Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A história e a luta pela liberdade de imprensa

A história que liga o homem à informação é alguma coisa de extraordinária, pela aventura, criatividade e empenho em desenvolvê-la. De tudo foi utilizado para se chegar à situação atual. No começo não era apenas o verbo, mas o gesto, a expressão facial e corporal, o tato, a visão, o olfato. A trajetória é longa. Viemos da caverna para o mundo virtual. Passamos da fase da escrita utilizando recursos rudimentares, sem pressa, para o espaço dominado pela velocidade, cujos efeitos quebraram barreiras culturais e construiu as bases para o aparecimento de uma nova sociedade.

A comunicação entre as pessoas sempre houve. Mas só este ritual não interessava. O que desejava o homem era fixar o que se passava em volta do clã. Queria um registro que permanecesse e revelasse as aventuras e a própria história, a partir da descoberta do fogo, da roda, e do arado. Não faz muito alguns jornais e revistas trouxeram a ilustração de um manuscrito num pedaço de papiro, escrito há mais de 1.700 anos, o qual provaria que Judas não traiu Jesus. O papa é contra a nova versão.

O papiro encheu de sonhos e esperanças a humanidade. O uso de uma planta encontrada no Rio Nilo, tratada, virou uma espécie de papel. Faz tempo. Cerca de três séculos antes da Era Cristã. Foi um avanço e serviu ao homem para enriquecer o conhecimento de todos nós. Nessa evolução o homem, disposto a aperfeiçoar os experimentos para melhorar a informação, transformou a pele de animal e, dizem, até de gente em pergaminho, pela resistência. A tragédia foi a tentação de desmanchar obras célebres para se reescrever no mesmo espaço. A história é longa. E não falaremos da utilidade do pombo-correio como mensageiro. Com a chegada da prensa de Gutenberg, o mundo jamais seria o mesmo.

A sociedade não esperou muito para sentir a força e o poder da tipografia, que data de 1450. As manifestações contrárias apareceram sem demora. No ano de 1564 a Igreja editou o primeiro Índice de Livros Proibidos, que excluía o nome de autores cujas obras eram banidas na totalidade. Àquela instituição juntou-se o Estado com o mesmo objetivo. Foi desse jeitinho que se deixou de ler, através dos séculos, obras importantes de autores como Galileu Galilei, Giordano Bruno, Erasmo de Roterdã, Voltaire, Rousseau e tantos outros.

Tudo vale a pena

A censura, tanto faz ser aqui ou acolá, deve ser rechaçada, como mal que corrói as bases da democracia. Toda tentativa de limitar a livre expressão de pensamento é prenúncio de mal irreparável. Nenhum cidadão de bom senso deseja para si, para os outros a presença indesejável da censura. Os libertários do século 18, com sabedoria, alertavam ser melhor corrigir os desvios da informação pelos caminhos legais do que suprimir a liberdade da palavra e das idéias. O escritor francês Gustave Flaubert, em 1852, disse esta verdade:

‘A censura seja qual for é uma monstruosidade, algo parecido com o homicídio: o atentado contra o pensamento é um crime de lesa-alma’.

Eis um tema debatido com entusiasmo, em São Luís, no 4º Encontro Nacional da História da Mídia (de 28/5 a 2/6) – aliás, ‘A luta pela liberdade de imprensa no Brasil’. Na oportunidade falamos a uma platéia com centenas de estudantes, jornalistas, professores e interessados no assunto (cerca de 400), de todo o Brasil, sobre o tema relacionado à história de nossa imprensa. Lá também esteve o combativo jornalista Neiva Moreira. O encontro transformou-se numa festa. A festa da mídia, e no mês de maio. Foi lembrado que no dia 1º o jornal O Imparcial completou 80 anos de funcionamento, e O Estado do Maranhão, 47; no dia 29, o Jornal Pequeno festejou 55 anos. No 1º de junho, de quebra, o Dia da Imprensa. Um senão: a mídia não cobriu à altura o evento.

Em jornalismo tudo vale a pena, parodiando Fernando Pessoa, quando a censura não apequena a liberdade de expressão.

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Professor universitário, pesquisador e jornalista