Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
Este artigo é o tema de capa da próxima edição especial do Retrato do Brasil / Reportagem, publicação da Oficina de Informações, que também analisa a situação atual da imprensa brasileira e as saídas conservadoras para a crise dos grandes jornais diários. Encomendas da publicação pelo e-mail administracao.sp@oficinainforma.com.br
Ali Kamel é um gigante da mídia. Diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo, como assina suas declarações, ele comanda, por exemplo, o Jornal Nacional, que seis dias por semana, no começo da noite, diz para dezenas de milhões de brasileiros o que se passou aqui e no mundo.
Além desse extraordinário poder, Kamel é homem de sensibilidade sem par. Veja-se: no dia 29 de setembro, vésperas do primeiro turno da eleição presidencial, ele decidiu que não se faria menção no JN ao acidente do avião da Gol que matou 154 pessoas porque, como disse em matéria paga publicada na revista CartaCapital:
‘Um telejornal como o Jornal Nacional, recordista absoluto de audiência, constrói sua reputação assim: com notícias corretas, sem espalhar o pânico no País. Pôr no ar que um avião de passageiros da Gol ‘pode’ estar desaparecido, sem dizer qual o vôo e qual a rota é simplesmente levar o pânico para milhares de casas Brasil afora. Não fizemos isso. Não faremos isso’.
É, ainda, um jornalista como não há igual: Neutro, imparcial, como revela no mesmo texto citado:
‘Não sou movido por paixões políticas e o meu compromisso é apenas com a minha profissão: relatar os fatos com correção e imparcialidade, não importando se beneficiam esta ou aquela corrente política’.
(Aliás, diga-se de passagem: Kamel teve de pagar a publicação de seu texto porque Mino Carta, o malvado diretor de CartaCapital, não quis publicar na íntegra sua resposta, na forma de uma missiva de modestos 13.953 caracteres; foi em CartaCapital onde publicamos o artigo que ofendeu o gigante!)
Mesmo assim, o destino cruel, a natureza incontrolável que nos empurra para batalhas impossíveis, nos leva, Antônio Carlos e Raimundo – gente que se pode, sem desdém, colocar no rol da chamada ‘imprensa nanica’, a desafiar Kamel.
Do Olimpo onde vos situais, perdoai-nos, mas respondei, gigante do poder e das virtudes: a poderosa organização da família Marinho, a quem servis, é capaz de fazer uma revisão do seu procedimento na cobertura do chamado dossiê dos petistas divulgado no primeiro turno da eleição presidencial? Nós vamos fazer uma revisão do que fizemos.
Nos comentários à carta de Kamel, publicada no Observatório da Imprensa, a grande maioria dos internautas foi favorável ao nosso ponto de vista, segundo o qual a TV Globo agiu de modo faccioso nessa cobertura. A seguir, publicamos uma pauta com os dois pontos centrais do que poderia ser uma revisão do tratamento que a grande imprensa deu ao episódio. Com isso, esperamos também oferecer ajuda aos internautas para que continuem pressionando o gigante Kamel a fazer a sua própria revisão.
1. O ‘escândalo do dossiê petista’ deveria ser visto como ‘uma guerra de dossiês’, porque também envolve os tucanos
Na sua resposta à primeira matéria que publicamos em CartaCapital (‘Fatos ocultos’, artigo de capa da edição de 18 de outubro), Ali Kamel diz que não respondeu inicialmente e de modo específico a nenhuma das questões que apresentamos a ele antes de publicar o texto simplesmente porque todas as nossas premissas eram falsas. Kamel está errado. Nossa primeira premissa, por exemplo, era e continua sendo: o escândalo que acabou contribuindo para empurrar as eleições para o segundo turno foi denunciado pelo jornalismo das grandes empresas de modo unilateral. Foi dado um tratamento a uma das pontas da história, a que envolvia ‘a banda sindical petista’, como dissemos, que foi amplamente denunciada; e, outro, à ponta que envolvia os tucanos, que não foi investigada.
Havia, no entanto, efetivamente, uma disputa por dossiês, que é comum em todas as campanhas eleitorais, na precária política brasileira. Dissemos no primeiro texto de CartaCapital: ‘É absolutamente razoável supor que Serra e Negri’, os ex-ministros da Saúde de Fernando Henrique Cardoso cujos nomes apareceram no noticiário sobre a chamada máfia das sanguessugas, que é de onde sai o escândalo dos dossiês, ‘sejam pessoas acima de qualquer suspeita’. Dissemos a seguir: ‘É também justo ficar indignado com o baixo nível da política que se fundamenta no esforço de provar que o candidato adversário ou é ladrão ou está ligado a ladrões’. Mas concluímos: ‘por que achar que os petistas são os piores de todos os políticos, a priori, sem investigar o outro lado?’
Não fizemos essa pergunta por retórica. Sabíamos, concretamente, que havia descontentamento na própria Globo pelo comportamento unilateral da direção da empresa na cobertura dos fatos. Com base num levantamento minucioso desse descontentamento fizemos 10 perguntas a Kamel, afinal publicadas no texto de CartaCapital citado e às quais ele respondeu com uma nota evasiva. Nela diz, em síntese, que o presidente Lula considerou a cobertura da Globo isenta. Na sua resposta posterior enviada ao Observatório da Imprensa e depois publicada como matéria paga em CartaCapital, Kamel volta a fugir da questão: Diz que é contraditório termos perguntado porque a Globo não investigou a ponta dos tucanos do mesmo modo como investigou a ponta dos petistas no escândalo e termos dito também que foram engavetadas matérias que investigavam essa ponta peessedebista. Parece contraditório, mas não é: Nós não defendemos o tipo de investigação que a Globo fez de um lado, nem queríamos que ela fizesse o mesmo do outro lado; o que dissemos é que a Globo não investigou um dos lados com empenho; e engavetou uma ou duas matérias que, a despeito disso, foram feitas sobre o assunto.
A questão seria irrelevante se a ponta tucana da história de fato não existisse. Mas essa conclusão não se deve tomar como pressuposto. Ouvimos, pouco antes do fechamento deste artigo, que o alto comando tucano em São Paulo telefonou mais de uma vez para liderança do PT paulista buscando um acordo na guerra de dossiês que efetivamente existia antes do 15 de setembro, data em que são presos, no Hotel Íbis Congonhas, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão, Valdebram Padilha e Gedimar Passos, intermediários petistas na compra do suposto dossiê sobre os tucanos. Ouvimos também, da deputada Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), parlamentar da CPI que investiga a história, que o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), também da comissão, fez um pedido seletivo de documentos à Justiça do Mato Grosso. E, assim, a própria CPI do Congresso não tem todas as informações da Justiça. E estaria deixando de investigar e absolvendo os tucanos por antecipação, porque se concentra em investigar os petistas, em relação aos quais existem inúmeros indícios e documentos, levantados pela imprensa e pela polícia. Mas não vai com o mesmo empenho em busca dos tucanos, embora esteja mais do que provado que o escândalo da compra superfaturada de ambulâncias é antigo e a maioria dos casos é dos governos do PSDB.
E o outro lado? No segundo artigo para Carta Capital (‘Contribuições ao dossiê da mídia’, 25 de outubro) mostramos que, no banco de dados da Polícia Federal – que investigava, até o fechamento deste texto, basicamente o lado petista do escândalo – já estavam listadas 46.755 pessoas, 43.778 contas bancárias, 17.245 telefonemas, 6.137 contratos em dólares e 158.094 transações financeiras. É óbvio que, se a imprensa continuar investigando o escândalo nessa mesma linha, sempre terá mais assunto. ‘Secretário de Lula ligou para ‘articulador’ do dossiê’, foi a manchete da Folha de S. Paulo de 21 de outubro, referindo-se a dois telefonemas entre Gilberto Carvalho, secretário particular do presidente Lula e Jorge Lorenzetti, que é tido como ‘o articulador nacional da compra do dossiê’ – o dossiê petista, é claro. Mas e o outro lado? E os milhares de pessoas, contas bancárias, telefonemas, contratos e transações que podem ser investigados se se começar a perseguir com a mesma fúria o pobre do empresário Abel Pereira que é tido como o elo entre a máfia das sanguessugas e Barjas Negri, o ex-ministro da Saúde tucano e ex-secretário geral de José Serra no mesmo ministério? Repita-se: não estamos dizendo que a imprensa das grandes empresas faça com o PSDB a mesma estupidez que está fazendo com o PT – jogando nomes na rua, difamando pessoas, sem um cuidado maior. O que dizemos é que ela age com dois pesos e duas medidas.
Finalmente, ainda sobre a origem do escândalo, se deveria investigar os exatos mandados judiciais do promotor Mário Lúcio Avelar, que chefiou a denúncia do escândalo e que disparou a polícia no encalço dos petistas. Mostramos no primeiro texto de CartaCapital que Avelar dirigiu várias investigações anteriores de modo faccioso. E que, no caso do dossiê, pode estar repetindo o mesmo procedimento.
Não é crime comprar informações. Não é crime pagar serviços com dinheiro vivo. Com que mandado judicial, então, Gedimar e Valdebran foram presos pela Polícia Federal no Ibis Congonhas no dia 15 de setembro? Nas defesas que encaminharam ao Tribunal Superior Eleitoral, os advogados de Gedimar e Valdebran afirmam que a prisão dos dois foi irregular, sem a expedição de um decreto de prisão temporária. Eles afirmam também que seus clientes foram interrogados na Superintendência da Polícia Federal sem o acompanhamento de um advogado, não lhes sendo permitido chamar um defensor ou mesmo telefonar para seus familiares.
Gostaríamos aqui de ouvir a posição do gigante Kamel: Ele acha que a polícia pode prender pessoas sem um mandado judicial preciso? O certo é a polícia obter um mandado judicial qualquer e sair investigando a pessoa? Para nós, esse comportamento é medieval. A partir de um mandado judicial que pode ser apenas para investigar chantagem dos Vedoin contra os tucanos – o que é crime –, pode-se prender petistas interessados em comprar informações dos Vedoin para divulgá-las pela imprensa, o que não é crime?
A Justiça mantém preso um dos Vedoin, o filho, mas teve de soltar Gedimar e Valdebran. Por quê? Não é porque não há crime que se possa imputar a eles? Diversos comentaristas da imprensa pátria – Alberto Dines, Elio Gaspari, Luiz Garcia – acham que o importante é que os petistas estavam cometendo uma patifaria.
Tudo muito bem. É certo que a política brasileira está cheia de patifes e patifaria. Mas qual é o critério para prender patifes, gigante Kamel? Você acha, como o jornal O Globo da quinta-feira dia 12 de outubro, citada por nós no primeiro artigo, que o método é esse: Prender a pessoa primeiro e, depois, ir atrás do crime que ela possa estar cometendo, como se está fazendo? ‘Há duas hipóteses de o episódio vir a configurar crime’, diz O Globo da data citada, referindo-se à necessidade de buscar provas contra os petistas que foram presos. ‘A primeira, se for comprovada a origem ilícita do dinheiro apreendido com os petistas Gedimar Passos e Valdebran Padilha. Nesse caso, os envolvidos poderiam ser processados por crime de ocultação de valor proveniente de ilícito (…). A segunda possibilidade é a de o dossiê conter falsas provas, configurando crime eleitoral de obtenção de documento material ou ideologicamente falso, para fins eleitorais?’. Então, agora é assim? Prende-se primeiro e se vai atrás do crime depois, se for um petista – especialmente um sindicalista – gente suspeita, é claro?
A prevalecer tal ponto de vista, o Brasil estará inaugurando um novo princípio do Direito, a presunção da culpa, segundo o qual todos seriam culpados até prova em contrário. Estaríamos, assim, jogando na lata de lixo uma grande conquista da Revolução Francesa, a presunção da inocência, consignada na Constituição Federal, segundo a qual nenhuma pessoa será considerada culpada até que tenha sido julgada em última instância. O gigante Kamel, homem piedoso que nunca fez nem jamais fará a vilania de dizer que um avião desapareceu antes de ter absoluta certeza do desaparecimento, para não levar pânico às famílias, não percebe que, se não tem posição clara sobre essa questão, se arrisca a colocar-se acima da Justiça e a ter o direito de perseguir qualquer cidadão que seus editores considerem suspeito?
2. A grande mídia interveio facciosamente nas eleições, com o escândalo do dossiê, ela também deve ser investigada
A principal crítica que fizemos a Kamel no primeiro artigo de CartaCapital é a de que ele soube do áudio com a gravação das conversas de Edmilson Bruno, o delegado que passou as fotos do dinheiro do ‘dossiê petista’ aos jornalistas, na qual ele revelava o claro propósito de interferir no processo eleitoral e ocultou esse fato. Bruno insistia que as fotos deveriam ser apresentadas no Jornal Nacional, naquela sexta-feira, 29 de setembro, antevéspera das eleições. Kamel escondeu esse fato. Disse a um repórter da emissora: ‘Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos’.
Kamel se defende de várias maneiras cavilosas. Sugere que o atacamos porque queríamos que se revelasse a fonte que divulgou as fotos, o que nunca fizemos. No texto citado dizemos claramente que alguns dos quatro repórteres que receberam as fotos do delegado Bruno ouvidos para a primeira matéria de CartaCapital disseram, em defesa da tese de que o áudio não devia ser divulgado, que o jornalista deve preservar o sigilo da fonte. Nós concordamos que a fonte deve ser preservada; mas dissemos que se deveria publicar os trechos da fita de áudio que revelavam o propósito político do delegado, sem citá-lo nominalmente, preservando a fonte, portanto.
Qual era o propósito político do delegado Bruno? Kamel tenta também fugir desse problema. Ele diz na sua carta-resposta de 19 de outubro: ‘Agiu mal a TV Globo ao preservar a fonte? Também não, porque ao mesmo tempo em que preservou a fonte, não fez, em nenhum momento, o que ele pediu: alegar que os CDs haviam sido furtados’. De fato, na sexta-feira 29 de setembro, a TV Globo não fez, como fizeram os três diários que também receberam a fita, junto com a rádio Jovem Pan: O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e O Globo. Todos os três jornais publicaram no dia 30 matérias dizendo que um policial lhes havia dito que as fitas tinham sido roubadas, o que era uma mentira descarada, para enganar os leitores.
Note-se que a Jovem Pan não agiu assim. Ela tem um site onde poderiam ter sido publicadas as fotos do dinheiro e onde poderia ter divulgado o áudio da conversa do delegado. Mas não divulgou nem uma nem outra coisa. Também não divulgou a mentira de que as fotos tinham sido roubadas, como queria Bruno. André Guilherme, o repórter da Pan, levou os dois documentos para os seus editores e eles decidiram que não se deveria publicar nenhum deles, com o argumento de que a Justiça Eleitoral poderia considerar a publicação uma interferência indevida, o que de fato era.
Kamel diz também, no que foi apoiado por pessoas como Marcelo Beraba, ombudsman da Folha, que nós omitimos que o delegado Bruno também pediu para que as fotos fossem divulgadas em outros programas de televisão na noite do dia 29 e que isso invalida o argumento de que o delegado tinha um propósito político claro. É claro que não invalida. Não é que nós não soubéssemos que o delegado fez as referências a outras tevês. No blog do repórter da Globo Luiz Carlos Azenha, o primeiro a divulgar trechos do áudio da conversa do delegado, já se falava na Band. Consultamos o blog do Azenha cuidadosamente.
Kamel, que é o chefe último de um noticioso de pouco mais de meia hora no qual se tenta concentrar o que há de mais importante no dia no Brasil e no mundo, sabe que editar é escolher. Nós escolhemos destacar o papel do Jornal Nacional nos planos do delegado Bruno. E dissemos isso explicitamente: ‘Para o que mais interessa ao desenrolar da nossa história, dos trechos da fita, deve-se destacar a preocupação de Bruno em fazer com que as fotos chegassem no dia ao Jornal Nacional‘. Kamel diz que ‘o que mais impressiona’ na nossa reportagem inicial na CartaCapital é o fato de termos destacado a frase do delegado que diz: ‘Tem de sair hoje à noite na TV. Tem que sair no Jornal Nacional‘. Diz que é uma frase citada só pela metade. Que falta a continuação: ‘Se for o SBT, Ana Paula Padrão’. Kamel diz, referindo-se a essa parte da fala do delegado não citada por nós: ‘Trata-se de um caso de omissão cujo objetivo pode ter sido dar a entender que a intenção do delegado era vazar as fotos prioritariamente para a TV Globo. Nada mais falso’.
Não é que o nosso propósito ‘pode ter sido dar a entender’ que o objetivo do delegado era esse. Não é ‘pode ter sido’. Foi. E não é ‘dar a entender’. Foi provar que o propósito era esse mesmo. Kamel não citou na sua carta-resposta o trecho do delegado Bruno no qual ele pergunta pela Globo, aos quatro jornalistas, ao passar o CD com as fotos. ‘Tem alguém da Globo aí?’ Na gravação, um dos quatro responde: ‘Tem o Bocardi.’ E Bruno continua: ‘Não é o Tralli? O Tralli está muito visado’. Bruno se referia a César Tralli, o repórter da Globo que se disfarçou de policial federal e, junto com a PF, acompanhou a prisão de Flávio Maluf, filho de Paulo Maluf, episódio que o teria deixado ‘visado’. Referia-se também a Rodrigo Bocardi, repórter da TV Globo que estava na Polícia Federal, embora em outro local, na hora da conversa citada.
Quando redigimos a primeira matéria para CartaCapital, registramos a fala de Bruno sobre Tralli, mas entendemos o seu significado como uma referência do delegado àquele episódio. Na semana seguinte, entrevistamos Tralli e compreendemos que não era isso. Tralli nos explicou porque foi ele o que mais rapidamente saiu com as fotos da PF: Porque Bruno, enquanto deu uma cópia do CD com as fotos para os quatro que o ouviam, pedindo-lhes que copiassem e devolvessem o original, como se tivesse uma cópia apenas, logo depois disso procurou Tralli e lhe deu outra cópia que tinha, só para ele. E Tralli correu com ela para a redação.
Tralli não é nenhuma criança, como nos disse: Sabe que o jogo eleitoral é cheio de ‘armadilhas e patifaria’. Conhece o delegado Bruno, por quem, aparentemente, não tem grande apreço. Por que Kamel não citou o tratamento especial de Bruno a Tralli? Porque, claro como o Sol, este fato mostra a pantomima de Bruno diante dos quatro jornalistas, ao insinuar que Tralli não era o nome certo para receber as fotos. E, mais do que isso, prova que a prioridade de Bruno era a TV Globo. Kamel diz que ‘é falsa a afirmação’ [que fizemos na CartaCapital] de que ele ‘teria tomado conhecimento na própria sexta-feira de uma fita com a conversa entre o delegado Bruno e os jornalistas a quem distribuiu as fotos’. Diz que ‘soube da possível existência de uma fita no dia seguinte’ quando dirigentes do PT disseram que a fita existia. Diz que, nesse dia, sábado, 30 de setembro, no início da noite, ligou para Luiz Cláudio Latgé, diretor de jornalismo da Globo em São Paulo, para saber se a emissora sabia da fita. Latgé lhe teria dito que Boccardi tinha ouvido a fita, ‘fora da Globo‘. Depois disso, Bocardi reproduziu para ele, Kamel, o conteúdo da fala de Bruno.
Frase fatal Kamel escreve de modo a parecer que inclusive ele estava de fato preocupado em saber se o delegado Bruno tinha motivações políticas. Ele diz que, ao falar do conteúdo da fita, Bocardi ‘foi enfático ao afirmar que nos dez minutos de conversa, em nenhum momento o delegado se referiu ao PT ou a motivações políticas’. Como se a motivação política do delegado não estivesse claríssima em seus atos: Por ter produzido as fotos de maneira clandestina; por ter manipulado as imagens, fazendo com as notas de dinheiro arranjos para que parecessem ter mais volume do que têm, colocando-as de pé, com a face voltada para quem as olha, e escolhendo um ângulo de baixo para cima, contra o teto, para ampliá-las; por ter tornado explícito que elas tinham que ir para o ar naquele mesmo dia, antevéspera das eleições, nos noticiosos do começo da noite, para ter mais repercussão.
Escrevemos na primeira matéria de CartaCapital que Kamel soube, ao contrário do que diz, na sexta-feira, do áudio da conversa do delegado Bruno. E que é também dessa sexta-feira, 29 de setembro, a frase dele ao saber da fita e de seu conteúdo: ‘Não nos interessa ter essa fita. Para todos os efeitos, não a temos’. Curiosamente, Kamel não desmente que disse a frase, que não ouvimos dele, mas de terceiros. Depois de voltar a checar nossas informações, repetimos o que dissemos: O áudio do delegado com os quatro jornalistas foi levado para a Globo na sexta-feira; Kamel soube dele nesse dia. Admitamos, porém, que Kamel tenha dito a frase no sábado, quando quis se inteirar do conteúdo da fita de áudio com mais detalhes, diante de sua repercussão? Isso diminui sua responsabilidade na sexta? Não: Ele é o responsável pelo jornalismo político da TV Globo. Até gente conservadora da sua equipe de jornalismo reclama da enorme vigilância que ele exerce sobre cada palavra do noticiário político mais sensível da emissora.
E é justamente por isso, repetimos, que ele é chamado de o Ratzinger da Globo, o guardião da doutrina da fé dos Marinho, do mesmo modo como o ex-cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento 16, foi o guardião da doutrina da fé católica no papado de João Paulo 2º.
No período no qual ‘o escândalo do dossiê dos petistas’ dominou a mídia, de 15 a 30 de setembro, a vantagem de Lula sobre Alckmin, conforme as pesquisas, que era de cerca de 20% antes, se reduziu a apenas 7%. Ou seja: A ação da mídia, com a Rede Globo à frente, puxou Alckmin de 34% das preferências dos eleitores, para 42%; e derrubou Lula de 53% das preferências, para 49%. Ou seja, ainda: A ação da mídia carregou as eleições para o segundo turno e, por pouco, não levou Alckmin ao primeiro lugar.
Nessa história há um fato inquestionável: A manipulação dos resultados eleitorais com uma cobertura facciosa do chamado escândalo do dossiê. Do ponto de vista da responsabilidade pessoal dos jornalistas, a história é um pouco mais complicada. Admitimos que ainda há margem para dúvida. Achamos que se deve ouvir mais gente.
Assim como procuramos Kamel antes de escrever a primeira matéria, procuramos Bocardi e Latgé, também. Bocardi nos atendeu. Foi ele que levou a fita de áudio do delegado Bruno para a Globo. Latgé só nos atendeu depois do primeiro texto publicado. Por ser o diretor de jornalismo da emissora em São Paulo deve ter sido ele a pessoa que discutiu com Kamel, na sexta, o material que tinha em mãos: O CD com as fotos e a fita com o áudio. Mas tanto Bocardi como Latgé nos receberam muito mal e não quiseram dar nenhuma explicação, mesmo depois de termos garantido a eles o sigilo de fonte – e fizemos isso porque sabemos que jornalista pode ser demitido, na imprensa do grande patronato, apenas por falar a verdade.
Sugerimos que, em função de sua gravidade, os congressistas investiguem o assunto; que se forme uma CPI para analisar a ação da mídia nas eleições de 2006. Nas investigações que poderiam se seguir esperamos que o gigante Kamel não faça o que a grande mídia critica no presidente Lula: Que jogue a responsabilidade sobre o repórter Bocardi e o chefe da redação paulista da Globo, Latgé, dizendo que estes seus subordinados foram os responsáveis.
(*) Jornalistas
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Diário Vermelho
(www.vermelho.org.br)
ELEIÇÕES 2006
Grande imprensa cometeu suicídio nestas eleições, diz Nassif
‘Ao adotar um pensamento único, elitista e anti-Lula, a mídia entrou numa rota suicida. Esse estilo, ‘inédito em termos de grande imprensa’, criou ‘um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo’. O diagnóstico é de Luis Nassif, jornalista há mais de três décadas e ex-membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo.
Nassif: ‘Os colunistas foram inibidos’
Nassif se tornou uma das vozes mais avessas aos descalabros que tomaram conta do jornalismo. Em sua opinião, a mídia sequer se esforçou para entender um fenômeno como o Bolsa Família – e sai dessa eleição desiludida com a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na entrevista que concedeu ao Vermelho – e que abre a série ‘Mídia x Mídia’, o jornalista mineiro atacou o presidenciável tucano Geraldo Alckmin. ‘A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada’. De acordo com Nassif, ‘Alckmin não tem discernimento’ e sofre de ‘incompetência gerencial’.
As declarações de Nassif foram tomadas nesta quarta-feira (25/10), num escritório da Avenida Paulista, em São Paulo, onde o jornalista coordena a Agência Dinheiro Vivo. Confira os principais trechos dessa entrevista exclusiva.
Por que essa onda anti-Lula e anti-PT ficou cada vez mais forte na grande mídia?
No começo do ano passado, alguns colunistas – não oriundos da imprensa propriamente dita -, intelectuais e pessoas do showbiz, basicamente o (Arnaldo) Jabor e o Jô (Soares), começaram uma crítica mais pesada ao Lula e ao PT. Essa crítica, num determinado momento, resvalou para uma posição de intolerância e teve eco na classe média.
Quando teve eco, aconteceu algo que, para mim, é o mais inacreditável que eu já vi em mais de 30 anos de jornalismo: a Veja entra na parada e começa a usar aquele estilo escabroso. É inédito em termos de grande imprensa – e é um suicídio editorial. Agora, aquele estilo acabou batendo aqui, em São Paulo, em alguns círculos do Rio de Janeiro, induzindo a mídia a apostar na queda do Lula. Quando não conseguiu derrubar Lula, a mídia enlouqueceu. E então todos os jornais caminhavam na mesma direção. Isso não existe. Todo mundo endoidou.
Criou-se um clima muito pesado de patrulhamento, ataques, macarthismo. Os colunistas, de uma maneira quase unânime, entraram nesse clima – até por constrangimento. Aquela posição relativamente diversificada que existia nos jornais, através de seus colunistas, acabou. Os colunistas foram inibidos. Há jornalistas aí, com 40 anos de carreira, que escreveram 365 artigos, um por dia, sobre o mesmo assunto, todo dia pedindo a cabeça do Lula.
Não dá. Criou-se uma guerra santa que é incompatível com o papel da mídia. Isso era para os jornais dos anos 50. Partiu-se para um festival de ficção, de arrogância, de agressividade e falta de civilidade que é veneno puro na veia na imagem dos jornais e das revistas que entraram nessa.
E, mesmo assim, o Lula não caiu…
Porque, no começo dos anos 90, tivemos um fenômeno: começou a surgir a ‘banda B’ da opinião pública. As classes D e E começaram a ter voz. É a história dos descamisados – e Collor percebeu muito bem isso. Começa a haver nessas classes um novo campo. À medida que o país vai evoluindo, aquela mediação feita pelos coronéis tende a se diluir. Este foi um primeiro ponto. Quando Lula lança o Bolsa Família – que é um programa muito bem-feito e que tem, sim, contrapartida -, ele pega esse fenômeno, que ganha corpo. O Fernando Henrique, que é sociólogo e tal, por conta de sua postura imperial, não percebeu esse novo cidadão emergente.
Outro ponto é que, na medida em que se criou essa unanimidade na mídia, você descartou públicos: o público engajado, que tem seu pensamento – a favor do Lula e do governo -, e que de repente percebeu que não havia nenhum veículo que fosse justo; e o segundo é um público menor, mas muito influente, que é o público dos formadores de opinião bem informados. Com aquela simplificação com que veio a cobertura, estes setores acabaram se desiludindo com a imprensa. Tudo isso surge num momento em que a internet já tinha massa crítica aí, com os blogs e tudo, para fazer contraponto. E entre os blogs tem de tudo.
Aquela diversidade que os jornais ainda tinham e perderam, o pessoal foi buscar na internet. E uma coisa a gente aprende com os blogs: se houver 20 blogs falando ‘A’, basta um blog falando ‘B’ de forma consistente, que ele inverte e desmascara. Há a interação entre os blogs e seus leitores. Os blogs emergiram como uma alternativa. E isso culminou com a matéria do Raimundo Pereira na CartaCapital. Em outros momentos, a Carta teria feito a matéria e ninguém falaria nada. Agora a matéria teve um alarido infernal, de tudo quanto é blog discutindo. E o tema não morreu.
A ponto de a Globo ter de se explicar…
É, tentou, tentou, mas não conseguiu responder. (Ali Kamel) é um rapaz inteligente, mas há coisas que, se você não consegue explicar, é melhor não tentar. Se você precisa de mais de uma lauda para explicar, não tente. Ele tentou e ficou chato, porque estava claro que era uma armação do delegado visando a Globo.
E aí se entra em outro aspecto: qual o interesse jornalístico de uma foto? Uma foto de dinheiro é igual a uma foto de dinheiro. Não há informação nisso. Essa foto ainda foi maquiada para dar maior fotogenia. O único interesse era como ela ia repercutir nas eleições, como no caso da Roseana Sarney. A gente sabia que esse dinheiro existia há semanas. O fato de aparecer a foto não tem significado nenhum.
Mas os jornais e TVs queriam dar a imagem para saber o efeito eleitoral da foto. Se o único interesse sobre a foto era esse, é evidente que a parte mais relevante do ponto de vista da notícia era saber como vazou a foto. E não deram isso. Manipularam e protegeram o delegado (Edmilson Bruno Pereira). Isso é um episódio marcante. Um golpe como esse, não temos paralelo em nossa história.
A mídia, cumprindo esse papel, é suicida. Ela não tem como ganhar. Se ela derruba o Lula, ela fica com a pecha de golpista para o resto da vida. Todo problema que surgisse seria imputado à mídia. Ou seja, se ela ganha, ela perde. Se não derruba o Lula – que foi o que aconteceu -, ela mostra que perdeu o poder que ela tinha.
Existe nisso um preconceito de classe?
Houve um claro preconceito de classe. No momento da internacionalização da economia brasileira, o Fernando Henrique passa a se cercar de uma corte que é minoritária em São Paulo, mas que tem muita ressonância. É um pessoal que se julga internacionalista, mas é da ‘geração Daslu’ – de um esnobismo altamente provinciano visto por um estrangeiro, mas que aqui dentro pegou muitos setores, inclusive da imprensa. Esse deslumbramento cresceu de uma forma muito ampla nesse período, em cima de um conjunto de colunistas muito próximos ao Fernando Henrique.
O grande pecado do Fernando Henrique, lá atrás, foi quando ele começou a desqualificar as críticas e começou a tratar tudo que não era internacional como caipira e provinciano. Ou seja, criaram-se ali as bases para essa visão entre modernos e anacrônicos. O fator Veja foi fundamental para trazer esse componente. A Veja já vinha num crescendo de grosserias e ataques pessoais, mas, no ano passado, explodiu.
E veio até aquela capa absurda de que o PT emburrece o país…
Quando se entra nesse preconceito monumental, a crítica fica desqualificada. Aquele papel da mídia, de ser mediadora, deixa de existir. E o Lula fez uma coisa de gênio político. Quando começaram os escândalos, ele mandou apurar tudo. Na medida em que o pessoal acusado foi tirado do barco, passou a sensação de que era possível reconstruir o governo Lula sem os barras-pesadas que passaram por seu governo.
Então você tem o Bolsa Família mudando a realidade brasileira, com a incorporação das massas excluídas. O Lula não é salvo pela política do Palocci ou do Banco Central, mas pelo Bolsa Família. E não apenas pelos que são beneficiados – mas também por aqueles que estão de fora e percebem que esse programa vai mudar a história do Brasil. Os jornais não se deram conta disso.
Quando ficou claro que o Lula não ia cair, começaram a falar: ‘Ah, mas o eleitor do Lula é nordestino, é analfabeto’. E quem fica com eles (os jornais)? Uma classe média muito paulistana, preconceituosa e anacrônica – porque quem é minimamente sofisticado não entra nesse jogo.
Você pega essa prepotência da Veja – esse negócio de ‘eu sou imbatível’. Veja aquele rapaz, o diretor, que entrou um dia e disse: ‘Hoje derrubamos o presidente!’.
Quem?
O Eurípedes (Alcântara), né? Acho que foi quando saiu aquela matéria do Palocci. Ele (Eurípedes) é que é o grande responsável por toda essa mudança que teve – essa adjetivação, esse clima todo.
A sensação de poder se dá pelo seguinte: você tem canais de TV, jornais, revistas – todos falando a mesma coisa. Só que, quando abre a cortina, tem um monte de gente espiando atrás da cortina. É um olhando pro outro, é um negócio auto-referenciado. Poucas vozes ousaram investir contra esse clima.
Os jornais apostaram na beligerância entre PSDB e PT?
Essa guerra acabou. Os jornais, com amadorismo, achavam que esse clima duraria até a queda do Lula. No dia seguinte às eleições, saem de cena Fernando Henrique, (Jorge) Bornhausen, (Tasso) Jereissati e os jornais e revistas que entraram nessa – eles só prosperam em tempos de guerra. As forças para pacificação são mais fortes do que as forças da guerra.
Fernando Henrique é outro que se queimou. Poderia ser um pacificador… Itamar e Sarney deram declarações, como ex-presidentes, com responsabilidade perante o país. E de repente vem o Fernando Henrique e solta a franga de uma maneira que deixa de ser referência.
Por que as irregularidades do governo Alckmin ficaram completamente fora da pauta da grande mídia, ao menos até as eleições?
A gestão dele em São Paulo, do ponto de vista administrativo, foi absolutamente medíocre e nunca foi avaliada. Então você pega a Secretaria de Educação. Numa entrevista, perguntei para ele: ‘Governador, qual a sua proposta para as universidades federais?’. Ele respondeu: ‘Vamos criar indicadores de acompanhamento’. E por que não criou nas universidades estaduais? ‘Ah, porque isso poderia conflitar com o conceito de autonomia universitária’.
Olha o Rodoanel: quatro anos para resolver uma questão ambiental. Isso não existe. Mas, como precisava criar um anti-Lula, jogam o Alckmin como bom gestor – coisa que ele não era. Tem outras virtudes, mas não essa. E aí precisa vir o Lembo e dizer que o estado está vendendo estatal para pagar contas. Imagina se isso fosse com o governo Lula? Aí começa a ficar explícita a perseguição da mídia.
Você acha que Alckmin não tem condições de governar o Brasil?
Não. O Alckmin não tem discernimento. O Serra e o Aécio pegam gente eficiente, se cercam de bons quadros. E o que o Alckmin faz aqui? Na esfera federal, essa falta de discernimento do Alckmin seria complicada – e estamos falando do que ele já fez no estado, não num país. Não tenho informações sobre desonestidade da parte dele. Agora, no que diz respeito à incompetência gerencial, sim.’
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Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 27 de outubro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Não tragou nem fumou
‘NO ANO que antecedeu a eleição de 1992, Bush pai alcançou a maior aprovação até então experimentada por um presidente americano -89% de ótimo/ bom. Era aplaudido pela operação Tempestade no Deserto, que libertara o Kuwait de Saddam Hussein. Iniciou a campanha na condição de imbatível.
Bill Clinton, por sua vez, partia do menor ‘recall’ já apurado para um postulante à Casa Branca. Governador do pequeno Arkansas, era desconhecido no cenário nacional. Investigado pela imprensa, precisou responder sobre adultério, consumo de maconha e fuga do alistamento militar. Sua taxa de rejeição era o dobro da de simpatia.
Os estrategistas democratas, porém, identificaram nas pesquisas um novo cenário. Com a vitória no Golfo, os eleitores tinham passado a enxergar outro tipo de ameaça. Bombardeados de produtos e investimentos estrangeiros, sobretudo japoneses, duvidavam da competitividade de sua economia.
A história consagrou James Carville, o marqueteiro de Clinton, mas também a equipe de Paul Tsongas, à época senador por Massachusetts e principal adversário do governador nas primárias, percebeu a mudança do vento. Os dois pré-candidatos apresentaram detalhados planos econômicos que vendiam prosperidade. O de Tsongas apostava em incentivos fiscais; o de Clinton, em programas de capacitação. Os pacotes foram distribuídos às bibliotecas públicas, discutidos na televisão, debatidos na propaganda por prêmios Nobel de economia.
Escolhido candidato, Clinton impôs essa agenda ao adversário republicano, teve a sorte de ver Bush vomitar no colo do premiê japonês e virou o jogo. Os institutos que pesquisaram a eleição deste ano no Brasil também detectaram latências. Mesmo no auge da crise do mensalão, o principal ‘driver’ de voto era emprego (ou a falta de). Isso explica a obsessão de Alckmin pelo tema, suas promessas diárias de ‘mais emprego, emprego para o moço, para a moça, para a mulher’.
Mas, se Clinton soube surfar a onda, hoje está claro que Alckmin nem subiu na prancha. Nunca pôs na mesa concretudes que respondessem ao anseio alimentado por ele mesmo. Sem repertório, abusou de expressões vazias de significado. ‘Vou dar um choque de gestão.’ ‘Governar é escolher.’
No segundo turno, fez pior. Desautorizou todo tipo de detalhamento, como se viu na descompostura aplicada em Yoshiaki Nakano. Virou um prisioneiro da agenda do adversário, condenado a dizer apenas o que não iria fazer (privatizar, lipoaspirar o Bolsa Família, implodir a Zona Franca, convocar uma ‘miniconstituinte’).
‘Lula acha que está bom; eu acho que não.’ Esse bordão, um dos favoritos de Alckmin, contém a explicação de seu naufrágio: 53%, diz o Datafolha, acham que está bom. Caso encerrado.
RENATA LO PRETE é editora do Painel’
Elvira Lobato
TV da família Sarney mostra vídeo contra rival de Roseana
‘A TV Mirante, da família Sarney e afiliada da Rede Globo, exibiu um vídeo com imagens sobre uma suposta tentativa de compra de votos no interior do Estado por correligionários de Jackson Lago, candidato do PDT ao governo do Estado. Adversário de Roseana Sarney, Lago não foi ouvido pela emissora sobre a acusação.
O vídeo abriu o noticiário local das 19h. Segundo a emissora, o vídeo mostra o deputado estadual Julião Amin (PDT) oferecendo uma secretaria estadual, caso Lago se eleja governador, ao ex-prefeito do município de Olinda Nova do Maranhão, identificado apenas como Mimi Cutrim.
Segundo Rômulo Barbosa, diretor-geral da emissora, a fita foi entregue pelo próprio Mimi Cutrim. Ainda de acordo com a TV Mirante, o empresário Júlio Noronha, genro de Jackson Lago, teria testemunhado o encontro.
A emissora exibiu ainda uma entrevista com uma suposta militante do PDT, identificada como Conceição Paiva, segundo a qual o filho dela teria entregue R$ 5.000, em notas de R$ 10, R$ 20 e R$ 100, ao ex-prefeito para a compra de votos. A voz da mulher é pouco compreensível no vídeo.
A emissoria disse não ter checado se Conceição era mesmo militante do PDT, mas afirmou que não temeu que se tratasse de armação porque ‘as imagens são eloqüentes.
Debate
O vídeo foi colocado no ar faltando menos de três horas para o início do debate entre Roseana e Jackson promovido pela própria TV Mirante.
Segundo a assessoria de Lago, o candidato estava recolhido, preparando-se para o debate, quando a notícia foi veiculada, e ele responderia à acusação na emissora.
Para o deputado Aderson Lago, presidente do PSDB local e um dos coordenadores da campanha de Lago, disse ter suspeitado que era uma armação antes do debate na TV.
Pesquisa e Lula
O instituto Toledo e Associados, de São Paulo, divulgou ontem pesquisa de intenção de voto (contratada pelo jornal ‘Imparcial’) que aponta uma diferença de 7,3 pontos percentuais em favor de Jackson.
Pela pesquisa, Roseana tem 42,8% dos votos válidos contra 50,1% do candidato pedetista. Segundo o diretor-geral do instituto, Francisco de Toledo, a pesquisa já refletiu o impacto do comício de Lula com Roseana em Timon (MA), no qual ele pediu votos para a candidata do PFL, a quem chamou de ‘querida companheira’.
O coordenador da campanha eleitoral de Lula no Maranhão, Evandro Nonato de Souza, disse que o presidente pode perder votos no Estado por apoiar a candidatura de Roseana ao governo. Segundo o coordenador, a votação de Lula, que chegou a 75% dos votos válidos no primeiro turno, pode cair para 65% a 68%, no segundo turno.
Lula, na avaliação do coordenador, deve perder votos nas cidades com mais de 50 mil habitantes, onde há forte sentimento anti-Sarney na classe média. Roseana teve 35% dos votos nessas localidades, contra 43,5% obtidos por Jackson.
Os petistas gostariam que Lula tivesse ficado neutro na disputa eleitoral no Maranhão. A deputada federal Terezinha Fernandes (PT) acusou Lula de ter traído o PT.
‘Não é justo que ele venha aqui levantar a mão da última oligarquia para tentar salvá-la da derrota iminente’, disse a deputada, que foi vice na chapa de Edson Vidigal (PSB), derrotado no primeiro turno.’
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Ataques de Frossard a Cabral marcam último debate na TV
‘No último debate entre os candidatos ao governo do Estado do Rio, realizado ontem à noite na TV Globo, Denise Frossard (PPS), que está 25 pontos atrás de Sergio Cabral (PMDB), atacou seu adversário na primeira hora do encontro.
Frossard começou o debate criticando a justificativa de Cabral de que dinheiro de consultorias que prestou permitiu a compra de uma casa em condomínio de luxo em Mangaratiba (a 70 km do Rio). ‘O sr. diz que fez um bico para comprar a casa. Que moral vai ter para proibir os policiais de fazerem bico, o segundo emprego para completar seu salário?’
Cabral afirmou que a sua declaração de renda mostra os recursos usados para comprar a casa na praia. ‘Nunca tive problemas com à ética. Lamento que tenha partido para ataques pessoais’, respondeu Cabral, afirmando que pretende remunerar melhor a polícia para acabar com o ‘bico’.
Em seguida, a candidata do PPS lembrou que Cabral faltou a 52% das sessões do Senado neste ano. Segundo Cabral o número estava ‘equivocado’ porque se licenciou do mandato quatro meses antes da eleição.’Estou extasiado com a deputada pela falta de conhecimento dos assuntos do Estado e sobre o meu mandato’, rebateu o peemedebista.
Cabral perguntou sobre a cobrança de royalties para o Estado a partir da nova usina nuclear que o governo federal pretende concluir.
Em resposta, Frossard afirmou que o peemedebista só tem propostas ‘mirabolantes’ e pediu que ele ‘colocasse os pés na Terra’. ‘De 1999 a 2005, houve 44.947 assassinatos no Rio. O que o sr. vai fazer para dirigir o Estado mais violento da Federação?’
‘A deputada foge da pergunta porque não a compreendeu. Tenho visto sua campanha. Não tem proposta nem programa de governo’, afirmou Cabral.
Até a conclusão desta edição o debate não havia sido encerrado.’
TODA MÍDIA
E o mercado ignora
‘‘O calendário eleitoral lotado deste ano na América Latina tem sido largamente ignorado pelo mercado’, escreveu ontem o ‘Financial Times’, na coluna Lex. E acrescentou uma pergunta, ‘isso é inteligente?’
Relata os prós, como a ‘resistência das economias latino-americanas a choques externos’, sobretudo pelas commodities. Mas diz que ‘desenvolvimentos políticos têm dado pouca segurança’. Em especial, aponta a ‘polarização’ nas campanhas eleitorais, que ‘mostra como as sociedades continuam divididas’.
Até o Brasil do ‘relativamente moderado’ Lula, ‘apesar dos significativos avanços econômicos’, só cresceu em média 2,9%. Crescer mais, avisa a coluna, fazendo coro com boa parte da imprensa estrangeira ao longo da semana, ‘requer reformas significativas’.
A revista ‘Economist’, em novo editorial sobre Lula e em reportagem, vai pela mesma linha de defesa de reformas e até das privatizações, bem como o ‘Wall Street Journal’, em artigo elogioso sobre Alckmin.
À MEIA-NOITE
O mesmo ‘FT’ noticia que Evo Morales ‘sente o calor nas negociações sobre gás’. Calor que vem das ameaças do Brasil, mas é, sobretudo, interno. O prazo para chegar a acordo pesa tanto sobre ele como sobre o candidato Lula.
‘Dois minutos depois da meia-noite’, anota o jornal, Morales ‘espera anunciar que completou a nacionalização’.
DISTÂNCIA
O jornal espanhol ‘El País’, a exemplo do francês ‘Le Monde’ no dia anterior, dá o endurecimento na discussão sobre o gás como prova de que Lula ‘marca distância’ de Evo Morales e de Hugo Chávez.
Outra foi ‘cortar o apoio à candidatura venezuela ao Conselho de Segurança da ONU’. Duas determinações tiradas ‘em apenas 24 horas’.
ATRÁS DE UM CULPADO
Gonzalez, o marqueteiro
Começou com o tucano Álvaro Dias, anteontem, prosseguiu ontem com os pefelistas ACM, no Terra Magazine, e Cesar Maia, no ‘ex-blog’, e envolveu até o pesquisador Antônio Lavareda, no ‘Valor’.
Os senadores apontam diretamente o publicitário de Geraldo Alckmin, Luiz Gonzalez, como culpado pela eventual derrota. ACM diz que ‘o problema era o marqueteiro’. Maia e Lavareda sublinham a pouca eficiência da propaganda.
Em coletiva de ontem, segundo relato da Reuters Brasil, Alckmin foi ‘indagado insistentemente’ sobre Gonzalez e sua campanha, declarou que ‘as pessoas têm o direito de expressar suas impressões’ e, no mais, ‘desconversou’.
VOTO GAY
Nesta que é talvez a eleição brasileira de maior cobertura externa, as agências seguem agenda a mais diversificada.
Ontem nos sites de jornais estrangeiros, o destaque da Reuters era que, ‘Na eleição do Brasil, o voto gay conta’. Entrevistas com Luiz Motta, do Grupo Gay da Bahia, à ‘drag queen’ Salete Campari.
Mas só um parlamentar ‘abertamente gay’, Clodovil, foi eleito. E ele considera que ‘casamento gay é pecado’.
VOTO SEM TERRA
Outra pauta, esta da AP, diz nos sites que ‘Sem-terra do Brasil se inclinam para Lula’.
A agência foi a Nova Iguaçu para falar com ‘landless’ do acampamento ‘Promised Land’. Citou elogios e críticas a Lula, na linha de que ‘ele fez algumas alianças estranhas’.
Ouviu também João Pedro Stedile, que se disse ‘contra o retorno ao poder das classes dominantes’, com Alckmin, e conclamou ‘o povo [a] votar e se unir em torno de Lula’.
CIVIS MORTOS
Os sites da Anistia Internacional pelo mundo traziam ontem um comunicado público sobre ‘mais mortos civis’ no Brasil, como Alice da Silva, 64, ‘baleada nesta semana quando se encolheu contra a parede de sua casa tentando desesperadamente proteger seus dois netos’. Foi no Rio, durante a ‘operação policial no Complexo do Alemão’, com moradores relatando ‘ameaças, intimidação, surras’:
– Com a aproximação do segundo turno nas eleições para governador e para presidente, os candidatos têm que encarar o vácuo de uma política de longo prazo na área.’
BOLÍVIA
Mídia é usada por Petrobras e Bolívia para travar guerra fria
‘Embora tenham deixado de trocar farpas em declarações públicas, a Petrobras e o governo Evo Morales vêm travando uma espécie de guerra fria na mídia boliviano nos dias que antecedem o prazo final para a assinatura dos novos contratos de exploração de gás e petróleo. Caso não haja acordo até amanhã, o decreto de nacionalização prevê a expulsão das empresas que não tenham assinado novos contratos com o governo.
Alvo de duras críticas de membros do governo Morales, a Petrobras Bolívia inicialmente respondia apenas com notas à imprensa e entrevistas esporádicas. Nas últimas semanas, no entanto, a empresa -a maior instalada no país- lançou uma extensa campanha publicitária ressaltando seus números na Bolívia, como investimentos e pagamento de tributos.
A Folha pediu os gastos de publicidade da empresa no país, mas sua assessoria informou que se trata de números sigilosos.
Na semana passada, a empresa brasileira convidou seis jornalistas da imprensa boliviana para conhecer investimentos na área do gás no Estado do Rio. As reportagens publicadas nos dois principais jornais do país, ‘La Razón’ e ‘El Deber’, enfatizam investimentos da empresa brasileira para depender menos do produto boliviano, alimentando a discussão de quem depende mais do outro, se é o Brasil do gás boliviano ou a Bolívia do investimento brasileiro.
Já a Bolívia tem realizado uma série de anúncios em favor das medidas previstas na nacionalização. Ontem, anunciou a criação de Bolsa Escola financiada, neste ano, exclusivamente pelo aumento tributário imposto à Petrobras e suas sócias.
Na segunda, divulgou nota sobre um suposto relatório de auditoria -não distribuído à imprensa- segundo o qual as empresas que exportam gás ao Brasil vêm tendo ‘lucros extraordinários’.
Anteontem, citando fontes anônimas do governo, o ‘La Razón’ disse que pelo menos duas empresas, a francesa Total e a britânica BG, estariam muito próximas de um acordo.
Recurso
Apesar de acreditar em um acordo com a Bolívia até o final de semana, o presidente do PT e coordenador da campanha do presidente Lula à reeleição, Marco Aurélio Garcia, não descartou ontem uma intervenção jurídica sobre o impasse. ‘Queremos o acordo para renovar os contratos. Se esse entendimento não for possível, a Petrobras sai da Bolívia e seremos ressarcidos pela via da negociação ou da Justiça.’’
INTERNET
Google passa a oferecer publicidade no Orkut
‘O Google passou a vender anúncios a serem colocados no site de relacionamentos Orkut, popular entre os brasileiros mas relativamente pouco usado nos Estados Unidos, maior mercado para serviços on-line.
O Orkut ganhou, em suas páginas, um link que diz ‘anuncie conosco’, que leva o usuário à página do sistema AdWords, do Google. O AdWords permite aos anunciantes escolher palavras-chave para que seus anúncios apareçam ao lado de buscas feitas do Google com essas palavras. O sistema também faz com que os anúncios sejam veiculados em sites que não são do Google mas sejam relacionados a essas palavras.
Pelo sistema, será possível colocar anúncios especificamente no Orkut usando as palavras-chave.
Por enquanto, porém, o Google informa na página do AdWords que esse serviço só está disponível nos Estados Unidos e na Índia.
Relacionamento
Os sites de relacionamentos estão atraindo os distribuidores de publicidade on-line porque seus usuários geralmente passam muito tempo neles e navegam por várias páginas (de amigos, comunidades, bandas etc.) em cada visita.
Em agosto, o próprio Google concordou em pagar US$ 900 milhões, no período de 2007 a 2010, pelo direito de fornecer os serviços de busca no MySpace, site de relacionamentos popular nos Estados Unidos.
Já a Microsoft fez, em agosto, um acordo com o site de relacionamentos Facebook, também popular nos EUA, para ser provedora exclusiva de publicidade on-line.
O MySpace é o quarto site de língua inglesa mais acessado no mundo, e o sexto mais acessado entre os sites de todas as línguas, de acordo com o site alexa.com, que mede o tráfego na internet. Nos últimos três meses, em média 3,6% das pessoas que acessaram a internet visitaram o site, ainda segundo o alexa.com.
Já o Orkut é o site mais acessado no Brasil e o 11º mais acessado no mundo, também de acordo com o alexa.com. O Orkut recebeu visitas de 2,5% dos usuários da internet, em média, nos últimos três meses.
O Facebook é o 29º site mais acessado de língua inglesa.
O Orkut, apesar de existir há mais de dois anos, ainda é um site ‘beta’ -o que significa que ainda está em desenvolvimento e que a empresa responsável por ele oferece poucas garantias ou assistência para seu uso.
A Folha tentou na tarde de ontem entrar em contato por telefone e e-mail com a assessoria de imprensa do Google nos EUA, para obter mais detalhes sobre os anúncios no Orkut, mas não obteve resposta.’
TELEVISÃO
Globo agora quer dividir futebol com o SBT
‘Uma parceria inimaginável alguns anos atrás pode vingar em 2007. As rivais Globo e SBT acabam de abrir negociações para o compartilhamento das transmissões dos principais torneios de futebol do país.
O caminho para o SBT está livre desde ontem, quando a Record anunciou oficialmente que não irá renovar o acordo que manteve nos últimos quatro anos com a Globo _dona dos direitos esportivos.
Executivos do SBT e da Globo já tiveram um contato. O SBT manifestou interesse em transmitir o futebol. Para a Globo, o SBT não assusta mais e é importante dividir o futebol com outra rede, não só pelo dinheiro (cerca de R$ 50 milhões), mas também para evitar acusação de monopólio e eventual ação no Cade _o que a Record agora estuda fazer.
Procurado, o SBT declarou que uma parceria com a Globo é ‘assunto muito reservado’.
A Band também tem interesse no futebol, mas não aceita exibir os jogos determinados pela Globo _motivo que levou a Record a romper o acordo.
A Record se prepara agora para participar da concorrência pela Copa de 2010. A entrada da Record na disputa no mínimo inflacionará os custos do Mundial para a Globo (que pagou US$ 80 milhões pelo de 2006).
A Record também fará um trabalho de aproximação com os clubes, visando os torneios em 2009, quando vence o contrato da Globo com os times.
EMERGÊNCIA 1
A Globo teve de improvisar nas transmissões de Corinthians x Palmeiras, anteontem. Na última hora, Walter Casagrande avisou que estava mal e não poderia comentar o jogo.
EMERGÊNCIA 2
A solução foi escalar o repórter Mauro Naves, que atuou como um comentarista de bastidores, não de tática de futebol. Para muita gente, o resultado foi até melhor.
ESTRATÉGIA
Assim como já fizeram SBT e Record, a Band estreará ‘Paixões Proibidas’, sua próxima novela, numa terça, o próximo dia 14. A emissora avalia que será favorecida no Ibope pelo fato de a data ser véspera de feriado não-prolongado, em que as pessoas poderão dormir mais tarde e conferir sua produção.
TRIBUNAL 1
O juiz da 13ª Vara Cível de São Paulo, em sentença do último dia 18, condenou a Record a indenizar Boris Casoy pela rescisão de contrato ocorrida em 30 de dezembro passado.
TRIBUNAL 2
A Justiça mandou a Record pagar a Casoy os salários que ele teria a receber nos onze meses que restavam de contrato. Casoy queria indenização pelo contrato todo (48 meses) e estuda se irá recorrer.
RESERVA
O SBT está montando um banco de elenco. Ontem, renovou contrato com Barbara Paz.
NOVELA MUDA
Depois de quase um mês afastado, Tarcísio Meira recuperou a voz e volta a gravar ‘Páginas da Vida’ na segunda.’
Luciana Obniski
MTV exibe versão gay de ‘Beija Sapo’
‘A MTV exibe hoje mais uma versão gay do programa ‘Beija Sapo’, apresentado por Daniella Cicarelli. Pela segunda vez, porém, a princesa não será disputada por sapos, mas por sapas -curiosamente, um apelido carinhoso dado às próprias lésbicas.
Apesar dos beijos excessivamente longos e dos participantes com idade cada vez menor, o que mais preocupa é a evolução de programas de ‘namoro’. O primeiro foi o finado ‘Fica Comigo’, liderado pela (então) competente e simpática Fernanda Lima. O programa era uma versão mais ‘light’ que a atual, formando um único par no final do programa que poderia, ou não, se beijar.
Já nessa versão de Daniella, os intervalos servem para formar casais entre pessoas da platéia e cada participante eliminado é prontamente ‘presenteado’ com outra pessoa.
No final, a pessoa cortejada invariavelmente beija o participante que escolheu. Recentemente, a MTV lançou ainda outro programa neste formato. ‘A Fila Anda’ (que ainda não ganhou versão homossexual) é comandado pela despachada Penélope Nova e elege 24 pessoas que, em fila, disputam uma única. Nesta versão, no final, o participante beija três e escolhe um. Tema pela próxima versão de um programa deste tipo.
BEIJA SAPO
Quando: hoje, às 19h
Onde: MTV’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 27 de outubro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Petista e tucano se preparam para o debate da Globo, o último duelo
‘No último debate da eleição, marcado para hoje à noite na TV Globo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, pretendem apostar num confronto menos ofensivo. Nada garante, porém, que essa linha será cumprida. Se de fato a trégua for confirmada, ocorrerá mais em razão do rígido formato do programa do que pela cordialidade dos concorrentes.
‘Eu não tenho razão para ficar nervoso no debate’, disse Lula na noite de quarta-feira, em comício no bairro da Capela do Socorro, em São Paulo, numa referência às pesquisas de intenção de voto, que indicam a sua reeleição no domingo. No palanque, o presidente falou por apenas 15 minutos. ‘O problema é que eu tenho debate’, justificou. ‘Eu não canto, mas preciso estar com a voz preservada.’
CORINTHIANS
O coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, disse que o presidente está ‘afiadíssimo’. ‘Muito afiado e bem melhor do que o time dele, o Corinthians’, brincou Garcia, que também comanda o PT, ao lembrar a apertada vitória de 1 a 0 da equipe do Parque São Jorge, na quarta-feira, sobre o Palmeiras. Para o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, Lula vai apresentar propostas e terá uma atitude ponderada.’Mas, se for atacado, dará respostas com a mesma intensidade’, observou.
O tom adotado por Alckmin no debate de hoje da TV Globo deve mostrar equilíbrio entre o desempenho ‘Mike Tyson’ exibido por ele no confronto da Bandeirantes com o estilo ‘chuchu’ apresentado no programa do SBT.
‘O formato do debate permite que o encontro seja mais equilibrado e mais propositivo’, comentou o coordenador-geral da campanha de Alckmin, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Mesmo assim, ressalvou Guerra, o candidato não deixará de ser ‘contundente’ ao abordar questões como a corrupção que atingiu o governo Lula.
ENSAIO
Alckmin passou parte da tarde de ontem reunido com seus marqueteiros para o encontro de hoje à noite na sede da emissora, no Rio. Pelo formato do programa, o tucano e o petista responderão em três dos quatro blocos a perguntas de eleitores indecisos selecionados pela Globo sobre 20 temas, que vão de educação e saúde a corrupção. Apenas no bloco final é que cada candidato poderá fazer uma pergunta para o outro.
‘Pelo menos o debate de amanhã (hoje) tem um formato diferenciado. O outro modelo – no qual candidato pergunta para candidato a maior parte do tempo, já adotado nos debates anteriores da Bandeirantes, do SBT e da TV Record – está saturado’, avaliou Guerra.
De manhã, antes de viajar para o Rio, Alckmin fará mais uma sessão de acupuntura, para se tranqüilizar. O candidato tucano vai embarcar por volta do meio-dia e passará a tarde em treinamento para o encontro.
Já o presidente Lula pretende deixar Brasília só no fim do dia. Sua preparação será reforçada hoje de manhã, no Palácio da Alvorada. Pesquisas qualitativas encomendadas pela cúpula da campanha petista indicaram que os eleitores não gostam de estilo agressivo.
COLABOROU DENISE MADUEÑO’
Cristina Padiglione
Na platéia, 80 indecisos selecionados pelo Ibope
‘Após três debates entre os presidenciáveis neste segundo turno, o encontro anunciado para hoje à noite, na Globo, apóia-se numa platéia de 80 eleitores indecisos para tentar extrair algo de inédito no repertório de Lula e Alckmin. Coube ao Ibope selecionar esse auditório, composto por eleitores de vários estados. A cada indeciso foi encomendada a elaboração de cinco perguntas, com base em temas de interesse nacional e sem interferência de terceiros. As questões não foram formuladas para o candidato A ou B, valem para os dois. Mas a tarefa de escolher as 12 perguntas mais representativas é de William Bonner, o mediador, e da equipe de produção. São essas que serão sorteadas durante o debate.
Para que não pairem dúvidas sobre a isenção desses eleitores, o Ibope confina todos num hotel no Rio, sem que eles possam usar internet ou linha de telefone externa. É quase um reality show. De lá eles seguirão diretamente para o Projac, complexo de estúdios de Jacarepaguá, onde a cena se realiza hoje.
O formato é inédito neste pleito porque nem Bandeirantes nem SBT nem Record se valeram de platéia de eleitores para seus debates, mas a receita segue exatamente os padrões do civilizado debate entre Lula e José Serra em outubro de 2002.
A Globo também restringe a torcida: Lula e Alckmin poderão estar acompanhados por até 10 assessores cada um, mas só 3 deles terão acesso ao seu candidato nos intervalos. Entre quatro blocos de programa, apenas o último será dedicado ao embate direto entre os dois. Nos demais, todo o espaço será ocupado pelas perguntas dos eleitores. Não haverá participação de outros jornalistas em cena além de Bonner.’
PRÊMIO IBCC
IBCC homenageia editora do ‘Estado’
‘O Instituto Brasileiro de Controle do Câncer lançará manhã o Prêmio IBCC de Jornalismo. O objetivo é reconhecer o trabalho da imprensa que foque a educação da população para a prevenção e o tratamento de câncer e os avanços científicos na área. No evento de lançamento, a entidade homenageará com uma premiação honoris causa a editora do Estado Viviane Kulczynski, em reconhecimento à importância da cobertura de saúde feita pelo ‘Vida&’.’
INTERNET
Upload, download. De que lado você está?
‘Numa cena que parece tirada diretamente de um filme de suspense – ou melhor, numa sátira desse filme -, o líder líbio Muamar Kadafi convocou em agosto Nicholas Negroponte, da Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, para uma reunião numa tenda no Deserto do Saara, para conversarem sobre uma iniciativa chamada One Laptot per Child (Um Laptop por Criança), conhecida como OLPC.
Em seguida, no início deste mês, Kadafi separou US$ 250 milhões para o projeto do guru digital, indicando que, em 2010, o antigo estado pária da África do Norte poderá muito bem se tornar o primeiro país do mundo a garantir para cada criança na escola acesso a um computador e a uma conexão de rede.
Com a Argentina, Brasil, Nigéria e Tailândia seguindo de perto a Líbia, o computador OLPC já passou o estágio da demonstração; o grupo, uma entidade não lucrativa, promete entregar mais de um milhão de unidades em 2007. Conhecido como o laptop de US$ 100, esse computador tem uma tela integrada, teclado e uma câmera de vídeo. Requer menos de 10% da energia utilizada pelos computadores padrão e permite conexões sem fio com outros laptops OLPC, para formar uma ‘rede integrada’ que pode ser ligada à internet sem nenhum custo.
O que ele não tem é algum software produzido pela Microsoft, uma opção que parece ter deixado Bill Gates muito decepcionado e possivelmente aumentou a ansiedade que ele e sua empresa sentem quanto ao seu lugar no mundo futuro dos computadores.
O filantropo bilionário não é o único a se retirar de uma batalha nessa área, e no inicio deste ano ele apresentou a sua própria versão do futuro – um protótipo que chamou de ‘PC celular’. Um sistema de telefone inteligente, baseado, naturalmente, no Windows CE da Microsoft.
É estupidez da minha parte me intrometer numa disputa entre o homem mais rico do mundo, um potentado do Oriente Médio e o irmão do principal espião dos Estados Unidos (John D. Negroponte é diretor do serviço nacional de inteligência). Mas as apostas estão cada vez mais altas do que imaginam esses mestres da ‘realpolitik’ .
Desde o final da Segunda Guerra Mundial, matemáticos, engenheiros, visionários e artistas sonharam com uma máquina que conseguisse simular todas as outras mídias e se conectar com a comunidade criativa em todo o mundo. Os ‘jetpacks’ (espécie de mochilas com propulsores para voar) e os robôs falantes que as pessoas esperavam em meados do século 20 nunca se materializaram. Mas o computador como máquina de cultura existe e é uma das maiores dádivas que o presente tem a dar para o futuro.
No entanto esta dádiva valerá muito pouco no final se desenvolvermos e distribuirmos computadores mais adaptados para fazermos ‘download’(baixar dados de um computador) do que ‘upload’ (transferir dados de um computador para outro).
Pense na televisão como uma grande ferramenta para se fazer ‘download’, um fluxo de conteúdo que vai numa única direção, produzido por poucos e consumido por muitos. O computador em rede, por outro lado, leva em conta tanto produtores como consumidores e a distribuição é tanto individual como universal. É isso que o torna tão revolucionário quanto a máquina impressora.
A possibilidade de se fazer ‘download’ pode ser uma grande coisa, dando a escolares pobres o acesso a enciclopédias e livros de texto online que, do contrário, eles jamais poderiam se permitir. Porém é a capacidade extraordinária da internet para fazermos ‘upload’ da nossa própria música, imagens e opiniões que o torna fundamental para o desenvolvimento da cultura do século 21.
E é por isso que o laptop OLPC parece superior à alternativa baseada no telefone celular proposta por Gates. Os telefones celulares possibilitam a comunicação e permitem que se faça download de toques da campainha do telefone e de partes de conteúdo de multimídia. Mas escrever o ‘101’ (equivalente ao ‘LOL’, acrônimo muito usado na internet, em salas de conversação, jogos, mensagens, e que significa ‘laughing out loud’ , gargalhando) para indicar alegria é o que queremos realmente exportar para o mundo em desenvolvimento?
Bill Gates e outros sugerem que as limitações do telefone celular – tela e teclados minúsculos – podem ser sanadas com a adição de teclados portáteis e a conexão do dispositivo inteiro a uma televisão. Isso poderá ser possível a longo prazo, mas no momento os celulares estão muito mais ajustados ao consumo de cultura que à produção de cultura.
Devemos exportar ferramentas que promovam algo mais do que fazer download – especialmente para os jovens e pessoas pobres. Daqui a 30 anos, quando nossos netos e seus amigos na Líbia perguntarem, ‘de que lado da guerra entre o download e o upload você está, vovó’, o que você vai responder?
*Peter Lunenfeld é professor de media design no Art Center College of Design em Pasadena, escreveu para o Los Angeles Times’
MERCADO EDITORIAL
Revista da Biblioteca Nacional faz um ano
‘Criada para tornar acessíveis ao grande público conteúdos históricos restritos ao meio acadêmico, a Revista de História da Biblioteca Nacional comemora um ano. A publicação, mensal, vendida em todo o País, em bancas de jornal e em livrarias, é escrita por historiadores, jornalistas, pesquisadores da área de ciências humanas e ainda estudantes de graduação.
O editor, Luciano Figueiredo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma: ‘Não é uma revista de nariz empinado, voltada para estudiosos e seqüestrada pela academia.’ O público da publicação, para ele, é ‘aquele que gosta de ler história e que tem visão crítica’. O editor se orgulha do fato de a revista, em seu primeiro ano, ter contribuído para discussões relevantes, como a revisão do mito do Marechal Rondon, o cangaço brasileiro e o continente africano. Todos os artigos são ricamente ilustrados com imagens do vasto acervo da Biblioteca Nacional. A instituição surgiu no fim do século 19, no Rio, por iniciativa de d. João VI. É a maior biblioteca da América Latina e a oitava no ranking mundial.
Na edição comemorativa, cuja reportagem de capa, assinada por Maria Ângela de Faria Grillo, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco, fala de cordel, destaca-se dossiê sobre os 70 anos de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, escrito por Fernando Novais, professor da USP e da Unicamp, João Cezar de Castro Rocha, da UERJ, e Angela de Castro Gomes, da UFF.’
TELEVISÃO
Globo aposta em pacote de F1
‘Mal foi ao ar a última prova de Fórmula 1 deste ano e a Globo já está investindo nas chamadas para a próxima temporada da competição. São vinhetas que apostam no bom desempenho do piloto brasileiro Felipe Massa para 2007, sempre com a musiquinha eternizada por Senna como trilha emotiva. Subterfúgio para fisgar a audiência? Não, a rede está de olho é no mercado anunciante.
Das cinco cotas de patrocínio da F1 2007 – cada uma custa R$ 43,9 milhões – , três já foram vendidas para Banco Real, Nova Schin e Petrobrás, respectivamente. As duas cotas que sobraram foram apresentadas em um projeto comercial ontem. Os preços não subiram com relação ao ano passado.
Cada comprador terá direito a 998 inserções comerciais no evento – que terá 18 transmissões ao vivo – , entre comerciais de 30 segundos, publicidade virtual, vinhetas…
É justamente aí que entra o apelo de Massa. É fato que desde morte de Senna a audiência da F1 não é mais a mesma e que Rubens Barrichello não conseguiu arrebanhar novos telespectadores para a líder.
Para compensar os anunciantes, este ano, o Caldeirão do Huck,o Domingão do Faustão e o Jornal Hoje ganharam vinhetas extras da F1, segundo a Controle da Concorrência, empresa que monitora para o mercado inserções comerciais.
As vinhetas vieram para agregar mais audiência ao pacote vendido para os anunciantes, uma vez que as provas não tinham ibope estrondoso. É tática de praxe, quando a audiência de uma atração é menor do que o prometido ao anunciante, encaixar vinhetas da mesma (com os patrocinadores) em outras atrações das casa.
Se Massa emplacar no próximo ano, isso se refletirá em audiência recheada e anunciantes satisfeitos.
Chico e a Marrom
O programa Sarau, antigo Espaço Aberto da Globonews, receberá a cantora Alcione e o instrumentista Alvinho, que a acompanha em seus shows pelo Brasil. Com Chico Pinheiro no comando, ela fala sobre o começo da carreira e canta muito. Sábado, às 21h30.
entre- linhas
Chegou ao fim mesmo a parceria entre Record e Globo no futebol. A Record fez algumas exigências na compra dos campeonatos Brasileiro e Paulista com relação à escolha dos jogos a serem exibidos, e a Globo, que já estava fazendo corpo mole para vender, não atendeu. Com isso, os principais esportivos da Record devem sair perdendo.
A ex-BBB Graziela Massafera já colhe frutos de sua participação na novela Páginas da Vida. A atriz, que interpreta Telma, será a estrela de uma campanha de produtos de beleza na TV.’
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