CAMPANHA
No rádio, locutor engole palavras e ganha tempo
‘É uma coisa ininteligível. Difícil até de explicar. Às vezes parece uma
palavra, extraída de uma língua exótica, ou já morta: ‘rlholhov’, ‘proppohof’.
Outras vezes, nem isso.
Quem ouviu rádio nos últimos dias – e teve paciência para acompanhar as
inserções da propaganda eleitoral gratuita – sabe do que se está falando: é do
rabo da propaganda, o segundo final, quando, por exigência da lei, é preciso
dizer o nome da coligação da qual faz parte o candidato a prefeito e também as
siglas de todos os partidos que a integram.
Os marqueteiros juram que cumprem a lei e que está tudo lá, tintim por
tintim. Mas quem ouve não consegue entender lhufas – particularmente no caso das
coligações com mais partidos. Em São Paulo, os exemplos imbatíveis são os da
Coligação Nova Atitude por São Paulo, integrada pelos legendas PT, PSB, PC do B,
PRB, PTN e PDT; e Coligação por São Paulo no Rumo Certo, com DEM, PMDB, PR, PV e
PSC. A primeira é a coligação da ex-prefeita Marta Suplicy, e a segunda, do
prefeito Gilberto Kassab.
O problema dos marqueteiros é o seguinte: eles têm que distribuir o tempo da
propaganda de cada candidato – 8 minutos diários para o Kassab e 5 minutos para
a Marta – em pequenas inserções, de 15 segundos cada uma, distribuídas durante o
dia. É um espaço de tempo muito curto para incluir os quilométricos nomes das
siglas e de todos os partidos aliados. Se fosse feito isso, sobraria pouco tempo
para a propaganda.
Assim, resolveram acelerar a fala do locutor.
Como fizeram isso? Contrataram algum narrador de corridas de cavalo? Não. Nem
Ernani Pires Ferreira, o mais conhecido narrador de turfe do País, que fez
carreira no Hipódromo da Gávea, no Rio, e foi considerado imbatível na
capacidade de dizer mais palavras por minuto, conseguiria chegar ao
escalafobético resultado que se ouve no rádio.
Nenhum marqueteiro consultado pelo Estado quis comentar o assunto. Mas os
técnicos de rádio sabem do que se trata: um truque dos softwares de gravação,
conhecido como time stretching. É muito utilizado, por exemplo, nos finais dos
programas de remédio, quando o locutor, também obrigado por lei, diz: ‘A
persistirem os sintomas o médico deverá ser consultado.’
O problema dos marqueteiros foi o exagero na dose. Criaram palavras
indecifráveis, ao menos para os ouvidos comuns, pois o assessor de imprensa de
um dos candidatos, que não quis se identificar, jurou que entende tudo.’
***
ANJ é contra veto a divulgação de pesquisa
‘A Associação Nacional de Jornais protesta contra decisão da juíza eleitoral
Lilian Astrid Ritter, de Cachoeira do Sul (RS), de proibir o Jornal do Povo de
veicular pesquisa sobre intenção de voto para prefeito, atendendo a
representação de coligação partidária. O jornal já recorreu, segundo o
vice-presidente da ANJ, Júlio César Mesquita.’
CULTURA
Ministro tenta facilitar acesso à Lei Rouanet
‘Uma semana após assumir como titular do Ministério da Cultura, Juca Ferreira
publicou ontem no Diário Oficial mudanças na apresentação de projetos que possam
ser beneficiados pela Lei Rouanet, a lei federal de incentivo à cultura. Foi
editada uma portaria contendo 6 itens que alteram procedimentos de apresentação
de projetos, ‘uma medida de racionalização, simplificação e atendimento da
demanda dos produtores’, segundo explicou o ministro.
A portaria, de número 54, revoga a atual que dita regras para a entrada de
projetos na Lei Rouanet e tem o intuito de permitir uma maior agilidade nos
trâmites do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). Ferreira diz que as
mudanças vão beneficiar todos os produtores e que, quando era secretário
executivo do ministério, recebia no seu gabinete queixas relativas à extrema
burocratização da legislação.
APERITIVO
‘As mudanças são para ter efeito imediato na superação de dificuldades que
foram criadas para os produtores, mas não são nem de longe o que a gente vai
fazer com a lei’, disse Ferreira. ‘Se fosse refeição, isso seria um aperitivo.
Estamos limpando a área para a grande mudança, que vai tornar a legislação mais
efetiva e sem os vícios atuais.’
Pelas mudanças implantadas pela nova portaria, não será mais exigido
documento de cessão de direitos autorais em propostas que envolvam a utilização
de acervos, obras ou imagens de terceiros (apenas uma carta de anuência de
proprietário ou detentor de direitos). Também não será exigido um termo de
anuência de todos os artistas envolvidos no projeto, apenas as fichas técnicas
do espetáculo e curriculum do diretor e dos profissionais envolvidos.
Outra novidade: não serão exigidos termos de anuências dos locais dos eventos
propostos (isso só será preciso quando forem espaços públicos). Acaba também a
necessidade de tradução oficial juramentada de artistas ou grupos estrangeiros
(basta que os documentos sejam traduzidos).
E não será mais necessária a apresentação de três orçamentos para aluguel de
espaços onde ocorrerão espetáculos.’
GUERRA
EUA espionaram governo do Iraque, acusa Woodward
‘O governo George W. Bush realizou uma ampla operação de espionagem do premiê
do Iraque, Nuri al-Maliki, de seu gabinete e outros membros do governo
iraquiano, segundo o novo livro de Bob Woodward, escritor e editor do Washington
Post. Juntamente com o jornalista Carl Bernstein, Woodward desvendou o escândalo
Watergate.
‘Temos conhecimento de tudo o que ele (Maliki) diz’, afirma uma das fontes
citadas por Woodward em The War Within: A Secret White House History, 2006/2008
(A guerra por dentro: uma história secreta da Casa Branca), que será lançado na
segunda-feira nos EUA.
Ainda segundo o livro, o reforço de forças americanas em 2007 – quando Bush
enviou um contingente adicional de 30 mil soldados à guerra – não foi o fator
principal da queda acentuada da violência no Iraque nos últimos 16 meses.
O que mais contribuiu para isso, diz Woodward, foram as novas técnicas
avançadas de espionagem aplicadas em 2007, que permitiram ao Exército e à
inteligência dos EUA localizar, estabelecer o alvo e matar líderes de grupos
rebeldes como a Al-Qaeda no Iraque.
Quatro fatores combinados foram os responsáveis, segundo o autor, pela
redução da violência: as operações de inteligência, a chegada de novas tropas, o
fato de o clérigo radical xiita Muqtada al-Sadr concordar em conter seu poderoso
Exército Mehdi, e o chamado ‘Despertar de Anbar’, quando dezenas de milhares de
sunitas se voltaram contra a Al-Qaeda e se aliaram aos EUA.
O livro analisa os debates secretos do governo Bush, além de suas decisões
sobre as guerras no Iraque e Afeganistão. Com base em mais de 150 entrevistas
figuras-chave nas áreas militar, diplomática e da inteligência, o livro mostra
um governo dividido, que não quis ou demorou para enfrentar a deterioração de
sua estratégia no Iraque.
Publicamente, Bush insistia que as forças americanas estavam ganhando, mas,
em particular, chegou a acreditar que a estratégia de longo prazo do Exército de
treinar as forças iraquianas era um fracasso.
O governo iraquiano reagiu duramente às denúncias de Woodward e disse que
pedirá explicações aos EUA.’
ELEIÇÕES NOS EUA
Convenção dá novo ânimo a McCain
‘O candidato republicano à presidência dos EUA, John McCain, sai revitalizado
da convenção de seu partido – não por causa do discurso vago e sem graça que fez
no encerramento, na quinta-feira, mas por causa do fenômeno Sarah Palin, a
governadora do Alasca escolhida para a vaga de vice-presidente em sua chapa.
Sarah é fotogênica, fala bem e tem uma história de vida com ares de novela
mexicana. Não se sabe se seu passado pouco pesquisado vai trazer dores de cabeça
para os republicanos no futuro. Mas, por enquanto, ela trouxe uma enxurrada de
doações e entusiasmo ao partido.
O discurso de Sarah foi visto por mais de 37 milhões de pessoas – pouco menos
que o discurso do candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama, que teve 38,4
milhões de espectadores.
Sarah é a chave para McCain recuperar seu manto de candidato independente e
ampliar sua base de eleitores, considerada a única maneira de vencer a eleição.
Durante as primárias, o republicano teve de migrar para a direita para
agradar aos eleitores mais conservadores de seu partido. Em várias questões, ele
abandonou sua linha rebelde e passou a defender visões tradicionais dos
republicanos, como apoio aos cortes de impostos de George W. Bush para ricos e a
ênfase na segurança das fronteiras do país na reforma da lei de imigração.
VOTOS CONSERVADORES
Essa mudança desapontou eleitores independentes que gostavam de sua alma
rebelde. Com Sarah, evangélica devota, caçadora e inimiga ferrenha do aborto e
do casamento gay, McCain está mais livre para cortejar os independentes. Sarah
já caiu nas graças dos conservadores, com ou sem filha grávida.
E deve fazer os conservadores saírem de casa para votar – talvez da mesma
maneira que Bush levou os evangélicos para as urnas, muitas vezes para votar em
plebiscitos de proibição de aborto e casamento gay
Com essa maior flexibilidade, McCain tenta se apoderar do tema mudança,
justamente o mote de seu rival democrata. No discurso da quinta-feira,
retratou-se como uma pessoa experiente, um herói, que vai fazer a reforma em
Washington e corrigir os erros, abusos de poder e desperdícios. Para atrair mais
eleitores, ele precisa, em primeiro lugar, se descolar de Bush.
Mas o eleitorado quer também propostas mais concretas, principalmente na
economia. ‘Ninguém duvida que ele seja um herói, mas as pessoas querem saber
como ele vai consertar a economia’, disse Bill Schneider, analista da CNN.
A mensagem econômica de McCain ainda está capenga. No discurso de indicação,
ele falou sobre uma série de propostas, mas nenhuma era nova. O discurso foi
considerado pouco convincente em termos econômicos. Já a campanha de Obama está
apostando tudo na mensagem ‘vamos ajudar a classe média que está sofrendo com a
crise econômica’.
‘Assistindo à convenção republicana nos últimos três dias, não dá nem para
saber que nós temos a maior taxa de desemprego em cinco anos, porque os
republicanos não falaram nada sobre a classe média’, disse Obama ontem, na
Pensilvânia
A reação de McCain é atacar a elevação de impostos do rival – embora o
democrata prometa cortar taxas para a classe média enquanto aumenta os tributos
dos americanos mais ricos. ‘Meus cortes de impostos vão criar empregos’, disse
McCain. ‘Os aumentos de impostos dele (de Obama) vão eliminar empregos.’’
INTERNET
GM cria blog para combater boatos
‘A GM lançou ontem um website que é destinado a ‘fazer uma distinção entre os
fatos reais e os rumores em relação à companhia’. O site da GM –
gmfactsandfiction.com, que, na verdade, é um blog – tenta acabar com ‘mitos’
como os de que ‘a GM está buscando um pacote de ajuda do governo’, ‘a GM ainda
não fabrica carros que as pessoas querem comprar’ e ‘os veículos da GM não são
tão eficientes em combustível quanto os importados’.’
***
Aos dez anos, Google desafia Microsoft pelo futuro dos PCs
‘Enquanto o Google se prepara para apagar, amanhã, as dez velinhas do seu
bolo de aniversário, podemos perdoar seus fundadores Larry Page e Sergey Brin
por ficarem imaginando, com um sorriso sarcástico, a fogueira que acabaram de
acender debaixo da Microsoft.
O incêndio que fez o criador do Windows correr para apanhar o extintor foi
causado pelo lançamento do navegador do Google na internet. A chegada do Chrome,
anunciada em seu estilo tipicamente peculiar por uma tira de quadrinhos online,
esta semana, representa mais do que apenas um desafio ao Internet Explorer da
Microsoft, hoje líder no mercado. Representa uma briga fundamental pelo futuro
do computador.
A Microsoft, como tantos de seus concorrentes em potencial descobriram ao
longo dos anos, detém um controle total do mercado de software que roda nos
computadores, graças ao enorme sucesso do seu sistema operacional Windows.
Portanto, o Google prestou atenção no velho ditado de que, se você não pode
ganhar, precisa mudar o jogo.
O aumento do acesso à internet banda larga finalmente criou um ambiente em
que aplicativos como processadores de texto ou programas de escritório não
precisam mais estar incorporados ao computador. Podem ser rodados na internet, e
os documentos criados podem ser armazenados nos servidores da rede, de forma a
poderem ser acessados onde quer que o usuário esteja online.
Em um mundo em que esses aplicativos baseados na rede são abundantes, não
importa qual seja o sistema operacional de um computador, porque precisará
apenas ter um navegador e uma conexão na internet. Nesse mundo, um usuário pode
até optar por um sistema operacional gratuito.
Bill Gates previu esta evolução há 13 anos, quando escreveu um memorando
interno no qual atribuía ‘a maior importância’ à internet e advertia seus
colegas de que era um ‘tsunami’ em potencial que poderia mudar fundamentalmente
as regras.
O memorando mencionava, naquela época, que o navegador Netscape, então líder
do mercado, tinha potencial para ‘tornar o sistema operacional subjacente uma
commodity’. Esse famigerado memorando foi um dos catalisadores das guerras de
browsers da década de 90, em que o Internet Explorer acabou liquidando o
Netscape Navigator, e incluía uma linha que dizia que era preciso garantir que
os fabricantes de computadores vendessem suas máquinas com um navegador da
Microsoft incorporado. Isso levou a Microsoft aos tribunais e ao efetivo
desmembramento da companhia. Mas àquela altura, o dano estava feito, e a
Netscape acabou nas mãos da AOL, antes de desaparecer quase completamente.
Quando, há dez anos, Gates prestou depoimento na ação antitruste movida
contra a companhia, lhe foi perguntado o que significava a frase ‘tornar o
sistema operacional subjacente uma commodity’. Ele respondeu: ‘A companhia
estava criando um produto que ou reduziria o valor ou eliminaria a demanda do
sistema operacional Windows, se ela continuasse a aperfeiçoá-lo e se nós não
continuássemos aperfeiçoando o nosso produto.’
Ironicamente, o Chrome, que demorou aproximadamente dois anos para ser
produzido, aproveita as inovações introduzidas na tecnologia do browser pela
concorrente da Microsoft, a Mozilla, que tem a custódia dos direitos de
propriedade intelectual do navegador Firefox, parte de cujo DNA tecnológico vem
do Netscape Navigator.
Mas as guerras de browsers de uma década atrás não vivem apenas na tecnologia
do Chrome, mas, antes de mais nada, na decisão do Google de criá-lo. O principal
executivo do mecanismo de busca admitiu, depois do lançamento, que ‘as guerras
de browsers de dez anos atrás tinham razão de ser: o browser é muito
importante’.
Brin acrescentou que os sistemas operacionais são uma espécie de maneira
antiga de pensar o mundo. ‘Tornaram-se muito volumosos… Queremos um motor
muito leve, rápido para rodar os aplicativos’.’
LITERATURA
O mundo nada mágico de Oz
‘Considerando o passado do escritor israelense Amós Oz, presença constante na
lista do Nobel, até que seu mais recente romance, Rimas da Vida e da Morte
(Companhia das Letras, tradução do hebraico, glossário e notas de Paulo Geiger,
120 págs., R$ 31), conserva certa dose de humor. Oz, nascido Amós Klausner, teve
uma adolescência traumática, marcada pela relação com o pai, um rígido
intelectual, e o suicídio da mãe, tema explorado no autobiográfico De Amor e
Trevas (2005).
Seu novo livro, portanto, poderia ser apenas amargo, mas tem personagens com
manias engraçadas, entre eles uma leitora que coleciona caixas de fósforos e um
gato ciumento chamado Joselito, que sabe ver as horas no relógio. Oz concedeu
uma entrevista por telefone ao Estado, justificando o uso do humor como uma arma
contra o fanatismo – religioso e político. ‘Fanáticos não suportam o riso.’
Autor de livros para adultos, Oz esteve na Flip, em 2007, lançando uma
fábula, De Repente nas Profundezas do Bosque, sobre uma aldeia onde não existem
mais animais e as crianças são proibidas até de pronunciar os nomes das bestas.
Quem ainda não leu perdeu um bom livro, mas poderá ver em breve um filme nele
baseado. O diretor brasileiro Cao Hamburger (O Ano em que Meus Pais Saíram de
Férias) está negociando os direitos de adaptação para o cinema. Além desse,
outro livro de Oz, A Caixa Preta, será filmado pela cineasta brasileira Monique
Gardenberg, diretora do popular Ó Paí, Ó.
O mesmo não deverá suceder a Rimas da Vida e da Morte. Não por conta das
evidentes qualidades do livro, mas pelo número de personagens que entram em
cena, nada menos de 38, isso para uma história que dura apenas oito horas, tempo
decorrido entre o início da palestra de um escritor e a hora em que ele vai para
a cama, lutando contra barulhos noturnos. Reflexão sobre o ato de escrever, o
livro começa como um ensaio de respostas às mais freqüentes perguntas feitas
pela imprensa a um escritor.’
***
Obra de Oz conquista cineastas brasileiros
‘As primeiras páginas de Rimas da Vida e da Morte, de Amós Oz, são mais
reveladoras do que talvez desejasse o escritor israelense. Por vezes é possível
imaginar o poeta descrito por ele com uma expressão emprestada do próprio rosto
do autor, perdido em busca de material para sua história. Quem o viu na Flip, no
ano passado, lembra dos olhares furtivos dirigidos por Oz às moças bonitas de
Paraty, da visível alegria compartilhada com as crianças da cidade e do enfado
com que encarou uma batelada de entrevistas. O livro, indiretamente, acaba
fornecendo respostas definitivas às perguntas mais freqüentes que os jornalistas
fazem a Oz: Por que você só descreve o lado negativo das coisas? Suas histórias
são autobiográficas? Quem foram suas influências? Imagine-se no lugar do
escritor, respondendo sobre o que pensa sua mulher a respeito da figuras
femininas de seus livros. Só teria mesmo uma saída: escapar com respostas
‘espertas’, ‘evasivas’. Respostas simples e diretas não existem, diz Oz.
Pronto: o leitor já foi alertado pelo próprio autor. Rimas da Vida e da Morte
é um compêndio de respostas ‘evasivas’ para questões existenciais como sexo sem
amor e literatura como recurso contra a impotência diante da morte. Como Oz é um
romancista, não um ensaísta, deu respostas a questões triviais por meio de um
original estratagema: fez seu personagem imaginar como seria a vida dos
personagens presentes num sarau literário – e, antes, num café a poucos metros
do centro comunitário onde começa a história. Desse modo, o narrador do livro
não é Oz, mas um anônimo que passa por um processo mimético a cada personagem
que descreve, seja a garçonete Riki apaixonada por um goleiro ou o dono um de um
velho Buick azul que ganhou meio milhão na loto e está morrendo de câncer.
A ironia de Oz já começa na descrição do gorducho ‘tarbutnik’ (intraduzível,
algo assim como animador cultural) apresentando com um chiste o escritor à
platéia, ao citar o esquecido poeta (inventado por Oz) Tsefania Beit-Halachmi,
autor do livro Rimas da Vida e da Morte. Halachmi foi um mau poeta. Pode estar
morto, pode estar vivo, mas isso não faz a menor diferença quando o ‘tarbutnik’
cita um de seus poemas: ‘Ein kalá bli chatan, veein massá bli matan’ (‘Não há
noiva sem seu par, e não há receber sem dar’). Tudo para se desculpar pelo
atraso do escritor ao debate, mas igualmente para sintetizar a crença política
de Amós Oz: A vida é uma via de mão dupla. Se você só dá e não recebe, está
errado. Se recebe e não dá, também está.
Oz, empenhado em ser fiel ao credo, bem que tentou se adaptar à vida de um
kibbutz quando jovem, mas era uma piada como trabalhador braçal, um verdadeiro
desastre. Aprendeu, contudo, que existem outras maneiras de se doar, uma delas
por meio da ação política, ele que nunca negou sua identidade e é identificado
como o porta-voz da esquerda sionista, defendendo o direito dos palestinos mas
confrontando fanáticos muçulmanos que querem destruir Israel. ‘Israel deve lutar
pela paz, mas também pela solidariedade, que está faltando em nosso território’,
diz o escritor, que lutou como soldado na Guerra dos Sete Dias (em 1967) e na
batalha do Yom Kippur (1973) para defender a sobrevivência de Israel. E como Oz
vê o futuro? ‘É difícil ser profeta numa terra de profetas’, responde,
reprisando uma graça de nossa última entrevista: ‘Não dá para concorrer com os
velhos profetas’, conclui. ‘É uma competição desleal.’
Não que ele acredite em velhos profetas. Seus pais mantiveram cautelosa
distância da religião. ‘Não sou profeta nem um homem guiado por alguma entidade
celestial, sou o único responsável por tudo o que meu cérebro produz e manda
escrever’, diz, garantindo que não usou nem mesmo modelos reais para construir
personagens que fazem referências a Ieshivá (academia que forma rabinos) ou à
Mishná (compilação da lei oral judaica). ‘Mesmo não sendo religioso, sinto-me,
por outro lado, profundamente ligado à cultura judaica’, diz, assumindo-se como
um escritor cuja conduta ética é pautada pelo reconhecimento de autores judeus
que escrevem em outras línguas. ‘No entanto, a língua é para mim constituinte,
uma atitude, um instrumento, um estado mental ‘, diz Oz, que sempre escreve em
hebraico.
E escrever sobre sexo em hebraico pode ser algo muito complicado,
particularmente para o autor de A Caixa Preta, um livro polêmico que a cineasta
brasileira Monique Gardenberg deve começar a filmar no próximo ano com elenco
internacional. Nele, um casal separado troca farpas por meio de cartas cada vez
mais agressivas. A ‘caixa preta’ que revela o desastre desse relacionamento faz
vir à tona, entre outras coisas, os casos extraconjugais da mulher com o
ex-motorista do marido no Exército. Além disso, há o filho do casal, o violento
Boaz, com muito passado e pouco futuro. Sobram críticas ao fanatismo, tanto
político como religioso, que atiça o ódio contra o antípoda, um dos motivos que
levaram a diretora do sucesso Ó Pai, Ó a escolher o romance. ‘A gente vive um
momento em que o fanatismo tem provocado tantas tragédias que talvez o que
esteja faltando ao mundo não seja tanto o amor e a religião, mas o respeito ao
próximo, como disse Saramago’, diz Monique.
Ainda sem nada definido sobre o futuro filme, o diretor Cao Hamburger (O Ano
em que Meus Pais Saíram de Férias) confirma estar negociando os direitos para
adaptar De Repente nas Profundezas do Bosque, acima de tudo uma fábula moral
sobre o outro lado de uma história mal contada. Aparentemente, trata-se de um
livro para crianças, sobre uma aldeia onde não mais existem animais, que proíbe
a simples menção dos nomes dos bichos extintos. Nele, duas crianças, um menino e
uma menina, decidem confrontar as autoridades locais penetrando no bosque
interdito, parábola que pode ou não ter uma interpretação política, considerando
a decisão da ONU de criar há 61 anos dois territórios, um judeu e um
palestino.
Oz diz que tenta, desde então, criar personagens em que se veja refletido,
não com intenção de reproduzir uma cultura, mas para entender o ‘outro’. O
protagonista, de fato, faz parte das histórias dos demais personagens. Na pele
de Charlie, o goleiro que se torna empresário, passa a ‘sentir’a morte do
moribundo Ovadia Hazam, após constatar, envergonhado, estar feliz por ser o
‘outro’, e não ele, que logo irá embora deste mundo. Se o leitor perceber que Oz
trata da urgência de reconhecer a alteridade, diz, ele já se dará por
satisfeito. Quanto ao Nobel, se vier, ele não pretende recusar o prêmio. ‘Em
todo o caso, não tenho ambição de ganhar, pois escrevo por compulsão, não para
ser premiado’, garante o escritor, detentor de vários prêmios.’
CINEMA
Os Emirados Árabes em Hollywood
‘Em setembro do ano passado, a Abu Dhabi Media Co., braço do governo da
capital dos Emirados Árabes Unidos, fechou acordo no valor de US$ 1 bilhão com a
Warner Bros, estúdio de Hollywood de propriedade da Time Warner, para a produção
de filmes e videogames. Depois de um ano, os dois parceiros só anunciaram uma
produção, Shorts, filme de aventura do diretor Robert Rodriguez, estrelado por
William H. Macy. Mas isso não impediu que a Abu Dhabi Media, empresa com muito
dinheiro do petróleo em caixa, investisse ainda mais dinheiro no setor
cinematográfico.
A empresa, fundada no ano passado pelo governo de Abu Dabi, está abrindo uma
nova subsidiária que, nos próximos cinco anos, vai investir mais US$ 1 bilhão na
produção de filmes de longa-metragem, em parceria com três produtoras
americanas, disse Edward Borgerding, diretor executivo da Abu Dhabi Media Co. Ao
mesmo tempo, a Imagenation Abu Dhabi, uma nova companhia, vai administrar o
setor da Abu Dhabi Media envolvido na parceria com a Warner Bros. Além dos
longas-metragens, a Imagenation produzirá shows e filmes curtos para a
internet.
‘É verdade que queremos nos envolver nessas atividades, ver como funciona, e
queremos nos beneficiar da evolução do mundo da mídia’, disse Borgerding,
acrescentando que a companhia vai anunciar as parcerias firmadas com os
americanos durante o festival de cinema de Toronto, que começou na quinta-feira
e prossegue até o dia 13. O acordo foi anunciado na quarta-feira em meio ao
turbilhão de associações que vêm sendo concluídas entre os estúdios de Hollywood
e empresas de Abu Dabi e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Mas muitas das
parcerias são para a criação de estúdios, parques temáticos e salas multiplex, e
apoio a cineastas árabes.
O investimento direto em longas-metragens é um pouco mais complexo: a Abu
Dhabi Media é controlada pelo governo, e as empresas de mídia nos Estados Unidos
não querem ser vistas fazendo essas parcerias. O novo nome, Imagenation Abu
Dhabi, dá à Warner e outros estúdios de cinema um nome politicamente mais
palatável para ser colocado no material promocional de longas-metragens
financiados conjuntamente.
Cada uma das três parceiras americanas abrirá escritórios em Abu Dabi, disse
Borgerding. Embora o foco seja a produção de longas-metragens no estilo de
Hollywood, para platéias de língua inglesa, a companhia pretende também atender
o público de língua árabe, realizando filmes com estrelas árabes e cineastas do
Oriente Médio. ‘Não estamos só assinando cheques’, disse Borgerding,
referindo-se aos seus sócios. ‘São pessoas que vão ter de corresponder, dólar
por dólar.’
Embora, há alguns anos, Hollywood nadasse em dinheiro dos fundos hedge e
empresas de private equity – a MGM e a Weinstein Co., empresa cinematográfica
fundada pelos irmãos Bob e Harvey Weinstein receberam muito dinheiro privado -,
o fluxo de dinheiro vindo de Wall Street começou a diminuir, apesar de não ter
se esgotado. Alguns fundos hedge que investiram em diversas produções acabaram
ficando melindrados quando os longas-metragens foram um fracasso de
bilheteria.
Outros foram atingidos pela crise do crédito. Mas, no geral, os executivos do
setor de entretenimento não tratam o dinheiro vindo desses países ricos em
petróleo como um substituto para os dólares que minguaram dos fundos hedge. Por
causa dos problemas religiosos e culturais, o financiamento que vem do Oriente
Médio, especialmente de um governo habituado a controlar a mídia, não deverá ser
oferecido sem algumas restrições.
Num comunicado, Mohamed Khalaf al-Mazrouei, presidente da Abu Dhabi Media Co.
e diretor-geral da Abu Dhabi Authority of Culture and Heritage, agência do
governo, disse que ‘Abu Dabi se estabeleceu como uma importante player na
economia global, o que é evidenciado pelas recentes atividades nos setores
energético, imobiliário e de transporte. Com a mídia não é diferente e a Abu
Dhabi Media Co. está tornando realidade sua ambição de se transformar numa
protagonista global no setor de mídia’.
Abu Dabi está se tornando também um centro cultural e de mídia da região. No
ano passado, a Abu Dhabi Media lançou o The National, jornal de grande formato
em língua inglesa, publicado por um ex-editor do The Daily Telegraph, na
Grã-Bretanha. O governo também vem procurando convencer os museus Louvre e
Guggenheim a estabelecerem uma extensão na capital árabe.
Então, por que este é um bom momento para injetar dinheiro em Hollywood? ‘Em
primeiro lugar, porque você está investindo no ponto mais baixo do ciclo’, disse
Borgerding. ‘Os problemas do subprime afetaram muitos desses fundos hedge. Houve
uma superabundância de longas-metragens, porque muito dinheiro estava em busca
de talento criativo e boas histórias.’
Borgerding, que cresceu em Cleveland e hoje divide seu tempo entre Abu Dabi,
Londres e Los Angeles, disse que a Imagenation produzirá de seis a oito filmes
por ano, com orçamentos de US$ 10 milhões a US$ 50 milhões para cada um. ‘Não
vamos produzir filmes do tipo ?blockbuster? de Hollywood. Esse tipo de filme
implica, geralmente, um orçamento de mais de US$ 100 milhões’, disse ele.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO’
Sérgio Augusto
Rumo à Casa Branca nas asas da imaginação
‘As convenções partidárias norte-americanas sempre nos remetem ao Novo
Jornalismo de Norman Mailer (entre outros), a uma ótima peça de Gore Vidal (The
Best Man) e, como não podia deixar de ser, a um punhado de filmes produzidos por
Hollywood, geralmente em clave cômica e com mais democratas que republicanos em
cena.
Ainda que majoritariamente representados na cúpula dos grandes estúdios, os
republicanos nunca ‘deram liga’ no cinema. Como vilões, funcionavam – e ainda
funcionam. Paradoxalmente, foi de suas hostes que George Murphy, Ronald Reagan,
Clint Eastwood, Arnold Scharzenegger e Fred Thompson saltaram para a política.
Warren Beatty continua uma exceção. Chegou a ser cogitado pré-candidato à
presidência pelos democratas, seis anos atrás, mas deu-se por satisfeito com uma
disputa virtual pelo senado, na pele de Jay Bulworth, o desbundado herói de
Politicamente Incorreto.
Como era um republicano (William McKinley) que ocupava a Casa Branca nos
primeiros anos do cinema, só ele teve vez nas telas entre 1897 e 1901,
exclusivamente em cineatualidades, é claro, pois o filme de ficção só se
consolidaria na década seguinte. A ascensão cinematográfica dos democratas
coincidiu com a chegada de Franklin Delano Roosevelt ao poder, no início dos
anos 1930 e do sonoro.
O republicano Herbert Hoover ainda comandava o país quando um charlatão
chamado Doc Varney pôs em risco a competência da máquina partidária republicana
e o recém-empossado Judson Hammond quase transformou os EUA numa utopia
comandada a mão de ferro. Varney era o sósia de um banqueiro candidato a
presidente, ambos encarnados pelo comediante e dançarino George M. Cohan (o
yankee doodle dandy de A Canção da Vitória), numa trama calcada no troca-troca
de O Prisioneiro de Zenda. Dirigida por Norman Taurog, O Falso Presidente (The
Phantom President, 1932), era um comédia; assim como O Despertar de uma Nação
(Gabriel Over the White House, 1933), de Gregory La Cava, protagonizada por
Judson Hammond.
Um dos papéis mais cativantes de Walter (pai de John) Huston, Hammond começa
sua gestão na flauta, servil ao partido e alheio aos problemas da Depressão,
transfigurando-se radicalmente depois que um acidente de carro mexe com seu
juízo. O Gabriel do título é mesmo o arcanjo, dispensável alusão bíblica
supostamente imposta pelo produtor, ninguém menos que o magnata William Randolph
Hearst, o Cidadão Kane de Orson Welles, àquela altura enrabichado por Roosevelt
e a política do New Deal. Hammond revela-se um líder messiânico, que nada teme e
tudo resolve, um salvador da pátria e, por extensão, do mundo, que, sob sua
guarda, reencontra finalmente a paz. Meio fascistóide, objetaram alguns
críticos. Mas Louis B. Mayer, chefão da MGM e republicano fanático, só enxergou
seu lado anti-Hoover, adiando sua estréia para depois da posse de Roosevelt.
O tema do sósia, do falso presidente, seria reciclado por Ivan Reitman em
Dave – Presidente Por Um Dia (1993), com Kevin Klein no duplo papel de
comandante-em-chefe dos EUA e diretor de uma agência de empregos que, numa
emergência e debaixo do maior sigilo, assume a Casa Branca. Dá-se bem na
improvisada e provisória função, chegando, inclusive, a conquistar a
primeira-dama (Sigourney Weaver). Esperto, passa o bastão ao vice (Ben
Kingsley), evitando que o Iago de sua corte (Frank Langella) empalme o poder e
reedite o que fez o inacreditável presidente interpretado por Dan Resin em Hail
(1973). O que fez ele? Cercou-se de um exército de vigilantes para intimidar e
reprimir desafetos, e recolhê-los a um campo de concentração. Que, diga-se, não
ficava em Guantánamo.
Se Dave saiu de O Falso Presidente, Sua Esposa e o Mundo (State of the Union,
1948) derivou de O Despertar de uma Nação. Com um arcanjo feminino; no caso,
Mary Matthews (Katharine Hepburn), mulher de Grant Matthews (Spencer Tracy),
empresário íntegro que os republicanos arrastam para uma aventura eleitoral rumo
à Casa Branca. Variação de outra comédia dirigida pelo mesmo Frank Capra, A
Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington), a Galatéia às avessas
interpretada por Hepburn retira o cabresto do marido, frustrando os próceres
partidários e, acima de tudo, a bilionária Kay Thorndyke, cornucópia dos
republicanos, personagem que, de certo modo, antecipa a assustadora matriarca da
primeira versão de Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate, 1962), de
John Frankenheimer, até porque encarnada pela mesma atriz, Angela Lansbury.
Mulher de um senador (James Gregory), Lansbury compõe uma amálgama perfeita
de Clitemnestra e Lady Macbeth. Manipula o marido, os delegados do partido e o
filho do primeiro casamento, Raymond (Laurence Harvey), um Orestes lobotomizado
pelos comunistas na Guerra da Coréia, por ela induzido a eliminar um senador
capaz de impedir a chegada da família à Casa Branca. Seu marido é um Agamenon
macarthista vazio de idéias próprias e escrúpulos, a quem vive recomendando:
‘Não pense, querido; você é bom em muitas coisas, mas pensar não é uma delas.’
Clássico das paranóias geradas e alimentadas pela Guerra Fria, o romance de
Richard Condon ganhou um update na versão dirigida por Jonathan Demme em 2004,
quando o mal era representado na Casa Branca por George W. Bush, Dick Cheney
& cia.
Antes e depois de Bush chegar à presidência, Hollywood arriscou-se na
‘suspensão da descrença’ colocando no Salão Oval ou posicionando em sua rota
candidatos tão ou mais inimagináveis que a republicana Sarah Palin. Mays
Gilliam, por exemplo, o zé-mané vivido por Chris Rock em Um Pobretão na Casa
Branca (Head of State, 2003). Outro: Tom Dobbs, cômico e apresentador de talk
show, cuja eleição era facilitada por uma pane nas urnas eletrônicas, em
Candidato Aloprado (Man of the Year, 2006). Com Robin Williams, era uma tortura
com 115 minutos de duração.
Daqui a duas ou três semanas estréia no Brasil Promessas de um Cara-de-Pau
(Swing Vote), do novato Joshua Michael Stern. Mais uma gozação de Hollywood nas
insanidades da disputa pela presidência, desta vez articulada em torno da força
do eleitorado. Ou, melhor dizendo, da força de um eleitor. O cara-de-pau em
questão é um preguiçoso bebedor de cerveja do Novo México (Kevin Spacey), que o
acaso transforma no fiel da balança da eleição e alvo de políticos naturalmente
ávidos por cooptá-lo. Com um ponto de partida desses, Preston Sturges e Billy
Wilder teriam feito uma grande comédia. Mas já estaremos no lucro se Stern
alcançar o mesmo grau de faceirice de duas abobrinhas inspiradas pelos
escândalos do governo Clinton: Mera Coincidência (Wag the Dog, 1998), de Barry
Levinson, e Segredos do Poder (Primary Colors), de Mike Nichols.
Kevin Spacey também participou, recentemente, de uma recriação da roubalheira
de votos na eleição presidencial de 2000, produzida pelo canal a cabo HBO.
Título: Recount (Recontagem), por um triz dirigida por Sydney Pollack, morto em
maio deste ano. Dizem que o imaginoso roteiro de Danny Strong não merecia ter
acabado nas mãos de Jay Roach. Se bem que haja mais semelhanças entre Bush e
Austin Powers do que supõem os eleitores de John McCain e Sarah Palin.
Escrita por Gore Vidal durante o governo Kennedy, The Best Man acabou no
cinema em 1964, sob a direção de Franklin Shaffner (aqui: Vassalos da Ambição),
e continua sendo a mais bem-sucedida dramatização de uma corrida presidencial,
no palco e na tela. O elogiado The Last Party corre em outra faixa: é um
documentário sobre a Convenção Democrata de 1992, escrito pelo ator Robert
Downey Jr. e dirigido pela dupla Marc Benjamin-Marc Cain. Seu parâmetro não era,
portanto, The Best Man, e sim Primárias (Primary), inovador documentário de
Robert Drew & Richard Leacock sobre a campanha de Kennedy em 1960, marco do
cinema direto, que só remotamente influenciaria o modus operandi de Kevin
Rafferty e James Ridgeway durante as primárias dos democratas em New Hampshire,
em 1992, a matéria-prima de Feed, inédito em DVD no Brasil, ao contrário de
Primárias, lançado pela Videofilmes.
Raros filmes (Tempestade Sobre Washington, de Otto Preminger, por exemplo)
retrataram os bastidores da política norte-americana com o mesmo vigor de
Vassalos da Ambição. Na disputa pela sucessão de um presidente prestes a morrer,
dois senadores terminam virtualmente empatados nas preferências do moribundo:
William Russell (Henry Fonda) e Joe Cantwell (Cliff Robertson). Custa a crer que
ambos pertençam ao mesmo partido, supostamente o Democrata, pois o carreirista
Cantwell tem partes com o republicano Richard Nixon e o intelectual Russell foi
parcialmente decalcado no democrata Adlai Stevenson. No vale-tudo eleitoreiro,
com acusações, baixarias e chantagens similares às que vitimaram Don Murray em
Tempestade Sobre Washington e Joan Allen em A Conspiração (The Contender, 2000),
os dois aparentes finalistas acabam preteridos por um tertius, um candidato mais
de acordo com as conveniências do partido, nem bom (mas frágil) como Russell,
nem mau (mas durão) como Cantwell, e nada vassalo da ambição.
Vidal considera a peça (e o filme, cujo roteiro assinou) um ‘estudo de
temperamentos’, não uma crítica moralista a políticos conservadores e
inescrupulosos. Daí sua permanente atualidade.’
TELEVISÃO
Merchans divertem
‘Vistos na reprise do SBT, os merchandisings que desfilam pela novela
Pantanal, produzida há 18 anos, merecem um quê de diversão – ou de saudosismo, a
depender da idade de quem confere closes tão bem pagos na época para produtos
que hoje mal são consumidos. O filme fotográfico que contracena com Jove (Marcos
Winter) é o melhor exemplo disso.
Mas a Kodak não tem do que se queixar: hoje o filme fotográfico pode ser
irrisório em seu faturamento, mas a marca efetivamente continua forte e a
vitrine de Pantanal é bem-vinda – com 15 pontos de média, a novela se mantém
como a maior audiência da faixa nobre do SBT em dias úteis.
Há ainda os produtos da Água de Cheiro vistos nas mãos de Irma (Elaine
Cristina), sem falar em outras marcas acidentalmente expostas por ocasião da
reprise.
Como as fitas da TV Manchete estão ligeiramente deterioradas e muitas cenas
já são suprimidas da reprise em função disso, não convém cortar o material
disponível em melhor estado. Daí a exposição dos merchandisings sem custo extra.
Para todos os efeitos, o SBT trata a questão como brinde a tais anunciantes.’
Keila Jimenez
Globo nega boicote do Domingão
‘Houve quem visse a ausência da turma de Beleza Pura no Domingão do Faustão
como possível mágoa do apresentador ao fato de a personagem Rakélli (Ísis
Valverde) sonhar em virar dançarina do Caldeirão do Huck, e não do Domingão. A
Globo, via Central Globo de Comunicação, nega. Argumenta que desde a sinopse
estava previsto que Rakélli queria ser dançarina do Caldeirão e que não houve
boicote de Fausto à novela. Durante a trama, Marcelo Faria e Monique Alfradique
estiveram no Domingão, que amanhã recebe Gustavo Leão.’
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