A não ser por uma breve nota na Folha de S.Paulo, os principais jornais brasileiros não deram muita trela aos resultados de uma pesquisa sobre confiança na mídia, divulgada recentemente.
Co-patrocinada pela BBC, a agência noticiosa Reuters e a organização Media Center, a sondagem ouviu pouco mais de 10 mil pessoas em 10 países (Alemanha, Brasil, Coréia do Sul, Egito, Estados Unidos, Grã-Bretanha, Índia, Indonésia, Nigéria e Rússia).
No Brasil, foram ouvidos por telefone mil moradores das nove maiores regiões metropolitanas (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Salvador, Belém e Curitiba).
Os brasileiros são os que menos confiam na mídia (apenas 45% dos entrevistados confiam bastante ou em parte), em empate técnico com os alemães (43%). Considerados todos os países pesquisados, o índice médio de confiança é 63%. No Brasil, 51%.
Os autores do trabalho tiveram uma boa idéia. Sabendo que a credibilidade dos políticos não é nenhuma Brastemp em parte alguma, eles resolveram comparar confiança na imprensa e confiança nos governos.
As duas mais: Globo e Al-Jazira
Deu que no Brasil disseram confiar no governo 3 em 10 entrevistados – a mais baixa proporção apurada. [No Egito, a pergunta não pode ser feita.]
Os brasileiros também são os que menos dizem confiar nos blogs (20%). Sem surpresa para ninguém, a TV é a principal fonte de informação: a Rede Globo foi citada espontaneamente por 52% dos entrevistados. Os grandes jornais (68%) empatam com a televisão (66%) em matéria de confiança.
Decerto por causa das imensas populações muçulmanas em quatro dos países pesquisados (Egito, Índia, Indonésia e Nigéria), a Al Jazira foi lembrada, no cômputo geral, por 6 em 10 entrevistados.
O Brasil é o país onde é maior a parcela de entrevistados (44%) que admitiram ter perdido a confiança em um órgão específico de mídia nos últimos 12 meses e foram buscar outra fonte. (A média geral é 28%.)
As principais opiniões dos brasileiros são estas:
**
A mídia dá más notícias em excesso (80%)**
A influência estrangeira na mídia é demasiada (77%)**
A mídia espelha demais valores e interesses do Ocidente (67%)**
A mídia cobre fatos de interesse do entrevistado (65%)**
A influência do governo na mídia é grande (64%)Blogs amadores não estão com nada
Em geral, a internet ganha com a perda de credibilidade da mídia convencional, principalmente entre homens jovens e entre os coreanos – o que bate com tudo que já se sabia a respeito.
Mas, como se viu especialmente no Brasil, confia-se pouco nos blogs (e eles são pouco procurados como fonte de informação).
No conjunto da amostra internacional, 21% dos entrevistados disseram recorrer a sites noticiosos para se informar. Mas apenas 2% disseram o mesmo em relação aos blogs.
Os pesquisadores registraram o comentário do analista Doug Miller, do site GlobeScan:
‘O levantamento tem duas mensagens-chave para os executivos de mídia na era da internet. Primeiro, padrões jornalísticos elevados são ainda mais importantes hoje em dia para ganhar a confiança e a atenção do público. Segundo, o jornalismo profissional pode ter um futuro risonho online. Por enquanto, o ‘jornalismo-cidadão’ dos blogs nem é amplamente requisitado nem merece confiança.’
De qualquer forma, na maioria dos países pesquisados a mídia tradicional conservou ou mesmo aumentou a sua credibilidade.
Este veterano jornalista – embora também blogueiro – acha que essa é uma grande notícia. Ela parece desmentir os apressados que ficam escrevendo atestados de óbito da credibilidade na velha e boa imprensa.
Parafraseando o que se diz do regime democrático, ela continua a ser o pior dos meios de comunicação – exceto todos os outros.
O site GlobeScan traz mais detalhes da pesquisa.