Eles venceram. Os dois candidatos conseguiram completar a campanha do segundo turno sem uma discussão séria de programas econômicos. A imprensa, é justo reconhecer, até procurou arrancar alguma informação de suas excelências e de seus assessores, mas não foi muito longe. Os debates foram inúteis para quem buscou algum esclarecimento. Nunca antes na história do Brasil moderno os eleitores foram forçados a escolher sabendo tão pouco sobre um item tão importante dos planos de governo.
Nos debates, o candidato-presidente Luiz Inácio Lula da Silva só conseguiu recitar uma lista, muito discutível, de realizações, e reafirmar promessas de trabalhar pelos pobres. Seu adversário, o ex-governador Geraldo Alckmin, repisou a idéia de um choque de gestão, mas nunca apresentou nada parecido com a síntese de um plano.
Nenhum dos dois buscou criar condições para um debate proveitoso. Alckmin procurou, nos primeiros lances, vincular o adversário às bandalheiras de seu partido e de seus companheiros mais próximos. Não parece ter procurado entender a cabeça dos eleitores de Lula. Este, em contrapartida, procurou desviar a discussão para um tema espantoso, as privatizações, e o oponente caiu na armadilha.
Repórteres tentaram, nos debates, em sabatinas e em questionários organizados pelos jornais, obter definições sobre temas de grande interesse, como política externa e contas públicas. Os dois candidatos ofereceram, quase sempre, respostas mornas, calculadas para não desagradar ninguém.
Quando algum assessor foi mais longe, apresentando idéias mais definidas, foi desautorizado. O economista Yoshiaki Nakano, ligado a Alckmin, falou em choque fiscal para arrumar de uma vez as contas públicas e em controle de capitais para ajustar o câmbio. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou haver qualquer plano para uma nova reforma da Previdência. Os dois candidatos intervieram para apagar as declarações de seus companheiros.
Pergunta que não cala
Ao desautorizar os assessores, os dois candidatos lançaram o debate, de novo, no breu absoluto. Lula não afastou inteiramente a idéia de uma nova mexida na Previdência, mas não revelou suas intenções. Alckmin continuou falando sobre a importância de uma arrumação mais ampla das contas públicas, mas não deixou de apresentar vagas propostas de economia, como redução de ministérios e adoção de melhores mecanismos de compras.
Ao recusar uma conversa decente sobre economia, Lula pôde pelo menos oferecer ao eleitorado o discurso agradável dos programas sociais e do Estado forte e protetor, um subproduto do falatório contra as privatizações. Alckmin não teve essa vantagem. Sem conseguir impor uma discussão séria – e aparentemente sem coragem para dizer coisas desagradáveis e realistas –, chegou à penúltima semana de campanha sem haver transmitido um recado econômico importante. Nem sequer foi capaz de contestar as mais escandalosas barbaridades ditas pelo adversário.
Do lado governista, nomes cotados para ministérios no segundo mandato poderiam fornecer algum indício sobre planos ou intenções do presidente e de seus conselheiros políticos mais próximos. O Valor deu alguns passos nessa direção ao apontar, como possíveis candidatos ao ministério da Fazenda, o prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.
A matéria publicada pelo jornal na sexta-feira (20/10) menciona também a divisão entre petistas favoráveis e petistas contrários à permanência de Henrique Meirelles na chefia do Banco Central. A matéria faz referência à idéia de ‘flexibilização’ da política monetária. A palavra já foi usada pelo ministro Mantega e é muito vaga. Indica simplesmente novos cortes de juros com os critérios atuais ou mudança de critérios?
Se alguém quiser noticiar algo mais concreto sobre as intenções dos candidatos para a economia, terá de correr, ou acabará recebendo a informação, em breve, numa entrevista coletiva. Nesta altura, no entanto, cabe uma dúvida: haverá de fato algum plano econômico menos vago do que as idéias até agora divulgadas?
******
Jornalista