Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Jornalismo apressado e mal apurado

Na Tribuna da Bahia de sexta-feira (2/6) está um exemplo claro de jornalismo irresponsável. Na manchete ‘Quem vai pagar por essa morte?, da matéria ‘Greve leva gari à morte’, o jornal simplesmente sugere – para não dizer que acusa – que os rodoviários são responsáveis pela morte de Élson Uzêda dos Santos em acidente de bicicleta quando se dirigia ao trabalho.

Os rodoviários estão em greve, e os transtornos para a população são inquestionáveis mas, num silogismo simplório e carente de ética, a Tribuna da Bahia meteu os pés pelas mãos, exagerou no tom, perdeu o viés da matéria, que deveria estar baseado em critérios jornalísticos sólidos e, o mais grave, fez sensacionalismo.

Dedo acusador

Porque é sensacionalismo irresponsável e usurpação de uma moralidade profissional jornalística usar como argumentação um silogismo tão tacanho como este: Élson foi de bicicleta ao trabalho porque não tinha ônibus disponível, não há ônibus disponível devido à greve, a greve é de responsabilidade dos rodoviários, logo, os rodoviários são responsáveis pela morte de Élson.

E, para não haver dúvida ou me acusarem de crítica leviana, está aqui um argumento muito plausível que justifica minha indignação, retirado da própria matéria:

‘Olhando para o corpo coberto por folhas de jornal, o pintor Antônio Lázaro, 35, estava muito impressionado com o acidente. Ele não conhecia Élson, mas assim como ele tivera a mesma idéia e por causa da greve dos rodoviários foi trabalhar usando uma bicicleta como meio de transporte. Estava vendo ali o que poderia ter acontecido com ele. Pela intransigência do comando do movimento, usado politicamente, que preferiu se esconder dos oficiais de justiça para não colocar 70% da frota nas ruas, como determinado pelo TRT.’

É ou não acusação descabida? Se um motorista atropelasse um terceiro porque saiu de carro, e não de ônibus, não teria que responder por isso, e sim os rodoviários, pois são eles os culpados por não haver ônibus nas ruas; logo, são culpados por ter sido o cidadão obrigado a sair de carro e provocado um acidente. Com certeza haverá quem defenda a responsabilidade dos rodoviários na morte do gari, mesmo que isso seja incumbência da Justiça – sempre haverá quem se arvore em apontar um dedo acusador impróprio e inoportuno. A Tribuna da Bahia não hesitou em ser o primeiro.

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Estudante de Jornalismo da Ufba, Salvador