqueio’.
‘Globo’ – ‘A guerra do tráfico em São Paulo – Segredo da remoção de chefes de quadrilha vazou na Câmara’.
A Folha também destacou o vazamento – ‘PCC pagou por gravação de uma sessão secreta de CPI’ -, mas trouxe como o segundo assunto mais importante, depois da entrevista com o governador, a reação da polícia paulista: ‘Polícia mata mais de 22 suspeitos de cometer os atentados do PCC’.
Guerra urbana
A Edição Nacional da Folha não informa que os ataques continuaram e mais ônibus foram queimados, como está no relato ‘Ataques continuam pelo 6º dia seguido’, na página C4 da Edição SP.
Um mapa de São Paulo ajudaria o leitor a identificar os bairros ou regiões onde permanece o clima de violência com a queima de ônibus, ataques a escolas e a prédios públicos e as tentativas de invasão de postos policiais. É este mapa que pode ajudar a mostrar se existe uma lógica na seqüência dos ataques desde sexta-feira.
É incompreensível que a reportagem ‘Justiça autoriza o isolamento de Marcola [o líder do PCC]’ esteja na página destinada aos policiais mortos pela facção criminosa (pág. C10 da Edição SP) sob o chapéu ‘Guerra urbana/vítimas’.
A lista de nomes dos policiais mortos já tinha sido publicada ontem em anúncio de um banco. A Folha poderia ter enriquecido a edição de hoje com mais informações sobre cada um dos mortos, como idade, dia e local onde foram assassinados e se estavam de serviço ou não.
Três reportagens bem feitas na Edição SP de hoje: ‘Para família de morto, elo com PCC é ficção’ (C6), ‘Testemunhas de chacina acusam policiais’ (C7) e ‘Parentes de policiais mortos cobram ajuda’ (C10). Mas, problema de planejamento e edição, o jornal continua dedicando menos atenção aos policiais mortos – e aos dramas de suas famílias e corporações – do que às vítimas ‘suspeitas’. O jornal está certíssimo em investir pesado no esclarecimento dos assassinatos ocorridos nas últimas horas e que têm todas as características de vingança e execuções sumárias a la esquadrões da morte. Mas isso não é incompatível com um acompanhamento mais regular dos policiais. Se há algo inédito, e assustador, neste episódio é o total de policiais caçados e mortos em apenas três dias.
Repetição
A informação de que a programação cultural do BankBoston foi adiada por conta dos acontecimentos recentes em São Paulo está repetida em três lugares na Edição SP da Folha: na nota da ‘Ilustrada’ ‘Violência faz contratenor adiar concerto’ (pág. A10 de ‘Brasil’), na nota ‘Efeito violência’ (‘Mercado Aberto’, pág. B2 de ‘Dinheiro’) e em anúncio do próprio banco (pág. B6).
17/05/2006
A Folha registrou: ‘Polícia prende 24 e mata 33 em 12h’. O ‘Globo’ foi explícito: ‘No quinto dia, a vingança – Polícia reage com matança em SP’.
O ‘Estado’ avança na questão da negociação do governo de SP com o PCC para colocar fim aos ataques da bandidagem: ‘Cidade se acalma; advogada foi a Marcola em avião da PM’.
Guerra urbana
Um aspecto da cobertura que me chama a atenção: em nenhum momento a Folha publicou a relação dos nomes dos 40 agentes policiais (PMs, policiais civis, agentes penitenciários, guardas metropolitanos) assassinados pelo PCC. Tomei conhecimento dos nomes deles hoje, e de forma surpreendente – através de um anúncio do Banco Santander Banespa (pág. A5).
A publicação desta relação não deveria ser uma obrigação jornalística? Já não digo nem como forma de homenagem, como faz o anúncio do banco, mas para registro histórico. Além de ser uma forma de se saber se não ocorreram mais assassinatos ainda não registrados.
Ao não registrar seus nomes é como se achássemos que eles não merecem menção porque estavam ali para isso mesmo, para morrer.
A publicação da relação dos policiais assassinados e o reconhecimento do papel que tiveram dariam mais legitimidade ao jornal para a tarefa de investigar, como já vem fazendo, se todos os 71 suspeitos mortos eram realmente bandidos.
Os jornais mostram que a polícia está agora motivada por vingança. Como criticá-la, e é obrigação do jornal criticá-la por isso, se não reconhecemos e valorizamos as perdas que elas sofreram?
A cobertura da Folha se distingue hoje por duas iniciativas positivas: a pesquisa Datafolha (‘Paulistano culpa Justiça, Lula e Alckmin’) e a enquête ‘Você teve medo?’ com moradores famosos de São Paulo.
Há um relato bem apurado e bem escrito, ‘Moradores acusam PM de matar inocente’, mas infelizmente só foi publicado na Edição São Paulo de ‘Cotidiano’, que traz quatro páginas a mais do que a Edição Nacional.
A ‘guerra urbana’ provocada pelo PCC fez com que o jornal desse pouca importância para uma notícia correlata: ‘PM prende dez por tráfico internacional’ (nota ‘Panorâmica’ na pág. C14 da Edição SP, sem registro na Edição Nacional). Imagino que o jornal esteja com dificuldades para deslocar repórteres para outros casos que não o do PCC, mas, de acordo com a polícia no ‘Estado’, um colombiano preso é um dos dez maiores traficantes do mundo. Até o ‘Globo’, do Rio, que também mantém uma cobertura extensa do PCC, cobriu a prisão do traficante melhor que a Folha. Segundo o jornal do Rio, foi a maior operação já feita pela Polícia Federal em cooperação internacional.
O título e o abre da reportagem da página A9 de ‘Brasil’ sobre as conseqüências da ação do PCC na campanha eleitoral estão em contradição. Ou os ataques do PCC já abriram uma ‘guerra fria’ entre os PT e o PSDB, como indica o título (‘Caso PCC abre ‘guerra fria’ entre PT e PSDB’) ou poderão vir a provocar, quem sabe um dia, uma guerra fria entre os dois partidos, como está na abertura do texto (‘Os ataques do PCC (…) podem provocar uma espécie de guerra fria’). Como está, parece mera especulação, embora a apuração mostre que era possível sustentar uma boa reportagem sem este apelo.
16/05/2006
A informação mais importante do quarto dia de ações da bandidagem em São Paulo está na Primeira Página da Folha, mas não na manchete: ‘Cúpula da facção ordena trégua’. As rebeliões nos presídios e os ataques generalizados só tiveram uma trégua por conta de decisão dos líderes do PCC. O comando começou os assassinatos e as ações violentas quando quis e mandou parar quando achou que era a hora. É uma evidência da falta de controle do Estado, embora as autoridades digam o contrário. É a informação mais importante pela gravidade e por suas conseqüências.
O ‘Estado’ não hesitou em indicar o sujeito da ação no título principal: ‘PCC suspende rebeliões’.
Temor, medo, pavor, terror, pânico – estas foram as palavras usadas pelos jornais para definir o que ocorreu ontem em São Paulo.
As manchetes das Primeiras Páginas e do noticiário interno:
Folha – ‘Temor de novos ataques causa pânico e fecha escolas e lojas’ e ‘Medo de ataques pára São Paulo’.
‘Estado’ – ‘PCC suspende as rebeliões; boatos e pânico paralisam SP’ e ‘Dia de terror em SP’.
‘Globo’ – ‘Crime e medo para São Paulo’ e ‘São Paulo acuado pelo crime’.
Os jornais econômicos também se renderam:
‘Valor’ – ‘Violência e medo param São Paulo’.
‘Gazeta Mercantil’ – ‘Crime organizado atinge negócios em São Paulo’.
Os jornais de banca:
‘Agora’ – ‘Pavor paralisa São Paulo’
‘Diário de S. Paulo’ – ‘Terror pára São Paulo’.
‘O Dia’ – ‘Terror pára São Paulo e população se esconde’.
‘Extra’ – ‘Terror mata para ter TV na Copa, sexo e banho quente na cadeia’.
Os regionais:
‘Correio Braziliense’ – ‘Medo de atentados pára a maior cidade do Brasil’.
‘Estado de Minas’ – ‘São Paulo em pânico’.
‘Jornal do Commércio’ (PE) – ‘Terror: PCC promove ataques e motins’.
‘Zero Hora’ – ‘Medo pára São Paulo’.
Guerra urbana
Faltou ao jornal um relato menos burocrático e menos fragmentado do que aconteceu ao longo dia. Um texto, como o da contracapa de ontem, que contasse, com casos e personagens, como os boatos foram se espalhando ao longo do dia, como as pessoas foram reagindo nas ruas e nas conduções, como se chegou ao caos do trânsito e, depois, ao vazio da cidade.
Faltou também um bom relato sobre a guerra da comunicação. Várias pessoas de São Paulo me disseram que o governo perdeu a guerra da comunicação, que não soube enfrentar o pânico difundido pela Internet e pelas redes de boatos. Como isso ocorreu? Por quê?
A Folha traz hoje, no seu caderno ‘Cotidiano’ destinado à ‘Guerra urbana’, um rico documento fotográfico do dia de ontem, quando a cidade de São Paulo foi paralisada pelo medo. Os fotógrafos do jornal estavam por todas as partes e recolheram imagens fortes de um dia em que, pelos relatos que ouvi e li, foi num crescendo de tensão. Nada mais jornalístico, portanto, que os registros fotográficos do dia de ontem viessem acompanhados dos horários em que as fotos foram feitas. A cidade foi assistindo, ao longo do dia, cenas de terror e caos até ser dominada pelo medo e literalmente parar e, em seguida, se esvaziar. Este registro cronológico era importante, e nada melhor dos que as fotos para fazê-lo.
Contei 41 fotos na Edição SP que pediam mais do que uma legenda vaga, que exigiam o registro do horário para que o leitor tivesse a dimensão exata do que ocorreu. Das 41, apenas sete traziam a hora em que foram tomadas. Mesmo nas páginas centrais com o ensaio fotográfico ‘O dia em que SP parou’ (C10 e C11), apenas duas das nove fotos informavam as horas do flagrante.
É no mínimo inadequado chamar os secretários de Segurança e da Administração Penitenciária de São Paulo e duas autoridades policiais de ‘oponentes’ do líder do PCC, o tal de Marcola, como está na chamada da Primeira Página ‘Ex-punguista, líder do PCC lê Dante’. Fica parecendo rixa pessoal. Eles não são ‘oponentes’ de Marcola, mas autoridades responsáveis pelo combate à criminalidade.
A Folha ainda não consolidou uma opinião a respeito do desempenho do governo do Estado no enfrentamento da crise. Ontem, seu editorial ‘Noites de Bagdá’ dizia que o governador de São Paulo transmitia ‘confiança e serenidade’ à população; hoje, exorta os ‘governantes’ a ‘transmitir confiança à população’.
Falando em opinião, me pareceu estranho o texto de abertura de hoje da coluna ‘Mercado Aberto’ (B2). O texto começa com um editorial mais forte do que o do jornal, segue com a opinião de um economista e um empresário sobre a repercussão dos ataques do PCC na economia e termina com a divulgação de uma série de boatos. Achava que era uma coluna de informação.
A propósito, um detalhe: Rogério Schmitt (nota ‘Violência e eleições’ de ‘Mercado Aberto’) é cientista político, e não economista.
O jornal informou ontem, na sua Primeira Página, que, conseqüência das rebeliões do PCC em São Paulo, ocorreram motins também em presídios do Rio. Não vi nenhuma notícia ontem e hoje que confirmasse. Se não houve, é o caso de uma correção.’