‘Na abertura, somos informados de que o programa está ‘a serviço da boa reflexão sobre os principais fatos do mundo da bola.’ No caso da edição de 11 de junho, a reflexão esteve a serviço de um gesto raríssimo na chamada crônica esportiva brasileira desde o dia em que Dunga assumiu o comando da seleção: uma inequívoca retratação da equipe do programa, em especial de Sócrates, em relação ao que foi dito e previsto sobre os jogos do time contra o Uruguai e o Paraguai.
É de se louvar, por rara, tanto na televisão quanto nas colunas da mídia impressa, a maneira franca e bem-humorada com que Vladir Lemos autopsiou as línguas queimadas de sua equipe diante dos êxitos da seleção e dos espetaculares 73% de aproveitamento de Dunga à frente do time.
O mea-culpa incluiu a leitura de um email no qual uma telespectadora, ao registrar a previsão de Sócrates de que Brasil perderia as duas partidas, cutucou a recorrente choradeira de nove entre dez jornalistas esportivos pela derrota da seleção de 1982 – um time que, por conta de uma antiga distorção conhecida como ‘idealização do passado’, a cada ano que passa fica mais perfeito, mais genial, mais imbatível e mais injustiçado.
Vale repetir a síntese feita por um dos participantes do quadro de corneteiros do Cartão Verde: ‘Quero cornetar essa crônica esportiva brasileira que não teve a humildade de reconhecer que errou no diagnóstico do Dunga. O Dunga está tocando muito. Vai ter reconhecer. Eu também não gosto do Dunga. Mas eu quebrei a cara. O cara é o técnico pra seleção. Vamos reconhecer.’
Quando Xico Sá tentou atenuar o tombo da categoria com outra saída recorrente da crônica – dizendo que gosta mesmo é de ‘futebol de clube’ e que quem gosta de seleção são os meninos e as mulheres, ‘não um adulto normal’ (sic) – foi o jogador Edmilson, convidado do dia e campeão de 2002, quem recolocou na mesa a importância da seleção, pelo menos para os jogadores, ironizando: ‘Quando ganha, melhor torcer para os clubes. Quando perde, é bem diferente’. Depois, completou: ‘Quando o Dunga assumiu, caíram em cima dizendo que ele não tinha condições de ser técnico. O Leonardo assumiu no Milan e ninguém fala nada’.
Talvez não houvesse tanta retratação a se fazer se os programas e colunas esportivas brasileiras, incluindo o Cartão Verde, voltassem um pouco às raízes do jornalismo para oferecer, aos leitores e telespectadores, mais reportagem e menos falação, mais estatística e menos adivinhação, mais furo e menos chute. Sem trocadilho.
Distorcidas
Jornal da Cultura, 11 de junho
Provavelmente contaminado pela antipatia generalizada das redações pelo técnico Dunga, independentemente dos sucessos da seleção, o repórter Jo Miyagui cometeu uma temeridade estatística em sua reportagem para o Jornal da Cultura sobre a vitória brasileira contra o Paraguai. Sem medo de ser – muito provavelmente – desmentido por uma pesquisa séria, ele disse:
’O Brasil é o primeiro colocado na eliminatória sul-americana e está quase classificado para a Copa do Mundo da África do Sul. Mesmo assim, muitos brasileiros não confiam na capacidade do técnico Dunga’.
Sustentavam os ‘muitos’ do pequeno editorial três declarações de rua. As três com altos teores de galhofa.
Serviço romântico
Pé na Rua, 11 de junho
Na semana romântica do Pé na Rua, entre vários momentos felizes e bem-humorados relacionados ao namoro e seu dia, houve um especial: a enquete sobre o que os ‘bvs’ (’bocas virgens’) devem fazer na hora do primeiro beijo. Especialmente o momento em que uma jovem propôs um treino com um melão ‘bem bonito’ antes da empreitada…
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Metropolitanas (10/6/09)
– Tinha toda razão a equipe do Metrópolis ao chamar com destaque a reportagem sobre a cantora e contra-baixista Esperanza Spalding: a moça é bonita, talentosa, simpática e, para completar, demonstrou uma enorme disposição de responder em português às perguntas de Cunha Jr.
– É apenas uma opinião, com todo respeito aos criadores das novas vinhetas do programa, mas aquela antiga trilha sonora do Metrópolis deixou saudades. Principalmente se comparada às gélidas temperaturas da trilha substituta.
– Em relação à competente matéria do dia sobre o Fashion Rio, apenas uma sugestão de pauta: por que as modelos correm tanto? Qual o motivo daquela pressa?
– Na passagem de bloco com a chamada da promoção de ingressos para a apresentação da Cnac, Domingas Person deixou os telespectadores intrigados. Disse que os ingressos eram ‘para ver o circo da maior escola de Europa’.
– Na narração da bonita reportagem sobre a exposição ‘Viracoxa’, do artista Fernando Chamarelli, surgiu, do nada, um André Chamarelli. Não era irmão. Era o Fernando mesmo.
O quebra-cabeça dos horários
Em relação às queixas de telespectadores publicadas neste espaço, no dia 8 de junho, sobre discrepâncias entre a programação publicada no site da TV Cultura e o que efetivamente a emissora levou ar no horário, recebi de Simão Molinari, editor de conteúdo do Portal da TV Cultura, um email em que a gerente de programação da emissora, Anna Valéria, faz os seguintes esclarecimentos:
’A faixa destinada à música clássica é muito, mas muito variável em função de seu conteúdo. Às vezes, temos óperas com duas horas de duração, outras vezes, concertos com 45 minutos! Assim, nossa grade, nos dias de exibição do Clássicos (5ªs e 3ªs), tem um espaço de tempo variável para que a produção tenha total liberdade na edição das obras, sem que tenha, em qualquer momento, que suprimir uma peça ou partes de um concerto, limitado por um tempo de grade pré-estabelecido.
Quando a produção nos entrega o programa da semana é que vamos ver o que deverá ser feito com o que ‘sobrou’, por assim dizer! No caso acima descrito, o programa OSESP- MOZART/ZEMLINSKY da faixa Clássicos chegou com 1h30m de grade. Nestes casos de ‘sobra’ de tempo, damos prioridade aos nossos programas de linha, melhorando, por assim dizer, seu horário de exibição.
O Provocações, portanto, foi exibido às 02h00 e não às 02h30. Outro fato que deve ser levado em consideração é que o fechamento da grade se dá com pelo menos 15 dias de antecedência à sua real exibição e muitas vezes, o timing de edição das produções é muito mais apertado. Dessa forma, só ficamos sabendo dos tempos dos programas na própria semana de sua exibição.
Estou orientando a equipe da programação que recebe as informações da produção com relação aos tempos de programa, para que tão logo tenham conhecimento de qualquer alteração da grade, informem a vocês para possam alterar e atualizar o site com a maior antecedência possível.’
Simão Molinari acrescentou:
’Lamentamos o transtorno causado ao telespectador e ficaremos atentos para que a sintonia entre os horários da grade e da exibição seja a mais precisa possível.’
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O blog do Gabrielli (9/6/09)
Se os recursos que a Petrobras está gastando a mais para se preparar para a CPI incluíram um media training do presidente Sergio Gabrielli para o Roda Viva deste 8 de junho, não se pode dizer que, do ponto de vista dos interesses do comando da estatal, esse gasto tenha sido um desperdício total. Ao mesmo tempo, se os entrevistadores não estivessem tão mordidos – compreensivelmente, diga-se – com a decisão esdrúxula da Petrobras de criar um blog que praticamente inviabiliza reportagens exclusivas sobre a empresa, certamente Gabrielli teria enfrentado perguntas e questionamentos mais desconcertantes ou difíceis de responder.
O clima emocional se estabeleceu logo no primeiro bloco do programa e, em certos momentos, beirou um descontrolado bate-boca quando o entrevistado tentou justificar a decisão de abrir um suposto ‘canal direto’ com o público. De um lado, os jornalistas tentavam mostrar que Gabrielli, com a medida, transfere para sua assessoria de imprensa o cacoete e a mão pesada do monopólio – no caso, o das informações – além de ignorar o princípio ético e empresarial do direito autoral – no caso, o das entrevistas cujo conteúdo a empresa tem revelado no seu blog antes mesmo da publicação pelos jornalistas que as fizeram.
Gabrielli, por sua vez, deixou passar sua irritação – e, às vezes, um indisfarçável cinismo – com a onda atual de denúncias contra a empresa, insistindo em dizer que falta foco e substância à CPI que está para ser instalada. Mirou seu discurso na porção podre e politicamente oportunista dessa onda, mas acabou atingindo em cheio o bom senso e o espírito democrático, ao desdenhar, explicitamente, o papel que a imprensa livre desempenha em qualquer sociedade.
Para justificar a postura nanica do gigante corporativo que comanda, Gabrielli revelou, orgulhoso, que o site ‘Fatos & Dados’, criado, em suas palavras, para ‘quebrar a intermediação entre a fonte e o leitor’, tinha tido 89 mil acessos em seus seis primeiros dias de funcionamento. Média, portanto, de 14.833 acessos por dia. Menos de um quarto do número de funcionários da própria Petrobras, por exemplo. Ou uma poeira estatística, em termos de audiência, perto dos milhões de telespectadores diários dos telejornais das emissoras de TV aberta do país – para ficarmos apenas na comparação da relevância do blog da estatal com alguns dos ‘intermediários’ que o presidente da empresa quer ignorar.
Autoritarismo à parte, o blog da Petrobras talvez não devesse mobilizar tanto a bancada de entrevistadores do Roda Viva. Não apenas porque os grandes furos e reportagens, os jornalistas sabem, independem das estruturas de comunicação das empresas, muito pelo contrário, mas porque o tempo e as emoções investidas no assunto acabaram deixando pouco espaço para que outros temas fossem aprofundados. Incluindo, claro, as acusações que foram usadas como base para o pedido de instalação da CPI, o loteamento político de cargos, a polêmica parceria da Petrobras com o governo venezuelano, o componente político da redução de preços de combustíveis que a empresa acaba de anunciar e o empurra-empurra que cerca a produção, no Brasil, de um óleo diesel menos venenoso e com baixos teores de enxofre.
Em quase todos esses assuntos, aliás, os jornalistas, todos especializados na área econômica, demonstraram surpreendente dificuldade de formular réplicas ou tréplicas que deixassem o afiado Gabrielli sem argumentos ou na defensiva. Para a maioria dos telespectadores, no entanto, o calor do debate, a controvérsia, o pano de fundo político e partidário, o estilo franco do entrevistado e, acima de tudo, a importância que a Petrobras tem para os brasileiros, fizeram deste Roda Viva um programa bom de assistir e revelador do cenário que poderá ser descortinado assim que – ou se – a CPI for instalada.
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Queixas (8/6/09)
Transcrevo hoje alguns emails representativos de um tipo de demanda muito freqüente que chega a este ombudsman. Parte deles, referente à falta de sintonia entre a grade de programação publicada no site da emissora e o que efetivamente vai ao ar no horário indicado, merece uma resposta pronta e objetiva dos responsáveis.
Já os emails que abordam preferências de telespectadores por programas e horários de exibição são representativos da complexidade do desafio da emissora de responder a esse tipo de demanda de forma adequada, justa e proporcional.
A eles…
Medo
’Marni e sua caixa mágica é chato e também eu tenho medo do desenho Marni e sua caixa mágica. Era bem melhor Ninguém merece. E manda Ninguém merece para sempre’.
Isabela e Júlia
Sessão da tarde
’Durante o dia a programação é quase que totalmente dedicada ao público infantil, enquanto que outros programas destinados ao público adulto são exibidos durante a noite. Como existem vários adultos, dentre os quais eu, que estão em casa no período matutino, sugiro um pouco mais de espaço durante o dia para o telespectador dessa faixa etária, sem desmerecer, é lógico, as crianças, que devem ter uma boa formação.’
Fernando
Sessão Coruja
’Tenho muito interesse pelos programas Café Filosófico e Invenção do Contemporâneo, porém ambos mas principalmente o segundo, estão colocados em horários completamente inapropriados para pessoas que dormem cedo e acordam cedo. Pensem em rever isto.’
Hugo
’Gostaria de saber por que programas como o Café Filosófico e o Provocações, mais adultos, só têm reprise de madrugada.
Carlos
Traído na madrugada
’As informações sobre horários de programas que constam no site da Tv Cultura, no link ‘Grade de Programação’, quase nunca correspondem à verdade. Já por diversas vezes eu aguardei madrugada adentro pelo programa que dizia ser às 2:30 da madrugada de quinta para sexta-feira. Chegava o horário e aparecia outro programa. O mais recente caso se deu hoje, 06 de Junho de 2009. Se o senhor olhar a grade de progrmação está lá no horário das 2h30m a reapresentação do programa Provocações. Só que no referido horário qual não foi minha surpresa ao aparecer o programa ‘Expresso Brasil’, que não consta na grade de programação. Considero isso uma tremenda falta de respeito para com o telespectador.’
Roberto’