Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mais uma luz sobre o Holocausto

O tema do Holocausto parece interminável. Explorado incansavelmente pelo cinema e por sobreviventes e estudiosos das atrocidades nazistas, o passado da Alemanha volta e meia está sendo revolvido. Um novo livro ajuda a desfiar o novelo desse passado. Tu carregas meu nome, de Norbert e Stephan Lebert, lança novas luzes sobre o obscurantismo nazista. Em 1959, Norbert Lebert, jornalista alemão, escreveu uma série de reportagens sobre os filhos dos mais proeminentes líderes nazistas: Rudolph Hess, Martin Bormann, Hermann Göring, Heinrich Himmler, Baldur von Shirach e Hans Frank.

Os herdeiros eram então jovens em processo de adaptação à nova realidade da Alemanha do pós-guerra. Wolf-Rüdiger Hess, Martin Bormann (filho), Gudrun Himmler, Edda Göring, Niklas Frank e os irmãos Robert, Klaus e Richard von Shirach carregavam os sobrenomes que os perseguiriam durante toda a vida. No caso de alguns desses herdeiros, o histórico criminoso dos pais foi rigidamente repelido, como Niklas Frank, que chegou a escrever um livro destruindo a figura de Hans Frank, o pai. Outros viveram tentando defender e honrar o passado nazista paterno, como Gudrun Himmler. Mas nenhum deles foi capaz de vencer plenamente o desafio de carregar no nome o fardo de uma herança criminosa.

Quarenta anos depois, a matéria original de Norbert Lebert é retomada por seu filho, o também jornalista Stephan Lebert, atualmente editor no Berliner Tagesspiegel, jornal de Berlim. Stephan procura atualizar o trabalho paterno, entrevistando de novo os filhos dos líderes nazistas, agora pessoas idosas beirando ou ultrapassando os 70 anos, na maioria dos casos.

No livro, ele fornece um testemunho do trabalho do pai ao preparar a primeira reportagem: ‘Posso imaginar muito bem como o meu próprio pai escreveu este texto há quarenta anos. Ele costumava batucar em sua máquina de escrever como uma ave de rapina que avança sobre sua presa’. Mais adiante fala do ofício do pai: ‘Meu pai era um jornalista apaixonado, como se costuma dizer. Trabalhou até os últimos dias de vida, no inverno de 1993, mesmo com o balão de oxigênio ao lado da sua mesa’.

O texto final reunindo os trabalhos de pai e filho resultou numa reportagem que mereceu do historiador Eric Hobsbawm a avaliação de ‘fascinante’. De estilo enxuto e objetivo, o livro pode ser lido como um eletrizante capítulo sobre as ações do Terceiro Reich, leitura que se faz num só fôlego, com a respiração suspensa até o último capítulo.

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Estudante de Jornalismo da Universidade Tiradentes (SE) e editor do Balaio de Notícias