Um estrangeiro em visita ao Brasil, com certeza, assistindo à TV pode imaginar que não esteja fora do seu país de origem, a julgar pela ‘língua falada’ em muitos filmes comerciais. Em um recém-exibido, para apresentar a reestilização de um novo modelo de carro, é utilizada sem maiores questionamentos a palavra restart, além da expressão new agregada ao nome.
‘Isso faz parte da globalização das campanhas publicitárias’, devem justificar os publicitários responsáveis. Ainda que seja esse o motivo, a estratégia de preterir o português em favor de expressões estrangeiras soa como mais um arroubo de intelectualismo por parte das classes sociais mais privilegiadas. Utilizar nomes ou expressões em inglês é mais chic do que o nosso português tupiniquim, devem pensar.
Quantas pessoas, no universo da audiência televisiva, sabem de fato o significado das palavras restart e new? Quantas, dentro do nicho de consumidores do carro em questão, dominam o inglês, a ponto de se familiarizarem de imediato com as duas palavras? Os números, com certeza, não devem justificar. Além do mais, até onde sabemos o português ainda é a língua oficial do Brasil.
Cidadãos do mundo
No comercial, a placa do carro aparece como sendo de São Paulo, daí se pode presumir que o filme foi produzido nas ruas de alguma cidade brasileira. Se tiver sido, de fato, qual a razão lógica para se falar inglês em comercial a ser veiculado no Brasil, voltado para consumidores brasileiros?
A tão falada globalização, inclusive na publicidade, é uma realidade, porém não pode e nem deve servir de desculpa para a deterioração dos valores de qualquer nação. A língua, bem como a cultura e muitos outros, é um desses valores a serem defendidos e preservados a todo instante. Seja nos Estados Unidos ou em qualquer outro país, a inserção de palavras ou outros signos estrangeiros misturados à língua oficial é quase nula. Brasileiros residentes noutro país ou viajantes freqüentes ao exterior conhecem isso melhor do que ninguém.
Nós brasileiros, precisamos ser cidadãos do mundo, dominar outras línguas (não somente o inglês), mas não precisamos, por força da mídia e de pretensos intelectuais, vilipendiar nosso idioma sob o mais insignificante pretexto. Desse jeito, de cidadãos do mundo vamos acabar nos tornando mesmo os ‘imbecis do mundo’.
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Jornalista, São Luís