Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

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ACESSO À INFORMAÇÃO
Sérgio Matsuura

Abraji considera positiva, mas critica nova lei de acesso à informação

‘A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) considerou ‘positiva’ a iniciativa do Governo Lula de propor uma nova Lei de Acesso à Informação. Segundo matéria publicada no Estadão no último sábado (30/11), o Palácio do Planalto finalizou o texto que será enviado para análise no Congresso.

Entre as principais alterações está a redução de 30 para 25 anos do período que informações classificadas como ultra-secretas podem permanecer em sigilo. Porém, a possibilidade de manutenção de documentos em segredo por tempo indeterminado será mantida.

A fim de evitar a classificação indiscriminada de documentos com o mais alto grau de sigilo (ultra-secreto), a nova lei obrigará os órgãos a explicar detalhadamente as razões de tal classificação para uma comissão composta por sete ministros e coordenada pela Casa Civil. Esse grupo também terá poderes para rever a classificação e avaliar, após o prazo de 25 anos, se o sigilo deve ser mantido ou não.

A nova lei reduz de quatro para três os níveis de sigilo e impede que nos graus mais baixos os prazos sejam prorrogados. Além disso, a cada dois anos todos os documentos sigilosos serão revisados e cada órgão terá que, anualmente, divulgar uma lista com os documentos ultra-secretos com o prazo de sigilo vencido.

Nova lei pode ser ineficaz, diz Abraji

O vice-presidente da Abraji, Fernando Rodrigues, afirmou ser positiva a iniciativa do Governo, mas, ‘os dados até agora divulgados mostram que a lei pode ser ineficaz, pois mantém em seu escopo a possibilidade de sigilo eterno’.

‘Há um argumento do governo segundo o qual certos documentos devem, para o bem do país, ficar em reserva eternamente. Não me parece razoável. Alguns países fazem isso? Fazem. Mas muitos também liberam absolutamente tudo depois de algumas décadas. (…) O ‘sigilo eterno’ é um crime de lesa-história e fará muito mal à imagem do Brasil no exterior’, afirma Rodrigues.

Rodrigues também criticou a formação da comissão. Em sua opinião, a nova lei em nada mudará o cenário atual, já que a lei hoje em vigor mantém uma comissão no âmbito da Casa Civil da Presidência da República.

‘O ideal seria o governo estudar uma fórmula que produzisse um organismo com autonomia para arbitrar sobre casos de impedimento de acesso. Poderia ser uma agência reguladora ou órgão do gênero’, propõe Rodrigues.

O vice-presidente da Abraji também ressaltou a importância de que os funcionários públicos passem por treinamento para melhor prestar informações à sociedade. Em sua opinião, muitos documentos estão inacessíveis não por motivo de sigilo, mas porque estão perdidos. Rodrigues também lembra que o acesso à informação é um ganho de toda a sociedade.

‘Gostaria de ressaltar que o direito de acesso a informações públicas é algo de grande interesse para os jornalistas, mas será útil para toda a população. Nos EUA, menos de 5% dos pedidos são por órgãos da mídia’, conclui Rodrigues.’

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

As revistas vão acabar, 25/11

‘Às vezes acho que devia comentar mais as sensações que tenho. Sobre o que vai ou não acabar com a internet, por exemplo. Há alguns anos, ao conversar com um amigo sobre o velho clichê ‘será que a web vai matar o impresso?’, sentenciei: ‘só quando doer no bolso’. Não sou nenhum Nostradamus; treze anos no mercado de mídia digital foram capazes de me passar uma coisa ou outra por osmose – uma delas é a capacidade de enxergar o óbvio.

Nas últimas semanas, o mercado de Comunicação começou a sentir os efeitos da crise financeira. Sei de pelo menos duas grandes empresas (uma brasileira e outra francesa) que cortaram todos seus veículos internos impressos e os trocaram por versões online – ou ordenaram que fossem criadas, caso ainda não existissem. No reino das bancas, a tradicionalíssima ‘PC Magazine’ dos EUA terá seu último número em papel em janeiro. Daí em diante, apenas no novo site pcmag.com. Por aqui, a Editora Azul descontinuou os títulos Terra, Dom, SKT, Speak Up e Habla. O conteúdo migrará para um portal único.

[‘Descontinuar’ é um termo tão usado hoje, não? Imagine se pega. ‘Estou descontinuando uma relação de dez anos’, dirá um amigo. Ou ‘vou tentar mais uma vez descontinuar meu vício de vinte anos’, referindo-se ao cigarro. Pensando bem, esquece – descontinuemos o assunto].

Como tanta mortandade de veículos, o que poderia desencadear uma guerra civil pelo direito dos impressos acabou por esvair-se no impensável: na maioria casos citados, ninguém perdeu o emprego. Quando houve cortes, foram poucos perto do que poderia se esperar.

No geral, o que mudou no cenário das revistas? Primeiramente, *é claro* que um dia os custos gráficos estratosféricos iam trombar com os valores bem mais em conta do meio digital. Além disso, mudou a percepção de que uma revista ou jornal não produz meio físico, e sim conteúdo, e que conteúdo pode trocar de mídia (agora é online) e manter os talentos (que sempre existiram). Em suma, a mensagem continua a fazer a velha viagem emissor/receptor, mas usando outro caminho.

Meu recado para as agências de Comunicação: comecem a mudar o discurso com os clientes – o que o mercado produz com qualidade é conteúdo, e isso não depende em nada do papel. Proponha uma tiragem impressa mínima para os públicos que, por um motivo ou outro, o meio digital não seja o indicado, e abrace a causa online.

Sou suspeito por fazer esta afirmação de forma tão categórica? Sou, sim. Mas sou consultor, é esta é minha função – dizer a verdade, doa a quem doer.

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ acontece em janeiro no Rio. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

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1. Para quem não conhece meu blog, dê uma checada no http://bruno-rodrigues.blog.uol.com.br.

2. Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em twitter.com/brunorodrigues.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

REFORMA
Milton Coelho da Graça

Jornal chinês vai melhorar desse jeito?, 26/11

‘A maioria dos jornais chineses pertence ao Estado, mas, em um encontro realizado há poucos dias na província de Hubei, convocado para festejar o 30º aniversário da indústria jornalística chinesa, o diretor-geral do Departamento responsável pelos jornais, Wang Guo Qing, anunciou uma profunda ‘reforma’.

Os jornais vão ser divididos em duas grandes categorias: uma formada pelos jornais dedicados à publicação de informações de interesse público e que receberão verbas oficiais; a outra será formada por jornais que deverão criar receitas próprias, ou seja, terão de se virar sozinhos.

Wang explicou que a primeira categoria incluirá os jornais do governo e do Partido Comunista, os editados por minorias étnicas e trabalhadores rurais, bem como os destinados a leitores estrangeiros que serão considerados ‘serviços públicos’. Serão inteiramente financiados pelo governo, que já publica o Diário do Povo e o distribui nas áreas rurais da China. ‘O DP é fundamental para divulgar o trabalho e as políticas do Partido em suas raízes populares.’

‘Já os jornais voltados para o lucro, como os das grandes cidades receberão apoio oficial para melhoria de seus modelos operacionais e transformá-los em negócios’, conforme explicou Tang Xuxun, vice-diretor do Instituto de Pesquisa de Mídia, da Academia de Ciências Sociais.

‘Jornais locais menores serão incentivados a trabalhar em conjunto, de maneira que possam crescer juntos’, disse Wang. ‘Mas’ – acrescentou – ‘todos os jornais estão enfrentando problemas e desafios. Os destinados a prestar serviço público sofrem uma crônica falta de recursos para investimentos, os que buscam o lucro não têm adequadas estratégias de marketing. E todos estão sofrendo forte pressão da mídia digital’.

Em 2003, a China iniciou reformas em oito grupos de jornais. Em 2004, ações das subsidiárias encarregadas da publicidade e da circulação do Diário da Juventude foram lançadas na Bolsa de Hong Kong, mas a área editorial ficou de fora.

Todas essas informações foram obtidas diretamente da imprensa chinesa em inglês – quase uma tradução literal, exatamente para transmitir – sem qualquer viés meu ou de outras almas ocidentais – o papel da imprensa na visão da China oficial.

Cada um tire suas conclusões.

(*) Milton Coelho da Graça, 78, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

‘Equivocidades’: quando zurra a ignorância, 27/11

‘Pelo medo e o terror

foi imposta a conquista

Pelo fio da espada

(Talis Andrade in O Paraíso Destruído)

‘Equivocidades’: quando zurra a ignorância

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, vizinha ao Palácio da Liberdade, onde Aécio não sabe o que é bom pra Minas Gerais nem para si próprio, pois Camilo despachou esta, depois de pesquisar em revistas e jornais:

A propósito das mágicas feitas por Daniel Dantas em favor do tesouro pessoal, o Sebastião Nery publicou na Tribuna da Imprensa, do Hélio Fernandes, único jornalista brasileiro que não muda de opinião (é sempre contra), uma nota digna do Jornal da ImprenÇa:

Não sei qual é o terreiro do Daniel Dantas lá na nossa poderosa Bahia. Mas ele não enlouquece só a Polícia Federal, a Abin, o Ministério Público, que correm atrás de suas múltiplas, transnacionais e biliardárias estripulias. Também seus advogados já começaram a pirar. E em plena TV. No ‘Jornal Nacional’, o posudo doutor Nélio Machado desandou: ‘O processo é um conjunto de equivocidades’ (sic). Seriam ‘equívocos’.

O doutor Eduardo Greenhalgh, velho advogado de Lula, José Dirceu e do crime de Santo André, e hoje lobista de Dantas, não vai falar agora:

‘Só no momento opportunity’ (sic). Queria dizer ‘oportuno’.

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Talis Andrade

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema que encima a coluna. Nas páginas de seu livro Sertões de Dentro e de Fora inspira os versos do poeta o pesadelo abrigado no testemunho de Frei Bartolomé de Las Casas.

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Nosso planeta

O considerado Mário Lúcio Marinho envia outra ‘frase do ano’ que percorre a internet:

‘Fala-se tanto da necessidade de deixar um planeta melhor para os nossos filhos e esquece-se da urgência de deixarmos filhos melhores para o nosso planeta.’

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Falta escrúpulo

O considerado Janio de Freitas escreveu na Folha de S. Paulo:

Na armação do negócio Oi/Telemar-Brasil Telecom-governo Lula, até o mínimo escrúpulo das urdiduras encobertas ou disfarçadas ficou como coisa do passado. Há mais de meio ano, está escancarada a participação do próprio Lula, com o assegurado decreto de alteração das regras impeditivas do negócio.

(…) Co-artífices da operação, o embaixador Ronaldo Sardenberg, presidente da Anatel, e Hélio Costa, ministro das Comunicações, que foi contra o negócio começado às suas costas e, por obra de algum dos milagres comuns nessas transações, de repente tornou-se entusiasta na linha de frente.

Engulo, mas não posso digerir, o voto inútil que fiz a Lula.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que o presidente terá de engolir e, se puder, digerir.

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Título bom

De todos os títulos que anunciaram na imprensa a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, o melhor foi publicado em 21/11 na primeira página do jornal paulistano Diário do Comércio, cuja Redação é dirigida pelo considerado Moisés Rabinovici:

A Caixa não é mais Nossa

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Cheque no microondas

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo varandão debruçado sobre o Congresso e a Esplanada dos Ministérios é possível receber todos os péssimos fluidos desta democracia mais enganosa do que os cabelos louros de Marcelinho Paraíba, pois Roldão repassa mensagem de utilidade pública que percorre a internet:

Sabe aquelas máquinas de preencher cheques, aquelas que você só assina depois de preenchido automaticamente pela máquina, numa ‘cortesia’ do local onde você está pagando? Imagine só, os cheques podem ser apagados em fornos de microondas, sobrando apenas a sua assinatura. Em Santa Catarina ocorreu verdadeiro dilúvio de cheques adulterados em microondas. Com a tinta da máquina apagada no forno, os cheques podem ser preenchidos novamente.

Nos últimos dois meses, uma mesma agência bancária de Florianópolis recebeu 11 cheques adulterados da mesma forma.

‘O preenchimento (na máquina) é feito com toner, que é um pó; este pó é desintegrado dentro do microondas’, diz o perito em falsificações Arnaldo Ferreira. Segundo ele, um cheque de R$ 27,00 emitido em Santa Catarina foi compensado dois meses depois, em Feira de Santana, na Bahia, por R$ 4,2 mil.

O perito recomenda, como precaução, evitar as tais máquinas e usar sempre a caneta para o preenchimento dos cheques.

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Incorreto

Chamadinha na capa do UOL:

Evite roubadas

Conheça cinco dicas para fugir dos caras não valem nada

Janistraquis leu, observou a falta do ‘que’, porém observou mais ainda o tom politicamente incorreto:

‘Considerado, sabemos que, pelas novas regras da sociedade, não existem pessoas ‘que não valem nada’. Há uns escorregões aqui, outros ali, mas a humanidade é boa, todas as almas vão para o céu, não existem pessoas feias, gordas ou velhas e o PT é um partido ético.’

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Pensando em você!

Janistraquis recebeu e encaminhou ao goleiro Fernando Henrique, do Fluminense, famoso porque se benzeu 432 vezes durante os dois tempos de uma partida, sem contar os acréscimos:

Quando Jesus morreu na cruz, Ele estava pensando em você! Se você faz parte dos 7% que O apoiam, encaminhe este e-mail com o titulo 7%.

Confie.

As coisas acontecem na hora certa.

Exatamente quando devem acontecer!

Momentos felizes, louve a Deus.

Momentos difíceis, busque a Deus.

Momentos silenciosos, adore a Deus.

Momentos dolorosos, confie em Deus.

Cada momento, agradeça a Deus.

Isto é muito interessante! 93% das pessoas não encaminharão este e-mail.

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Duas melancias

O considerado Hugo Caldas, professor e tradutor de inglês em Recife, envia de seu escritório com vista para a praia de Boa Viagem:

A Escola Nacional de Magistratura incluiu em seu banco de sentenças despacho pouco comum do juiz Rafael Gonçalves de Paula, da 3ª Vara Criminal da Comarca de Palmas, em Tocantins. A entidade considerou de bom senso a decisão de seu associado, mandando soltar Saul Rodrigues Rocha e Hagamenon Rodrigues Rocha, detidos sob acusação de furtarem duas melancias.

Segundo Caldas (Janistraquis concorda até com a colocação das vírgulas), o despacho do meritíssimo nos devolve um pouco de confiança na Justiça, quase perdida depois de tantas e tantas ‘exarações’ diabólicas de contumazes ladrões-de-toga.

(Leia no Blogstraquis a íntegra do documento.)

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É dá ou dou?!?!

Em anúncio do governo, anúncio que se inventa só pra gastar o dinheiro do povo, escuta-se a voz de uma senhora a perorar:

‘Sem camisinha não dá!’

Janistraquis avaliou a situação e o tom empregado na divulgação do preceito e meteu a colher:

‘Considerado, creio que erraram o tempo do verbo; o certo seria, em minha modesta opinião, ‘sem camisinha não dou’; o amigo concorda?’

Concordo. É procedente.

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Justiça é isso!

A considerada Helenita Gomes, empresária em São Paulo, envia mensagem de seu retiro no Bosque da Saúde:

Vi num noticiário americano da televisão que no estado de Idaho uma adolescente de 16 anos chamada Sarah Marie Johnson matou os pais a tiros e foi condenada a duas sentenças de prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional.

Se fosse aqui neste País de Todos, a criminosa pegaria uns aninhos de cadeia e sairia, jovem, linda e solta, para reclamar na Justiça o direito à herança paterna. Logo me lembrei daquela Suzane von Richstoffen, mandante do assassinato dos pais, que foram executados a pauladas enquanto dormiam. Mas talvez os americanos estejam errados, os certos somos nós…

Pois é, dona Helenita, segundo Janistraquis o Brasil é um país onde a justiça sempre dá uma ‘segunda chance’ aos bandidos mais perigosos. É da nossa tradição, né mesmo? Agora, uma coisa é certa: duas sentenças de prisão perpétua é tremendo exagero; uma só já estava de bom tamanho!

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Nota dez

A coluna recomenda o artigo do considerado Geneton Moraes Neto, intitulado Os jornalistas estão enterrando o jornalismo!, no qual está escrito:

(…) Quem já passou quinze segundos numa redação é perfeitamente capaz de identificar os coveiros do jornalismo: são burocratas entediados e pretensiosos que vivem erguendo barreiras para impedir que histórias interessantes cheguem ao conhecimento do público. Ou então queimam neurônios tentando descobrir qual é a maneira menos atraente, mais fria e mais burocrática de transmitir ao público algo que, na essência, pode ser espetacular e surpreendente: a Grande Marcha dos Fatos.

O texto do autor, que todos conhecemos das entrevistas no Fantástico, foi publicado no site dele (www.geneton.com.br) e transcrito aqui neste portal.

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Errei, sim!

‘É DE ENLOUQUECER!!! – Revelação surpreendente do caderno Negócio e Finanças, do Jornal do Brasil: São Paulo é a 3ª cidade sueca. Janistraquis conformou-se: ‘É, considerado… eu pensava que a terceira cidade sueca fosse Malmöe, mas é São Paulo, diz o sempre bem informado JB’. Estatelou-se, pensativo, e dali a instantes tresvariou: ‘Qual será então a quarta cidade sueca? Rio, Belo Horizonte…’. É mesmo de enlouquecer!!!’ (agosto de 1991)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

NOVA ESCOLA
Eduardo Ribeiro

Uma revista de educação com um milhão de exemplares, 26/11

‘É realmente difícil acreditar que o Brasil, país de poucos leitores e com uma sociedade abaixo do razoável no que diz respeito à alfabetização, pudesse ter um dia uma revista focada em educação com tiragem significativa. Pois essa revista não só existe como a tiragem elevada que ela já ostentava há bom tempo acaba de romper a barreira de um milhão de exemplares, número só superado, em termos absolutos, por Veja, que é a maior revista do País.

Trata-se da Nova Escola, produzida pela Fundação Victor Civita, que é o braço educacional do mesmo Grupo Abril que também edita Veja.

Com essa tiragem, Nova Escola pode ser apontada como a maior revista mensal do Brasil e possivelmente da própria América Latina. Melhor ainda ser uma revista de educação dirigida a professores e educadores e pertencer a uma empresa com a tradição da Abril.

Ela é realmente um fenômeno editorial para os padrões brasileiros, prova maior de que um produto de qualidade tem sempre lugar no mercado, sobretudo se for bem planejado e construído de forma inteligente como negócio, como é o caso da Nova Escola.

Já com vários anos de vida e muitos prêmios na galeria, a revista chega a essa marca espetacular, com a edição de novembro, que traz na capa o tema Educação Infantil, graças aos três azeitados canais de distribuição que estruturou ao longo de sua história: vendas avulsas, assinaturas individuais e pacotes de assinaturas (lotes que são vendidos para entidades, principalmente secretarias municipais e estaduais de Educação, além do Ministério da Educação).

O maior salto foi no pacote de assinaturas, que estava com pouco mais de 224 mil exemplares em dezembro de 2007 e chegou em novembro de 2008 a 574 mil exemplares.

Segundo o diretor de Redação da revista, Gabriel Pillar Grossi, ‘o fato nos motiva a produzir reportagens, textos, artigos e sugestões de atividades cada vez mais afinadas com o que há de mais moderno na Educação – sem perder um pé na nossa (difícil) realidade’.

A revista custa módicos R$ 2,90.

Parabéns a toda a equipe que está na linha de frente e também nos bastidores dessa importante publicação. Quem quiser dar uma conferida na edição online é só entrar no www.novaescola.com.br ou www.revistaescola.abril.com.br.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

SANTA CATARINA
Antonio Brasil

Cobertura da tragédia na TV foi um desastre!, 1/12

‘Se você acha que jornalismo na TV é show de imagens, profusão de lágrimas e excesso de perguntas ridículas então a cobertura das enchentes em Santa Catarina pela TV foi um sucesso.

Mas se você acredita que jornalismo de verdade, mesmo na TV, deveria investigar o que realmente aconteceu, a extensão e causas da tragédia, então a cobertura em Santa Catarina foi um… desastre.

Um fantástico show de pieguices, redundâncias e improvisações com pouquíssimas informações, nenhuma investigação e ainda menos contextualização.

Jornalismo na TV ou em qualquer lugar tem que ter boas imagens e emoção. Nada contra. Mas também tem que ter o mínimo de conteúdo. Afinal, telejornalismo é prestação de serviço obrigatório em concessão pública.

No entanto, o que fica evidente é que para as nossas redes de TV ‘tragédia’ significa antes de tudo ‘oportunidade’ para aumentar a audiência e investir na própria imagem.

E dá-lhe excesso de matérias que dizem pouco e não explicam nada. O verdadeiro objetivo é comover o público e ajudar a inverter a longa tendência de queda de audiência dos telejornais.

Além da pieguice da cobertura, surge uma tremenda oportunidade comercial para essas emissoras: campanhas autopromocionais de ajuda duvidosa às vítimas das tragédias, mas que fortalecem a imagem e os interesses das emissoras.

Campanhas filantrópicas?

Este domingo, o show de pieguices na TV ultrapassou todos os limites do bom senso. Foi um excesso de lágrimas e pouquíssimas cobranças. Confesso que em muitos anos de TV não havia visto tanta bobagem e tão pouca informação em uma tragédia tão recorrente e previsível. Pobre Santa Catarina!

Já em 1984 cobria enchentes no Vale do Itajaí para agências internacionais de notícias. Repeti a dose diversas vezes. Pelo jeito, nada mudou. A pergunta dos meus editores continua relevante: por que vocês não fazem alguma coisa para evitar as próximas enchentes?

Mas pelo jeito, parece que esse tipo de pergunta não é importante. Pelo menos, não para a nossa TV. Frente às lágrimas dos sobreviventes, cidades alagadas e muitas casas destruídas, o jornalismo de verdade, pelo menos na TV, não tem vez.

Diretores na rua

Neste último domingo, teve de ‘quase’ tudo na cobertura da tragédia em Santa Catarina pelas nossas TVs.

Na Record, a campanha ‘Reconstruindo Santa Catarina’ ou seria ‘Reconstruindo a Record’, ficou parecendo muito com o famigerado formato dos programas evangélicos da emissora.

Artistas e apresentadores foram convidados a fazer figuração ao vivo no lançamento da campanha. Uma das cenas mais patéticas da nossa TV. Todos em pé no fundo do palco, cada um ao lado do outro, sem saber bem muito bem o que dizer ou fazer. A improvisação e o constrangimento eram evidentes.

Enquanto isso, o mestre de cerimônia do programa, o repórter Brito Júnior, a todo instante fazia questão de elogiar a iniciativa da rede Record: arrecadar fundos para reconstruir casas em Santa Catarina.

Ele também aproveitava a ocasião para destacar a qualidade das reportagens dos colegas de emissora. Um show de matérias lacrimogêneas que não diziam muito, mas que conseguiam seu principal objetivo: emocionar o público e garantir doações e fortalecer a imagem da emissora.

Mas o ponto alto da cobertura foram os diretores da emissora caminhando pelas ruas devastadas de Blumenau. Todos vestindo ternos escuros, ‘men in black’, homens de preto ou seriam pastores evangélicos, ouvindo as reclamações dos moradores, se reunindo com os políticos locais e garantindo ao público soluções milagrosas.

Sinceramente, foi algo inusitado na TV brasileira. Não me lembro jamais de ver diretores de emissoras de TV fazendo esse papel. Sinal dos tempos ou de desespero. Ainda não estou certo.

Doação de salários

A Record fez questão de mobilizar seus melhores jornalistas para entrevistar ou ‘levantar a bola’ para seus próprios diretores em pleno cenário da tragédia catarinense.

Isso certamente demonstra que não há mais limites para as nossas TVs. Por um punhado de Ibopes, fazemos qualquer negócio.

Mas o momento mais singular ou patético foi a declaração ou ‘cobrança’ ao vivo do repórter Brito Junior aos apresentadores da emissora presentes no palco da campanha.

Ele se dirige ao público telespectador para informar que naquele momento todos os apresentadores da Record teriam decidido dar o exemplo e abrir mão de dez, vinte, trinta ou até mesmo cem por cento de seus salários para ajudar as vitimas das enchentes em Santa Catarina. Corte rápido para a cara de surpresa do jornalista Paulo Henrique Amorim. Valeu a pena ter assistido a tantas bobagens para testemunhar esse momento de solidariedade surpreendente ou ‘forçada’. Acho que o PHA não entendeu muito bem ou não gostou da brincadeira. Tanto faz!

Mas teve mais. O mesmo Paulo Henrique Amorim não perderia a oportunidade para promover o jornalismo solidário: ‘Não é porque a reportagem é minha, mas eu gostaria de chamar atenção dos telespectadores’.

Corte rápido para mais comerciais e mais doações.

Artistas ao vivo e ‘ouro’ para o Brasil

No outro extremo, a TV Cultura de São Paulo também embarcou na cobertura e na promoção da tragédia com campanhas de ajuda. Meio às pressas, organizou show ao vivo diretamente do auditório do Ibirapuera com muitos artistas, em sua maioria grandes desconhecidos. Foi outro show de pieguice e improvisação na TV.

Vários apresentadores da emissora compareceram ao palco improvisado e obviamente não sabiam o que dizer ou fazer. Não foi boa televisão, mas acho que valeu a intenção. Pelo menos, não prometeram doar os salários dos funcionários da emissora.

Aqui entre nós, tenho minhas dúvidas sobre a eficácia dessas campanhas filantrópicas na TV. Fazem grandes promoções, enormes promessas e dificilmente divulgam seus resultados.

TV é muito boa para mobilizar o público. Mas odeia prestar contas de seus atos ou de suas campanhas.

E como recordar é viver, seria bom lembrar uma das primeiras campanhas na TV: Ouro para o bem do Brasil. Lembram? Foi nos primeiros anos da ditadura. Assisti ao vivo pela TV. Milhares de brasileiros foram aos postos de arrecadação das Associadas levando suas alianças de ouro com o objetivo de salvar o Brasil da falência. Pobres brasileiros. Já naquela época, a TV mostrava sua força e sua farsa.

O Brasil continuou o mesmo. O ouro para o bem do país provavelmente sumiu. E a nossa TV jamais prestou contas do dinheiro arrecadado com tanta boa vontade.

Então, por que não promover um novo show ao vivo com artistas conhecidos e desconhecidos para demonstrar ao público como foi gasto todo o dinheiro arrecadado para as vítimas de Santa Catarina?

Pode não dar bom Ibope, mas garantiria mais transparência, honestidade e engajamento do público em futuras campanhas. Foi só uma sugestão.

Jornalistas bombeiros e pára-quedistas!

Afinal, o desastre de Santa Catarina sempre foi ‘previsível’ – eu mesmo já cobri várias outras inundações no Vale do Itajaí – e outros desastres com certeza virão.

Em vez de investir em campanhas de solidariedade, talvez devêssemos investir no treinamento de profissionais para cobrir desastres e fazer um jornalismo de TV melhor. Um jornalismo que busque as causas dos desastres e que exija medidas concretas para evitá-los no futuro. Pode não dar tanto Ibope, mas pode salvar muitas vidas.

Nunca entendi por que as emissoras de TV não investem em treinamento para a cobertura de desastres. Não sabemos quando, mas eles sempre acontecem. E eles são muito importantes para a cobertura jornalística. Não podemos viver eternamente acreditando em improvisações, amadorismos ou jeitinhos de última hora. Se bombeiros fossem jornalistas, todos os incêndios ou inundações também seriam um desastre. Bombeiros ou profissionais que vivem de tragédias se preparam para as surpresas da natureza, das irresponsabilidades políticas ou da crescente especulação imobiliária.

Tragédias ou desastres são o grande momento de qualquer tipo de jornalismo. Ainda mais na TV. Não podem ser previstos ou planejados, mas a cobertura dessas tragédias pode ser preparada, equipes podem ser treinadas e os resultados finais podem ser avaliados. Temos que aprender a cometer erros novos.

No Fantástico, a cobertura não foi muito diferente das competidoras. Muitas lágrimas, imagens dramáticas, pés na lama e pouquíssimas informações relevantes.

Mas o mais ‘patético’ foi levar a bela apresentadora do Fantástico, Patrícia Poeta, para os confins do desastre catarinense. Pobre apresentadora. A falta de jeito e experiência era evidente. Afinal, não se faz um repórter de verdade, que cubra tragédias de uma hora para outra. Além disso, a beleza e a fama muitas vezes atrapalham. Bom jornalismo não se improvisa.

Também considero essa prática jornalística um certo desrespeito com os profissionais mais dedicados, experientes, porém menos famosos. Eles ficam ‘ralando’ durante dias para garantir uma boa cobertura, e nos grandes momentos, nas principais reportagens, nas melhores chamadas são substituídos pelos jornalistas ou apresentadores pára-quedistas. Triste vida do repórter de verdade.

Pois o ponto alto da cobertura da tragédia em Santa Catarina no Fantástico deste domingo, com direito à chamada retumbante na Internet foi: ‘Patrícia Poeta passa madrugada em abrigo em Ilhota(SC)’. Pasmem! Ver aqui.

Destaque para algumas das melhores e mais relevantes perguntas da toda a cobertura de TV da tragédia em Santa Catarina: Patrícia Poeta: Qual vai ser o dia mais triste, o momento mais triste que você vai lembrar?

Impressionante. Mas não foi só isso. Teve mais.

Na penumbra do abrigo, altas horas, a apresentadora do Fantástico ainda esbanjava elegância e beleza com seus cabelos longos, soltos, bem cuidados e penteados e com muita, muita maquiagem no rosto. Ela estava bem preparada para enfrentar as agruras de uma longa noite no abrigo. Ao fundo, mulher sentada com ar de tristeza e resignação aguardava o desastre. Cenário perfeito para a pergunta definitiva:

Patrícia Poeta: Simone, você está na fila do banheiro?

Corte rápido para os comerciais e para mais pedidos de doações.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

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