Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Banda larga alavanca
os lucros da Net


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


************


Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de outubro de 2006


INTERNET
Denyse Godoy


Internet por banda larga impulsiona o lucro da Net


‘A Net Serviços obteve lucro líquido de R$ 24,6 milhões no terceiro trimestre deste ano, depois de perdas de R$ 20,6 milhões no mesmo período de 2005. No acumulado de 2006, o lucro chega a R$ 53,5 milhões, contra prejuízo de R$ 5,2 milhões registrado nos nove primeiros meses do ano passado.


A internet por banda larga teve o maior crescimento e também impulsionou as vendas de TV por assinatura, notadamente entre o público mais jovem.


‘O público de mais idade tem um consumo primário de TV. Já para os mais jovens, a aderência é à banda larga, e a TV passa a ser um atributo adicional’, explicou Francisco Valim, presidente da empresa.


De julho a setembro deste ano, a receita líquida da empresa foi de R$ 500,7 milhões, com aumento de 22,1% em relação ao mesmo período de 2005.


A base de assinantes da Net cresceu em todos os serviços prestados -TV a cabo, internet banda larga (Vírtua) e telefonia (Net Fone via Embratel).


Mas o maior crescimento foi na banda larga: a base de assinantes do Vírtua subiu para 630,2 mil, o que representa elevação de 108,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram feitas 151,2 mil vendas brutas, com alta de 95,6%.


Em setembro, segundo a pesquisa Ibope NetRatings, o número de usuários ativos de internet residencial atingiu 13,6 milhões de pessoas, número 14% maior do que no mesmo período de 2005. ‘Obviamente, é nesse mercado que estamos focando nossos esforços. A banda larga também alavanca o serviço de voz. Essa é uma oportunidade’, afirmou Valim.


No segmento de TV por assinatura, houve aumento de 15,5% na base de assinantes, que passou de 1,498 milhão no terceiro trimestre de 2005 para 1,730 milhão no mesmo período de 2006. A empresa prevê investir R$ 350 milhões em 2007 para conquistar clientes.’


ELEIÇÕES 2006
Janio de Freitas


Além da imaginação


‘A SENSAÇÃO É a da última semana antes do fim das aulas, previsto sempre, naquele tempo, para o 5 de dezembro. Ansiedade e alívio em doses equilibradas. Faltam só os dias finais desta semana e, uff, acaba-se a lengalenga, imitação barata do que já foi chamado de festa da democracia. Pelo que posso perceber nos textos de jornais, mesmo os dos melhores autores, e nas conversas compartilhadas ou entreouvidas, mesmo as mais vivas, estamos todos exaustos. O primeiro turno pareceu a mais maçante das campanhas eleitorais que cada um de nós tenha testemunhado. Estamos desculpados: não podíamos supor o segundo turno que nos preparavam.


Mas ainda há tempo de lamentarmos, com Alckmin, que ‘Lula tenha dividido o país em ricos e pobres’. Éramos todos tão unidos, pobres e ricos tão fraternos e iguais na vida e nos sonhos, os ricos tão à vontade nos Jardins como na periferia, os pobres tão bem-aceitos nos prédios de Ipanema como nas favelas. Aqui ou ali, era só questão de preferência de uns e outros.


E Lula terá tempo ainda, em mais um debate, de produzir outras dúzias das cifras e porcentos que ninguém tem como verificar ou comparar. E que nada significam, porque importante, em qualquer governo, é a relação entre o que poderia ser feito e o que foi feito efetivamente – e nisso Lula e o seu governo desabam.


Mais um debate? Poderiam ao menos, na TV, pensar em uma forma de fugir à discussão inútil, esse duplo vale-tudo de chutes nos dados da realidade e no adversário. Como estão feitos esses debates sem debate, o eleitor não os aproveita em nada. Um discutidor nem precisaria perguntar, porque já se sabe o que dirá, e o outro não precisaria responder, pelo mesmo motivo.’


Marcos Nobre


Dura de matar


‘JORGE BORNHAUSEN disse que ia se ver livre ‘dessa raça’ nas eleições de 2006, referindo-se em especial ao PT, mas mirando em qualquer coisa que pudesse parecer remotamente de esquerda.


E o feitiço não se voltou apenas contra ele e seu partido, mas contra quem que se dizia protegido por santos de toda sorte, como era o caso de ACM na Bahia. As posições se inverteram de tal maneira que a questão agora é: será que o PFL conseguirá sobreviver como um dos quatro grandes partidos?


E o problema não é trivial, já que o modelo instaurado por FHC previa um pólo político de dupla sustentação, com a aliança entre PSDB e PFL, e outro pólo com um PT solitário, se debatendo para encontrar aliados, emparedado contra um PMDB sempre dividido e instável.


No primeiro mandato de Lula, uma aliança com parte do PMDB só se realizou após o mensalão. Foi uma aliança ainda episódica, por pura necessidade de sobrevivência. Uma aliança efetiva só se deu durante as eleições.


O segundo mandato de Lula vai montar um pólo político de dupla sustentação, com PT e PMDB, ao mesmo tempo em que vai minar como puder o bloco PSDB-PFL. Será uma estratégia de isolar o quanto possível o PSDB, tarefa facilitada pelo próprio declínio do PFL, que não deverá governar nenhum Estado, apenas o Distrito Federal. Deve perder até mesmo Roseana Sarney para o PMDB.


Teve a maior perda proporcional de bancada na Câmara (quase 20%) e, sem o governo de Estados eleitoralmente importantes, deverá perder mais deputados e prefeitos para outros partidos. Só se mantém forte no Senado porque a Casa tem uma ‘inércia política’ muito grande, com mandatos mais longos e um grande número de ex-governadores.


Em sua série de livros sobre a ditadura militar, Elio Gaspari lembra que o general Golbery era ‘o feiticeiro’. Pode-se discutir a estatura política e a qualidade dos feitiços de cada um dos personagens, mas atribuir a Bornhausen o mesmo título parece apropriado.


Afinal, o PFL nasceu de uma dissidência um pouco menos curta de vistas do partido oficial da ditadura. Teve destino eleitoral e político superior ao seu ninho original.


Tanto que passou quase duas décadas se orgulhando de ser o partido com maior capilaridade política do país, atingindo os rincões mais profundos. Tudo isso acabou nestas eleições. Ditaduras demoram a morrer, mesmo depois que acabam. O atual encolhimento do PFL é uma das mais importantes e significativas mortes da ditadura militar brasileira.


Jorge Bornhausen vai ter de agüentar bem mais que a ‘raça petista’. Terá de agüentar o resultado de uma eleição democrática que pode fazer com que o PFL venha a se juntar em futuro não tão distante ao time dos pequenos partidos brasileiros.


MARCOS NOBRE é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap’


Malu Delgado e José Alberto Bombig


Campanhas avaliam que debates estão ‘saturados’


‘Depois da surpresa do primeiro debate de presidenciáveis na TV Bandeirantes, em que o confronto explícito entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) preocupou petistas e a deu fôlego aos tucanos, as duas equipes chegaram ao terceiro round da disputa anteontem – na Record, antecedido pelo SBT – convencidas de que a fórmula já cansou os telespectadores e, dificilmente, o embate final, na TV Globo, será decisivo.


Esse ar de previsibilidade, apontam os coordenadores da campanha de Lula, o favorece, pois indica que a exploração do caso dossiê nos debates não tem provocado alterações.


No PSDB, a avaliação é que Alckmin teve um bom desempenho até agora, mas a sensação ‘de empate’ entre os dois candidatos acaba favorecendo o petista, que é líder na disputa.


O quadro é bastante distinto dos pleitos de 1989 e de 2002. Na eleição passada, por exemplo, José Serra (PSDB) e Anthony Garotinho (então no PSB) iniciaram a participação em debates empatados tecnicamente na segunda posição.


Nesta eleição, os petistas consideram que Lula consolidou os votos depois de participar dos três debates. Pela padronização das regras, dificilmente haverá grandes surpresas na Globo, avaliam. O fantasma de 1989, quando Fernando Collor de Mello deu a cartada final em Lula na Globo, está domado, na visão do partido.


‘Banalizou muito o debate. Está meio sem efeito’, disse o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais).


Convidado pelo PT para assistir ao último debate, o deputado Delfim Netto (PMDB-SP) foi ainda mais sincero: ‘Não há nenhuma análise profunda nesses debates. Na minha opinião, não acrescentam nada’.


Para os aliados de Lula, Alckmin adota uma estratégia e a repete à exaustão, sendo previsível. Nesse sentido, argumentam, o presidente é mais criativo e fica mais à vontade.


Já os tucanos, apesar de não apostarem num ‘milagre’ na Rede Globo, afirmam que Alckmin acumulou pontos ao insistir no debate da ética e ainda poderá tomar votos do petista.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Reformas, reformas


‘Os analistas da Standard & Poor’s chamaram uma entrevista coletiva e deitaram avisos, como noticiou o site do ‘Wall Street Journal’. No Brasil, ‘a dinâmica da coalizão será chave’ para o país, que estaria numa ‘encruzilhada por reformas fiscais importantes para a nota de crédito soberano’. Vale para o Brasil e para outros recém-saídos de eleições. E mais:


– Se de um lado o Brasil tem sido ativo em melhorar o perfil da dívida, de outro o governo enfrenta rigidez fiscal na forma de folha de salários e de pensões.


Em despachos das agências Reuters e Dow Jones, mais do mesmo, ‘Reforma previdenciária na agenda do presidente Lula, diz chefe de campanha’, sobre as declarações escorregadias de Marco Aurélio Garcia no debate desta Folha. Segunda-feira, as reformas já haviam sido foco de atenção do ‘Financial Times’.


AP EM PINDA


A agência Associated Press foi parar ontem na cidade de Pindamonhangaba, para um perfil de Geraldo Alckmin cheio de adjetivos.


Ele seria ‘um conservador trabalhador que é visto como robótico’ ou ‘notoriamente manso’ (bland). Um cientista político falou em ‘pessoa dura que trata de modo superior o homem comum’. Para outro, ‘um Al Gore sem carisma’.


CARISMA E CABELO


Depois disso tudo, ‘aqui [em Pindamonhangaba] os amigos dizem que compensa com diligência o que não tem em carisma’. Até de ‘quase careca’ ele foi chamado.


MARTELADO


Em despacho da mesma AP, ‘Presidente brasileiro é martelado em debate’.


A agência se concentrou nos ataques à corrupção, mas notou que Alckmin criticou também a política econômica, em pontos como os juros e a moeda sobrevalorizada.


No fim, ‘Lula, porém, segue popular pelos programas que ajudaram a baixar a pobreza e estabilizar a inflação’.


PARA NADA


Do ex-blog de Cesar Maia, bem mais conciso -e antes mesmo do Datafolha:


– Geraldo Alckmin: mais preparado, vence o debate e não serve para nada.


WEB 2.0 PARA POLÍTICOS


A ‘BusinessWeek’ deu que também ‘políticos europeus abraçam a web 2.0’. Se aqui a vanguarda é Cesar Maia, lá é o líder do Partido Conservador britânico: – Esqueça e-mails ou sites. Conseguir votos hoje exige credenciais sérias da web. Pergunte a David Cameron. Seus sites tomam ‘idéias de sites de compartilhamento de foto e vídeo, como Flickr e YouTube, e de socialização, como MySpace’. Ele já é seguido por dois ex-ministros conservadores da França e pela líder dos socialistas na Holanda. E até pelos podcasts da chanceler alemã.


SP VS. NORDESTE


Na Folha Online, Gilberto Dimenstein se contrapõe às ‘bobagens contra paulistas’ de, entre outros, Ciro Gomes:


– Em nenhuma cidade do Nordeste há tantos pobres quanto em São Paulo… Pensar nesses termos é desserviço para reduzir de fato a pobreza.


TRÍPLICE FRONTEIRA


O ‘Guardian’ dá com ironia o ‘boato’ no Paraguai de que George W. Bush comprou um rancho na fronteira com o Brasil e com as ‘reservas de gás da Bolívia’. Saiu primeiro na cubana Prensa Latina, mas um governador paraguaio e notícias locais sustentaram.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Internet eleva TV paga e Net bate recorde


‘A Net Serviços, maior operadora de TV paga do país, anunciou ontem que o terceiro trimestre de 2006 foi o melhor de sua história. A base de assinantes da empresa da Globo e Telmex cresceu 16% em relação a setembro de 2005 e atingiu 1,730 milhão de clientes.


‘Nem na época de Netinho e Vera Fischer [como garotos-propaganda] a gente vendeu tanto’, brincou Francisco Valim, presidente da Net.


A nova ‘estrela’ da Net é o acesso rápido à internet. Foi o seu serviço de banda larga, que atingiu 630,2 mil assinantes, o principal impulsor da TV paga.


Segundo Valim, um ‘pedaço grande’ dos novos clientes são pessoas jovens que procuram banda larga e compram TV por assinatura como serviço opcional. Provavelmente, boa parte desse público está atrás de episódios de séries já disponíveis na internet e que levarão meses para chegar aos canais pagos.


Valim afirma que hoje há dois tipos básicos de clientes: o ‘mais jovem’, que ‘é 100%’ consumidor de banda larga, e o de ‘mais idade’, que apresenta maior adesão à TV paga.


O serviço de telefonia via cabo de TV, lançado em abril, atingiu 115 mil usuários.


A Net, que faturou R$ 501 milhões líquidos no trimestre, anunciou que investirá no ano que vem R$ 350 milhões na conquista de novos clientes e R$ 300 milhões para aumentar a bidirecionalidade de sua rede. Os dados não incluem a Vivax.


MUDANÇA DE HÁBITO 1 A misteriosa Lavínia (Letícia Sabatella) será desmascarada nos capítulos da semana que vem de ‘Páginas da Vida’. A intrometida Irmã Má (Marly Bueno) encontrará em sua mala fotos de várias fases da vida de uma menina de 5 anos.


MUDANÇA DE HÁBITO 2 Pressionada, a freira contará que a menina é sua filha, mas não abrirá que o pai é Diogo (Marcos Paulo). Diante disso, Irmã Má suspende os votos perpétuos de Lavínia e trata de investigar a história da criança.


REFORÇO DO TEATRO O SBT contratou a dramaturga e escritora Consuelo de Castro. Ela fará roteiros da série ‘Minha Vida É uma Novela’, prevista para o início de 2007, que irá dramatizar histórias contadas por telespectadores.


BOLA MURCHA 1 Globo e Record, que andaram se estranhando, estão próximos de um acordo para renovar o compartilhamento dos principais campeonatos brasileiros de futebol em 2007.


BOLA MURCHA 2 A Globo propôs à Record ter uma participação nas receitas da concorrente caso ela atingisse um determinado patamar de audiência. A Record achou imoral, e a Globo recuou.


BOLA MURCHA 3 A venda do futebol à Record (por R$ 50 milhões) divide a Globo. Parte acha que está ajudando a concorrente a crescer e teme que ela tente um dia comprar sozinha o futebol. Outra parte defende a parceria justamente para impedir que a Record procure os clubes já, inflacionando os direitos.’


************


O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 25 de outubro de 2006


ELEIÇÕES 2006
Luiz Weis


Depois do voto, calar o rancor


‘Das campanhas eleitorais no Brasil se pode dizer o que o escritor Mário Prata disse cruelmente dos filhos em geral: são bons, mas duram muito. Esta, que acaba depois de amanhã – com o quarto debate em 18 dias, sem contar as seis entrevistas de cada candidato a diferentes órgãos de mídia e o teatro do horário de propaganda -, nem boa foi.


Falou-se muito e o que não se devia. O desafiante embarcou num discurso moralista que o fez andar em círculos e o acabou deixando onde estava antes que as palavras dossiê e aloprados engrossassem, literalmente, o léxico da estação.


O incumbente, mais do que nunca cheio de si, no papel de protetor dos pobres e flagelo das elites, usou o salto 15 para passar no adversário uma rasteira que o estatelou – a acusação de que iria passar nos cobres as jóias da coroa e fechar os cordões do Bolsa-Família.


Girando em falso, a campanha ficou aquém do que interessa: como alavancar o crescimento econômico, firmar as contas públicas, obter um salto de qualidade na educação básica, integrar os programas de transferência de renda a políticas universais de promoção social e, por fim, reaver a segurança perdida.


Sobre cada um desses temas, Lula e Alckmin (ou será Geraldo?) serviram um mexido de palavrório, platitudes e provocações mútuas que, vistos de perto, evidenciam o que ambos os lados precisavam esconder: os seus pontos em comum.


O petista, que acentuou a política econômica moderadamente ortodoxa de seu antecessor e dela colheu a popularidade do achatamento da inflação, não ousou reconhecer que o outro fez algo que prestasse, além de adotar o cartão corporativo para as despesas da Presidência…


O tucano, sem poder criticar o malanismo encampado por Lula, via Palocci, imitou-o na omissão: negou qualquer mérito aos seus quatro anos no Planalto, mesmo quando o eleitorado, por ampla maioria, considera o governo ótimo ou bom.


Se era para ser isso, antes Lula tivesse tido no primeiro turno o ponto e meio porcentual a mais que lhe permitiria liquidar a fatura já então. Não por ele, mas para economizar um mês de funcionamento das engrenagens do rancor – a herança maldita desta eleição.


O que poderia haver de debate público substantivo sobre a agenda nacional, ou mesmo de eco da civilidade do segundo turno de 2002, foi substituído por intermitentes rajadas de ofensas – corrupto! golpista! – com menos ou mais palavras.


Retrocesso é o nome do show. Alckmin, aquele que disse que falar mal dos outros não melhora ninguém, profetizou que um segundo governo Lula acabará antes de começar. No troco, o habitualmente reflexivo ministro Tarso Genro o chamou de pinochetista e evocou os seus alegados vínculos com a Opus Dei.


Isso já não cabe na rubrica do acirramento natural das disputas eleitorais. Depois da eclosão do escândalo do dossiê, ficou a céu aberto a intenção das cúpulas do PSDB e do PFL de negar legitimidade à permanência de Lula no Planalto, digam o que queiram as urnas de domingo.


O tucano Tasso Jereissati apareceu nos jornais dizendo que, ‘se Lula fosse patriota, desistiria’, pois, se reeleito, ‘vai levar o País a uma crise moral sem precedentes’. Não passa dia sem que Fernando Henrique lance chamas sobre o sucessor, revelando uma insuspeitada queda pela piromania.


Tomada de anacrônico lacerdismo e esquecida do provérbio bíblico sobre o mal de ver o argueiro nos olhos alheios e não ver a trave nos próprios, o eixo tucano-pefelê já empatou, em matéria de ferocidade, com o tipo de oposição que o PT fazia ao governo anterior. A diferença é que lhe falta massa crítica para levar à rua a consigna ‘Fora Lula’.


O acordo de cavalheiros na transição de 2002, pelo qual uma das partes concordou em deixar o passado no passado e a outra concordou em não prejudicar o futuro, virou peça de museu.


A oposição tem a seu favor um argumento poderoso: não foi ela que inventou o Waldogate, nem o mensalão, nem o misterioso material de propaganda do governo de superfaturados R$ 11 milhões, nem a tentativa de ligar o ex-ministro José Serra à máfia dos sanguessugas.


Todos esses são fatos incontestáveis e todos envolveram pessoas do círculo íntimo de Lula, no governo e no PT. Mas daí a dizer, como Tasso, que ‘agora não tem mais como tirá-lo desse mar de lama’ é querer criar um clima insustentável de instabilidade política. É uma temeridade: ao contrário de Collor, Lula não ficará só. E não há um Fiat Elba na praça.


No artigo A volta das vivandeiras de tribunais, publicado domingo neste jornal, o professor de Teoria Política Renato Lessa, do Iuperj, comentou que o alckmismo trata a questão política como um caso de polícia, aludindo ao que as elites diziam da questão social na República Velha.


O resultado é que há muito tempo a atmosfera política brasileira não exalava tanto enxofre – envenenando o modo como se exprimem as diferenças de opinião entre os brasileiros. Também no domingo, Sérgio Fausto, do iFHC, escreveu no Estado que basta passar os olhos pela internet para perceber a proliferação de mensagens de ódio de parte a parte. A experiência própria permite atestar que essa é a pura verdade.


Antes que o Brasil se degrade numa Venezuela empapuçada de mala sangre, onde chavistas e antichavistas competem para ver quem é mais troglodita, a distensão precisa prevalecer. ‘O ideal’, apontou Lessa, ‘é que o contencioso seja zerado, que a política siga seu curso e que condições mínimas de cooperação sejam estabelecidas.’


Ainda bem que a mídia começa a emitir sinais de inquietação. ‘Deve haver consciência em ambos os lados da disputa eleitoral de que no dia 30 continuará a existir um país para se governar’, advertiu O Globo em editorial. ‘Um acerto político em alto nível entre o novo governo e a oposição para o enfrentamento dessa missão é de interesse suprapartidário e não pode ser prejudicado por heranças de campanha.’


Luiz Weis é jornalista’


Dora Kramer


O direito à verdade


‘Entendida em seu significado estrito, a declaração do governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, sobre o ‘direito’ à mentira garantido legalmente aos petistas já comprovadamente envolvidos na urdidura do dossiê, até pode ser absorvida como a constatação óbvia de que a lei assegura aos réus a omissão da auto-incriminação no exercício da defesa.


Compreendida em seu sentido mais amplo, porém, equivale sim ao salvo-conduto que na mesma entrevista Wagner nega que a legenda do PT confira a seus integrantes. ‘Atestado de idoneidade não vem com ficha de filiação partidária. É uma coisa anterior’, disse ele. De fato.


É o que deveria ter sido exigido de Expedito Afonso Veloso antes de ter sido entregue a ele uma diretoria do Banco do Brasil; de Jorge Lorenzetti antes de ter sido a ele conferido um cargo no Banco de Santa Catarina, o posto de chefe do setor de inteligência da campanha presidencial e acesso livre ao Palácio da Alvorada; de Oswaldo Bargas antes de ter recebido a tarefa de participar da elaboração do programa de governo do candidato à reeleição; de Ricardo Berzoini antes de ter sido dado a ele todo apoio para se eleger presidente do PT; de Hamilton Lacerda antes de ter sido nomeado assessor de confiança do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.


Isso para não perder tempo em falar dos outros que se envolveram em infrações de toda sorte e hoje são alvo de inquéritos na polícia e na Justiça. Atestado de idoneidade poderia, por exemplo, ter sido exigido de Waldomiro Diniz antes de se entregar a ele a missão de cuidar das relações entre a Casa Civil e o Parlamento.


Daquele escândalo, em fevereiro de 2004, até este último caso do dossiê perde-se a conta do número de petistas e simpatizantes que sentam simbólica e objetivamente no banco dos réus, exercendo o direito à mentira agora com tanta desenvoltura invocado por Jaques Wagner.


Foram inúmeros os que se apresentaram diante das CPIs dos Correios, dos Bingos e do Mensalão, para mentir e omitir. Em tese, exerciam seu direito de defesa, mas, na prática, obstruíram as investigações, impediram os deputados e senadores de apresentarem conclusões mais concretas e completas.


O mesmo ocorre agora com o plantel de petistas implicados na operação de compra do dossiê de denúncias amoldadas ao objetivo de desmoralizar adversários eleitorais. Mentem, contam nisso com a benevolência dos correligionários e, assim, em nome de uma estratégia de adiamento de conclusões, subtraem o direito da população de saber a verdade.


Se eles têm o privilégio conferido por lei de mentir, o eleitor tem a prerrogativa de saber o que se passou. Não fossem os petistas do poder tão lenientes – numa atitude vocalizada pelo governador eleito da Bahia, mas compartilhada à larga dentro do governo – para com seus companheiros, teriam, no mínimo, defendido que contribuíssem, e não advogado em prol da omissão.


Se não o fazem, não deve ser porque não querem, pois injusto com eles seria supor que deliberadamente pretendessem cassar essa garantia ao cidadão. Se não o fazem, a justificativa amena da mentira faz supor, é porque não podem.


E se não podem combater ao lado da transparência é porque a luz lhes faz mal, a revelação das coisas tal como realmente se passaram os complica e, portanto, lícito que se conclua pela existência de culpa no cartório.


De fábrica


Jaques Wagner sempre foi um moderado dentro do PT. Líder do partido na Câmara, sua razoabilidade de trato e pensamento sempre lhe assegurou trânsito entre os adversários e lugar naquele grupo de petistas não-alinhados com os métodos ‘vamos que vamos’ consagrados pela ala mais pesada comandada por José Dirceu.


Seu elogio à mentira como arma de defesa indica que a leva de petistas agora prestigiada por ter votos e compostura poderá padecer do mesmo veneno. Se Wagner e companhia forem por esse caminho, desmontam a tese de que o defeito do PT está no ‘esquema paulista’.


Aos fatos


Abel Pereira mente quando diz que seus negócios com Luiz Antônio Vedoin versavam sobre um dossiê contra Aloizio Mercadante.


O material que ele negociava com o capitão da máfia das ambulâncias era o mesmíssimo que Jorge Lorenzetti tentou comprar, interceptando a transação entre Vedoin e Abel.


Gente boa (no sentido de importante) do PSDB foi consultada sobre possível interesse na compra. A partir daí há duas versões. A tucana reza que houve recusa por insuficiência de consistência na documentação; a petista insinua que Vedoin foi instrumentalizado pelo Ministério Público para atrair os petistas para uma armadilha.


De parte a parte, ninguém está contando as coisas direito. Lorenzetti, por exemplo, não conta a história inteira quando omite a promessa feita a Vedoin de que, Lula reeleito, ele não seria ‘perseguido’ pelo governo.


Os termos da negociação não esclarecem o real significado de ‘perseguido’, mas que houve a proposta, houve.’


INTERNET
Renato Cruz


Net planeja investir R$ 300 milhões


‘A Net, maior empresa de TV paga do País, fechou setembro com 630,2 mil clientes do Vírtua, serviço de internet rápida, um crescimento de 109% sobre o mesmo mês de 2005.


Nos próximos 12 meses, a companhia planeja investir R$ 300 milhões , em digitalização e na ampliação de sua rede bidirecional de 2,8 milhões de residências para 4,5 milhões. ‘Em 12 meses, teremos 70% da rede bidirecional’, afirmou Francisco Valim, presidente da Net. ‘Hoje, são 40%.’


Sem rede bidirecional não existe banda larga ou telefonia via cabo. ‘A banda larga é o mercado que mais cresce, e onde existe mais concorrência’, disse Valim. Nos últimos três anos, a cada ano, a Net conseguiu dobrar sua base de assinantes do Vírtua. Em seis meses, conquistou 115,4 mil assinantes de telefonia, com o serviço Net Fone via Embratel. A operadora de telecomunicações participa do controle da Net.


Para os novos investimentos, a empresa vai elevar seu endividamento dos atuais R$ 650 milhões em debêntures para cerca de R$ 1 bilhão. Ontem, depois de falar com analistas sobre o resultado do terceiro trimestre, Valim ia viajar para Nova York, para explicar a emissão a investidores. Foi em meados de 2004 que a empresa renegociou sua dívida e atraiu a Telmex, dona da Embratel, como sócia. ‘Antes precisávamos de um software só para controlar a dívida’, lembrou o executivo. ‘Agora daria para fazer isso numa calculadora HP.’ Ele se referiu às debêntures.


No terceiro trimestre, a Net lucrou R$ 24,6 milhões. No mesmo período de 2005, havia registrado prejuízo líquido de R$ 20,6 milhões. A receita da empresa avançou 21,1%, chegando a R$ 500,7 milhões. O total de clientes de TV paga passou de 1,498 milhão para 1,730 milhão, um crescimento de 15,5%. ‘A Net está funcionando bem’, disse Valim. ‘Hoje, nossos problemas não são óbvios.’


Em 12 de outubro, a Net anunciou a compra da Vivax, segunda maior empresa de TV a cabo do País. Se aprovada, a fusão irá criar uma companhia com 75% do mercado de TV a cabo e 45% do mercado de TV paga. ‘Não existe impacto na competição’, disse o presidente da Net. Ele argumentou que as companhias concorrem somente em Santos, onde a Vivax tem cerca de 15 mil assinantes. ‘É menos de 5% da base. Seria diferente se tentássemos comprar a TVA ou a Way TV.’


A TVA prepara a abertura de capital e a Telemar aguarda uma decisão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre a compra da Way TV. Para Valim, a entrada de uma concessionária local, como a Telemar ou a Telefônica, em TV paga prejudicaria a competição em banda larga e telefonia.’


TELEVISÃO
Patrícia Villalba


Elenco mexe com rio branco


‘O Acre não só existe mesmo como tem ponta de estoque de grife famosa, descobriram as atrizes da Globo que estão em Rio Branco nas gravações da minissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (estréia em janeiro). A tal loja de descontos, que fica bem em frente ao Hotel Pinheiro, onde se hospeda a equipe, virou o point preferido das famosas, que costumam relaxar fazendo comprinhas depois de horas gravando debaixo de sol. ‘A Christiane Torloni vem aqui quase todos os dias’, entrega uma vendedora.


A Globo montou uma cidade cenográfica de 2 mil metros quadrados em Porto Acre, a 60 quilômetos de Rio Branco, e concentra quase toda a produção ali – poucas cenas serão gravadas em Rio Branco de fato e em Manaus. Já é um roteiro do acreano antenado: ir a Porto Acre, arriscar um autógrafo e, quem sabe, ver uma cena. Melhor ainda é virar figurante: algumas cenas movimentam 500 deles.


Na porta do Pinheiro, caçadores de autógrafos fazem marcação cerrada, não importa o calor. Nem sempre são recebidos com um sorriso pelos atores e atrizes. Elas, comenta-se, são as ‘menos simpáticas’. Eles, derretem-se as moças, são ‘uns queridos’. ‘Sabe que a Giovanna Antonelli mandou fechar uma academia daqui para ela fazer ginástica sozinha?’, conta uma freqüentadora da porta do hotel. ‘O mais simpático é o Alexandre Borges, que já me deu três autógrafos. E o José de Abreu é praticamente um acreano, até no forró ele vai’, continua entregando a vendedora.


Fora o trabalho na minissérie, com estréia prevista para 2 de janeiro, e o forró, José de Abreu defende a candidatura do presidente Lula na mídia local. Nessas ocasiões, procura elogiar a gestão do anfitrião, o petista Jorge Vianna. ‘O Acre é um Estado onde o PT deu certo’, diz ele.


entre- linhas


O humorista Agildo Ribeiro venceu na Justiça o primeiro round de uma briga que trava contra a Band. Ele move um processo contra a emissora por uso indevido de sua imagem na reprise de Mandacaru. Agildo alega que não recebeu um tostão pela reexibição da novela e pede uma indenização – o valor não foi revelado – acatada pela Justiça. A Band, que alega que tentou pagar Agildo, vai recorrer.


O Teleton, maratona televisiva promovida pelo SBT em prol da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), já tem data marcada: 10 de novembro.’


************