Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

DEMISSÃO
Comunique-se

Sidney Rezende lembra que sua equipe na CBN ‘conseguiu sustentar a liderança’

‘Sidney Rezende, demitido da Rádio CBN na sexta-feira, define o momento que está vivendo ‘de luto’. Disse não querer ser ‘mal interpretado’, mas destaca que sua equipe ‘ao longo da história conseguiu sustentar a liderança do segmento da informação’, referindo-se às declarações da diretora de Jornalismo da emissora, Mariza Tavares, sobre a preocupação com o crescimento da BandNews, que, segundo ela, ‘vem crescendo no FM e justamente no horário do programa local. Nada como a concorrência para provocar mudanças’.

Ele deixa claro, embora não rebata, que tem ‘o perfil militante e identificado com a cidade’ do Rio de Janeiro, como disse Mariza Tavares ao Comunique-se, como justificativa para a demissão.

‘Amo o Rio de Janeiro e participo de todas as iniciativas para melhorar a cidade. Dizem até que exagero, porque acordo cedo, durmo tarde e trabalho além da conta’, disse.

Sobre o desapontamento com a demissão, ele recorreu a uma passagem de Steve Jobs, em Harvard, quando deixou a Apple, empresa que criou, para reconstruir sua vida profissional. ‘Agradeço a gentileza do Sistema Globo de Rádio ao ter permitido que realizássemos o que fizemos. De coração, se o nosso trabalho, sempre em equipe, não tivesse sido relevante, o Comunique-se não estaria agora buscando me ouvir’.

Ele promete voltar ‘em breve’.

Leia a entrevista na íntegra:

Comunique-se – Pelo que apuramos na própria CBN, sua demissão foi uma surpresa para todos. Quando soube que ia deixar a rádio e como foi a conversa com Mariza Tavares na sexta-feira?

Sidney Rezende – Eu soube da minha demissão na sexta-feira, dia 24, após a apresentação do programa. Foi uma grande surpresa para mim, também. Não estarei mentindo se confessasse que preferia que o tema do encontro fosse outro. O interessante é que este sentimento de perda é o mesmo de ouvintes que enviaram palavras carinhosas para o meu blog. O afeto dos amigos, do público que acompanha o meu trabalho nestes 23 anos de carreira é um bem inesquecível. Essa fidelidade me emociona muito. Principalmente neste momento de luto. Sobre a conversa, em essência a própria diretora explicitou-a ao Comunique-se.

Comunique-se – Quando Mariza disse ‘sentimos a necessidade de buscar um novo tipo de ancoragem cujo perfil eu descreveria como mais militante e identificado com a cidade’, usuários do C-se criticaram a declaração, afirmando que você tem este perfil. Acha que faltava alguma identificação em você com os ouvintes e a cidade do Rio?

Sidney Rezende – Amo o Rio de Janeiro e participo de todas as iniciativas para melhorar a cidade. Dizem até que exagero, porque acordo cedo, durmo tarde e trabalho além da conta. Edito um portal (www.srzd.com) em que as notícias do carnaval carioca – maior expressão cultural do nosso país -, ganham espaço nobre. Lá temos cobertura incomparável dos assuntos do futebol. A ponto de noticiar em detalhes até o campeonato da segunda divisão. Sou bem recebido nas zonas norte, oeste e sul. Na baixada, serra ou interior. As milhares de entrevistas que fiz na vida vão ao encontro do que de mais genuíno nossa cidade produz seja na política, economia ou na cultura. Escolhi o Rio para viver e me considero completamente envolvido com suas realizações. Peço que o Comunique-se não perca tempo comigo neste tema, ouça os protagonistas das nossas melhores expressões.

Comunique-se – Algum tempo antes de sua demissão, recebeu alguma orientação para que mudasse algo no programa já que a BandNews é uma ameaça à CBN?

Sidney Rezende – A CBN é uma rádio extraordinária e com profissionais de primeira linha. Tenho muito orgulho dos meus companheiros, mesmo fora da emissora, os considero parte de mim. Sempre discutíamos mudanças e uma força mais eficiente de melhorar o trabalho. Isso sempre aconteceu independentemente do que concorrentes fazem. O dever de quem busca a qualidade é fazer certo, rápido e da primeira vez. Não quero ser mal interpretado, mas nossa equipe do CBN Rio ao longo da história conseguiu sustentar a liderança do segmento da informação. É uma liderança forjada ao longo da história.

Comunique-se – Percebemos no seu blog o quanto ficou desapontado com a demissão e a paixão que tinha pela CBN. Pode nos falar um pouco sobre isso?

Sidney Rezende – Ao longo dos anos, CBN e eu formamos uma unidade. Sou a primeira voz desde estréia, em 1991. Dei o primeiro bom dia da história da Rádio. E foi assim pelos 17 anos seguintes. Naquele início, o locutor Arildes Cardoso e eu sabíamos que estávamos inaugurando uma nova fase no rádio. Por convite de José Roberto Marinho, orientação de Jorge Guilherme, aguerrido diretor de Jornalismo, e ao lado de Ramiro Alves e Marco Antonio Monteiro, construímos a grade de programação que originou esta trajetória vitoriosa. Implantamos a plataforma que possibilitou contratações futuras e maior mercado de trabalho para jornalistas. Sobre o desapontamento, recorro a uma linda passagem do discurso de Steve Jobs em Harvard, quando ele conta como foi enxotado na Apple, empresa que criou, para depois reconstruir sua vida profissional. Agradeço a gentileza do Sistema Globo de Rádio ao ter permitido que realizássemos o que fizemos. De coração, se o nosso trabalho, sempre em equipe, não tivesse sido relevante, o Comunique-se não estaria agora buscando me ouvir.

Comunique-se – Com o perfil que tem identificado com o rádio, planeja voltar em breve? Como?

Sidney Rezende – Quando querem me elogiar ressaltam que tenho espírito empreendedor e amor pelo ofício. Fico muito feliz com esta visão positiva. Estou convencido de que a verdade vence, o esforço é melhor recompensado quando fruto do trabalho em equipe, e que ser bom caráter é matéria-prima do bom profissional. Temos que ter no nosso DNA ética e honestidade de princípios. Se o mercado entender que posso ajudar porque penso e ajo assim, planejo voltar sim. Em breve.’

 

 

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CBN quer ‘inovar e renovar’ e está de olho no crescimento da BandNews

‘Em entrevista concedida por e-mail ao Comunique-se, a diretora de Jornalismo de Rádio CBN, Mariza Tavares, negou o que Sidney Rezende chamou de ‘transformação editorial’ em seu blog, ao anunciar sua demissão da emissora, mas contou que o objetivo atual da rádio é buscar um novo tipo de ancoragem, ‘mais militante e identificado com a cidade [do Rio de Janeiro]’. Percebe-se a preocupação com o crescimento da BandNews, embora tenha destacado que ‘a liderança da CBN é folgada’.

Leia a entrevista:

Comunique – O que motivou a demissão de Sidney Rezende? No blog, ele diz que a CBN quer realizar uma transformação editorial para enfrentar a BandNews.

Mariza Tavares – A CBN não fará nenhuma ‘transformação editorial’. Temos uma ótima equipe de repórteres e continuaremos cobrindo, de forma isenta e plural, os principais assuntos cariocas e fluminenses. No entanto, sentimos a necessidade de buscar um novo tipo de ancoragem cujo perfil eu descreveria como mais militante e identificado com a cidade. No Rio, assim como em São Paulo, a CBN mantém duas freqüências, em AM e FM. Na soma das duas, a liderança da CBN é folgada, mas a BandNews vem crescendo no FM e justamente no horário do programa local. Nada como a concorrência para provocar mudanças.

Comunique-se – Se o que ele disse for confirmado na sua resposta, qual a preocupação da CBN com a BandNews? Pode falar mais dessa transformação editorial?

Mariza Tavares – Acho que a pergunta está pelo menos parcialmente respondida, mas posso acrescentar algumas informações: a CBN demorou para entrar no FM e ainda tem um grande contingente de ouvintes no AM. Trata-se de um perfil de ouvinte mais velho e queremos, sem abrir mão deste público fiel, ganhar novas faixas etárias de público. Neste caso, resolvemos apostar numa ancoragem diferente no CBN Rio. Continuaremos com todos os demais profissionais que são marca registrada da CBN na cidade: por exemplo, o repórter aéreo Genilson Araújo, que tem até fãs nos locais que sobrevoa; Ermelinda Rita, uma das apuradoras mais afiadas da madrugada; o economista e ambientalista Sergio Besserman, que trata das questões urbanas no Mais Rio; e Danusia Barbara, a principal referência gastronômica carioca.

Comunique-se – Por que abrir mão de um profissional que está na rádio desde sua fundação?

Mariza Tavares – Agradecemos a dedicação de Sidney durante esses anos todos, mas a programação tem novos desafios. Inovar e renovar devem fazer parte do vocabulário de todos.

Comunique-se – Roxane Ré também foi demitida da CBN, em São Paulo. Pelos mesmos motivos da demissão de Sidney Rezende?

Mariza Tavares – Não há qualquer pressão de audiência no horário noturno. Também agradecemos a contribuição de Roxane Ré durante os anos nos quais trabalhou na emissora, mas optamos por uma ancoragem mais dinâmica à noite. Fabíola Cidral, a nova âncora do CBN Noite Total, tem o perfil multifuncional que é indispensável hoje em dia: apura, escreve e apresenta bem.’

 

 

EUA
Comunique-se

Britânico Financial Times declara apoio à candidatura de Barack Obama

‘Dois dias após o The New York Times declarar apoio à candidatura de Barack Obama, a onda democrata cruzou o Atlântico e o recebeu o endorsement do britânico Financial Times (FT). Ele se junta a uma lista de 194 jornais, que conta, entre outros, com o The Washington Post e Los Angeles Times.

Em editorial publicado no último domingo, o FT diz que ‘Obama é a escolha certa’.

‘Quem mais poderia prometer mudanças reais que Obama, homem negro, cuja simples candidatura já foi um avanço histórico na política americana?’, afirma o editorial.

Apesar de declarar apoio, o FT afirma que a decisão foi difícil por causa da inexperiência do candidato democrata.

‘Nós hesitamos para acreditar em alguém, mas esperamos que Obama vença a eleição’.

 

 

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NYT dá apoio à candidatura de Obama em editorial

‘O New York Times se soma aos 134 jornais norte-americanos que declararam apoio à candidatura do democrata Barack Obama. Em editorial intitulado ‘Barack Obama para presidente’, o jornal destaca que ele é a escolha certa para ser o 44º presidente dos Estados Unidos.

O diário acredita que o democrata tem a capacidade de encontrar soluções para a atual crise econômica vivida pelo país.

No editorial, o NYT critica as propostas apresentados pelo republicano John MacCain para a questão financeira.

O editorial é separado pelos dois assuntos que mais atormentam os americanos atualmente: a crise financeira e a questão da segurança nacional.’

 

 

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Queda na circulação de jornais nos EUA se acentua

‘A queda na circulação de jornais impressos nos Estados Unidos se acentuou este ano. Em relatório divulgado pela Audit Bureau of Circulations nesta segunda-feira, constatou-se a queda de 4,6% nos dias de semana e de 4,8% aos domingos em relação ao mesmo período de 2007.

As quedas variaram de 1,9% no The Washington Post a 13,6% no The Atlanta Journal-Constitution. O The New York Times apresentou queda de 3,6% nos dias de semana e 4,1% aos domingos. Dentre os mais de 100 jornais com circulação nos dias de semana de mais de 100 mil exemplares, nenhum apresentou aumento.

Os dois únicos grandes jornais que conseguiram manter a circulação estável foram o USA Today e o The Wall Street Journal, com circulação de cerca de 2,3 milhões e 2 milhões de exemplares respectivamente.

Até o ano passado, a queda na circulação dos jornais impressos se mantinha na casa dos 2% ao ano. Em 2007, o ritmo se acelerou, alcançando 3,6% durante a semana e 4,6% aos domingos, percentuais menores que os deste ano.

(*) Com informações do The New York Times.’

 

 

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Jornalista americana morre após ser espancada

‘A jornalista Anne Pressly, de 26 anos, morreu no último sábado (25/10), após cinco dias internada no Hospital St. Vincent Medical Center. Ela foi espancada e encontrada inconsciente em sua casa na última segunda-feira (20/10). Anne era apresentadora de um programa matinal na KATV, afiliada da ABC na cidade de Little Rock, no estado americano do Arkansas.

A polícia ainda não tem um suspeito. Fontes afirmam que os detetives encontraram indícios de que Anne utilizou o cartão de crédito em um posto de gasolina a poucos quilômetros de sua casa no dia do crime. De acordo com a porta-voz da polícia, Cassandra Davis, o investigador do caso suspeita de que a jornalista foi vítima de um assalto.

(*) Com informações da AP.’

 

 

SEQÜESTRO EM SANTO ANDRÉ
Carla Soares Martin

Corregedoria da polícia investiga imagens de Lindemberg cedidas à Record

‘A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo abriu um inquérito para saber quem teria passado imagens de Lindemberg Alves, que seqüestrou e matou a ex-namorada Eloá Cristina Pimentel e feriu Nayara Rodrigues Silva, à TV Record.

Segundo a assessoria da polícia, as acusações podem recair tanto em policiais civis quanto em policiais militares ou jornalistas. A Folha de S.Paulo (matéria para assinantes) desta sexta (24/10), contudo, informa que o vídeo com imagens de Lindemberg teria sido passado por quatro policiais. Afirma ainda que as imagens possivelmente foram feitas por uma máquina fotográfica e teriam sido negociadas a R$ 50 mil.

A Record nega. Diz que a corregedoria faz uma ‘insinuação’ sem fundamento. Afirma também que o vídeo é fruto de sua ‘equipe arrojada de jornalistas’.’

 

 

Milton Coelho da Graça

Celular em cemitério é avanço social?, 24/10

‘Para onde mesmo o progresso está nos levando? Durante cinco dias, a maioria da população brasileira acompanhou com ansiedade a tragédia da jovem Eloá, embora seja possível usar também a palavra ‘prazer’ porque seria ilógico que o ser humano ligasse voluntariamente a televisão em busca de ‘desprazer’. Milhões de espectadores puderam testemunhar o processo de loucura de um suposto enamorado, culminando com erros absurdos dos policiais especializados nesse tipo de crise, dois tiros mortais na adolescente, satisfação nacional pela distribuição de vários órgãos para transplantes e, finalmente, um enterro acompanhado por multidão, em que centenas de pessoas não se esqueceram de levar o celular para fotografar e tornar inesquecível aquele momento.

Companheiros nossos, jornalistas como nós, fizeram no rádio e na televisão um brilhante trabalho, procurando refletir ou até reforçar a carga de emoção de cada episódio. Mas tenho uma dúvida: será que todos nos orgulhamos de nossa profissão naqueles momentos, todos nós gostaríamos também de estar ali em Santo André naqueles gloriosos momentos de sucessivos recordes de audiência?

Busquei um antigo mestre americano de comunicação, Neil Postman (1931-2003), autor do livro inestimável – ‘Amusing ourselves to death’ (‘Estamos nos divertindo até a morte’, para evitar o duplo sentido na alternativa ‘Divertindo-nos até a morte’). A advertência do livro que teimamos em não ouvir é a de que a tecnologia dos meios de comunicação – especialmente na TV – não leva necessariamente a uma sociedade melhor, mas apenas a um furor obsessivo por diversão.

‘O problema’ – afirma Postman em seu livro – ‘não é que a televisão nos apresente temas de entretenimento, mas todos os temas sejam tratados como entretenimento.’ … ‘Os noticiários de TV não têm a intenção de sugerir que qualquer matéria tenha outras implicações, pois isso exigiria que os espectadores continuassem a pensar sobre o tema quando a matéria terminasse, e isso atrapalhasse a atenção para a próxima matéria…’

Sou menos pessimista. Acredito que a expressão ‘tempo é dinheiro’ seja mais verdadeira na TV do que em qualquer outra atividade, ainda assim a informação na TV pode ser a janela para a curiosidade e o desejo de maior conhecimento, como nos mostra o trabalho jornalístico de várias emissoras (inclusive comerciais) de outros países e, aqui no Brasil, programas da Globo News, da própria Globo, Bandeirantes, TV Brasil e outras.

Vamos deixar que a previsão de Postman sobre nos divertirmos até a morte (e, antes, assistindo enterros como mostrou a cobertura da tragédia de Eloá)? Ou ainda podemos fazer algo e tornar a televisão e o rádio instrumentos de avanço cultural e cívico da sociedade? Acho que sim, mas precisamos que nossas entidades sindicais se preocupem com esses temas, que lutem por um competente e atuante Conselho Nacional de Comunicação, por uma defesa da profissão não só corporativa, mas como porta-voz do conjunto da sociedade.

Escrevi um outro artigo sobre o tema para o jornal Diário da Manhã, Goiânia, ww.dm.com.br

(*) Milton Coelho da Graça, 78, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

 

Antonio Brasil

BBB no ABC: quem matou a jovem Eloá?, 23/10

‘Por que será que tudo deu errado? Por que a polícia produziu um verdadeiro show de trapalhadas e a TV um show de irresponsabilidade jornalística? Quem foi o principal responsável pela tragédia de Santo André? O jovem desequilibrado, a polícia despreparada ou a TV sensacionalista?

Segundo o noticiário aqui mesmo do nosso Comunique-se: ‘Para PM, entrevistas com seqüestrador em SP atrapalharam negociações’.

‘A assessoria da Polícia Militar disse que não autorizou ninguém a falar com o jovem. ‘Eles estão fazendo o trabalho deles; nós, o nosso’, afirmou a assessoria, que ainda acrescentou que as entrevistas atrapalharam as negociações’.

Ou seja, a receita para a tragédia do último final de semana era mais do que previsível.

De um lado, um rapaz desequilibrado que ouve vozes em sua cabeça, instruções confusas da polícia e propostas tentadoras de jornalistas inescrupulosos.

Do outro, uma polícia despreparada e insatisfeita com os salários baixos, mas disposta a aproveitar a visibilidade na TV para mostrar serviço. Mostrar uma competência que nunca teve para lidar com situações dramáticas e delicadas.

Não tem bom treinamento ou paciência para lidar com criminosos, desequilibrados ou jornalistas. Está mais preparada para matar do que para negociar.

Vergonha!

Sobre a volta da outra refém para a cena do crime, autorizada pela polícia e amplamente divulgada pelos jornalistas:

‘Isso é o maior absurdo dos absurdos. Em nenhum lugar do mundo já existiu uma situação dessas’, critica Marcos Val, especialista brasileiro que trabalha para a SWAT, grupo de elite da polícia americana, preparada para enfrentar situações de emergência, em entrevista apresentada pelo Fantástico (ver aqui):

‘O seqüestrador se sentiu poderoso nessa hora, porque teve a refém de volta. Foi um erro gravíssimo e eu sinto vergonha de ser brasileiro e saber que a polícia brasileira fez isso’, admite Marcos.’

Do mesmo lado, uma mídia ainda mais despreparada e muito ambiciosa. Todos os fins justificam os meios. A audiência se tornou imperativo até mesmo nos telejornais. Vale tudo para conseguir uma entrevista com criminoso.

Para Laurindo Leal Filho, professor da USP a ‘Rede TV! poderia ter concessão cassada’

Em matéria do Comunique-se, ele declara que não acompanhou a transmissão da entrevista nas outras emissoras, mas acredita que, de qualquer modo, fizeram uma ‘intervenção ilegal’. ‘Na hora do crime, não se entrevista um criminoso. Ali, a intervenção deveria ser do Estado, da Polícia. As emissoras fizeram uma intervenção indevida’, afirmou. Tudo a ver!

Diabinhos e anjinhos

Quem conhece o poder da TV sabe que câmeras e microfones tornam situações tensas em situações ainda mais voláteis e dramáticas. Nesses momentos, a emoção toma precedência sobre a informação. Essas coberturas ‘a qualquer custo’ tendem a perderem o controle e se tornarem tragédias.

No noticiário da Folha Online, ‘Cobertura de tragédia no ABC deixa Record em 1º e Globo em 2º. A cobertura intensiva do caso da menina de 15 anos baleada na cabeça após ser mantida refém pelo ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, 22, colocou a Record em primeiro lugar por quase toda a manhã deste sábado’.

A história mais uma vez se repete. Diante das câmeras de TV, seqüestro no interior ou manifestação de policiais pode se transformar em campo de batalha. Vale tudo para alcançar os objetivos da categoria ou os índices de audiência.

Os riscos são cada vez maiores. A presença de uma polícia despreparada e de profissionais da notícia em busca do sucesso a qualquer custo tende a distorcer a realidade. O que era para ser cobertura de um evento torna-se o próprio evento. Os acontecimentos perdem o controle e o final previsível costuma ser sempre o mesmo.

Agora só nos resta pensar no futuro e exigir mudanças. Afinal, quem vai investigar e avaliar os procedimentos policiais e as rotinas de nossas TVs em situações semelhantes? Como deve ser o treinamento de policiais para proteger os reféns e de jornalistas para proteger a ética nesse tipo de cobertura? O que devemos fazer para evitar novas tragédias?

Conceder tanto espaço na TV para um desequilibrado que ouve diabinhos e anjinhos e para policiais insatisfeitos e despreparados é muito perigoso. Tende a confundir a realidade com a possibilidade de celebridade instantânea e grandes benefícios financeiros.

Diante de milhões de telespectadores, uma situação de reféns que deveria ser tratada com discrição e competência pode se transformar novamente em mais uma edição do BBB no ABC.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

 

DIPLOMA

Comunique-se

The Economist: obrigatoriedade do diploma é resquício da ditadura

‘Em artigo publicado na edição desta semana, a The Economist classificou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista como sendo um resquício da ditadura militar no Brasil. A revista também citou que a questão está sendo discutida no Supremo Tribunal Federal e que o ministro da Educação estaria pensando em permitir que graduados em qualquer área poderiam exercer o jornalismo, ‘norma que, ainda assim, excluiria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva’.

‘Quando a lei que estipula a obrigatoriedade foi introduzida em 1967, serviu como um caminho útil para evitar que pessoas que pudessem trazer problemas (à ditadura militar) expressassem suas opiniões’, diz o artigo.

Competitividade garante qualidade do jornalismo

O artigo questiona o posicionamento de Celso Schröder, recentemente empossado presidente da Federação Latino-Americana de Jornalistas. Para Schröder, ‘a qualidade do jornalismo no Brasil sofrerá se as regras forem modificadas’.

‘Grande parte do jornalismo brasileiro é bom e independente, particularmente quando comparado com a mídia do México ou da Argentina. Mas isso está menos relacionado com o diploma que com a competitividade do mercado de jornais e revistas’.

Os mini-Berlusconis

O problema que afeta o jornalismo brasileiro, para a The Economist, é o grande número de políticos que são donos de veículos de comunicação. Citando o site Donos da Mídia, o artigo diz que 271 políticos controlam algum meio de comunicação.

‘Nenhum diploma pode garantir reportagens que sejam independentes desses mini-Berlusconis’, diz o artigo, em referência ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, que controla diversos veículos de comunicação naquele país.

Na última quinta-feira (23/10), o Comunique-se enviou aos usuários cadastrados, pesquisa sobre a obrigatoriedade do diploma, a criação do Conselho de jornalismo e o grupo de estudos para a regulamentação da profissão.’

 

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

Por que somos obrigados a interagir o tempo todo?, 21/10

‘Se há conceitos capazes de dar nó na cabeça de qualquer um, estes são interatividade, interação e relacionamento.

Não é tudo a mesma coisa? Pelo contrário – são conceitos bem diferentes e que definem bastante o papel do usuário no mundo online.

No centro de todos estes conceitos está a idéia de contato. Interatividade cria a *possibilidade* de contato, mas sem intenção de continuidade. O caixa automático do seu banco é um bom exemplo. Você chega, digita a senha, retira o dinheiro, faz um depósito, checa o saldo e pronto – acabou ali.

Interação é quando a interatividade é usada para criar dependência – benéfica, na maioria das vezes. Quando você se loga ao site do banco, você está em seu espaço, e ele pode ser alterado, modificado, trabalhado. A idéia de contato se transforma em rotina.

E relacionamento? É quando interferimos na própria ferramenta; ao sugerir ao banco novos canais, por exemplo – atendimento online em tempo real, quem sabe? Neste caso,

desejo saber quando e como o sistema será implantado. Se minha sugestão foi recusada, quero um retorno – às vezes um e-mail basta – explicando o porquê. Tudo isso é relacionamento. A idéia de contato evolui para comprometimento.

E você, com isso? Afinal, se interatividade é opcional, e relacionamento, idem, por que cada vez mais nos tentam empurrar interação?

Se quero armazenar fotos, é preciso virar íntimo do Flickr e sempre fico em dúvida sobre quem está se beneficiando mais, eu ou o site, que passa não só a ter minhas fotos, mas meus dados, também. Sobre Orkut, Facebook e outras redes sociais, nem se fala. Para muitos, a vida, agora, passa por ali. O destaque do momento nas redes é o microformato, uma maneira de publicar dados pessoais apenas uma vez, e eles serem transpostos para qualquer rede social, sem necessidade de incluir tudo de novo. Mais interação, impossível.

Se você acha que a questão pára por aí, está enganado. A próxima tecnologia do momento – ou da semana – é o BD-Live, desenvolvida pela Sony. A idéia é mudar (mais uma vez?) a experiência de ver um filme em casa. Antes de tudo, é claro, é preciso um *outro* aparelho de DVD, especial para BD-Live – óbvio, infelizmente. Mas, ontem mesmo, meu próximo projeto não deveria ser comprar um aparelho para os novíssimos discos Blu-Ray? Deixa pra lá.

Fato é que, com a tecnologia BD-Live, é possível assistir, da poltrona de casa, a um filme junto com espectadores do outro lado da cidade ou do planeta – basta, é claro, que no aparelho de DVD esteja passando o mesmo filme. Assim, é possível enviar, via TV, mensagens para os outros espectadores e, durante a sessão, bater um campeonato de trivia com direitos a prêmios – wallpapers, screensavers, etc. E, last but not least, enviar vídeos que se sobrepõem ao filme que está passando, com mensagens do tipo ‘cara, esta cena está o máximo!’.

Isto posto, vem a pergunta: dai-me paciência, será que até no conforto do lar, aconchegado na minha poltrona, quieto no meu canto, eu tenho que ser sociável o tempo todo, participar de mais uma experiência de interação?

Respire fundo e me responda: há um limite para tanta interação ou estamos presenciando algo irreversível?

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início no dia 28 deste mês, no Rio de Janeiro. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

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1. Para quem não conhece meu blog, dê uma checada no ‘Cebol@’.

3. Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em twitter.com/brunorodrigues.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O patrulhamento da imprensa e a morte de Eloá, 23/10

‘Entendo a metade

das frases

e adivinho o resto.

(Fabrício Carpinejar in Outra Idade)

O patrulhamento da imprensa e a morte de Eloá

O considerado José Péricles de Almeida Júnior, advogado paulistano aposentado, escreve para aqui deixar registrado seu protesto contra a imprensa e a Polícia Militar de São Paulo durante o episódio no qual uma das seqüestradas morreu, outra foi baleada e o seqüestrador levou apenas uns tabefes:

(…) Todavia, é preciso deixar claro que a incompetência policial tem origem no patrulhamento das ONGs e da imprensa, sempre preocupadas em proteger bandidos. Ora, o dever da PM era amparar as mocinhas seqüestradas por um maluco, mas optou por preservar o ‘namorado apaixonado’. O resultado foi aquele que todos acompanhamos.

Agora, raciocinemos: se um atirador tivesse matado o elemento, o que não diria a imprensa brasileira? Que a polícia agira com precipitação, porque tudo indicava que o namorado iria se entregar… Espero que o sacrifício de Eloá sirva para mais do que a doação de seus órgãos e que a partir de agora a PM ignore o patrulhamento da imprensa e aja com a presteza que a sociedade exige: se o seqüestrador estiver na mira da arma, que o atirador de elite cumpra sua missão.

Janistraquis concorda e sugere que o assassino seja transferido para uma cela coletiva:

‘Se os colegas dele trabalharem bem, é possível que Lindemberg acabe amasiado com um ladrão boliviano, como aconteceu com aquele personagem de Nélson Rodrigues.’

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Nocaute técnico

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo varandão debruçado sobre as danações é possível ouvir os ornejos oficiais, pois Roldão trocou o jornal pela revista Almanaque Brasil e depois da leitura escreveu à direção:

Comento com retardo a ‘Origem da Expressão’ (p. 7) do nº 111, de julho, porque minha assinatura havia sido interrompida e só agora consegui esse número atrasado.

A explicação que corre pela internet para a expressão ‘salvo pelo gongo’ é fantasiosa. A verdadeira explicação é a do boxeador que é salvo da derrota pelo gongo que assinala o fim do tempo do assalto (round) antes de o juiz ter acabado de contar os dez segundos definitivos. Simples e inquestionável.

Janistraquis concorda com Mestre Roldão e transcreve abaixo a fantasiosa explicação que jaz na internet:

A Inglaterra é um país pequeno, e nem sempre houve espaço para enterrar todos os mortos. Então, os caixões eram abertos, os ossos tirados e encaminhados ao ossário e o túmulo era utilizado para outro infeliz. Só que, às vezes, ao abrir os caixões, percebiam que havia arranhões nas tampas, do lado de dentro, o que indicava que aquele morto, na verdade, tinha sido enterrado vivo (catalepsia – muito comum na época).

Assim, surgiu a idéia de, ao fechar os caixões, amarrar uma tira no pulso do defunto, tira essa que passava por um buraco no caixão e ficava amarrada num sino. Após o enterro, alguém ficava de plantão ao lado do túmulo durante uns dias. Se o indivíduo acordasse, o movimento do braço faria o sino tocar. Assim, ele seria ‘saved by the bell’, ou ‘salvo pelo gongo’, como usamos hoje.

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Pau na propaganda!

Percorre o mundo publicitário, com a velocidade da internet, sensacional diatribe escrita por Fábio Fernandes, da agência F/Nazca, contra Nizan Guanaes, do Grupo ABC. A carta de Fábio é dirigida aos funcionários de sua empresa:

Achei que devia escrever a vocês para falar sobre o Maximidia e o debate/embate que eu travei com o Nizan.

Acho que não é novidade para os mais próximos e os nem tão próximos que tenho diferenças profundas, quase religiosas, na visão sobre o que é e o que deve ser o negócio, o objetivo do trabalho, a missão, os processos, a forma e o conteúdo do produto final de uma agência de propaganda, em relação ao dito personagem – pra mim, uma caricatura de ser humano, dublê de político populista e novo-rico deslumbrado, comediante de frases de efeito repetidas à exaustão, arremedo de empresário anti-ético e criativo anti-estético.

Nunca escondi – nem dele – que o acho vil, pernicioso à nossa indústria, predador, oportunista, aproveitador, manipulador.

Se o considerado leitor não conhece a íntegra da reprimenda, leia no Blogstraquis o histórico documento a partir do qual Fernandes e Nizan deixam, definitivamente, de compartilhar a garrafa de Domaine de la Romanée-Conti, Le Montrachet, Bourgogne, 1972.

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Ladrões na TV

O considerado Mário Lúcio Marinho envia a ‘frase do dia’ que vale até domingo:

O horário eleitoral é o único momento em que o político ladrão fica em cadeia nacional.

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Dura realidade

O considerado José Sebastião Witter, ex-titular de História do Brasil na USP e durante anos diretor do Museu do Ipiranga e do Arquivo do Estado, envia texto do analista de investimentos e empresário americano Marc Faber, o qual encerrou seu boletim mensal (junho de 2008) com o seguinte comentário sobre o projeto de ajuda à economia de seu país, naquela ocasião ainda em estudos:

‘O Governo Federal está concedendo a cada um de nós uma bolsa de 600 dólares. Se gastarmos esse dinheiro no supermercado Wall-Mart, esse dinheiro vai para a China. Se gastarmos com gasolina, vai para os árabes. Se comprarmos um computador, vai para a Índia. Se comprarmos frutas e vegetais, irá para o México, Honduras e Guatemala.

Se comprarmos um bom carro, irá para a Alemanha. Se comprarmos bugigangas, irá para Taiwan e nenhum centavo desse dinheiro ajudará a economia americana. O único meio de manter esse dinheiro na América é gastá-lo com prostitutas e cerveja, considerando que são os únicos bens ainda produzidos por aqui. Estou fazendo a minha parte.’

Janistraquis e o colunista, que não se chamam Joe ou John nem tampouco Manuel e Joaquim e nem nunca moraram em Niterói, também fazemos a nossa parte: deixamos de comer carne porque a crise assim determinou.

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Tragédia vascaína

Deu no Ex-blog de César Maia:

A DUPLA CABRAL/DINAMITE AFUNDA O VASCO!

Usando sua força como governador, Cabral fez uma intervenção no Vasco e colocou seu amigo do peito e da ALERJ, deputado Roberto Dinamite, como presidente do Vasco. Quem conhece a dupla Cabral & Dinamite podia prever o desastre. Aliás, Lula também é vascaíno, mas no caso é só pé frio.

Antes que um clube da tradição do Vasco, detentor do maior patrimônio, e mais diversificado, de clube esportivo do Rio naufrague, seria bom a dupla Cabral/Dinamite renunciar e abrir eleições diretas. Já não se trata mais de torcida deste ou daquele clube, mas de interesse de todos, do futebol do Rio. Dinamite deve ter autocrítica e renunciar.

Seria demais pedir para aparecer no programa de seu correligionário Eduardo Paes. Paes também é vascaíno. Talvez daí insistir tanto na parceria com Lula e Cabral. Mas pelo amor de Deus: fora do Vasco.

E Janistraquis lembra a ameaça de Eurico Miranda, veiculada em toda a mídia: se o Vasco cair pra Segundona, ele, Eurico, promete acabar com a carreira política do deputado Dinamite.

A cobra promete fumar charuto em São Januário, se o Vasco não repetir daqui pra frente o futebol que jogou ontem contra o Goiás, na vitória por 4 a 2.

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Fabrício Carpinejar

Leia no Blogstraquis a íntegra de Outra Idade, cujo fragmento encima esta coluna. O inspirado poeta gaúcho recorda um Natal chuvoso, em que esfregava o vidro como quem termina uma carta.

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Mulher perigosa

O considerado Fausto Osoegawa, veterano colaborador da coluna, despacha a seguinte notícia de seu escritório na Liberdade:

FMI investiga chefe por suposto abuso de poder

(EFE)

WASHINGTON – O Fundo Monetário Internacional (FMI) está investigando seu chefe, Dominique Strauss-Kahn, para determinar se houve abuso de sua posição durante o tempo em que manteve relação com uma subordinada, a húngara Piroska Nagy, disse neste sábado o Wall Street Journal.

O sempre educado Osoegawa economizou palavras para um comentário, porém Janistraquis logo meteu a colher:

‘Considerado, só pode ser perigosíssima uma criatura que carrega no nome a lembrança daquilo que mais gosta…’

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Santos horrores

O considerado Ronaldo Monte, poeta, escritor, psicanalista e professor alagoano que vive em João Pessoa, escreveu em seu blog sob o título Eu, Pio XII e a morte:

(…) Uma certa manhã, todos reunidos no salão nobre da escola, transido em sofrimento, o padre nos anunciava a morte de Pio XII. Minha condição de católico adventício não me deixou contaminar pelo clima de consternação que tomou conta de todos. Como todas as tragédias têm seu lado bom, as aulas foram suspensas.

No caminho de casa, pude ver que o clima de orfandade tinha se alastrado por toda a rua, todo o bairro. Em casa, sob os olhos marejados de minha mãe, soube pelo rádio que era o mundo todo que sofria de súbito desamparo. Eu me senti um estrangeiro, alheio àquele sentimento de perda e sofrimento.

Até hoje, cinco papas depois, não consigo compartilhar da comoção que se alastra pelo mundo toda vez que morre um Papa.

Leia aqui a íntegra do artigo que nos faz recordar um tempo de horrores.

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Nota dez

Nove entre dez leitores enviaram artigo da considerada Marli Gonçalves, jornalista, assessora de imprensa, artigo intitulado Solteira, sem filhos. E daí?

Dona Marta e sua gente, que me perdoem todos, mas diretamente desejo de coração que vocês todos sejam jogados na lata do lixo da história. E que suas cabecinhas falsas, perversas, atrasadas e ignorantes fiquem bem longe de nossa cidade.

Vocês, Dona Marta e sua gente, estão querendo governar São Paulo? Deus nos livre de vocês, com esse pensamentinho barato, esse jeitinho comunista de ser que não resiste a um vento, essas balelas religiosas, esses estelionatos que estão praticando em todo o país.

Leia no Blogstraquis a íntegra do texto que voa nas asas da internet como um bem-nutrido passaralho.

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Errei, sim!

‘BOM-GOSTO – Saborosa manchete do Estadão: Vinagre e papel higiênico sobem até 20%. Janistraquis ficou encantado com a maneira poética de se unir o início e o fim duma boa refeição: ‘Considerado, o bom-gosto é patente e só cabeças poluídas ou fanáticos mestres-de-obra iriam ler o título e se lembrar de lixa e aguarrás’. Concordo.’ (fevereiro de 1995)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

 

PRÊMIO
Eduardo Ribeiro

Emoções, 22/10

‘Tive o privilégio, ao lado de outros 1.500 profissionais, de participar na noite desta terça-feira, 21 de outubro, dia do prefixo da patrocinadora, da décima edição do Prêmio Imprensa Embratel, no Canecão, no Rio de Janeiro.

Uma festa e tanto, organizada com esmero pela equipe da empresa – Luiz Freitas à frente – e que desfalca as redações. Por uma boa causa é verdade.

Apresentada pelos âncoras Ronaldo Rosas e Leilane Naubert, que são muito conhecidos do público carioca pela atuação na tevê, a cerimônia reservou momentos de pura emoção e euforia entre os vencedores.

A primeira manifestação mais, digamos assim, entusiasmada, foi de Vinícius Jorge Sassine, de O Popular, de Goiânia, que levou o Regional Centro-Oeste com a matéria ‘Pesquisa revela mutações em vítimas do césio’, escrita em conjunto com Deire Assis, Marília Assunção e Carla Borges e publicada em 30 de setembro de 2007. Ao ser anunciado como vencedor, do lugar em que estava vibrou muito, aos gritos e saltos, numa alegria que chegou até o microfone. Na hora de falar, fez um desabafo, lembrando as dificuldades em fazer jornalismo nos centros menores, mas que nem por isso esse jornalismo deixa de ter qualidade, como provava aquele prêmio que ele e equipe acabaram de ganhar.

Ao serem anunciadas as vencedoras da categoria Tecnologia da Informação, Comunicação e Multimídia – Veículo não especializado, as repórteres Carol Medeiros, Daniela Dariano e Flávia Salme, de O Dia, pela série ‘Luz, Câmera, Educação’ (veiculadas de 18/11/07 a 28/5/08), foi uma festa: ‘ostensivamente’ grávidas, as repórteres Daniela e Flávia (será que não estou trocando as bolas?) foram um dengo só nos agradecimentos à família, aos respectivos maridos, aos bebês que estão a caminho e, claro, aos chefes que bancaram a pauta. Se estivessem as três grávidas, certamente não caberiam juntas na mesma foto!!

José Trajano, veterano freqüentador dessas premiações e calejado pelos prêmios já vencidos ao longo dos anos, era um dos aniversariantes do dia e o presente foi a terceira conquista do Embratel na categoria Reportagem Esportiva com a reportagem especial Brasil olímpico, que dirigiu e que teve na linha de frente o repórter Marcelo Gomes. Trajano enfatizou que o papel do jornalismo não é apenas cobrir o gol, as alegrias e tristezas que freqüentam o dia-a-dia dos torcedores, mas também apontar as mazelas do esporte e dos maus dirigentes que se locupletam com dinheiro alheio. E pediu a todos que ficassem de olho sobre o que poderá vir por aí com a Copa de 2014 e quem sabe os Jogos Olímpicos, se estes também para cá vierem. Foi um dos mais aplaudidos da noite.

Aline Passos, da TV Record do Pará, vencedora do prêmio Regional Norte, com a matéria ‘Arsênio – Vidas contaminadas’, mostrando o drama de uma comunidade do interior do Amapá contaminada pelo arsênio, onde vivem mais de 2 mil pessoas, provou suspiros na platéia com o conjuntinho que deixava seus belos joelhos à mostra (a La Nara Leão), mas logo sepultou intenções afoitas ao dedicar o prêmio ao marido lindo e ao filhinho de 11 anos, que a acompanharam na festa.

Outro momento de grande emoção foi vivido pela repórter Sílvia Bessa, do Diário de Pernambuco, vencedora da categoria Reportagem Socioambiental, com a matéria ‘O Brasil que mais vai sofrer com o aquecimento’, em que ela percorreu mais de 7 mil quilômetros para mostrar o drama de uma população que, já vitimada pela pobreza, tem agora de enfrentar os rigores da mudança climática. Nos seus agradecimentos, fez um reconhecimento público ao jornal que apostou numa grande reportagem, permitindo que se ausentasse por um período grande da redação para se dedicar ao projeto. E rasgou elogios maiores ainda ao editor que a incentivou, bancou a pauta e foi quase co-autor do trabalho. Arrematou dizendo que dividia com ele esse prêmio… E arrancou gargalhadas da platéia ao revelar: ele é o meu marido querido!!

Festa pra valer fez o pessoal de O Dia, pelos três prêmios conquistados: Região Sudeste, com ‘Fantasma da Alerj – O escândalo do auxílio educação’, feito pelos repórteres Alfredo Junqueira, Mahomed Saigg e Ricardo Villa Verde (publicadas de 14/2 a 21/5/08); Reportagem Fotográfica, com ‘Retrato trágico do Brasil das armas’, de autoria de Marcelo Regua (ele ficou por 23 dias e noites documentando a rotina de medo e humilhação dos moradores dos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme); e TI, Comunicação e Multimídia – Veículo Especializado, a matéria das grávidas, já citada anteriormente. Cada vez que O Dia era anunciado como vencedor, parecia a galera gritando gol, num Flamengo x Vasco ou Palmeiras x Corinthians. Eram gritos e abraços para todo lado.

Farra muito grande também quem fez foram Sandra Moreyra e Mônica Sanchez, que arrebataram a categoria Reportagem Cultural com a série ‘1808 – A corte no Brasil’, mostrando para a GloboNews os 200 anos da vinda da corte portuguesa ao Brasil e suas conseqüências para a então colônia. Sandra fez os agradecimentos habituais à equipe, destacando que o trabalho acabou aproveitado também pelos outros veículos da Globo. E Mônica salientou que, ao ver tantos colegas agradecerem as empresas em que trabalham por bancarem pautas especiais que levavam às vezes quase 30 dias para serem concluídas, o que dizer então de uma empresa que as bancou por um ano estudando, viajando por vários países, ouvindo mais de 40 historiadores, para poder levar ao público um material de qualidade.

O Globo, que até então nada tinha ganho, levou o prêmio maior, o Barbosa Lima Sobrinho, com a série ‘A ditadura nas favelas’, assinada por Carla Rocha, Dimmi Amora, Fábio Vasconcellos, Sérgio Ramalho, Paulo Motta, Angelina Nunes, Mauro Ventura, Bernardo Mello Franco, Paula Autran, Jailton de Carvalho e Ruben Berta. Ali, no grupo, também tinha um aniversariante, mas confesso que não me ative ao nome, para aqui revelar.

E para que a emoção não acabasse ali, a festa prosseguiu com um show com o sambista Arlindo Cruz, não sem antes uma canja de alguns colegas jornalistas que tiveram o privilégio de (a meu juízo) pisar pela primeira vez no palco do canecão como intérpretes (uma emoção sem conta): Marceu Vieira, adjunto de Ancelmo Góis, em O Globo; Tânia Malheiros, que já está há algum tempo em dupla jornada, entre o jornalismo e a música; e Daniel Pereira, idem.

A listagem geral dos ganhadores da 10ª edição do Prêmio Imprensa Embratel é:

Reportagem de jornal/revista – Walter Nunes, Guilherme Evelin e Andréa Leal, da revista Época (SP); Reportagem cultural – Mônica Sanches e Sandra Moreyra, da GloboNews (RJ); Jornalismo investigativo – Fábio Diamante, do SBT (SP); Reportagem de rádio – Lívia Carla, da Rádio MEC (RJ); Reportagem cinematográfica – Rogério Lima, da TV Globo (RJ); Reportagem esportiva – Marcelo Gomes e José Trajano, da ESPN Brasil (SP); Reportagem fotográfica – Marcelo Régua, de O Dia (RJ) – veja uma das fotos nesta página; Responsabilidade socioambiental – Silvia Bessa, do Diário de Pernambuco (PE); Reportagem de TV – Marcelo Canellas, da TV Globo (DF); Reportagem econômica – Vicente Nunes, Edna Simão, Luciana Navarro, Ricardo Allan, Marcelo Tokarski, Luciano Pires, Mariana Flores e Luis Osvaldo Grossmann, do Correio Braziliense (DF); TI, comunicação e multimídia em veículo especializado – Silvia Angerami, da revista Decision Report (SP); TI, comunicação e multimídia em veículo não-especializado¬ – Carol Medeiros, Daniela Dariano e Flávia Salme, de O Dia (RJ).

Os regionais foram para: Centro-Oeste – Vinicius Jorge Sassine, Deire Assis, Marília Assunção e Carla Borges, de O Popular (GO); Norte – Alinne Passos e equipe, da TV Record (PA); Nordeste – Claudio Ribeiro, Demitri Túlio, Luiz Henrique Campos e Rafael Luís, de O Povo (CE); Sul – Tiago Eltz, da RPC-TV (PR); e Sudeste – Alfredo Junqueira, Mahomed Saigg e Ricardo Vilaverde, de O Dia (RJ).

Este último, para a série ‘Fantasmas da Alerj – O escândalo do auxílio educação’, obteve notáveis resultados em termos de interesse público. Por conta da matéria, foram cassados dois deputados corruptos, cinco pessoas denunciadas pelo Ministério Público e alguns candidatos a esta eleição resolveram retirar suas candidaturas. Diz Vilaverde: ‘A pauta apareceu numa denúncia banal de delegacia: uma pessoa reclamava ter o nome sujo por dívidas que não fez. A investigação policial encontrou indícios de fraude. A reportagem descobriu onde estava a fraude: no cadastro do Bolsa-Família. Saímos procurando onde havia pessoas pobres com muitos filhos’.

Junqueira e Saigg prosseguem: ‘Fizemos o cruzamento desse cadastro com os nomeados pela Assembléia. Entre os envolvidos estava um deputado da Comissão de Ética da Alerj! O caso tomou proporções, a concorrência repercutiu. Fomos ameaçados de morte, seguidos por gente armada; nos apontavam nos lugares a que íamos e tiravam fotos nossas. Um carro nos seguiu e bateu na traseira do nosso tentando nos tirar da estrada. Mas o jornal bancou e tivemos apoio de várias instituições da sociedade civil’. Eles acreditam que valeu a pena. E valeu o prêmio.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas’

 

 

 

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