Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Mario Vitor Santos

‘Um dos poucos materiais próprios da TV iG em jornalismo é o ‘Giro Último Segundo’, que é um resumo das notícias do dia. O boletim, até algumas semanas atrás, podia ser visto às 17 horas. Nos últimos dias, porém, tem sido colocado no ar às 19h. Surpreendentemente, o de ontem só foi tornado acessível ao internauta às 11h35. De hoje!

Se há uma proposta de levar resumo das notícias do jornalismo do iG para o formato de vídeo, alguns parâmetros precisam ser revistos e melhorados. Um boletim diário de apenas quatro minutos é suficiente para resumir 24 horas de notícias, no volume em que elas chegam na internet?

O horário de fechamento das edições é no meio da tarde (às 15h). Não seria o caso de criar mais edições diárias para que os fatos ocorridos depois desse horário também façam parte dos boletins? Do contrário, são jogados para o dia seguinte, tornando o boletim sempre velho.

Há uma exclusividade quase total de vídeos vindos de agências. Poucas são as reportagens próprias do iG, com vídeo na rua. Não seria o caso de tentar avançar nesse sentido, produzindo reportagens do iG, pautadas sobre assuntos quentes?

A proposta do Giro Último Segundo, que tem um enorme potencial, ainda é fraca, porém, ainda transmite sensação de amadorismo e parece cada vez mais desatualizada.

12/12

A morte de Marcelo Silva: caso de polícia ou de fofoca?

Como não poderia deixar de ser, recebeu imenso destaque a notícia da morte de Marcelo Silva, ex-marido da atriz Suzana Vieira. As circunstâncias estranhas da morte e a visibilidade que o ex-PM havia obtido nos sites de celebridades fizeram com que a notícia fosse publicada tanto em reportagens do jornalístico Último Segundo no Rio, como em notas do Babado, voltado para as celebridades.

A morte de Silva levanta a questão do que pode ser considerado material adequado para o jornalismo policial ou para o jornalismo de celebridades. Por enquanto, nada foi esclarecido a respeito do caso, mas o inquérito atrai grande atenção, por associar drogas, corrupção policial e uma morte estranha.

Cabe ao iG acompanhar o assunto com critério, indo além do jornalismo de tablóide, a exemplo do que faz nesta reportagem.

11/12

O iG e a série sobre adoção

Excelente a série de reportagens sobre adoção de crianças que o iG vem publicando ao longo desta semana. Pauta perfeita, mostra preocupação com o lado humano dos fatos. Um testemunho pungente da dureza da situação social brasileira, mas também uma demonstração tocante do espírito público e da dedicação dos servidores responsáveis pela avaliação, aconselhamento e julgamento dos casos de adoção.

Quanto à edição, mais uma vez, está faltando identificar o tema adequadamente na capa, mostrar que se trata de uma série, usar expedientes gráficos que expressem a importância do tema. Falta mostrar adequadamente o peso da opção e do investimento editorial do iG ao fazer essa série, o que implica o compromisso profundo com certos valores que o portal deseja compartilhar com os leitores.

Talvez seja a iniciativa jornalística mais importante que o iG realiza neste ano. Deve ser apresentada aos leitores com o destaque e a unidade que o tema exige. Esses especiais merecem planejamento e divulgação prévia de modo a gerar a leitura e o impacto. Assim eles poderão ter mais repercussão, debate e provocar mudanças.

10/12

Velha notícia na velha mídia é nova notícia na nova mídia

O destaque dado na capa iG ao longo do dia à conferência do mega investidor de mídia Rupert Murdoch expressa uma contradição. Murdoch elogia os blogueiros e a cultura da internet, só que o iG baseia-se na velha mídia. O jornal Folha de S.Paulo estampou o assunto em duas páginas da edição de hoje e o iG extraiu dela informações, que já estavam diponíveis na própria internet. O tema já é até velho e foi discutido em blog do Tiago Dória http://www.tiagodoria.ig.com.br/2008/11/17/do-papel-a-marcas/ no próprio iG no dia 17 de novembro e até teve uma frase de Murdoch publicada no espaço abre o blog deste Ombudsman, no dia 21 de novembro:

‘A forma de entregar informações pode mudar, mas a audiência potencial para o conteúdo se multiplicará’

A chamada nova mídia depende da velha, como lembrou recentemente também Ricardo Gandour:

‘Se os jornais impressos fechassem amanhã, os sites e blogs da web ficariam sem notícias para comentar’

Neste caso, bastou que um jornal importante desse destaque a um assunto velho para que o iG o considerasse novo.

10/12

Talebãs do mercado

Recebi a seguinte mensagem do jornalista Irineu Franco Perpétuo sobre o post publicado aqui ontem:

‘Estava mesmo faltando alguém colocar o dedo na ferida e apontar o papel da mão mais do que visível da mídia, senão na construção, ao menos na legitimação social da mão invisível do mercado supostamente auto-regulado como panacéia para todos os males…

Você falou o essencial: nesse tipo de assunto, nossa mídia, é, sim, uma das menos pluralistas do mundo. Em países em que se vive o que se convencionou a chamar de Estado de Direito, ou democracia liberal, talvez seja a menos pluralista. Aloysio Biondi morreu pregando solitário, um outsider – que, por sinal, havia alertado várias vezes para o fato de os EUA serem a ‘bola da vez’ (um resgate dos artigos e análises do velho Biondi, disponível em um site criado em sua memória, seria muito útil para o debate hoje). Nossa mídia, quando se fala disso, faz lembrar a mídia do Irã, quando o assunto é religião; a da China, quando o tema é política; ou a de Cuba, quando a pauta são os EUA. Temos um discurso monocórdio e uniforme. Na nossa mídia, o tal ‘Consenso de Washington’ continua a ser consenso, sem aspas; e o tal do ‘pensamento único’ ainda impera.

Exemplo: há umas duas semanas, teve um operador que se deu um tiro no pregão da bolsa, em SP. Ninguém mais falou nada. Por que a tentativa espetacular de suicídio foi abafada? Será que a mídia que foi tão sensacionalista com os Nardoni e Richthofen da vida resolveu, subitamente, descobrir-se avessa ao sensacionalismo? Ou será que a pauta era ideologicamente perigosa?

No Financial Times, o Martin Wolf, respeitado colunista de recorte ideológico liberal, fez o mea culpa, citou Keynes, etc. Aqui, os jornalistas ‘especializados’ continuam a preconizar a cartilha liberal ortodoxa que já foi abandonada nos países centrais. Nossos talebãs do neoliberalismo não só se recusam a qualquer tipo de revisionismo, como ainda fazem de conta que a crise não é com eles…’

09/12

A mídia como religião

Na cobertura das medidas para combater a hecatombe econômica que arrasta a economia mundial para o abismo, surgiram as autocríticas de economistas conservadores que admitiram ter feito tudo de errado desde a radical liberalização dos mercados nas décadas de 90 e 2000. Já admitiram erros o czar do Banco Central americano Alan Greespan e até, em artigo recente para o ‘Le Monde’, Francis Fukuyama. Ronald Reagan e Margaret Thatcher, heróis da queda do muro de Berlim, têm sido agora acusados do que antes era sua grande criação: a pajelança do estado mínimo, regulação zero, autonomia absoluta às propostas criativas dos gestores de fundos, banqueiros e especuladores, com suas carteiras de enorme rentabilidade amparadas por ‘agências classificadoras de risco’.

Toda essa religião do mercado divinal promovida por apóstolos angelicais, os cruzados purificadores do mal estatista, ruiu escandalosamente agora, quando a falência sucessiva dos bancos, de investimentos, bancos hipotecários, redes de varejo, bancos comerciais, fundos de pensão e montadoras obrigou – a partir do exemplo inglês – à maior intervenção do Estado na história. Trilhões de dólares são injetados diretamente pelos governos nas empresas, cujos executivos lesavam seus acionistas e investidores com base em expectativas maquiadas. O investimento é direto, uma estatização sem máscaras, sem qualquer paralelo em eventos anteriores, a não ser as estatizações das revoluções comunistas.

O que falta agora é avaliar o papel que os meios de comunicação tiveram e têm na criação desse ambiente de farra privada. Foi da usina dos editoriais e articulistas econômicos que surgiram as condições para que o fenômeno se desenvolvesse com tanta radicalidade. Nos Estados Unidos, com taxas de juros baixas e alto investimento estatal para segurar os empregos, todos, até a direita republicana, escaldada pela derrota humilhante, parecem ter recuado de suas posições ultra-conservadoras. No Brasil, com o desastre iminente, os arautos de cá continuam na mesma posição totalitária, na defesa aferrada das posições mais inviáveis que apontam para o abismo. É uma atitude autista, um estado de negação, que mostra como a mídia brasileira consegue no essencial agir em conjunto, sendo talvez a menos pluralista do mundo.

E o pior é que se recusam a admitir para o Brasil o que elogiam no mundo: baixas taxas de juros, aumento do gasto estatal, intervenção urgente e direta, medidas para evitar a depressão e o desemprego. O Brasil está submetido às loucuras de uma seita de economistas fervorosos. Agora, porém, é a mídia que tem que examinar sua responsabilidade ao longo de décadas para a criação do ambiente de medo e de presença do pecado, para que os profetas do mercado harmonizador agissem e ajam de maneira tão livre e siderada diante das gravíssimas conseqüências que o país já está sofrendo.’