O grande feito dos cadernos de esporte da segunda-feira (5/6) foi a capa do Globo (abaixo).
Com todas as letras, que o contraste fundo/cor da fonte não é bom, não: ‘O menino da BOLHA – Estrelando: Ronaldo Fenômeno – Participação especial: Chuteira Nike Mercurial Vapor III’.
Mico do século para um fabricante de material esportivo. Nas palavras de Juca Kfouri, o maior caso de antimarketing da história do futebol. Na ESPN Brasil não espanta, que os caras são ‘subversivos’ mesmo, graças aos deuses da bola, mas o Globo sapateando em anunciante? Roberto Marinho deu voltas no túmulo!
E justamente no ano em que a Nike capta a essência do futebol, coisa rara para uma empresa americana, e lança em todo o mundo a mais linda campanha promocional da história do esporte, a ‘Joga bonito‘– a da Adidas nem chega perto. É um site emperequetado demais, mas quando aparecer a imagem de Robinho basta clicar no vídeo do ex-atacante francês Eric Cantona ‘para dar início à cadeia’ (leia-se ‘corrente’): malabaristas da bola do mundo inteiro enviaram seus vídeos – na terça-feira às 18h a contagem estava em 292.842 – que a Nike está unindo para montar o maior vídeo de futebol do planeta. Tudo a partir dos filmes apresentados por Cantona (disponíveis na coluna da direita, para quem não viu na TV): parte da seleção brasileira no vestiário, Ronaldinho Gaúcho no futsal, Thierry Henry na rua, Wayne Rooney no treino e outros. O maior show do planeta.
‘Um pouco apertada’
Show impressionante a ponto de inspirar um título inusitado ao caderno de esportes do New York Times de domingo (4/6), que os jornais do Brasil destacaram: ‘Most bonito‘ (o mais bonito, em línguas misturadas), ode ao futebol brasileiro. Um trecho da matéria, quase um ensaio, cujo autor, John Carlin, do El País, escreveu entre outros livros Anjos brancos: Beckham, Real Madri e o novo futebol:
‘Todo torcedor neutro que acompanhar neste mês a Copa do Mundo vai querer a vitória do Brasil, e todo amante de futebol com seleção no torneio terá o Brasil como segundo time. O futebol é a maior religião do mundo, transpondo raça, fé, geografia, ideologia e gênero como nenhum outro fenômeno global. O Brasil é o templo favorito da religião.’
Será que desta vez os adoradores de estranhos formatos de bola entendem? Voltando às bolhas:
‘`É uma chuteira nova. Acho que veio com uma costura que não tinha´, disse o atacante, sentado no banco de reservas durante o segundo tempo [de Brasil 4 x 0 Nova Zelândia]. `O modelo é o mesmo que ele vinha usando, mas um par novo. Ele reclamou que estava um pouco apertada. Por isso, pegamos em Madri a chuteira que ele vinha usando´, disse o gerente de comunicação da Nike, Ingo Ostrovsky, acrescentando que as chuteiras chegaram na quinta-feira, 31/5.’ (O Globo, 5/6)
O resto é confete
Que saia justa… No Linha de Passe de terça-feira (ESPN Brasil , 6/6) não faltou a gozação: ‘Antigamente a seleção levava sapateiro para cuidar de chuteira’, disse José Trajano. ‘Agora leva assessor de imprensa de multinacional’, completou Paulo Vinicius Coelho. Pois ESPNb na rua e Sportv no estúdio entrevistaram Ingo Ostrovsky. Como se assessor de imprensa da multinacional esportiva pudesse dizer uma palavra de verdade num caso desses…
O Sportv deve ter recebido notícia má do ibope sobre o Linha de Passe diário – e ao vivo – da ESPNb. Além dos numerosos programas que transmite (treino da seleção de madrugada e de manhã, Redação Sportv, Arena Sportv, Tá na Área, Papo da Copa etc. etc.) estreou no dia 7 um Seleção Sportv. O que mais terá a rapaziada a dizer? O treino da manhã já passou a ser ancorado do estúdio no Rio…
O Linha de Passe começa às 20h de Brasília (1 da manhã em Bad Soden, Alemanha) e só termina às 21h30 (2h30 lá). ‘Acordamos no horário da Alemanha e dormimos no horário do Brasil’, comentou Paulo Vinicius Coelho. Na segunda-feira (5) o programa abriu debate instigante sobre a vaga certa que teriam no ataque brasileiro jogadores como Eto´o (Barcelona), Shevchenko (ex-Milan, futuro Chelsea) e Thierry Henry (Arsenal), ‘no momento, melhores do que Ronaldo e Adriano’.
Isso é polêmica, o resto é confete. E vão se revezar na mesa Tostão, Fernando Calazans, Márcio Guedes, Juca Kfouri, José Trajano, que na noite de segunda fez discurso veemente contra o clima ‘pacheco’ da mídia em torno da seleção. Até agora, é o melhor programa, mas o Papo na Copa, com Armando Nogueira, chega junto: os causos do velho repórter sobre as copas do passado não têm preço.