Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O Estado de S. Paulo


FLIP
Antonio Gonçalves Filho


Bouillier e a história de amor que virou ódio


‘O escritor argelino Grégoire Bouillier, de 49 anos, já foi andarilho, jornalista e pintor. Hoje é escritor premiado. Seu primeiro livro, Rapport Sur Moi (Relatório sobre Mim), publicado em 2002, rendeu a ele o Prix de Flore daquele ano e definiu o gênero que Bouillier usa (‘relato’) para se referir a O Convidado Surpresa (Cosac Naify, tradução de Paulo Neves, 120 págs., R$ 35), livro que o trouxe para a sétima edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Nesse relato, produzido há cinco anos, Grégoire Bouillier conta como conheceu a artista conceitual Sophie Calle, de quem se separou por e-mail, recebendo como resposta uma série de vídeos ultrajantes mostrados na Bienal de Veneza de 2007, em que ela pedia a famosas atrizes, performers, bailarinas e até a uma palhaça que interpretassem a mensagem de rompimento. Hoje, às 11h45, o casal volta a se encontrar numa mesa de debate, que promete lavar a roupa suja dessa relação artística e epistolar.


Bouillier conta que esteve presente à festa de lançamento desses vídeos e que foi interpelado por uma das mulheres. ‘Ela me provocou, dizendo que eu era bastante corajoso para estar lá.’ Bem, para quem pagou uma pequena fortuna por uma garrafa de Margaux Château de Tertri 1964 apenas para conquistar a mimada Sophie no dia em que a artista comemorava seus 37 anos, em 1990, coragem é o que não falta a Bouillier. Não que a tradição epistolar (mesmo que seja por correio eletrônico) exija do missivista uma dose excessiva de ousadia. A bem da verdade, a literatura francesa está cheia de rompimentos por cartas e livros autobiográficos em que a vida privada dos escritores é mais pública e devassada que nos atuais reality shows.


O escritor detesta a comparação. Diz que a relação dos dois não pode ser reduzida a um gênero que manipula a verdade como o reality show. Para ele, o relacionamento com Sophie Calle foi para valer. No livro O Convidado Surpresa, Bouillier conta como ficou emocionado ao receber, no dia da morte de Michel Leiris, um convite para ir à festa dela num sábado, 13 de outubro de 1990. Não podia imaginar que Sophie Calle fosse um dia fazer dessa relação amorosa um espetáculo público de ressentimento feminino, provocado por um ruído de comunicação. Ele jura que não pretendeu ser indelicado ao enviar a mensagem eletrônica dispensando a namorada. Esperava que ela respondesse ao e-mail. Como só existe uma coisa pior que uma mulher rejeitada – um homem humilhado -, Sophie Calle deu liberdade para outras mulheres lerem e interpretarem a mensagem, deixando Bouillier arrasado, especialmente porque a palhaça que lê a carta num dos vídeos da artista critica sua ‘sintaxe rudimentar’.


‘Acho que ela foi desonesta’, sintetiza, ‘especialmente porque não revelou os antecedentes desse e-mail.’ Além disso, segundo Bouillier, ela o atingiu em seu ponto nevrálgico, sua atividade literária, dedicada a ‘elucidar a realidade por meio dela, exatamente como fez Virginia Woolf’. As referências do escritor não abrigam nanicos, só gigantes da literatura, como James Joyce e Paul Valéry. A despeito disso, diz que a história da literatura tem apenas um pequeno papel em seu projeto literário, a autoficção, em que o autor faz uso de experiências pessoais para criar um espaço narrativo. ‘Meus livros não são romances nem obras memorialistas, apenas relatos’, explica, embora seu mais recente lançamento, Cap Canaveral, conte a história de um escritor maduro e uma jovem admiradora. Autobiográfico? Sem dúvida. Por seguir o conselho literário de Michel Leiris, Bouillier jamais escreveria algo se não fosse para iluminar certas coisas para si próprio.’


 


Talese: escândalos da mídia são culpa das mulheres


‘Experiente, o jornalista americano Gay Talese sabe usar as palavras – tanto quando escreve como quando fala. Com uma oratória inebriante, ele consegue tornar interessante uma entrevista, especialmente se ele é quem responde as perguntas. O público de Paraty poderá testar essa eficiência hoje à tarde, quando será a vez de sua mesa.


Aos jornalistas, ele executou seu talento em uma entrevista coletiva na quinta-feira. Impecável em seu terno bege, colete e gravata verde, além do chapéu repousando mesa, Talese ?culpou? as mulheres pela abundância de notícias escandalosas que hoje dominam a mídia. A explicação é histórica – nos anos 1960, quando um presidente mulherengo (John Kennedy) comandava os Estados Unidos, havia raríssimas repórteres em redações. ‘E as que lá estavam só cobriam moda e sociedade’, observou. ‘Também havia poucas mulheres advogadas e hoje mais da metade dos formandos em Direito é da ala feminina.’ A combinação, segundo ele, resultou no surgimento de diversas gerações de jornalistas mulheres, a maioria interessada em publicar fatos da vida privada de seus entrevistados.


Invasão de privacidade, aliás, justifica outra de suas falas polêmicas, ‘a imprensa matou Michael Jackson’, esta repetida na conversa reservada que manteve com o Estado, na quarta-feira. ‘Para mim, há cinco anos, Michael Jackson começou a ser envenenado pela imprensa. Acho que ele foi morto pela imprensa. Ok, a autópsia vai apontar ataque cardíaco ou qualquer outra versão oficial, mas ele vinha morrendo aos poucos há cinco anos, graças à humilhação imposta pelo desserviço de alguns jornalistas. Aqueles que noticiaram como verdadeiras as declarações de pessoas que teriam sido abusadas por Michael Jackson.’


Aos 77 anos e ainda na ativa – divide sua atividade jornalística no The New York Times (no qual publica domingo uma reportagem que inclui, entre outros detalhes, um cemitério de automóveis em um dos rios de Nova York) com a escrita de um livro sobre os 50 anos de seu casamento com a agente literária Nan, a ser publicado em 2011 -, ele acredita que as acusações contra Jackson jamais foram devidamente explicadas. ‘Quero saber exatamente, em um texto compreensível, o que Michael Jackson fez. Simplesmente dizer que ele ?abusou? de alguém é pouco evidente. Lamento por Michael Jackson. Com a morte, foi transformado em mártir. O mesmo homem acusado, semanas antes, de perversão. Por isso, não me emocionei nem um pouco com o noticiário lacrimoso sobre sua morte.’


Um dos ícones do new journalism, gênero surgido nos Estados Unidos durante os anos 1960 para designar o chamado jornalismo literário, Talese acredita que a sobrevivência está no chamado ?new new journalism?, que terá de manter a escrita característica, ou seja, uma não ficção literária. ‘Uma escrita que não seja apenas boa, mas lírica, cínica, visual’, disse. ‘O leitor tem de ter a mesma sensação de quem está assistindo a um filme dirigido por um grande diretor: sentir fortes emoções e também ter a sensação de estar incorporando conhecimento. O bom escritor tem o domínio da imaginação visual, ou seja, o de criar imagens por meio da prosa.’


Um exemplo desse profissional seria Jon Lee Anderson?, questiona o repórter, lembrando do jornalista que se notabilizou por suas matérias de comportamento durante a recente guerra do Iraque – Anderson, aliás, é um dos convidados amanhã da Casa de Cultura. ‘Ele é uma grande lembrança. Afinal, quando estava no Iraque, cobrindo a guerra para a New Yorker, escreveu artigo sobre algumas pessoas que tomavam chá como se não houvesse um conflito do lado de fora’, lembrou. ‘Algo fascinante: um mesmo país apresentava terrorismo e chá. Enquanto demais jornalistas acompanhavam prédios sendo saqueados, Anderson nos apresentava degustadores de chá. O que ele queria dizer é que nem todos no país eram homens-bomba.’’


 


TRANSPARÊNCIA
Luciana Nunes Leal


Projeto obriga Judiciário a pôr dados na internet


‘Depois de tornar públicos os pagamentos de benefícios a parlamentares e informações sobre contratação de servidores, como resposta a sucessivas denúncias de abusos com o dinheiro público, o Legislativo quer levar o Judiciário para o mesmo caminho. Proposta que será votada na próxima semana pela Comissão Mista de Orçamento obriga os órgãos da Justiça a criar ou ampliar seus portais da transparência.


A proposta prevê que sejam abertas informações sobre pagamentos de auxílios e outros benefícios, diárias, prestação de contas de viagens, passagens aéreas emitidas ou ainda sobre a situação de funcionários, concursados e comissionados. Se aprovada, a regra valerá também para o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União (TCU).


A abertura das contas faz parte do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2010, que vai fixar normas para a elaboração do Orçamento da União. Depois de aprovada na comissão, a lei será votada por deputados e senadores, até o dia 17 de julho. O relatório final do deputado Wellington Roberto (PR-PB) foi concluído ontem. À tarde, ele fechava os últimos detalhes do projeto, que prevê ainda a ampliação de informações do Executivo, disponíveis no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi).


O relator evitou fazer comentários sobre a exigência da divulgação de dados hoje mantidos em sigilo. Disse apenas que ‘Câmara e Senado têm sido cada vez mais transparentes’.


Ex-presidente e membro da Comissão de Orçamento, o deputado Gilmar Machado (PT-MG) também defende a abertura das caixas pretas das instituições públicas federais. ‘Não estamos retaliando ninguém. A Câmara divulga cada vez mais informações, o Senado está se abrindo também. Queremos que o Judiciário e o Executivo façam a mesma coisa. O Ministério Público, por exemplo, que corretamente gosta de cobrar e fiscalizar, vai ter de abrir suas contas também’, disse.


A assessoria de imprensa do Conselho Nacional do Ministério Público informou que resolução aprovada em maio passado determina a criação de Portais da Transparência no próprio conselho e nas entidades de todo o País. Informações como receitas, despesas e gastos com servidores, entre outras, estarão disponíveis até o fim de setembro.


Ao mesmo tempo que a divulgação dos dados melhora a imagem das instituições públicas, abre caminho para a descoberta de irregularidades. Para deputados e senadores, os tribunais e Ministérios Públicos dificilmente são alvo de denúncias graves sobre gastos porque não são transparentes nas informações de receitas e despesas, muito menos sobre a contratação de funcionários e a remuneração de servidores inativos. Com o projeto da LDO, pretendem uma certa igualdade na exposição ao público.’


 


HONDURAS
O Estado de S. Paulo


Jornalistas sofrem intimidação, diz ONG


‘A ONG de Direitos Humanos Anistia Internacional denunciou ontem o aumento de atos de intimidação contra jornalistas e manifestantes em Honduras. Segundo a organização, a repressão é dirigida principalmente contra profissionais que ‘publicam notícias sobre a crise ou cobrem os protestos e as detenções (de manifestantes)’ ordenadas pelo governo de facto.’


 


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Rádio Progresso volta a transmitir


‘A Radio Progresso, conhecida desde a década de 70 como uma das emissoras de oposição aos golpes militares na América Central, restabeleceu suas transmissões após ter sido fechada no domingo pelo Exército hondurenho. A rádio, que opera em rede com outras 116 emissoras, diz que seus funcionários foram agredidos por militares.’


 


VENEZUELA
AP e EFE


Governo Chávez revoga concessão de 240 rádios


‘A Comissão Nacional de Telecomunicações venezuelana (Conatel) revogará a concessão de 240 emissoras de rádio AM e FM na Venezuela. A informação foi divulgada ontem pelo ministro de Obras Públicas e Habitação, Diosdado Cabello, que justificou a ação dizendo que as emissoras perderam o prazo de recadastramento estabelecido pelo governo. ‘Estamos empenhados em erradicar o latifúndio radioelétrico’, afirmou Cabello. ‘Na Venezuela, 27 famílias controlam mais de 31% do espectro radioelétrico. Vamos democratizar esse espectro.’


O governo venezuelano começou no mês passado um processo de atualização dos dados das emissoras de rádio com base em uma nova lei para o setor. Segundo Cabello, as emissoras já teriam sido avisadas de que precisariam entregar à Conatel uma série de informações sobre seu funcionamento até 23 de junho.


‘Quem não tem ou não atualizou esses dados, passando-os para a Conatel, agora terá de assumir a responsabilidade por isso’, afirmou o ministro. No entanto, para a oposição, a medida é mais uma tentativa do governo de cercear a imprensa.


Nos últimos meses, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, vem ameaçando tirar do ar a rede de TV privada Globovisión, a única crítica a seu governo que ainda transmite em rede aberta na Venezuela (embora apenas para as três principais cidades). A TV também recebeu US$ 4 milhões em multas por sonegação de impostos.


Cabello também anunciou a abertura de ‘processos administrativos’ contra rádios e televisões que transmitiram uma propaganda alertando para a suposta intenção do governo de acabar com a propriedade privada no país.


‘Estamos evitando que os meios de comunicação continuem a incitar ao delito’, afirmou o ministro.


GREVE DE FOME


O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, anunciou ontem que entrou em greve de fome para protestar contra a ‘instabilidade democrática vivida pela Venezuela’. Ele decidiu fazer a greve no escritório da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Caracas, pois espera que a entidade designe uma comissão para observar a situação na Venezuela sob o governo de Chávez.’


 


Cerco à imprensa


’28 de maio de 2007 – Governo tira do ar emissora RCTV


11 de abril de 2009 – Globovisión é acusada de fazer ‘terrorismo midiático’


18 de abril de 2009 – Promotora sugere caçar licença de emissoras que ‘prejudiquem o Estado’


5 de junho – Globovisión é multada por evasão fiscal


Ontem – Governo suspende concessões de 240 rádios’


 


INTERNET
Diego Zanchetta e Pedro Venceslau


Prefeitura bloqueia Twitter para servidores


‘O acesso de servidores da Prefeitura de São Paulo ao Twitter começou a ser bloqueado desde quarta-feira em algumas repartições, segundo relatos de servidores feitos ontem à reportagem. O site de relacionamentos no qual usuários se comunicam com mensagens curtas foi adotado até por secretários e subprefeitos como forma de divulgar agendas e para receber reclamações.


Andrea Matarazzo (Subprefeituras), Walter Feldman (Esportes), Alexandre Schneider (Educação) e Alexandre de Moraes (Transportes e Serviços) são alguns dos secretários que fazem a atualização de seus trabalhos no website. A maior parte dos 31 subprefeitos também usa o sistema para divulgar ações da administração nos bairros.


‘Eu já pedi uma autorização especial do prefeito para usar o sistema. Em toda a nossa subprefeitura o uso foi proibido. Na quarta-feira, apareceu uma janela no meu computador avisando sobre a proibição’, afirmou Soninha Francine, subprefeita da Lapa. Nas subprefeituras da Vila Maria e da Sé usuários ontem também reclamavam de que o uso do Twitter foi vetado. ‘Do nada o sistema foi bloqueado pela manhã e voltou a funcionar no meio da tarde. No começo da noite, voltou o bloqueio’, reclamou outro subprefeito, que pediu para não ter o nome divulgado.


Segundo a Assessoria de Imprensa do prefeito, a proibição está prevista em decreto do Executivo, de 14 de agosto do ano passado. O governo diz que o acesso ao Twitter está proibido, mas que o prefeito, a exemplo do governador José Serra (PSDB), estuda flexibilizar o uso da ferramenta para divulgar ações do governo. O Twitter do governador é acompanhado por 14 mil pessoas.


A Prefeitura diz ainda que o ‘filtro’ ao Twitter já existia desde o decreto do ano passado e que a Prodam (Companhia de Processamento de Dados do Município) não recebeu nenhuma solicitação para o desbloqueio. ‘É vedado o acesso a sites da internet com conteúdos relacionados a sexo, drogas, pornografia, pedofilia, violência e armamento nos órgãos da administração municipal direta e indireta’, diz o decreto 49.914, que também veda o uso de site de relacionamentos Orkut e MSN. O decreto regulamentou projeto de lei de 2005 do vereador Domingos Dissei (DEM).


AGENDA VIRTUAL


Quase toda a agenda da administração das subprefeituras pode ser acompanhada hoje pelo Twitter. Matarazzo tem feito da adoção do programa uma de suas bandeiras. O secretário usa os canais da web para receber reclamações, sugestões e pedidos. Ele próprio está sempre atualizando o seu (twitter.com/andreamatarazzo), que entrou no ar com a função de ‘zeladoria’. No twitter.com/subprefeiturasp , a pasta recebe reclamações que são enviadas aos subprefeitos, de acordo com a região.


Os endereços criados para a gerência da Avenida Paulista, twitter.com/gerentepaulista, twitter.com/guardiapaulista e o blog gerenciadapaulista.blogspot.com/, estão no ar também para cumprir essa função. Matarazzo não quis se manifestar sobre a proibição.’


 


Bruno Tavares


MP fecha site que vendia dado sigiloso


‘O Ministério Público Estadual (MPE) fechou ontem um site que vendia pela internet informações confidenciais sobre pessoas físicas, empresas e órgãos públicos de todo o País. O banco de dados era tão completo que incluía até endereços residenciais, telefones celulares, contatos de vizinhos, parentes e renda de autoridades do Legislativo, Executivo e Judiciário. Os promotores também recolheram indícios de que, entre os cerca de 750 clientes do site APi Informação Cadastral & Comercial estão policiais civis de São Paulo e do Rio.


Para realizar as pesquisas, o site cobrava R$ 25 de assinatura mensal, mais uma taxa para cada busca realizada – que variava de R$ 0,08 para dados sobre endereços até R$ 12 para informações sobre pendências financeiras, bens e renda. Teoricamente, o objetivo do site era fornecer a empresas e comerciantes dados financeiros e cadastrais para concessão de crédito, vendas e/ou cobrança. Mas, ao contrário dos serviços legalizados de proteção ao crédito, como Serasa e SPC, o APi Informação fornecia muitos outros detalhes, muitos deles protegidos por sigilo.


‘O alcance disso é o que nos incomoda’, disse o promotor Luiz Henrique Dal Poz, do núcleo da capital do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). ‘Se eu quiser ver no Detran (Departamento Estadual de Trânsito) dados sobre os carros que já tive, não terei acesso a essa informação. Mas, pelo site, essa busca era muito fácil.’


Por ordem judicial, o Gaeco vasculhou na manhã de ontem dois endereços no Morumbi, bairro da zona sul de São Paulo. Na Rua Nelson Gama de Oliveira, onde funcionava a sede da empresa, foram recolhidos servidores, dezenas de discos rígidos e cópias de contratos firmados com clientes. No apartamento do proprietário do site, Alexandre Peric Teixeira, os promotores também encontraram documentos e computadores. Todo o material será periciado por técnicos em informática do MPE.


O segundo passo da investigação será tentar descobrir como o site alimentava os seus mecanismos de busca. Em depoimento, Teixeira disse que adquiria os dados de empresas de marketing programado e com vendedores da Rua Santa Ifigênia. Os promotores, no entanto, duvidam dessa versão, pois o grau de detalhes e atualização do site só poderiam ser conseguidos com acesso irrestrito a banco de dados oficiais, sejam eles mantidos pelo Estado, Município ou União.


Para testar a eficácia do APi Informação, os quatro promotores do Gaeco se dispuseram a fazer consultas com seus próprios nomes e CPFs. Além de todas as informações confidenciais estarem corretas, seus carros particulares, cujas placas são bloqueadas no Detran por motivo de segurança, também apareciam no cadastro do site. O teste foi repetido com placas de viaturas descaracterizadas do Gaeco, usadas em investigações sigilosas, e as consultas revelavam que os carros pertenciam ao MPE.


FATURAMENTO


O dono do site não soube precisar aos promotores quando começou a revender esse tipo de informação – teria sido entre 1997 e 2000. Apesar de viabilizar acesso a dados pessoais de milhões de pessoas em todo o País, Teixeira disse não imaginar que estava cometendo crime. Uma estimativa inicial do Gaeco aponta que o APi Informação faturava só com as assinaturas, algo em torno de R$ 40 mil por mês, sem contar a taxa cobrada por cada consulta efetuada. Segundo o próprio site, eram registrados mais de 2 milhões de acessos por mês.


O dono do site é investigado por infringir dispositivos da Lei Complementar 105/2001, que trata sobre o sigilo das operações de instituições financeiras, e o Artigo 153 do Código Penal (divulgação de conteúdo de documento particular sem justa causa). Procurado, o advogado da APi Informação, Marco Aurélio Gabriel de Oliveira, disse que não teria tempo de conversar com a reportagem naquele instante. O defensor passou o número de seu celular, mas o aparelho permanecia desligado até as 22 horas.


Em nota, o Detran informou que sua base de dados ‘é processada e armazenada em ambiente seguro, dotado dos mais modernos dispositivos de segurança física e lógica’. O texto destaca ainda que o aparato de segurança da Prodesp, empresa responsável por gerenciar o banco de dados, conseguiu barrar, só no primeiro trimestre deste ano, mais de 6 mil tentativas de invasão à rede do governo estadual. ‘Somente com o progresso das investigações poderemos afirmar com precisão e correção de onde partiram as informações disponibilizadas pela empresa’, diz a nota.’


 


TELEVISÃO
Gustavo Miller


FizTV não morreu


‘Cancelado há duas semanas pelo Grupo Abril, o FizTV pode voltar ao ar. Agora, dentro da MTV. Quem avisa é André Mantovani, diretor-geral do Grupo TV da Abril.


Está em estudo a ideia de levar para a emissora musical o mesmo conceito que caracterizou o antigo canal da TVA nos últimos dois anos: um portal de vídeos que escolheria as melhores produções independentes. Os selecionados seriam remunerados e ganhariam espaço em um programa de televisão. O nome FizTV não vai continuar.


‘Seria uma faixa da programação com um tempo maior que a do Portal MTV. É uma maneira de dar mais chance à exibição de filmes e documentários. Percebemos com o Fiz que há uma produção independente de qualidade no Brasil e apreciamos isso’, diz Mantovani.


A estratégia faz sentido. Segundo comunicado oficial, os canais do Grupo Abril (Ideal e FizTV) foram cancelados ‘pela dificuldade em romper uma barreira praticamente intransponível que existe no Brasil para a distribuição de canais pagos’.


‘Com a MTV temos uma abrangência nacional, são 32 milhões de lares’, aponta Mantovani.’


 


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