Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

As greves pelos jornais

Em todos os meses do ano, alguma categoria profissional discute a necessidade de reajuste na tabela salarial. Mas nem sempre as modificações agradam aos grupos. Quando os argumentos formais não surtem mais efeito, muitas vezes as vozes se erguem, os trabalhadores tomam as ruas e a rotina das cidades sofre alterações.

As greves estiveram nas páginas dos periódicos catarinenses. Entre 16 a 30 de maio, o Monitor de Mídia acompanhou o desenrolar das greves e paralisações e como elas foram abordadas dentro da função jornalística de informar. Entre as manifestações que ocorreram, a greve dos motoristas em Florianópolis e a dos professores do estado tiveram destaque nos jornais catarinenses.

O DC e os ônibus da capital

Desde a matéria principal passando pelas demais retrancas, pôde-se ver que o DC acobertou a situação em favor do poder público. A não ser por um pequeno box com o resumo da greve em tópicos, a abordagem foi mais descritiva em relação aos impasses causados aos usuários. As posições contrárias ao movimento tiveram mais espaço nas páginas do jornal. Eram três representantes influentes (prefeito da cidade, major da PM e presidente da Setuf) contra o secretário de finanças da Sintraturb, ao invés de um dirigente dos grevistas. Além disso, a primeira pergunta feita ao prefeito de Florianópolis – ‘Falta pulso para controlar as mobilizações dos motoristas e cobradores, que de tempos em tempos fazem a cidade de refém?’ – abriu para uma interpretação autoritária do controle do caso. Um reflexo errado da situação, posto que todos os trabalhadores têm o direito constitucional à greve. A imprensa deve sim informar aquilo que interfere no dia-a-dia da população, mas não pode ser um veículo a serviço do interesse das instituições, como empresários, anunciantes ou prefeitura.

O dia-a-dia da greve no DC

Em 17/05, o Diário Catarinense relatou a greve no transporte viário de Florianópolis. Neste dia, o jornal trouxe chamada de capa: ‘Transporte garantido até quinta-feira’. Em duas páginas internas, tratou da greve do Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Coletivo da região metropolitana de Florianópolis (Sintraturb). Com a matéria de abre, ‘Transporte está garantido só até amanhã’, o periódico descreveu como se deu a paralisação que ‘não pegou de surpresa somente 350 mil usuários da Capital e das linhas intermunicipais’. A explicação de que ‘os motoristas também foram barrados quando seguiam ao terminal’, onde começou a greve, estava logo no início da matéria. Além disso, matérias secundárias explicaram a decisão tomada pela Sintraturb, há duas semanas, e como a população lidou com a falta de ônibus.

Junto das matérias, havia quatro entrevistas. Na primeira delas, intitulada ‘Catracas não geram desemprego’, o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos de Florianópolis (Setuf), Waldir Gomes da Silva, expôs sua desaprovação ao ato. Em seguida, explicou que ‘os motoristas da capital contam com o segundo maior salário da categoria’ e condenou a paralisação ao comparar: ‘temos que controlar a greve para que, a exemplo de São Paulo, uma ação criminosa não tire o proveito da situação’.

A segunda entrevista foi com o secretário de finanças do Sintraturb, Dionísio Linder. No texto, o representante do movimento explicou: ‘os trabalhadores sabiam da greve, mas não sabiam o dia’. Além disso, esclareceu como foi planejada a interrupção e advertiu: ‘caso não consigam reverter esta situação, vamos ter mais um motivo de paralisação’.

A segunda página de matérias trouxe, o prefeito de Florianópolis, Dário Berger, como primeiro entrevistado. Na entrevista que começou com o questionamento da ‘falta de pulso para controlar as mobilizações dos motoristas’, Berger justificou a cobrança da prefeitura: ‘porque esse é um setor sensível para reivindicações’. O prefeito tratou a mobilização como ‘exagerada’ e se isentou da responsabilidade ao afirmar: ‘Eu pedi para a Polícia militar ser implacável’.

O policiamento da situação coube a quarta entrevista. Falou ao DC o chefe de operações do 4.º Batalhão da PM, major Newton Ramlow. ‘Ainda em meio a confusão’, como afirmou o jornal, o major explicou que nas outras mobilizações os policiais foram ‘complacentes’. ‘Todo mundo que quer uma coisa pára a cidade. Isso não está certo’, completou Ramlow.

A Notícia e o transporte público

A Notícia apresentou uma cobertura altamente descritiva e equilibrada, sem tomar partidos dos envolvidos nas greves ocorridas em todo o estado. Procurando sempre ouvir os dois lados e expondo informações e opiniões provenientes das mais variadas fontes, o AN cobriu passo a passo as reivindicações através de matérias e pequenas notas.

O relato da greve em AN

O jornal A Notícia evidenciou os prejuízos que as manifestações causaram e publicou depoimentos de uma série de cidadãos atingidos – especialmente com a paralisação dos ônibus em Florianópolis e em Criciúma que, segundo o AN, atrasou cerca de 180 mil usuários só na Capital. O periódico destacou que motoristas e cobradores já haviam decidido em abril realizar uma paralisação de advertência. Pelo descaso com que os grevistas foram tratados, o jornal justificou que ‘não há o que negociar sem que a Prefeitura cumpra os acordos feitos em fevereiro, quando houve uma modificação do sistema de tarifas dos coletivos’ e apresentou o depoimento do presidente do Sindicato das Empresas de Transportes Coletivos da Grande Florianópolis (Setuf). Valdir Gomes da Silva declarou que: ‘A Prefeitura se comprometeu a encampar a Cotisa, o que não aconteceu até agora’. O AN usou de informações extra-oficiais para constar que houve um acordo realizado no início desse ano. Nele, a Prefeitura se comprometeu a pagar a chamada taxa de utilização (TU) dos terminais de integração. Isso renderia à Cotisa, que administra os terminais, cerca de R$ 400 mil.

Após o acordo que abriu as negociações entre representantes do sindicato da categoria, diretores das empresas e Prefeitura, o periódico alertou que se por um lado houve avanço no que os manifestantes pretendem, por outro, os usuários já devem se precaver com um possível aumento no valor da tarifa de ônibus. Com as matérias ‘Empresários descontentes’, ‘Motoristas e cobradores de Criciúma param hoje’, ‘Ônibus param 10 horas em Criciúma’ e ‘Motoristas do Sul aceitam proposta’, o AN descreveu os últimos lances da greve até a presente data.

Equilíbrio no movimento dos professores

Os professores também reivindicaram seus direitos e o Diário Catarinense noticiou a movimentação no período. As capas de 19 e 20 de maio do DC trouxeram destaques em fotos e manchetes como ‘Professores fecham a BR-101 Sul’ e ‘Prédio da educação vira cárcere’, respectivamente. A colocação das matérias foi descritiva, como no dia 16 em ‘Professores decidem manter paralisação’, no dia 22 com ‘Governo convoca professores’ e ‘Professores protestam em Joinville e Criciúma’, em referência ao desdobramento em outras cidades, no dia 26. Além disso, na edição de domingo 28, o DC destacou na Editorial Geral: ‘Como é a folha de pagamento dos professores no Estado’. Em três páginas, com matérias e infográficos, detalhou a luta dos professores e a movimentação pelos direitos.

No meio do período analisado, o DC destacou o caso das cerca de 400 pessoas que ficaram presas na sede da Secretaria de Educação. O bloqueio, no qual ninguém saiu ou entrou no prédio, foi realizado pelo sindicato dos professores. O jornal, em 20/05, tratou da ‘ação extrema por educadores do estado’ na matéria ‘Professores fazem reféns na capital’. Apesar do enunciado, a matéria descritiva apresentou os argumentos dos professores para a ação.

Já no domingo 21/05, ‘Seis horas como reféns na capital’ trouxe, novamente, o caso no prédio da Secretaria de Educação. Além da parte descritiva, a matéria teve apelo emocional quando relatou que: ‘Mães desesperadas com a situação dos filhos sozinhos em casa ou ainda na escola, pessoas com compromissos marcados, doentes com hora para tomar remédios amontoavam-se pelos corredores e saguões exigindo a liberação das portas’. Sobre os grevistas, o DC registrou a ‘ameaça’ do comando da greve: ‘Os sindicalistas garantem que os atos dos grevistas assumirão um caráter cada vez mais radical e que a responsabilidade em evitá-los passa a ser exclusivamente do governo estadual’. A cobertura, de forma geral, foi equilibrada e evidenciou todos os argumentos e contrapontos para a movimentação.

Das salas de aula para as páginas do AN

O auge sobre a greve do magistério no jornal A Notícia foi nos dias 20 e 21 de maio, quando professores bloquearam um prédio e cerca de 400 funcionários ficaram impedidos de entrar ou sair. Seguindo a mesma linha das outras matérias sobre as greves, o AN não fez nada mais que descrever diariamente cada lance das manifestações, publicando as controvérsias, divergências e tentativas de acordo entre o governo do Estado e o magistério estadual. O periódico publicou diferentes posições e mostrou que os dados apurados provinham de todos os lados. Teve como principais fontes a secretária da Educação, Elisabete Anderle, o secretário da Coordenação e Articulação, Ivo Carminati e os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sinte), em especial o diretor estadual Rossano Sczip.

Para mostrar o andamento da greve em todo o estado, o AN publicou no dia 19/05: ‘Professores fecham a 101’, quando o magistério estadual radicalizou as ações de greve. Em ‘Compasso de espera’ (22/05), a Secretaria da Educação avaliava a necessidade de recorrer à Justiça. ‘PM em colégios irrita professor’ (23/05) trouxe que em Criciúma, a presença da polícia garantiria o acesso de quem queria estudar e trabalhar na rede estadual. No dia 25/05, ‘Mais um dia de protestos em SC’ relatou a saída de professores às ruas em Chapecó, Criciúma e Joinville para mostrar que a paralisação continuava, porém, com a afirmação do governo de que o movimento havia enfraquecido.

Grevistas no Santa

Em geral, as greves ocorridas nesse período foram apresentadas pelo Jornal de Santa Catarina com equilíbrio e bastante descrição, resultado do acompanhamento direto dos fatos. O jornal, porém não explorou o tema no espaço opinativo. Quanto às greves relacionadas à área da educação, o jornal ficou muito restrito aos fatos locais, deixando de lado informações sobre outras greves bastante importantes. O melhor acompanhamento do Santa foi na greve dos auditores fiscais, em Blumenau. Sobre a greve dos motoristas na capital, o jornal não apresentou matéria, uma vez que não circula em Florianópolis.

O espaço dos professores no Santa

A greve do magistério apareceu em apenas duas edições do Jornal de Santa Catarina no período analisado. No dia 17/05, trouxe apenas uma pequena matéria: ‘Governo desconta salário de grevistas’, na editoria de Geral, sobre o desconto de 13 dias na folha de pagamento dos professores que aderiram à greve. A outra matéria foi publicada na edição do fim de semana, 27 e 28/05. Indicada pela chamada de capa ‘Magistério tem terceiro pior piso salarial do país’, o texto trouxe comparativos dos pisos salariais em outros estados e apresentou o box: ‘Greve chega ao 32º dia’. Levando em consideração a repercussão da greve no estado, o Santa destinou pequeno espaço ao acontecimento, o leitor não pôde encontrar muitas informações no pouco material apresentado.

Enquanto isso, em Blumenau…

Em contrapartida, a greve dos servidores públicos na cidade de Blumenau rendeu assunto em várias edições do Jornal de Santa Catarina e foi acompanhada diariamente. No dia 17/05, a manchete ‘Protesto dos servidores afeta creches e hospital’ falou sobre as 24 horas de paralisação nos serviços públicos nas áreas de saúde e educação em Blumenau. O box ‘Fique atento’ informou sobre os serviços atingidos e outro: ‘As propostas’ apresentou os dois lados da questão, as reivindicações dos servidores e o que diz a prefeitura. Na edição do dia seguinte, o Santa trouxe a matéria ‘Serviços voltam, mas devem parar na terça’, acompanhando as negociações, juntamente com o box ‘O que parou’. No dia 22, o jornal publicou entrevista com o escritor James Hunter: ‘O líder servidor ganha a mente do funcionário’, que lançou o livro ‘Como se tornar um líder servido’. No dia 23, o assunto apareceu na capa, com a chamada: ‘Reunião tenta evitar protesto de servidores’, na editoria de política, com as novas propostas ao funcionalismo público. Utilizou novamente um box para as informações complementares, como: quem participa da reunião, as reivindicações, a oferta. Na edição seguinte, outra chamada: ‘Funcionalismo rejeita proposta da prefeitura’, na página 13. Ali, o leitor pôde encontrar o andamento das negociações e os últimos resultados. Nos dias seguintes de análise, o jornal manteve o acompanhamento das negociações e informou sobre as reuniões realizadas.

Auditores param e movimentam Economia do Santa

No dia 15/05, na editoria de Economia, a matéria ‘Contagem regressiva para paralisar o Porto de Itajaí’ já alertava para as conseqüências negativas da greve dos auditores fiscais (Receita Federal, Ibama e Anvisa). Um box ao final da matéria trouxe números relativos à paralisação. Na edição do dia 16/05, a chamada de capa indicou ‘Porto de Itajaí improvisa área de contêineres’, na qual a cartola ‘sistema portuário’ sinalizou a matéria sobre o remanejamento do espaço para estocar os produtos parados no porto, devido à ausência de fiscalização. Na matéria ‘Porto ganha duas semanas de fôlego’, publicada no dia 18, o jornal trouxe um retrospecto da greve que iniciou no dia 02 de maio. No dia 23, o Santa deu a manchete ‘Greve no porto ameaça parar indústria do Vale’. Nesse dia, o jornal apresentou as conseqüências da paralisação no mercado da região e um box sobre a falta das matérias-primas importadas e contêineres parados no Porto de Itajaí. O periódico publicou todas as informações necessárias de forma concisa e dinâmica. O leitor pôde acompanhar os acontecimentos através de matérias bem elaboradas e com conteúdo completo.

Duas décadas no dia-a-dia catarinense

No dia 5 de maio, o Diário Catarinense comemorou 20 anos. O nascimento do jornal foi comparado ao nascimento de duas acadêmicas de jornalismo, um estudante que busca o ingresso na faculdade, um auxiliar de produção e um acadêmico de odontologia. Além disso, a publicação mostrou como é o jornal após duas décadas e ilustrou o caminho da notícia na matéria ’24 horas na vida de um jornal diário’. O bom funcionamento e os prazos da redação foram exemplificados em: ‘A corrida pela notícia’, matéria que detalhou o processo de impressão e distribuição do periódico. O Diário contou também com o depoimento do colunista Cacau Menezes que ‘já tinha coluna antes de o DC circular’.

A sessão opinativa trouxe o artigo: ’20 anos lado a lado’, em que a questão era destacar que o jornalismo feito pelo DC era absolutamente leal para com os cidadãos e em sintonia com a sociedade catarinense. Entre tantos elogios, a seriedade e ao trabalho realizado pelo jornal de Florianópolis foram destaque.

A coluna de Sérgio da Costa Ramos mostrou em ‘O menino cresceu’ – repleto de elogios – que o DC conseguiu reunir os sotaques de cada região, tornando-se ‘o veículo mais estadual de Santa Catarina’.

Cacau Menezes também deixou registrada a data, com a nota ‘brinde’, que divulgou o local e dia da festividade realizada pelo jornal.

Além disso, neste dia o DC veio acompanhado de dois cadernos especiais: O passado e O futuro. O primeiro fez uma retrospectiva em 40 páginas de alguns fatos do estado, do país e do mundo que apareceram nas páginas dos jornais nas últimas duas décadas. Apresentou também, as edições extras já publicadas e a evolução do jornal, mostrando todas as capas. O segundo, mostrou exemplos de possíveis tendências tecnológicas que foram feitas por especialistas e que poderão ser notícia nos próximos 20 anos.

O que não faltou em nenhuma das matérias, notas e artigos distribuídos nas páginas foi a característica de o Diário Catarinense ter sido o primeiro jornal informatizado do Brasil.

Qualidade em pauta

O terceiro grupo de leitores-conselheiros do Diário Catarinense já tomou posse e analisa o jornal. Na edição de domingo, dia 14/05, o DC apresentou os componentes que irão analisar o periódico. Na matéria ‘DC forma novo conselho do leitor’ constava: ‘os novos conselheiros foram escolhidos através dos currículos, de acordo com o perfil do DC, com idades e profissões diversas’. Além disso, um box com as fotos e um pequeno currículo de cada integrante completava a matéria. A terceira renovação do conselho de leitores do jornal é importante diante das mudanças que ocorrem no mundo diariamente. Manter o conselho é um passo importante para a aproximação com os leitores e a busca da qualidade editorial. Nessa renovação, ganham o Diário Catarinense e seus leitores.

Essa mesma renovação ocorreu no ano passado, em 11/11/2005, no Jornal de Santa Catarina. Este Monitor de Mídia publicou nota em sua 80ª Edição.

Pesquisa em equipe

Na edição conjunta do final de semana – 20 e 21/5, o Jornal de Santa Catarina trouxe na capa, uma bela imagem registrada em Bombinhas pelo repórter fotográfico Marcos Porto. Acompanhada de uma linha de apoio, a fotografia indicou as páginas 30 e 31, nas quais o leitor encontrou a matéria ‘Assim começa um dia de Tainha’. A sintonia entre a repórter e o fotógrafo ilustrou de maneira dinâmica as páginas da editoria Geral e reforçou a idéia de que um bom material é fruto do sucesso de um trabalho em equipe.

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Monitor de Mídia